March 23, 2022

OUTRUNNING KARMA

01 - Selfpara - Cha Hyeshin's Journey

Algumas pessoas vão a yoga para relaxar. Algumas meditam. Cha Hyeshin vai a leilões. Ele conta saídas e janelas. Ele observa as rotações dos guardas. Zomba dos sistemas de segurança. Observa as posições das câmeras de segurança, encontra pontos cegos. Ele usa perucas e relógios caros. Às vezes ele flerta com os clientes e vai embora em seus carros. É a coisa mais próxima de um "hobby" que Hye tem. Não tecnicamente um trabalho. Mais pela emoção do que qualquer coisa. Para afastar o tédio da vida que nem mesmo era para ser vivida.

Hye levanta sua raquete quando os lances começam. Ele não se importa em perder. Na verdade, ele está aqui para aumentar o preço desta peça em particular para que, se ele decidir roubá-la um dia, ele possa vendê-la por mais. “50.000?” O leiloeiro pergunta e antes que Hye abaixe a mão, outra mão se ergue no ar, como um pistão. Ele olha com curiosidade. Esta não é uma peça particularmente popular, ele não esperava tanta ferocidade em outro licitante.

'Oh.' Hye pensa, sua mente se acalmando, o medo como uma névoa fria se acumulando em sua barriga. O homem de codenome 'Mallick' o observa com olhos ferozes. Hye levanta a mão inconscientemente para traçar a cicatriz quase invisível em sua bochecha, deixada em seu último encontro com aquele homem. Seus dedos estão tremendo. Hye fecha a mão em punho. Os lances passam em uma enxurrada de números levantados. Hye faz uma boa fachada, mas deixa Mallick ficar com a peça no final.

O órfão se levanta, suas vestes de cetim caindo como água enquanto ele se aproxima de Mallick. O que isso diz sobre ele, que Hye sempre caminhou de cabeça para o perigo? O controle é uma fera que Hye se recusa a soltar. Ele se empoleira no assento ao lado do homem, como se eles fossem conhecidos casuais e estivesse ali para dizer olá. "Você ouviu sobre aquele negócio desagradável em Gangnam no mês passado?" Hye pergunta levemente. “Como está a casa de penhores?” Ele toma sua bebida delicadamente, olha para o outro por cima da borda de seu copo, "Eu espero que eles peguem o responsável." A provocação era nitida, já que o grande assalto a loja de penhores de Gangnam, propriedade da familia de Mallick, era obra Hyeshin.

"Vai se foder", o homem mais alto responde com um sorriso falso, lentamente esticando um braço ao longo das costas da cadeira em que Hye estava sentado. "Acho que isso é o suficiente, garoto" Palavras firmes aumentam de volume acima do som de conversas ociosas enchendo a sala entre os lotes do leilão, sem medo de chamar a atenção para eles. "Vamos levá-lo para casa, certo?" Sua mão encontra a nuca do ladrão, apertando contra a pele quente. “Ande calmamente até o banheiro mais próximo,” Mallick sussurra baixinho, “ou eu vou fazer uma cena. Eu não dou a mínima para atenção, mas algo me diz que você sim".

Um vigarista deve ser sempre a pessoa mais inteligente da sala. É uma crença egoísta. Uma pequena crença cuidadosamente enterrada, perseguida muitas vezes pela soberba que Hye carrega, de que ele é de alguma forma mais inteligente do que a média das pessoas. O medo no estômago do órfão se transforma em antecipação, como trigo em ouro, com a chegada de um oponente digno.

