Contos
November 2, 2020

Katrina

Samej sai a procura de alguém para aplacar sua sede de sangue, cria uma nova vampira e começa a lhe ensinar a viver como vampira.

© Imagem: Capa do jogo para PC The Beast Within: A Gabriel Knight Mystery, de 1995, por Sierra On-Line.


Algo me perturba esta noite! O vazio que me consome está maior, preciso de sangue, muito sangue para aplacar minha sede — pensa Samej ao acordar.

Samej monta em sua moto, dá partida e acelera, sem rumo. Ele pensa: Preciso encontrar alguém que vá para uma festa particular ou algo parecido… Preciso me embriagar de sangue.

Samej sempre fora muito sutil, mas não hoje. Em uma avenida de Mauá, dentro de um barzinho, Samej avistou uma bela mulher. Estatura mediana, cabelos lisos e negros, pele levemente bronzeada. Não esperou para que ela o notasse, muito menos se importou com o fato dela estar acompanhada pelo namorado. Sondou sua mente com seu poder telepático e descobriu seu nome: Katrina!

Com seu colo ligeiramente avantajado, à mostra em um decote descontraído, sua cintura fina e quadril na medida certa, calça jeans colada e uma bota preta com salto, não deixou de chamar a atenção de Samej.

Samej lançou-lhe um comando psíquico para que o seguisse, o que Katrina fez sem hesitar. Virando a esquina, sob as sombras das árvores, Samej “abraçou-a” sugando-lhe com todas as forças o precioso sangue de sua vítima.

As forças de Katrina se esvaíam descomunalmente, na mesma velocidade com que seu sangue jorrava dentro da garganta de Samej, ao final, perto da última gota, ela sussurra:

— Não me mate, não me deixe morrer…

Samej parou, olhou para ela, uma criatura linda, jovem, não merecia morrer, deveria sim ser eterna. Não hesitou. Abriu um corte em seu próprio pulso e deu de beber à sua vítima. De início Katrina recusou devido à aspereza e ao amargor daquele líquido, mas, sentindo suas forças voltarem em uma velocidade surpreendente, sugou-lhe com uma gana que Samej nunca havia visto. Katrina agarrava-se à sua vida, contida naquele líquido.

Samej começou a sentir sua cabeça latejar e precisou usar sua força vampírica para desvencilhar-se de Katrina, ela quase o matara, sem saber.

Samej ordenou que ela ficasse onde estava e voltou ao bar. O namorado de Katrina estava procurando-a próximo ao banheiro feminino. Sem dúvida ou ressentimento, Samej disse ao rapaz:

— Oi, você é o Márcio, namorado da Katrina?

— Sim, e você, quem é? — Estranhou o rapaz.

— Ela não tá se sentindo muito bem e mandou-me procurar pelo Márcio, namorado dela — respondeu Samej.

Mostra-me onde ela está — Preocupou-se Márcio.

Samej levou-o para fora, não usara telepatia por estar muito fraco. Já do lado de fora, mostrou onde estava Katrina.

Ao vê-la, Márcio correu ao seu encontro e não entendeu o que havia acontecido com Katrina, ela estava estranha, ausente. Parecia estar hipnotizada.

Enquanto tentava falar com Katrina, Márcio não percebeu o brilho branco-azulado nos olhos de Samej, já Katrina, ao ver aquele brilho novamente, ficou paralisada. Não houve tempo para reação, Samej mordeu o pescoço de Márcio com violência, rasgando-o e sugando-lhe o sangue que, por pouco, não sorveu o último gole. Deixou-o caído ao chão, limpou o pescoço e a boca de Katrina e sua própria boca, pegou Katrina pelo braço e caminhou em direção à sua Harley-Davidson, colocando-a na garupa.

Novamente sem rumo, começou a andar pela cidade. Acompanhando a linha do trem, avistou um parque às escuras, o Parque Guapituba. Os Portões estavam fechados, mas isso nunca foi problema para Samej. Estacionou sua moto, ligou o alarme e carregando Katrina em seus braços, saltou os portões como se fosse uma poça d’água no chão.

