CONTOS
March 16, 2021

A voz #7

"A voz"

O primeiro encontro deles deixou uma sensação estranha no estômago, ela quase poderia ouvir “cilada” vindo de uma voz no fundo da sua cabeça. Ela sabia, que ia se magoar, mas o seu beijo era bom, seu toque era carinhoso, e ao contrário de outros caras, esse a tinha deixado excitada.

Entre o último beijo e a mensagem do dia seguinte, teve um intervalo de alguns dias. Ela sentiu a sua falta, mas secretamente sabia que era só uma questão de tempo até ele sumir de vez. Lembra daquela voz? Dessa vez usou um mega fone pra gritar “Cilada!”. Mas ainda assim ela não ouviu. Respondeu a mensagem, ele queria vê-la, então ela disse sim.

O segundo beijo foi tão bom quanto o primeiro. O abraço era apertado e ele, erroneamente, confundiu o nervosismo dela, com agitação. Então ele beijou um pouco mais, abraçou um pouco mais, e quando notou que ela finalmente estava entregue, a chamou para ir a um lugar privado.

Nessa hora, ela não ouviu a voz, ela estava abafada, mas mesmo assim insistiu “Não vá.” Ela não escutou, e mais uma vez, disse sim.

Sozinhos, sem ninguém olhando, o beijo era melhor ainda, o abraço ainda mais apertado. Sem perceber, estava só de calcinha na cama e com a boca dele em seu seio.

Já fazia algum tempo que eles foram acariciados e dessa vez, ela nem precisou pedir, ele gostava tanto quanto ela. Enquanto uma mão acariciava um mamilo, a boca sugava o outro. Perdida em sensações e tão maravilhada que ele estava realizando uma das suas fantasias mais secretas, já se via fazendo com ele outras vezes.

Ela tinha tanta coisa pra explorar, não via a hora de testar outras posições que só conhecia através de vídeos e relatos. Naquele momento, por um segundo, ela achou que poderia ser ele. Inclusive conseguia sentir os braços dele envolta dela enquanto sugava seus mamilos.

Na primeira vez, eles transaram com a boca dele ainda em seus seios. Ela tinha descoberto sua posição sexual favorita e poderia ficar assim a noite toda. Eles funcionavam na cama, o sexo era bom, e a voz dessa vez não falou nada, ficou só observando.

Depois do banho, de roupa posta, aquela sensação de enjoo começou a voltar timidamente. Ela estava feliz, ele queria ir embora logo.

Achando que era fome, chamou ele pra jantar, ele aceitou, mas não pegou na mão dela durante o trajeto do hotel até o restaurante. Não a abraçou enquanto escolhiam o que iam comer, e antes de ir embora não a beijou. Ela pediu um carro para leva-la pra casa, ele a deixou sozinha esperando por ele.

Sua fiel companheira, a voz da sua intuição, que desde o começo gritou; “Não vá!”, “É cilada!”, “Cuidado!”, dessa vez, muito mal humorada disse “Eu te avisei, porque não me escutou?”

Ela entrou no carro, o motorista perguntou se ela tinha um caminho de preferência, ela disse que não, que fosse pelo mais rápido. E ali, na penumbra do banco de trás, ela chorou pelo seu coração partido.

Por Cris Arruda 01/2020


REDE AABRASIL