01 - r/am_i_the_asshole.
"Real misanthropes are not found in solitude, but in the world; since it is experience of life, and not philosophy, which produces real hatred of mankind." — Giacomo Leopardi.
O dicionário Oxford sugere que misantropia é um substantivo incontável e formal que significa o sentimento de odiar os seres humanos em um geral. Talvez a grande antítese da vida do sul coreano fosse essa, enquanto um misantropo ele se via todos os dias indo aprender medicina e trabalhar no hospital, lidando sempre com seres humanos o tempo todo, mesmo que ele fosse fixado na doença e não na pessoa que o carregava, o importante mesmo era resolver os mistérios, consertar os problemas e estar certo; sim, tudo o que importava para ele era estar certo.
No hospital universitário de Haena ele tinha duas funções, uma era como interno do seu preceptor e o outro era como acompanhante de um dos melhores, senão o melhor cirurgião do hospital que o escolheu por sua mente brilhante. Hoje, no entanto, ele acabou no lugar que mais odiava: a clínica; ter que trabalhar diretamente com outras pessoas e precisar interagir com elas, lidar com elas oferecendo a mão, ou tagarelando sobre coisas que ele não tinha interesse era sempre um porre e ele odiava.
Hoje em especial o garoto não estava legal com seus problemas pessoais e ele já era conhecido por muita gente ali como o estudante arrogante, babaca entre outros adjetivos nada agradáveis, mas no fim do dia ele sabia que tudo isso não passava de intelectos inferiores se sentindo ameaçado por ele, afinal, sua vida toda foi isso não é? Ele tinha certeza que sim. Em algum momento ele acabou atendendo um homem rabugento que desde o começo reclamava “das horas” que demorou para ser atendido e, para piorar, que tipo de médico deixa o consultório para resolver coisas pessoais? (pois havia visto o rapaz precisar fazer uma ligação).
Em meio as muitas reclamações, ele também reclamou do garoto não ter se apresentado e sim logo perguntado qual era o problema, mas por que deveria se apresentar? Ele queria saber da doença e não da vida daquele cara afinal. O outro falava que o problema da nova geração de médicos era deixar que pessoas como ele se formassem, pessoas que sequer cumprimentavam o paciente e foi quando Sungmin enfim interveio já irritado com tanto falatório.
— Você não tava incomodado com a demora? Agora quer bater papo…? — o fitou confuso. — Oi, meu nome é Sungmin, que virada do Real Madrid hoje né? — não acompanhava futebol, apenas calhou de saber que isso aconteceu mais cedo e usou para ironizar.
O rapaz se mantinha sendo rude e Sungmin era idiota demais para só aceitar tudo quieto sempre. Quando ele baixou a calça para mostrar sua suposta infecção, não conseguiu dizer nada antes do sul coreano clamar alto que não era uma, fazendo o mais velho se irritar enquanto reclamava: "Você sequer me tocou, como pode saber o resultado?".
— Desculpa eu tenho uma namorada ciumenta. — zombou sobre não tocar abaixo da linha de cintura dele. — Você tá mascando chiclete de nicotina e isso causa desidratação, que causa desgaste... não é uma infecção e da próxima vez é só usar lubrificante. — explicou o que causou o problema do rapaz.
O outro ficou irritado com o jeito “sabe tudo” dele, todos ficavam, e exigiu que ele fosse testado para ter certeza do que tinha pois o interno poderia estar errado, e isso tocou no ego do garoto, ele odiava que assumissem algo assim. Disse que estava certo e que seria um desperdício do tempo dele e de recursos enquanto se levantava conforme o mais velho reclamava que ele não devia lhe dar as costas, o garoto ia chamar pelo seu supervisor por não querer mais lidar com aquilo e pegar a aprovação de seu diagnóstico quando o homem se irritou tanto com aquele “pequeno babaca”, que virou um soco em seu rosto e o derrubou contra uma parede no consultório.
Sungmin caiu em meio alguns instrumentos médicos, sua visão ficou turva e ele foi tomado por certa raiva conforme apertava sua mão contra um dos poucos objetos cortantes ali, mas por sorte o barulho chamou atenção de alguém que passava pelo consultório e chamou os seguranças. Após os depoimentos serem dados, o mais novo ainda precisou ouvir pelo menos uma hora de sermão de seu preceptor da pessoa que dirigia o hospital repetindo de novo e de novo que, mesmo que o outro tivesse começado e feito tudo o que fez, ele também estava errado.
Apesar de tudo, o mais velho ter começado as violências verbais e partido para a física provavelmente foi o que ajudou Sungmin a não receber nada além de uma advertência, mas aquilo já foi o suficiente para lhe irritar profundamente; desde o início da semana muito estava acontecendo consigo e ele continuava sem entender o porquê, desde criança ele nunca entendeu de verdade. Por que essas coisas sempre aconteciam com ele afinal?
Em algum momento foi para sua casa, onde chegou gritando tudo que podia e apenas então tirou seu fone cancelador de ruídos e o arremessou contra a parede, quebrando alguns colecionáveis no processo antes de ir para sua cama com aquela certeza de que realmente odiava as pessoas. Estava cansado delas. Cansado de todos os idiotas de sua infância, adolescência e dos que apareciam agora depois de adulto e, para piorar, uma das poucas pessoas que sempre o protegeu e abraçou com todos seus defeitos, sua mãe, agora também estava em uma grande tensão consigo por conta da única outra pessoa no mundo que lhe fazia bem. Era difícil de lidar. Fossem os idiotas do passado ou do presente, fossem situações corriqueiras do dia a dia ou mesmo suas próprias atitudes o garoto não conseguia entender tão fácil, para um gênio, Sungmin até que tinha muita dificuldade em entender o porquê.