NATAL DA GRAÇA DO SENHOR
Uma vela de alva brancura risca a barra do pensamento, frágil canoa que navega no mar revolto das emoções, levando-nos consigo ao passado mais distante.
Sem que nos apercebêssemos, a carruagem dos anos voou célere pela estrada da vida, deixando, para trás, no vislumbre fugidio da janela do tempo, a mocidade fagueira, que, até um dia desses, nos sorria, e, felizes, debaixo da sombra do velho Tambor, fazíamos planos para o futuro.
Nessa época dourada, estávamos no Seminário de Santo Antônio, exemplo maior da determinação dos frades alemães, que, vindos de Bardel, construíram-no, com muito suor e lágrimas, para ser o centro de referência no ensino religioso no Nordeste brasileiro, encravado nos alcantis da Borborema, mais precisamente no Sítio Ipuarana, em Lagoa Seca- Pb, transformando-se rapidamente em relicário das aspirações de centenas de jovens, oriundos dos mais diferentes recantos do país, que tiveram um dia o privilégio de caminhar pelos seus claustros sagrados, bebendo da fonte fecunda do saber, através dos sábios ensinamentos de seus inesquecíveis mestres, que, com paciência e dedicação de bons oleiros, moldaram para sempre a mística franciscana do "Paz e Bem" em nossos corações.
Foi lá que cada um de nós, diletos companheiros de jornada, forjamos amizades que valem mais que ouro em pó, que nem a distância nem tampouco o correr das décadas abala seus alicerces, posto que fincados na rocha, onde aprendemos o verdadeiro significado da existência, a sublimar as coisas do Alto, a calçar as sandálias da humildade, e, principalmente, a manobrar com habilidade o par de asas, que ganhamos de presente, cada um ao seu modo, para poder voar no infinito sem quaisquer receios.
Ainda ontem, partilhávamos as mesmas salas de aula, estudando com afinco redobrado, estaiado no binômio civismo e cidadania, tecendo o fio precioso da cultura, junto com a religiosidade, aprendendo, dentre as inúmeras lições que nos foram repassadas, aquela indiscutivelmente mais grandiosa que diz que devemos amar a Deus sobre todas as coisas, dispondo-nos, para o fiel cumprimento desse desiderato, em não medir esforços para servir aos irmãos, estendo-lhes as mãos, quando necessário for, em todas as modalidades possíveis, quer materiais ou espirituais, ouvindo suas aflições, pensando com palavras de fé as feridas da alma, na certeza que, agindo assim, a luz que emana do farol do bem jamais se apagará.
E eis que, irmanados na mesma sintonia fina da gratidão, do justo reconhecimento do que Ipuarana fez por nós, ao retornamos aos seus braços generosos, desfrutamos de novo, com intenso júbilo, e uma saudade aperreada dos tempos idos, do aconchego insuperável dessa Casa santa, pombal seguro que nos recebe com amor - e alegria - a cada revoada de volta ao lar.
Como num passe de mágica, passaram-se velozmente oitenta anos de sua fundação - e, ouvindo seu doce chamado de mãe, lá estivemos reunidos, com o coração em festa, comungando do seu contentamento em poder celebrar data tão auspiciosa.
Agora, é chegado o tempo sublime do NATAL DA GRAÇA DO SENHOR, onde o Menino-Deus espera abrigo em nossos corações, almejando nos retribuir, em troca desse gesto solidário, com a vivência de sua paz duradoura que aquece o nosso espírito muitas vezes alquebrado pelas dificuldades do cotidiano.
Cantando louvores e entoando preces, na capela, como fazíamos antigamente, aguardamos, ansiosos, a chegada desse Menino, profetizado por Isaías, no Antigo Testamento, que veio ao mundo para trazer esperança aos aflitos, enxugar as lágrimas dos que choram, sofrer junto com os desvalidos, chorar, conosco, pelos injustiçados, curar os enfermos, espargir bondade e misericórdia, aos quatro ventos, endireitar as veredas, aclarando os caminhos que nos levam ao Pai.
GLORIA IN EXCELSIS DEO!
AVELAR SANTOS
A/S CAMOCIM- CE
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