O Isolamento Geopolítico do Brasil: Um Diagnóstico Crítico
O Brasil, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfrenta um isolamento geopolítico que transcende narrativas ideológicas ou vieses de confirmação. Não se trata de uma percepção subjetiva, mas de uma constatação objetiva: o país perdeu espaço e interlocução com os principais atores do cenário ocidental, configurando um afastamento preocupante das grandes potências democráticas.
Atualmente, o Brasil não mantém relações robustas ou estratégicas com os grandes players do Ocidente, como Estados Unidos, Reino Unido ou potências da União Europeia. Mesmo a França, sob o comando de Emmanuel Macron, que poderia ser vista como um potencial aliado devido a certa afinidade ideológica com a esquerda brasileira, limita-se a desempenhar um papel protocolar. Macron atua, no máximo, como um mediador ocasional, mas nunca como um defensor incondicional dos interesses brasileiros.
A razão é simples: o Brasil, no contexto global, não representa uma prioridade que justifique o desgaste diplomático de contrariar os interesses da maior potência geopolítica, militar e econômica do mundo, os Estados Unidos. Há, sem dúvida, uma simpatia residual de setores da esquerda europeia pelo governo brasileiro, especialmente por sua retórica progressista e seu histórico de políticas sociais. Contudo, essa empatia é superficial e não se traduz em apoio concreto quando confrontada com os interesses estratégicos de nações mais influentes. O Brasil, nesse sentido, tornou-se um ator secundário, incapaz de galvanizar alianças sólidas ou de se posicionar como um parceiro indispensável no xadrez geopolítico.
O Ufanismo e a Redefinição da Democracia
O ufanismo recente de setores da esquerda brasileira, muitas vezes expresso em tons exaltados, reflete uma tentativa de compensar a fragilidade externa e interna do país. A narrativa de um Brasil forte e soberano, frequentemente evocada por figuras como Lula, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e o ministro Alexandre de Moraes, esbarra em contradições evidentes. Defender os rumos recentes da política brasileira e, ao mesmo tempo, sustentar a imagem de uma democracia liberal robusta tornou-se uma tarefa árdua, senão impossível.
Nesse contexto, observa-se uma tentativa deliberada de redefinir o conceito de democracia no Brasil. Inspirando-se em modelos de democracias iliberais, como os observados em países como China e Coreia do Norte, o governo e seus aliados buscam legitimar práticas que desafiam os pilares tradicionais do Estado de Direito. Medidas como o controle de narrativas, a judicialização de adversários políticos e a centralização do poder em instituições específicas levantam questionamentos sobre a saúde democrática do país. Esse movimento não é apenas uma resposta às críticas internas, mas também uma estratégia para consolidar o poder em um cenário de crescente polarização.
Do Respeito à Marginalização
O Brasil, que outrora ocupava uma posição de relativo respeito no cenário internacional – seja pelo seu peso econômico no BRICS, seja pela habilidade de seus diplomatas em mediar conflitos globais –, hoje caminha perigosamente para se tornar uma "republiqueta" latino-americana. Essa expressão, embora dura, reflete a percepção de que o país está abdicando de sua relevância global em troca de um alinhamento ideológico que não encontra eco nas grandes esferas de poder. A ausência de uma política externa pragmática, capaz de dialogar com diferentes espectros políticos e econômicos, contribui para esse declínio. Além disso, o isolamento brasileiro não se limita ao Ocidente. Mesmo em fóruns regionais, como o Mercosul, o país enfrenta dificuldades para liderar ou impor sua agenda. A Argentina, sob Javier Milei, adota uma postura mais alinhada aos Estados Unidos e ao liberalismo econômico, enquanto outros vizinhos, como a Venezuela, reforçam alianças com potências não ocidentais, como China e Rússia. Nesse cenário, o Brasil parece preso entre a retórica de um passado glorioso e a incapacidade de se adaptar às novas dinâmicas globais.
Há um ponto de inflexão?
A trajetória atual sugere que os atores políticos brasileiros estão diante de uma encruzilhada: ou persistem em um modelo que, ao centralizar poder e minar instituições democráticas, levará ao colapso do sistema; ou enfrentam uma implosão completa dos vestígios de democracia que ainda resistem. Não há, no horizonte imediato, sinais claros de um ponto de inflexão que reverta essa tendência. A polarização interna, aliada à perda de credibilidade externa, cria um ciclo vicioso que dificulta a recuperação do prestígio brasileiro. Para reverter esse quadro, seria necessário um esforço conjunto de renovação política e diplomática. Isso incluiria a reconstrução de pontes com potências ocidentais, a promoção de uma política externa menos ideologizada e mais pragmática, e, internamente, um compromisso genuíno com a transparência e o fortalecimento das instituições democráticas. Sem essas mudanças, o Brasil corre o risco de se consolidar como um ator periférico, incapaz de influenciar o rumo dos grandes debates globais.