𝐦𝐲 𝐭𝐢𝐧𝐲 𝐬𝐧𝐨𝐰𝐛𝐚𝐥𝐥
haerin tinha acabado de voltar para seoul. era uma tarde fria, daquelas que o frio que entra pelos ossos. e o beco perto do palette cofé parecia quieto demais, pelo menos mais quieto do que ela estava acostumada;
não demorou a encontrar seus gatinhos no abrigo que tinham ali. todos encolhidos uns nos outros. e sushi, que sempre era uma das primeiras a ir cumprimentar haerin, agora estava separada, respirando curto, os olhos semicerrados.
— sushi? ei, meu amor… — a voz da artista falhou.
ao tocar a gatinha, sentiu o corpo quente demais, febril.
atrás dela, sempre inquieta, nori miou baixinho, enquanto os outros gatos olhavam com receio.
a culpa atingiu haerin como um soco.
ela tinha ficado fora só dois dias.
dois dias.
e, nesse intervalo, a sushi tinha adoecido sozinha no frio. nem o abrigo e nem mesmo a cobertinha que haerin tinha feito para os gatinhos, tinham salvado ela de adoecer.
— droga. aí sushi... — sussurrou.
sem pensar, tirou o casaco e envolveu a gata, prendendo-a contra o peito.
os outros gatinhos soltaram miados curtos, nervosos.
— eu volto com ela. prometo. — disse aos outros gatinhos — fiquem aqui, tá?
nori deu dois passos atrás dela como se quisesse ir junto, mas haerin fez um carinho rápido na cabeça dela e se afastou.
o consultório veterinário ficava a dez minutos dali e haerin conhecia muito bem o caminho. já tinha ido lá vezes demais. e a veterinária, dra. choi soomi, já reconhecia a haerin de longe.
sempre dizia: “você cuida melhor desses gatos do que a maioria das pessoas cuida de si mesma, sabia?”
hoje, ao vê-la entrar com a gata enrolada no casaco, o olhar da veterinária mudou na hora.
— haerin? — perguntou, saindo de trás do balcão. — o que houve?
haerin parecia prestes a começar a chorar ali mesmo.
— a sushi. eu acho que ela não tá bem. desde ontem, eu acho... eu… eu tava fora.
a veterinária não perdeu tempo.
guiou as duas para dentro do consultório.
— se você 'tá preocupada, então eu também 'tô. deixa eu ver ela.
haerin desenrolou a gatinha de seu casaco e a colocou na mesa de metal.
— calma, haerin-ah. — a veterinária disse baixinho, já colocando a máscara de oxigênio. — vamos cuidar dela. você fez certo em trazer ela aqui.
ela foi rápida e o exame foi rápido, eficiente, mas gentil, como sempre.
— febre alta, um pouco de desidratação, e a respiração comprometida… acho que é uma infecção respiratória forte. o inverno vai pesado este ano e o clima mudou muito rápido. — suspirou. — ela precisa ficar internada um ou dois dias e fazer alguns exames para a gente ter certeza que nada pior está acontecendo.
“internada.”
haerin engoliu seco.
ela já sabia o que vinha depois.
sushi, assim que livre das mãos da veterinária, voltou para perto da artista. e encostou o nariz na mão dela. um gesto pequeno que partiu o coração de haerin de uma forma totalmente nova.
— você tá proibida de ficar pra baixo, ok? — sussurrou. — você precisa melhorar logo, eles precisam de você.
sushi respondeu com um ronronar fraco.
a dra. choi voltou e colocou a mão no ombro de haerin com carinho.
— eu vou cuidar dela muito bem, tá? confia em mim.
— quanto… quanto vai custar tudo? — perguntou com a voz baixa.
a soomi disse o valor. já falando devagar. sabia da situação da estudante, sabia que ela era bolsista, sabia que ela sempre aparecia ali com mais amor do que dinheiro.
— desculpa haerin-ah, gostaria de poder ajudar mais.
a morena balançou a cabeça e abriu um sorriso, mesmo que pequeno.
— eu pago. vou dar um jeito. só cuida dela, por favor.
quando levaram sushi para dentro, haerin segurou a patinha dela por um segundo.
no lado de fora da clínica, haerin ficou parada abraçando o próprio corpo, sem notar o frio que a envolvia. seu casaco esquecido, ainda meio enrolado em sushi. fez o caminho de volta ao palette café e após checar novamente os outros gatinhos, voltou para universidade a pé, com passos lentos e lágrimas nos olhos.