#apself 01 – hurt people hurt people.
CW: menção a bullying, violência infantil e agressão física.
Não tinha certeza de como havia começado – talvez sua mente tivesse apagado isso como um mecanismo de defesa –, mas desde que se entendia por gente, Song Minjae era uma pessoa com dificuldade para se encaixar. Nunca procurou motivos que explicassem o porquê de ser um alvo, apenas aceitava o seu destino sem questionar e seguia em frente, se agarrando a alguns momentos de felicidade e as poucas (quase inexistentes) pessoas que estavam ao seu lado.
É difícil ignorar o que está tão nítido em sua frente, mesmo sendo uma mulher ocupada e cansada demais, sua mãe ainda era presente e, além disso, havia sido jovem um dia e sabia o quanto outras crianças poderiam ser maldosas. Ao chegar do trabalho uma noite e ver seu filho com hematomas pelo rosto e corpo, controlou sua reação para não o assustar ou afastar, o conhecia bem o bastante para saber que o garoto tinha tendência a se fechar.
“Sabe... Uma hora você vai ter que me dizer o que está acontecendo...” ela falava numa frequência quase semanal. O garoto nunca respondia suas perguntas. Nem ele mesmo sabia.
O tempo o fez se acostumar com aquilo. Apesar de saber se defender, não costumava usar o que aprendia com regularidade, ele não queria causar problemas e acreditava que quanto mais lutasse contra aquilo, pior poderia ficar. Presumia que reações como medo, dor e até coragem, poderiam trazer certo tipo de prazer para o outro e ele não daria esse gosto para ninguém. A dor fazia tanto parte de sua vida que ele aprendeu a ter gosto por ela, havia se tornado familiar.
O maior perpetuador da violência contra ele tinha nome e endereço. Park DoYoung. Ele poderia até não ter as mesmas habilidades de luta que Minjae, mas era definitivamente mais alto e mais forte, além de ser um pouco mais velho. Em um dia de distração, o mais novo não foi rápido o bastante e acabou recebendo um gancho no meio da face, quebrando seu nariz na mesma hora. Sua primeira reação foi rir. DoYoung conseguiu surpreendê-lo mesmo depois de tanto tempo fazendo a mesma coisa, era admirável.
Continuou deitado até que o valentão fosse embora, como de costume, pressionando o próprio nariz para estancar o sangue. A caminho de um posto de saúde que já havia visitado algumas vezes, ele ouviu a voz conhecida de seu oponente. Parou, observando a voz vindo de uma pequena casa que tinha as janelas abertas. Na mesma hora reconheceu o mais velho, mas sua aparência era diferente da que costumava ter. Não parecia tão mais alto e nem tão corajoso a frente de um adulto que tinha os mesmos traços que ele. Mesmo de longe, Song conseguia perceber o quanto ele parecia indefeso e fraco.
Nada havia preparado Minjae para o que testemunhou a certa distância. Sabia que não era justo observar o que acontecia dentro da casa dos outros, principalmente naquela situação, mas seu corpo não conseguiu se mover e nem seus olhos conseguiram se desviar ao primeiro tapa que o adulto deu no jovem. O primeiro de muitos que se seguiram por diversos minutos. Após esse dia, Minjae finalmente entendeu.
Ainda hoje não acredita que exista uma desculpa plausível para o bullying ou violência injustificada, mas ele entendia. Haviam coisas demais que o seu oponente deveria lidar em casa e descontar em Minjae talvez fosse uma forma de se sentir bem consigo mesmo. A premissa “hurt people hurt people” era de fato verdadeira. Minjae depois daquele dia parou de se defender de DoYoung e algum tempo depois o garoto se mudou de cidade, deixando para trás apenas uma lembrança amarga para todos.
Self-para inspirado na música Boy In The Bubble de Alec Benjamin.