Dentro do parque, Samej saltou para um galho de árvore, colocou Katrina ao seu lado e perguntou:

— Como você se sente?

— Confusa, está tudo tão esquisito em minha cabeça… O Que aconteceu?

— Você foi mordida por um vampiro; eu, Samej, a mordi! Quando você estava para morrer, me comovi com sua súplica. Ofereci-lhe meu sangue e em breve você será como eu, uma vampira!

— Uma vampira?

— Sim. Agora você precisa se alimentar, acostumar-se com seu novo estado. Seu corpo está sendo modificado, sua fisiologia está sofrendo uma mutação neste exato momento, dentro de alguns minutos seu coração vai parar de bater…

— Não, eu vou morrer, você está mentindo para mim, você vai me matar…

— Não e sim… Você deixará de viver para ter uma “não-vida”, será eterna! Está com fome?

— Não, apenas sede, quero água!

— Seu organismo já não aceitará beber água, se beber, sentirá uma dor terrível. Você deve beber sangue, sangue humano, só assim você aplacará sua sede.

Neste instante, enquanto falava, Samej avistou o vigilante do parque.

— Fique aqui Katrina, não faça barulho, não se movimente. Eu já volto!

O vigilante, fazendo sua ronda rotineira, passou sob a árvore onde estavam Katrina e Samej. O Vampiro saltou da árvore onde estava, sobre os ombros do vigilante, com o impacto, o mesmo desmaiou. Samej o trouxe para cima e disse à Katrina:

— Morda o pescoço dele.

— Você tá louco? Eu não vou morder ninguém!

Samej abriu a boca de Katrina e observou sua dentição, chegou à conclusão de que a transformação de Katrina não estava completa.

De um modo que Katrina pudesse ver com todos os detalhes, Samej fez com que seus caninos se projetassem lentamente, acendendo também seus olhos, só que de modo bem sutil e singular. Inclinou-se sobre o homem e, lentamente, sempre olhando nos olhos de Katrina, perfurou uma veia no pescoço dele, sugou um gole generoso e levantou-se, deixando o sangue escorrer pelo pescoço do vigilante.

Ao ver o sangue se esvaindo, um ligeiro estremecimento tomou conta do corpo de Katrina, como uma sensação de ASMR,¹ assemelhava-se a um arrepio, percorrendo seu corpo dos pés à cabeça. Em segundos passou este estremecimento, e em seguida, Samej notou que seus olhos castanhos adquiriam um brilho amarelado, ao mesmo tempo, suas presas despontaram. Katrina então sucumbiu, a sede falou mais alto, e como alguém que há muito não se alimenta, sorveu o precioso líquido do vigilante.

Samej quase teve um orgasmo ao ver a sensualidade vampírica brotar naqueles olhos. Katrina sugou o sangue do homem até que saciou a sua sede. Seus olhos permaneceram acesos, maravilhados com a clareza e nitidez com que enxergava agora. Sua audição alcançava sussurros longínquos, e sentia-se também como se não possuísse massa, como se a gravidade e o atrito não lhe influenciassem.

— Isso é maravilhoso, eu não fazia ideia…

— Só que tem muito mais coisas que você precisa aprender. Tema a luz do sol, mas reine na escuridão da noite. Você precisará de um local seguro para seu repouso diurno. Evite a proximidade de objetos pontiagudos de prata ou madeira, fique longe do fogo. Beba apenas sangue de pessoas sadias, evite alcoólatras, dependentes químicos e pessoas do gênero. Não “abrace” crianças e velhos, e não beba a última gota de sangue da sua vítima, por que: “O que traz a morte de sua vítima, pode lhe trazer a ruína!” Por último e mais importante, nunca, em nenhuma hipótese, revele a alguém que você é uma vampira.