Hye inclina a cabeça para trás e ri, seus incisivos brilhando nas luzes brilhantes da casa de leilões. "Pelo menos me pague o jantar primeiro", diz ele, levantando uma sobrancelha. Hye afrouxa o aperto alheio enquanto bate o copo contra as vestes do outro "Oops", diz ele se desculpando, encolhendo os ombros, quando outros participantes bem vestidos lançam olhares críticos sobre os dois. “Cuidado,” Hye avisa em voz baixa, “Eu vim com alguém,” ele mente facilmente, “Eu não acho que ela ficará muito satisfeita se você roubar o par dela.” Hye sorri torto para Mallick, "E não sou eu com quem você deveria se preocupar." O garoto lança um olhar para os guardas de segurança que perambulam lá para proteger os vários tesouros em exposição, “mas suponho que eu realmente preciso tirar água do joelho”. Hye se solta do aperto alheio e se levanta, começa a se mover em direção aos banheiros. 'Decoro e aparência', ele pensa, não vai segurar Mallick. Melhor concordar com suas exigências e ver primeiro onde isso vai dar, dar-se algum tempo para pensar. Hye pisca para o guarda parado na esquina que olhou curiosamente para eles, abre a porta do banheiro e entra. Ele pula no balcão da pia de mármore e se recosta nas palmas das mãos. “E aí, Mallick? No que está pensando?"

"Oh sim?" ele fala arrastadamente após o aviso do ladrão. “Bem, você sabe o que dizem: três é demais. Tenho certeza que sua companhia não ira nos seguir.” ele sorri, muito menos falso do que seu sorriso anterior. “Eu apostaria uma quantia decente de dinheiro que ser preso seria muito, mas muito pior para você, do que para mim.” Olhos escuros passam do pessoal de segurança para o garoto. “Eu tenho um tio que me tiraria de qualquer problema com um único telefonema. O que você tem, garotinho? Algumas pedras de merda e um encontro que parece super ausente agora." A porta do banheiro se fecha atrás deles. "No que eu estou pensando?" ele ecoa “Vamos ver – talvez seja o fato de você ser um pedaço de merda que parece pensar que pode fazer o que quiser sem consequências.” Uma sobrancelha se ergue em desafio. "Ou que você parece me subestimar, porra." Ele pega um dos rolos de papel higiênico, envolve a taça de vidro que tem em mãos, a mumificando, e quebra em seguida, camuflando o som e pegando uma das grandes lascas de vidro. “O que é realmente irritante, porém, é que se você tivesse se rendido e aceitado que foi pego na casa de penhores, em vez de tentar bancar seu próprio herói e danificar muitas das nossas peças”, ele se aproxima da pia, correndo a borda lisa da lasca de vidro contra uma coxa envolta em cetim, "Eu poderia ter lhe oferecido uma renda mais segura do que essa bosta que você faz."

"Hmmm," Hye cantarola, "Sim, um lembrete de que lutei por tudo o que tenho enquanto você recebeu, por um tio, a um telefonema de distância." Nunca é uma boa ideia jogar tão perto de uma chama como aquele homem, mas Hye não consegue evitar. Ele se pergunta se Mallick poderia realmente sair da prisão com um único telefonema, se ele estava alto o suficiente na hierarquia social para garantir uma libertação rápida. Certamente sim. Hye observa curiosamente enquanto o outro embrulha o copo, seu rosto propositalmente vazio e entediado mesmo quando a confusão o atinge. Ele balança as pernas para frente e para trás. 'Ah, pensa Hye', quando uma ponta afiada é revelada na mão alheia, girada como um bastão de ginasta e levada até sua coxa, então o órfão percebe que não deveria estar brincando com fogo.

“Você tem todas as suas conversas com a ajuda de uma arma?” Hye fala sereno. “Deve ficar tão tedioso depois de um tempo.” O garoto estende a mão e agarra o pulso de Mallick com força suficiente para doer, se inclina para frente até que eles estejam quase nariz com nariz, "Eu nunca subestimei você, eu simplesmente falhei em ver o que você pode fazer." Hye inclina a cabeça para o lado, "Você não quer me machucar, porque todos, inclusive sua mãe, virão você entrando aqui comigo, e se eu sair mancando e coberto de sangue, as manchetes amanhã serão 'Filho de empresária do mercado de jóias dá uma surra em um participante da casa de leilões.' Hye sorri largamente para ele. "Não, se você me machucar, amanhã as manchetes vão dizer: 'filho de empresaria esfaqueia garoto na casa de leilões e sua pobre mãe nunca mais vai trabalhar." Hye solta a mão de Mallick. “Ela será uma pária nesse mercado, perseguida onde quer que ela vá por conta de seu filho violento e mal-comportado,” Hye faz beicinho dramaticamente e mexe os dedos no ar, minando o movimento de ser perseguido. Ele estreita os olhos com as palavras finais do homem e pensa. 'Ah, agora isso é interessante'. "Infelizmente, eu já estou empregado," responde, estendendo as mãos na frente dele sabendo que Mallick vai entender que ele quer dizer ladrão, quando Hye realmente quer dizer sua recrutação para a NIS. "Por que, o que você quer que eu faça por você?"

