November 17

𝐦𝐲 𝐭𝐢𝐧𝐲 𝐬𝐧𝐨𝐰𝐛𝐚𝐥𝐥

haerin tinha acabado de voltar para seoul. era uma tarde fria, daquelas que o frio que entra pelos ossos. e o beco perto do palette cofé parecia quieto demais, pelo menos mais quieto do que ela estava acostumada;

um mau sinal.

não demorou a encontrar seus gatinhos no abrigo que tinham ali. todos encolhidos uns nos outros. e sushi, que sempre era uma das primeiras a ir cumprimentar haerin, agora estava separada, respirando curto, os olhos semicerrados.

— sushi? ei, meu amor… — a voz da artista falhou.

ao tocar a gatinha, sentiu o corpo quente demais, febril.
atrás dela, sempre inquieta, nori miou baixinho, enquanto os outros gatos olhavam com receio.

a culpa atingiu haerin como um soco.

ela tinha ficado fora só dois dias.
dois dias.
e, nesse intervalo, a sushi tinha adoecido sozinha no frio. nem o abrigo e nem mesmo a cobertinha que haerin tinha feito para os gatinhos, tinham salvado ela de adoecer.

— droga. aí sushi... — sussurrou.

sem pensar, tirou o casaco e envolveu a gata, prendendo-a contra o peito.
os outros gatinhos soltaram miados curtos, nervosos.

— eu volto com ela. prometo. — disse aos outros gatinhos — fiquem aqui, tá?

nori deu dois passos atrás dela como se quisesse ir junto, mas haerin fez um carinho rápido na cabeça dela e se afastou.

o consultório veterinário ficava a dez minutos dali e haerin conhecia muito bem o caminho. já tinha ido lá vezes demais. e a veterinária, dra. choi soomi, já reconhecia a haerin de longe.

sempre dizia: “você cuida melhor desses gatos do que a maioria das pessoas cuida de si mesma, sabia?”

hoje, ao vê-la entrar com a gata enrolada no casaco, o olhar da veterinária mudou na hora.

— haerin? — perguntou, saindo de trás do balcão. — o que houve?

haerin parecia prestes a começar a chorar ali mesmo.

— a sushi. eu acho que ela não tá bem. desde ontem, eu acho... eu… eu tava fora.

a veterinária não perdeu tempo.
guiou as duas para dentro do consultório.

— se você 'tá preocupada, então eu também 'tô. deixa eu ver ela.

haerin desenrolou a gatinha de seu casaco e a colocou na mesa de metal.

— calma, haerin-ah. — a veterinária disse baixinho, já colocando a máscara de oxigênio. — vamos cuidar dela. você fez certo em trazer ela aqui.

ela foi rápida e o exame foi rápido, eficiente, mas gentil, como sempre.

— febre alta, um pouco de desidratação, e a respiração comprometida… acho que é uma infecção respiratória forte. o inverno vai pesado este ano e o clima mudou muito rápido. — suspirou. — ela precisa ficar internada um ou dois dias e fazer alguns exames para a gente ter certeza que nada pior está acontecendo.

“internada.”
haerin engoliu seco.
ela já sabia o que vinha depois.

sushi, assim que livre das mãos da veterinária, voltou para perto da artista. e encostou o nariz na mão dela. um gesto pequeno que partiu o coração de haerin de uma forma totalmente nova.

— você tá proibida de ficar pra baixo, ok? — sussurrou. — você precisa melhorar logo, eles precisam de você.

sushi respondeu com um ronronar fraco.

a dra. choi voltou e colocou a mão no ombro de haerin com carinho.

— eu vou cuidar dela muito bem, tá? confia em mim.

e ela confiava.

— quanto… quanto vai custar tudo? — perguntou com a voz baixa.

a soomi disse o valor. já falando devagar. sabia da situação da estudante, sabia que ela era bolsista, sabia que ela sempre aparecia ali com mais amor do que dinheiro.

mesmo assim, haerin assentiu.

— desculpa haerin-ah, gostaria de poder ajudar mais.

a morena balançou a cabeça e abriu um sorriso, mesmo que pequeno.

— eu pago. vou dar um jeito. só cuida dela, por favor.

quando levaram sushi para dentro, haerin segurou a patinha dela por um segundo.

no lado de fora da clínica, haerin ficou parada abraçando o próprio corpo, sem notar o frio que a envolvia. seu casaco esquecido, ainda meio enrolado em sushi. fez o caminho de volta ao palette café e após checar novamente os outros gatinhos, voltou para universidade a pé, com passos lentos e lágrimas nos olhos.