February 24, 2022

O DISCÍPULO MENOR DE SPINOZA

Ao vislumbrar as derradeiras curvas do caminho, antes de atingir a vastidão da planície, compelido, por vezes, a retroceder, continuo a seguir adiante, olhando o brilho do sol.

Não tenho mais pressa!

Ando devagar, saboreando as pequenas coisas do cotidiano, perdidas, outrora, na burocracia interminável dos dias, incrustradas, agora, gemas preciosas, num magnífico diadema real.

E abraço, com infinita ternura, e gratidão, cada novo amanhecer como se fosse o último!

Certa feita, ao ser indagado se acreditava na existência de Deus, Einstein respondeu: "O Criador se revela por si mesmo na harmonia de tudo que existe no universo."

Comungo dessa visão do eminente cientista germânico, amparado, sobretudo, na sublimidade das ideias de Spinoza, perseguido injustamente como herege, pela Santa Inquisição, ao afirmar que podíamos contemplar o Altíssimo no sorriso de uma criança, na beleza de uma flor, no murmúrio dos riachos, no canto dos passarinhos, na imensidão das montanhas, na poesia dos bosques.

Tudo isso expressa o amor divino por nós!

Batido, com vigor, na bigorna do tempo, aprendi a ser complacente com as pessoas, inclusive comigo mesmo, estendendo o tapete do perdão, que, ao invés da cama de Procusto, alonga-se cada vez mais.

Ninguém precisa ficar tão velho quanto eu para trilhar a vida com alegria!

Procure pensar as feridas da alma, esqueça os dissabores, faça as pazes com o passado, aqueça o coração na esperança do amanhã.

Mas, lembre-se: Nada é para sempre!

Baruch dizia que devemos aproveitar a vida, na sua plenitude, respeitando o próximo, amando a família, tecendo amizades, cuidando da natureza.

Filósofo brilhante, Spinoza escreveu que manifestamos o pulsar da Divindade quando beijamos a mulher amada, agasalhamos a filhinha, nos braços - ou sentimos a dor do outro.

E continua a nos exortar, com seus ensinamentos, que desfrutemos das maravilhas do mundo, redescobrindo Deus que mora em nós mesmos.

Sob o azougue do pensamento de Spinoza, que atraiu a Europa, no século XVII, Ética, sua obra-prima, é uma joia da filosofia moderna, cuja tessitura é similar a um tratado de geometria, algo realmente genial.

Ao me deparar com os escritos magistrais de Spinoza, a chama do farol da fé aumentou o seu fulgor, tornando-me um discípulo menor.

Assim, vejo Deus na poesia das manhãs, no luzir das estrelas, no fragor das ondas do mar, no voo solitário da gaivota, na doçura do olhar de uma criança.

É nesse Ser Supremo, Alfa e Ômega, imanente, misericordioso, que me acolhe, debaixo de Suas asas protetoras, em quem acredito.

Incondicionalmente!

AVELAR SANTOS
A/S CAMOCIM-CE