FOLHAS CAÍDAS
Recostado numa árvore, o velho olhava as folhas caídas ao chão, com o anzol de ponta afiada do pensamento fisgando o passado.
De tanto insistir, algo inato ao bom pescador, conseguiu encher o cesto de recordações, enquanto o coração se desfazia na navalha da nostalgia.
Perto dali, com a mãe, uma criança tentava pegar o sol, que se coava das copas, sorrindo quando a luz, teimosa, fugia de suas mãozinhas.
Recluso no mundo das ilusões perdidas, com o barco zarpando, indo além das Tormentas, o ancião não viu a menininha que brincava.
Navegando à bolina, ajustando a vela, mantendo a embarcação num ângulo de 45.graus em relação ao vento contrário, ziguezagueando, veloz, naquelas águas profundas, não demorou muito que aportasse.
Ao desembarcar, solitário, no cais, estranhamente o homem remoçara.
Sem entender nada, ainda, notou que as dores haviam sumido, a visão voltara a ser perfeita, o tremor das mãos cessara - e as pernas, outrora claudicantes, eram ágeis novamente.
Depois de contemplar o milagre, ele ouviu alguém chamá-lo com doçura.
Eis que uma bela jovem, de tranças no cabelo, corre ao seu encontro.
E o calor do sorriso que ela trazia derreteu de vez suas incertezas!
Nisso, um conhecido seu, cortando caminho, pelo parque, ao voltar para sua casa, vê o idoso, deitado no solo, sereno, sem mais preocupações.
Radiante com a beleza do lugar, o navegador observou que nenhuma nuvem estava encalhada, na vastidão daquele céu azul turquesa, cheio de luminosidade, onde cada átomo parecia pintar um oceano de paz.
E seguiram, ele e sua amada, caminhando, juntos, recordando sublimes momentos da vida!