— E aquele lance de crucifixo, bala de prata e…

— Isso é coisa de cinema. Não acredite em tudo que você vê ou ouve na televisão. Crucifixo nunca fez mal a ninguém, nem toda essa baboseira de cristianismo. O vampirismo é anterior a tudo isso. E bala de prata é para lobisomens. Agora vamos sair daqui!

Samej saltou para o chão seguido por Katrina, moveu-se em velocidade vampírica até a saída, onde estava sua moto, e Katrina sempre um passo atrás.

— Você aprende rápido! — Elogiou Samej.

— Tenho um bom professor! — retribuiu Katrina.

Já na moto, voltaram às ruas e, por telepatia, Samej indaga:

— Quer escolher a próxima vítima? Ainda estou com fome, e você?

— Ei… estou te ouvindo em minha cabeça! — estranhou Katrina.

— Sim! Chama-se telepatia. E ainda espero uma reposta sua. — espevitou Samej.

— Eu também! Como faço para escolher?

— Sonde mentalmente alguém que te agrade. Não deixe que a pessoa perceba que você a está sondando. Use sua sensualidade vampírica para atraí-lo. Com o tempo você pega o jeito.

— Tudo bem! Estacione naquele posto de gasolina.

— Você que manda!

Katrina desceu da moto de uma forma tão sensual que houve um breve silêncio dos homens que estavam mais próximos.

Telepaticamente, Katrina pergunta à Samej:

— Quer que te traga alguém também ou dividiremos a mesma vítima?

— Traga mais alguém!

Katrina começou a sondar a mente do pessoal e percebeu dois rapazes tomando suco de laranja. Aproximou-se e indagou:

— Qual dos dois rapazes vai me pagar uma bebida?

— Depende… — Respondeu um dos dois.

— Qual o seu nome? — Perguntou Katrina, como se já não soubesse.

— Eu sou o Carlos, e esse aqui é o meu amigo Ralph!

— Depende do quê, Carlos?

— O que vamos receber em troca?

— Humm! Direto ao ponto?! — Ironizou Katrina.

— E o seu namorado ali na moto? — Perguntou Ralph.

— Hahahaha, não é meu namorado não, é meu irmão!

Samej, por telepatia:

— Irmão? Essa é boa!

Katrina sorriu ao olhar para trás e ver Samej encostado na moto com uma lata de cerveja na mão.

— Então, o que ganhamos? — Voltou a perguntar Carlos.

— O que gostariam de ganhar? — Brincou Katrina, jogando com os rapazes.

Os dois se olharam, olharam para Katrina de cima abaixo, voltaram a se olhar e sorriram maliciosamente.

— Tem certeza que quer ouvir a resposta a esta pergunta? — Indagou Ralph.

— Tá certo! Que tal uma noite inesquecível, uma noite que vocês jamais imaginaram, e que vai marcar este dia para o “resto” de suas vidas?

— Pode deixar que eu pago — adiantou-se Ralph.

— O que você quer beber minha linda? Deixa que o “Carlão” aqui paga o que você quiser!

— Não, quem vai pagar sou eu, quem te mostrou ela chegando fui eu! — Indignou-se Ralph.

— Meninos, meninos, não briguem! Porque os dois não me pagam a bebida? — Sugeriu Katrina.

— Pode ser, mas quem vai ficar com você? — Quis saber Carlos.

— Ora, os dois! Um de cada vez!

— Falou gostosona?! — Disse Ralph.

— Duvida? Pague para ver!

— Tudo bem, pagamos. O que você quer beber? — Perguntaram.

— Para começar uma cerveja.

Carlos e Ralph pagaram a cerveja e olharam com ar de interrogação para Katrina.

— Me acompanhem rapazes — Convidou Katrina.

Katrina levou-os a uma praça, grande, escura e pouco movimentada a esta hora da madrugada, atrás do posto. Durante o trajeto, disse telepaticamente à Samej:

— Vou levá-los a um local mais reservado, encher linguiça, te chamo na hora certa e te falo onde estaremos.

— Não se preocupe, sempre sei onde você está! Vou aguardar seu chamado aqui na moto.

