December 26, 2021

O TRIBUNAL DE APELAÇÃO

Situado na parte oriental da cidade da Babilônia, num suntuoso palácio, com visão privilegiada do Eufrates, rodeado por belos jardins, o Tribunal de Apelação estava reunido, naquela manhã, sob a presidência do eminente juiz Adramalec.

Dentre os assuntos da pauta do dia, um dizia respeito ao pedido de soltura de um conhecido comerciante de vinhos, preso, injustamente, há meses, com a anuência vergonhosa dos membros da Corte, por ele ter se insurgido contra o novo imposto das mercadorias vindas do estrangeiro.

O juiz, conhecido por sua crueldade e luxúria desmedidas, mal ouvia, agora, as alegações finais do advogado de defesa ao afirmar que seu cliente não cometera crime algum, expressando somente o seu desagrado contra aquela abusiva taxação.

Requeria, portanto, com base nos autos do processo, a liberação imediata do condenado, em face, sobretudo, do seu precário estado de saúde, por conta da idade avançada, solicitando, com voz convincente, clemência para o réu.

Despejando um olhar vazio de compaixão sobre o acusado, que estava visivelmente abatido, o maldoso juiz, com o barco dos pensamentos libidinosos navegando além do Tigre, deslizando, apressados, para os braços macios de Isthar, sua amante, fez um gesto de enfado, exigindo atenção.

Diante daquilo, o defensor emudeceu, enquanto o plenário aguçava ainda mais os ouvidos, aguardando, impaciente, o veredicto do magistrado, sabedor, desde sempre, que aquela Corte jamais se preocupava em fazer justiça, cujas penas impostas poderiam chegar facilmente ao Dia do Juízo.

Cansado de esperar em vão pela liberdade, macerado pelo sofrimento, o comerciante logo bateu à porta do céu.

Do alto da sua empáfia, Adramalec exercia sua tirania absoluta no Tribunal de Apelação, à medida que a ampulheta do tempo se esvaziava, sem que ninguém ousasse contestar as ações abjetas por ele perpetradas.

Por séculos, silenciosos, os zigurates testemunharam os caminhos trilhados pelas estrelas, trazendo até nós o brilho inconfundível da civilização suméria.

Por milênios, as perversidades do ignóbil juiz babilônico perpassaram as gerações, mostrando-nos que as trevas do mal podem encobrir o luzir do bem, sendo dissipadas, por completo, quando todos aprenderem a lutar verdadeiramente por seus direitos.

E, assim, deveria caminhar a humanidade!

AVELAR SANTOS
A/S CAMOCIM-CE