“Soa muito como ciúme para mim, inveja porque eu tenho família e você nunca terá. Eu trabalhei duro pra caralho pelo que eu tenho.” Uma risada ecoa “Você é algum tipo de stalker? É assim que você sabe tanto sobre mim? Porra, você não é ex de um dos meus irmãos, é?” Ele debocha. “Você critica cada rico filho da puta que conhece ou é só em mim que você gosta de bancar o superior?” Ele vira a lasca de vidro para si mesmo. “E se for eu a sair mancando e coberto de sangue?” Vidro afiado resvala em seu braço, uma gota de carmesim brotando em sua ponta. “E se—” ele funga, a voz ficando fraca e vacilante propositalmente, “—eu fui atacado por você no banheiro quando você tentou me assaltar?” Ele sorri caótico. “Você acha que pode lidar com isso, garotinho? Acha que pode correr rápido o suficiente de todos que gostariam de caçar você?" Um latido agudo de riso é exalado, ricocheteando nas paredes de azulejos. “Por que diabos eu deveria dizer quando você não fez nada além de me causar problemas? Talvez se você tivesse sido um pouco menos intrometido, eu estaria apresentando a você uma oportunidade agora e não me impedindo de descobrir como machucá-lo sem deixar uma marca física."

Hye joga a cabeça para trás e ri. A ideia de namorar um dos irmão de Mallick é hilário para ele. O outro não percebe que Hye conhece a todos e todos o conhecem, cada um com um nome diferente. “Ah lindo, seus irmãos SONHAM que eu fosse um de seus ex.” Hye curva um lado de sua boca em um sorriso, totalmente presunçoso. “Não me dê tanto para criticar e eu não vou falar tanto.” Mallick pode ser bom com facas e adagas de vidro improvisadas, mas a maior arma de Hye sempre foi ele mesmo. As mãos dele. A mente dele. Suas palavras. Tecendo-o fora do perigo. Tecendo uma rede para ele cair. Hye fala, e fala, e fala e sabe que pode fazer qualquer coisa, resolver qualquer coisa, se continuar falando. No entanto, ele sente o sorriso presunçoso cair de seu rosto, sua mão se estendendo antes que ele realmente pense sobre isso, tentando impedir que Mallick se machuque. O rosto de Hye está sombrio agora. Ele solta a mão alheia e sente seu coração em seus ouvidos. Sua mente correndo. Os guardas lá fora não são nada se o outro realmente fazer aquilo. Hye está ali com um nome falso. Um pseudônimo que ele pode queimar e descartar. O verdadeiro problema será as imagens de seu rosto. Quem irá o proteger de uma falsa acusação? Ninguém.

Hye estreita os olhos para Mallick, abaixa a voz para um sussurro mortal, “Então você tem um desejo de morte. Isso não é prolema meu. O que faz você pensar que eu gostaria de continuar em Itaewon? Vai em frente,” ele diz, abrindo os braços e gesticulando com as mãos, “sirva-se, eu já terei ido embora antes que você termine de gritar e você nunca mais vai me ver.” Hye ri novamente. Ele precisa achar uma forma de acabar com aquele joguinho e sai dali ileso. “Bem, vamos lá, Malli” Hye diz, “Não vamos deixar meu encontro esperando.”

"Vai se foder, garoto", Mallick rosna, "Tudo bem", ele continua, a voz cortada com raiva. “Vamos com a porra dos danos psicológicos, então.” Desta vez ele agarra o mais jovem pelo pescoço, puxando-o para fora do balcão antes que ele possa antecipar o que está acontecendo. Mallick o prende entre ele e a pia, abrindo a torneira fria com a mão livre antes de forçar o rosto de Hye sob a correnteza. Ele aperta o nariz do órfão com força e solta um aviso baixo em seu ouvido adornado de joias. “Você mexe comigo e minhas coisas novamente e eu te garanto que eu vou ser a última pessoa que você vai ver em vida. Entendeu? Eu não dou a mínima para quem você é: você vai morrer e não vai ser bonito.”