Num local tranquilo, sem ninguém por perto, Katrina começou a beijar os rapazes. Beijava um enquanto olhava para o outro, insinuando-se sempre.

Passados alguns minutos, enquanto Katrina beijava Carlos, Ralph não se conteve, deu a volta por trás e abraçou Katrina, beijando sua nuca e esfregando-se em sua bunda.

— Calma garoto, sua vez vai chegar de novo. Vem cá…

Enquanto beijava Ralph, Katrina chamou Samej:

— Agora!

Neste exato momento, quando terminou de “falar”, Katrina exteriorizou seu poder. Pela Segunda vez nesta noite, seus olhos voltaram a exibir um amarelo raro, seus dentes despontaram e olhando para Carlos, perfurou o pescoço de Ralph, que soltou um gemido misto de dor e prazer. Carlos, aterrorizado com a visão que teve em primeira mão, deu dois passos para trás, virando-se em seguida para correr e fugir para o lugar mais longe possível, só não contava esbarrar em algo. Carlos era de estatura baixa, na pressa, olhando ainda para trás, voltou-se para ver onde esbarrara e percebeu que era o “irmão” de Katrina, que com sua super velocidade, chegara também com os dentes à mostra e os olhos brilhando. Tentou gritar, mas quando abriu a boca, Samej tapou-a com uma força aterradora. As mãos de Carlos vieram logo em socorro, segurando o pulso de Samej, que o levantou com apenas uma mão, trazendo-o para mais perto de si e cravando-lhe os dentes em seu pescoço, do lado esquerdo.

Samej, sedento por sangue, sorvia a grandes goles por vez. Experiente como era, terminou primeiro que Katrina. Aguardou que ela acabasse e assim que terminou, chamou sua atenção para o que ia fazer.

— Observe!

Quebrou o pescoço dos dois rapazes e começou a mordê-los nos braços, fazendo várias feridas no pescoço, o qual ficou dilacerado. Terminado este procedimento, Samej retirou de seu bolso um lenço de seda vermelho, deu-o à Katrina para que se limpasse; quando ela o devolveu, limpou-se também e partiram.

Já na moto, Katrina indaga sobre sua última ação:

— Porque você fez aquilo com os dois? Eles já estavam mortos.

— Lembre-se do que lhe disse mais cedo: “Nunca revele a ninguém que você é uma vampira!” Eu apenas disfarcei nossa ação. Você reparou que próximo dali havia um estabelecimento de criação de pitbulls?

— Não.

— Sempre faça um reconhecimento dos lugares onde visita, saiba e conheça muito bem onde tem uma entrada e saída. Familiarize-se com o ambiente onde você se encontra. Neste caso, devido às mordidas nos braços e o pescoço aberto, a primeira suposição que farão será de um ataque de pitbulls! Sairemos ilesos. Sempre que possível, disfarce o local e sua vítima, nunca se alimente no mesmo local por muito tempo, isto chama a atenção das autoridades locais. Enquanto você se divertia com os meninos, eu me adiantei e abri o portão do canil, deixando alguns dos animais soltos para corroborarem com a situação que armei.

— É muita coisa, você não pode fazer uma lista? — Brincou Katrina.

— Além de linda, inteligente e, (agora), fatal, é engraçada! Minha decisão ao transformá-la não podia ter sido mais acertada! Motivo de orgulho. — Brincou também Samej.

— Para onde vamos agora? — Perguntou Katrina.

— Vamos dormir. Estamos para presenciar o ocaso noturno, e você não vai querer presenciar o nascimento do sol.

Na casa de Samej, na zona leste de São Paulo, Katrina ficou estarrecida com a aparência da mesma. Por fora, assemelhava-se com uma casa abandonada, onde com toda certeza refugiariam-se meliantes, usuários de drogas e toda sorte de vagabundos. Mas por dentro, era como se estivesse entrando em um palácio renascentista.

Na câmara de dormir de Samej, havia uma cama majestosa, digna de reis, forrada com um lençol da mais fina seda, vermelho, tendo sua marca bordada em fios de ouro nos quatro cantos: SMJ.

