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July 20, 2020

O prazer sexual na amamentação - mito ou realidade

Representação de Baubo, a deusa do ventre

"Ver com o mamilos é sem dúvida uma qualidade sensorial. Os mamilos são órgãos psíquicos, sensíveis à temperatura, ao medo, à raiva, ao barulho. Eles são órgãos dos sentidos tanto quando os olhos na cabeça.

(Clarisse Pinkola Estes - extraído do livro "Mulheres que correm com lobos", a respeito da deusa Baubo)

​​​A ideia de um prazer sexual na amamentação pode soar muito estranha. Talvez até um assunto vulgar. Mas s econsiderarmos o parto como uma continuação do ato sexual, porque também não a amamentação também como parte desse fenômeno?Título do novo álbum de Elza SoaresNão é por acaso que os mamilos são zonas erógenas. Nem tampouco coincidência o fato da ocitocina – chamada hormônio do amor – ser liberada tanto na amamentação quanto no orgasmo. É porque Deus é mulher!Vamos começar pelo prazer sexual do bebê ao mamar no peito,que é algo incontestável. Basta ver o meu guri quando está fome. Mama feito louco até dormir extasiado! Já faz tempo o velho Freud-de-charuto designou esta onda dos bebês como fase oral (o primeiro estágio do desenvolvimento psicossexual). Mas o prazer da mulher neste processo sempre foi um tema tabu.

A linha da clínica reichiana conhecida como uma psicoterapia corporal – com uma abordagem inclusiva dos fenômenos somáticos, aponta a funcionalidade do prazer feminino na amamentação. Isto é, sentir a excitação nos mamilos na amamentação, além de não ter nada de pecaminoso, ainda é muito importante, tanto para a mãe quanto para o bebê. Isso porque o prazer vem no combo do hormônio ocitocina, que garante que o leite chegue direitinho na boca do neném pelos complicados ductos lactíferos (que, não à toa, entopem frequentemente). Esse hormônio também gera pequenas contrações no útero, ajudando o corpo da mulher a voltar para o lugar depois do parto. Além disso, no pensamento reichiano, prazer é sinônimo de expansão energética, que significa que o leite vai com um nutriente extra para o seu pequeno.

Só existe um porém, pelo menos, no primeiro mês: amamentar dói! Calejamento é o nome do processo de fazer acostumar o mamilo à toda aquela fricção. Fora as tretas de empedramento nas tetas (desculpe, sou compulsiva por trocadilhos) candidíase no mamilo, mastite... Juro que no primeiro mês desejei que meus mamilos fossem feitos por um tecido caloso de calcanhar para não sentir dor. Mas também eu não sentiria o prazer que eu sinto hoje. Faz lembrar uma frase de Reich que ele diz que nosso potencial para o prazer é proporcional à nossa sensibilidade à dor.
​Trata-se de um prazer sexual sem ideia de sexo e sem fantasia. Peito nu sem olhar de reprovação. Acho que é assim que o sexo deveria ser. Mas infelizmente, nossa sociedade impõe tanto constrangimento à sexualidade feminina que muitas mulheres podem sentir medo dessa sensação de prazer. Este é um dos motivos de algumas mulheres sentirem angústia durante o ato de amamentar. Além disso, há que se considerar a amamentação como um ato que envolve toda a família. É preciso uma rede de apoio que supra as necessidades da lactante, tais como: alimentação, cuidado com a casa, segurança... pois só assim a ocitocina funciona bem. Ou seja, para que o hormônio do amor e do leite possam fluir, é preciso cuidado e proteção e, não, um estado de tensão.Primeira mamada do meu pequeno
​Sentir esse deleite (com trocadilho) pode até ser coisa que constrange a gente. Mas não deveria. Diante de todas as dores da maternidade, a gente merece! Além do mais, amamentar é um jeito de desenvolver esses órgãos sensoriais bem específicos chamados mamilos. Ou, como eu prefiro chamar: as antenas do coração.

Link para a matéria original: https://www.orgonomia.com.br/blog/o-prazer-sexual-na-amamentacao-mito-ou-realidade


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