Uma vez, quando Hyeshin começou esta vida. Quando ele ainda era uma flor, fresca e verde. Quando ele não conseguia nomear os sistemas de segurança pelo contorno de seus teclados. Ele havia planejado um trabalho grande demais para suas botas. Havia escalado mão após mão, pé após pé, pela lateral de um edifício de pedra tentando alcançar um prêmio incrível. Mas Hye era fraco e falhou em se preparar para a pura fisicalidade da tarefa. Ele não pensou em quanto tempo levaria para subir dez andares no ar, sozinho. Os braços começaram a tremer, as pernas liquefeitas, perdidas. Quando você está balançando quatro andares no ar e olha para baixo, essa distância parece aterrorizante. A mente puxa e estica e distorce. Essa distância parece a morte. Olhando agora para Mallick, Hye se lembra daquele momento. Ele se lembra de estar a beira da morte.

A mão do mais velho afunda em seu pescoço e não há para onde ir a não ser para baixo, ser ar, com dor. Nenhum lugar para ir, além de onde Mallick quer que ele vá. Naquela noite de sua memória, todos aqueles anos atrás. Não havia para onde ir, mas para baixo também. A pedra desmoronou sob seus dedos e ele escorregou, logo estava caindo, e caindo e caindo. Ele luta, mesmo quando não há resultado algum, ele luta do mesmo jeito. Hye se debate contra o aperto em seu pescoço, em seu nariz. Ele tenta empurra com os pés inutilmente, tentando fugir, mas a água invade suas narinas e de repente tudo começa a perder a cor. Eu não quero morrer aqui, Hye pensa. Eu não vou. A lógica oferece uma boa luta, mas o pânico está inundando seu cérebro. Mallick sussurra uma ameaça e o órfão quer rir, quer gritar com ele. O mais jovem agarra as bordas da pia com as mãos e se equilibra, bate um pé com força sobre o pé do outro, dá uma cotovelada em sua barriga e sai cambaleando do jato de água assim que o agressor perde o controle sobre si e o solta. Hye anda para trás com as pernas trêmulas até que suas costas batem na parede do banheiro. Ele pode sentir sua maquiagem abrindo um caminho escuro em seu rosto, turvando sua visão. "Jesus, você é maluco por acaso?", diz ele, ainda recuperando o fôlego. Então ele passa a mão pelo rosto, "Essa roupa é limpa só a seco, seu monstro."

Mallick se dobra, dando alguns passos trôpegos para longe da pia. "Vai tomar no cu, seu merdinha", ele sibila, e Hye pode ver a palma da mão alheia pressionada sobre o estômago enquanto ele morde através da dor rolante. "É uma roupa feia de qualquer maneira." O comentário é infantil. E uma mentira. Com um estremecimento, então o órfão observa o homem endireitar a coluna enquanto ele dá meio passo à frente com a intenção de continuar, desfere um soco forte contra a face imaculada de Hyeshin, causando ferimentos quase que instantâneos. Hye sente seu corpo perder as força e sucumbir. Sobre o chão, mais uma dor é adicionada a lista, quando a ponta da bota de Mallick vai de encontro a seu estômago, uma, duas - varias vezes. A visão começa a ficar ainda mais turva, dessa vez não por causa da maquiagem e ele pode ouvir, "Você começou essa merda", passos voltando para a porta do banheiro “Eu vou te assombrar até você me implorar para parar ou você encontrar coragem para terminar isso de vez.”

Seu último suspiro consciente veio segundos depois que a porta se fechou e Hyeshin se tornou o único ali. Quando acordou, estava em uma cama de hospital, memória nublada, um borão e muitos curativos. A dor física no entanto não se comparava a ferida em seu ego, e como percebeu que ainda era um elo fraco para a organização.