Samej levou Katrina ao quarto de hóspedes, no mesmo corredor. Era imenso, com uma cama gigantesca no centro, forrada com um lençol também de seda, mas branco como a neve. Mobílias antigas decoravam o aposento. Samej apontou para uma porta dizendo:

— No closet, você encontrará o que vestir. Fique à vontade, mas arrume-se logo, o ocaso da noite se aproxima. Com os primeiros raios do sol, um sono irresistível cairá sobre você. Não se preocupe com a hora de acordar, quando o último raio de sol desaparecer, você despertará.

Samej retirou-se para seus aposentos, vestiu-se e descansou. Katrina despiu-se, ficando totalmente nua, depositou suas roupas no biombo chinês e dirigiu-se ao closet. Dentro do mesmo, entre a quase infinidade de roupas e artigos ali existentes, escolheu para si um roupão prata, voltou ao quarto e deitou-se na cama no momento exato em que o sono vampírico tomou conta de seu corpo.


Na noite seguinte, ao abrir os olhos, Katrina assustou-se com Samej, vestindo uma túnica negra de seda, parado a seu lado, na cabeceira da cama.

— Oh! Há quanto tempo está aí?

— Alguns segundos. Assim que acordei dirigi-me para cá, contemplar-te nestes trajes traz-me lembranças que há séculos não revivia.

— Qual a sua idade, Samej?

— Para um ser humano, sou antigo, para um vampiro, sou experiente. É o que basta saber!

— Que faremos agora?

— Vista-se, realizaremos meu objetivo inicial de ontem. Encontrar uma festa onde faremos um banquete. Você encontrará o que precisa para vestir-se no closet. Aguardar-te-ei na biblioteca! — Ordenou Samej.

— Onde fica a biblioteca?

— Você saberá quando para lá se dirigir! Não se demore.

Samej saiu e vestiu-se. Trajava uma camisa de seda de cor ônix, uma calça negra e para completar, um sobretudo de couro negro. Dentro do sobretudo, na aba esquerda, uma faca Kukri com cabo de marfim, incrustado de pérolas e rubis e um calibre 12, de cano duplo serrado, carregado. Na aba direita, uma quantidade de munição para começar uma pequena guerra.

Dirigiu-se à biblioteca e aguardou. Quando, por telepatia, soube que Katrina estava pronta, guiou-a à biblioteca.

Ao entrar, a visão que Samej teve de Katrina foi surpreendente. Ela vestia uma bata também ônix, sem sutiã, calça de couro preta, justamente colada ao corpo, e, para completar, um sobretudo também negro. Assemelhavam-se em tudo, menos no armamento.

— Sabe pilotar, Katrina?

— Sim. Mas não tenho habilitação para esta categoria. Por quê?

— Vamos à garagem.

Chegando à garagem, Katrina novamente ficou surpresa com a quantidade de carros e motos ali existentes, todos com muito bom gosto. Esportivos, clássicos, limusines, estradeiras, e etc. On-Road e Off-Road.

Escolheram motos iguais, justamente as quais Samej mais gostava. As Harley-Davidson’s.

Samej orientou Katrina:

— Caso você seja parada pela polícia, use sua telepatia e sensualidade vampírica para convencer o mesmo de que deve deixá-la ir. Todos os seus sentidos foram aguçados, visão, e equilíbrio estão incluídos. Por isso, acelere o máximo que a moto aguentar, estarei ao seu lado.

— Acabo de chegar à conclusão de que você, Samej, tem um gosto requintado e sofisticado para tudo! — Elogiou Katrina.

— Inclusive para minhas companheiras. Faço o possível! “De que vale a eternidade, se não pudesse gozá-la em sua plenitude?” — Finalizou Samej, com orgulho.

— Voltaram ao município de Mauá, a toda velocidade, com seus cabelos e sobretudos ao vento.

Rodaram pela cidade e não encontraram nada. Katrina então sugeriu:

— Nesta cidade, quando não se tem o que fazer, vai-se ao shopping!

