Reflexão
March 2, 2022

Não use Ogum (ou qualquer outro Orixá) como "muleta" para seus comportamentos

O Orixá Ogum rege o trono masculino da Lei e da Ordem em um dos 7 tronos sagrados da Umbanda. Ogum é um APLICADOR DA LEI e age com INFLEXIBILIDADE (sem relativismos morais), rigidez e firmeza. Ele é CORRETO em todas as suas condutas e não admite que tenha outro caminho a não ser o CERTO. Onde estiver Ogum, lá estarão os olhos da Lei. Ogum é a personificação da APLICAÇÃO DA JUSTIÇA, da LEI e do ORDENAMENTO.

Ogum não é um Orixá de COMBATE ou de GUERRA: Ele é um CAVALEIRO, antes de ser um GUERREIRO. Ele é um Orixá de AÇÃO que vai à frente quando o combate é absolutamente necessário e JUSTO!

Os filhos de Ogum têm um "hábito" de dizer que são "brigões" por serem "filhos de Ogum"! Uma "muleta moral" que revela um imenso desrespeito e ignorância. Quem decidir ESTUDAR a MITOLOGIA CRISTÃ de São Jorge aprenderá que Jorge da Capadócia era um Cavaleiro Cristão e, como tal, não tinha prazer no derramamento de sangue ou no enfrentamento que não fosse absolutamente necessário. Já quem estudar a mitologia dos Orixás, verá em uma das histórias sobre Ogum que, sua intempestividade e fúria o levaram à vergonha e ao remorso e arrependimento. Essa é a lição que fica sobre sua atitude irrefletida: Os filhos de Ogum devem pensar MUITAS VEZES antes de "desembainharem suas espadas" e partir para a "luta", pois a falta de reflexão leva à vergonha e à ruína.

As pessoas que atribuem à Ogum suas demandas por conflitos e confrontos sofrem de "Síndrome do Dom Quixote de La Mancha": Estão sempre em busca de "Moinhos de Vento" para guerrear, achando que são gigantes, quando na verdade não passam de projeções dos seus próprios dilemas, demônios e sombras, projetados no mundo exterior. Afinal, é MUITO mais fácil culpar os outros por suas mazelas e sofrimentos do que buscar a prática da reforma íntima! Uma terrível Síndrome Combativa: só estão em paz se estão em guerra. E assim, nunca têm - verdadeiramente - paz!

Se vis Pacem, Para Bellum: se queres paz, prepare-te (esteja preparado) para a guerra (não, EM GUERRA!)

Essas pessoas são incapazes de perceber que o COMBATE não é um fim em si mesmo, e sim um MEIO para algo maior, melhor, mais digno e honroso.

Pessoas que têm a necessidade patológica de estar SEMPRE em conflito com algo ou alguém. Pessoas que afirmam lutar por uma "causa" ou "ideologia" mas que, na verdade, lutam apenas para garantir a satisfação do próprio Ego, e não para o louvor e honra do seu Orixá, já que não existe nenhuma honra num combate cujo objetivo é subjugar o outro, e impor a este as suas vontades para satisfação do seu egoísmo ou vaidade. Estas pessoas demonstram uma necessidade AGUDA de aceitação (e de auto-aceitação), validação social, e de encontrar seu lugar no mundo, na sociedade e entre seus pares.

Este comportamento revela não as características de um "Orixá", mas uma necessidade de ser notado. De ser Aceito. Estas pessoas, em geral, têm um Ego "inflado" (e jurarão de pés juntos que não, uma vez que além de Egóicas são - normalmente - hipócritas consigo mesmas), se acham privilegiadas por se acreditarem "guerreiras", se acham TÃO ESPECIAIS que têm sempre que estar certas e que Ogum SEMPRE estará ao lado delas nas "batalhas", mesmo que elas estejam erradas. Afinal, como um "Filho de Ogum" pode estar errado, não é mesmo?

Esse comportamento revela um imenso vazio interior. A falta de propósito, de paz, de auto-aceitação, de auto-validação, de auto-suficiência.

"Quando as pessoas que pensam diferente sentam na mesma mesa, ao invés delas entenderem a riqueza da diversidade de olhares, o que mais acontece é uma tentar convencer a outra que está certa. E quando eu estou tentando convencer os OUTROS de que eu estou certo é porque EU MESMO não estou muito convencido daquilo, porque quando eu entender que aquilo que é meu tá certo, então tá suave, e eu não preciso convencer mais ninguém de nada!"
- Pai Alexandre Cumino - Teologia de Umbanda

“Não para nós, Senhor, não para nós, mas para Glória de Teu Nome”