O shopping estava lotado. Katrina e Samej andaram conversando disfarçadamente pelos corredores como pessoas normais, mas, telepaticamente, sondando e estudando as pessoas em volta. Foram até a praça de alimentação e notaram que a fila para o cinema estava lotada.

— Nada melhor do que o escurinho do cinema — disse Samej.

— Concordo! — Replicou Katrina.

Compraram um par de ingressos para o filme que estreava naquela semana, “Motoqueiro Fantasma”.

Com a super velocidade, eles conseguiram ultrapassar as pessoas que caminhavam apressadamente para conseguirem um bom lugar na sala. Sentaram-se nos fundos da sala.

Durante os trailers, e nos primeiros minutos do filme, Katrina e Samej apenas observaram o público.

Como que por sorte, ao lado de Samej, sentou-se uma moça, e ao lado de Katrina, um rapaz.

— Coincidência? — Brincou Katrina.

— Absolutamente, não! — Respondeu Samej.

— Como não… — Surpreendeu-se Katrina.

— Quando vi o casal entrando, dei-lhes uma ordem para que se sentassem aqui, deste modo! — Confessou Samej.

— Mas não percebi você dando a ordem.

— Isto, minha querida, é muito simples de explicar. Como foi eu quem vampirizou você, é muito fácil utilizar meus poderes sem que você saiba, é muito fácil localizá-la sem que você saiba, é muito fácil sondá-la sem que você saiba e etc. Na hierarquia vampírica, o mais velho e/ou senhor, (Entenda-se por senhor, aquele que o vampirizou.), controla os iniciados, como você! Sem levar em conta a experiência que tenho, comparada à tua. Já você, conseguirá localizar-me, sondar-me e etc., somente com a minha permissão. Foi assim que mais cedo você localizou-me na biblioteca, você perguntou-me como encontraria a biblioteca, e minha resposta foi: “Dirigindo-se para lá, você a encontrará!” Eu permiti que você me localizasse.

Utilizando-se de sua sensualidade vampírica, seduziram os humanos. Sem que os outros percebessem, sugaram-lhe o sangue, deixando-os em suas posições.

Samej aproveitou a oportunidade para ensinar mais uma lição à Katrina sobre como disfarçar suas vítimas:

Telepaticamente:

— Como vamos disfarçá-los aqui Samej? Tem muita gente…

— Finja que está beijando-o, desça até o pescoço e, com seus dentes, faça um pequeno corte em seus próprios lábios. Passe o sangue nas feridas dele e aguarde alguns segundos. Logo estará cicatrizado, como se nada houvesse acontecido. Nosso sangue, (o sangue dos vampiros), cicatriza feridas. Quando sairmos daqui, eles continuarão, como se estivessem dormindo. Vindo os responsáveis, já estaremos longe.

— Mas, e se houver câmeras de segurança escondidas aqui? Eles nos reconhecerão! — Preocupou-se Katrina.

— Pode ficar despreocupada! — Afirmou Samej — Não nos verão nas fitas. Como somos seres sobrenaturais, provocamos uma interferência em alguns equipamentos. Isso pode ser evitado quando “autorizamos”, por assim dizer, que nos tirem uma foto ou nos filmem. Quanto a estes dois, verão apenas dois lugares vazios. Não saberão como explicar e o caso será arquivado.

Terminado o filme, saíram direto para o estacionamento, e em seguida para as ruas. Saíram sossegadamente. Mas sua saída não fora despercebida.

Na sala da segurança do shopping, através dos vídeos das câmeras, alguém percebeu a presença dos dois. Em uma das telas, a imagem congelada de duas motos saindo do estacionamento. Tudo estaria bem se não fosse o fato de saírem sem pilotos.

Continua…


  • Autor: Michael R. Souza (05 de março de 2007);
  • Fonte: Publicado originalmente no blog “Inutilidades Acumuladas”;


[1] ASMR: “Autonomous Sensory Meridian Response”, algo como “Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano”.