A Inquisição
A Inquisição, Tribunal da Inquisição ou Santo Ofício é o nome do órgão eclesiástico instituído pela Igreja católica com o objetivo de investigar e julgar pretensos hereges, ou seja, acusados de crimes contra a fé católica. Geralmente julgados sumariamente, os condenados eram enviados ao Estado, para serem sentenciados, cujas penas previam desde torturas até pena de morte, sendo na execução clássica o condenado ser queimado vivo em praça pública.
Sua origem data do século XII, no intuito de combater seitas insurgentes na França. Na Idade Média, seu campo de ação foi significativamente ampliado por ocasião da Reforma Protestante. Os alvos mais comuns eram pregadores de ideias religiosas contrárias às ideias católicas vigentes, supostos feiticeiros e satanistas, bem como pensadores e cientistas, cujas ideias ameaçassem a dominação da Igreja Católica.
Em países onde o protestantismo era maioria, como Inglaterra e Alemanha, eventualmente as igrejas protestantes também instalavam tribunais similares, combatendo católicos, teólogos radicais e supostos praticantes de bruxaria.
Ao longo do século XIX os Tribunais de Inquisição foram extintos pelos estados europeus, permanecendo apenas no Estado do Vaticano. Em 1908, o papa Pio X renomeia o órgão para Sacra Congregação do Santo Ofício, que depois foi rebatizada em 1965, durante o Concílio Vaticano II para Congregação para a Doutrina da Fé.
O Auto de fé
As audiências públicas ou reservadas do Santo Ofício eram chamadas de Auto de Fé. Um desses autos envolveu diretamente o Espiritismo: foi o Auto de Fé de Barcelona, em 1861, quando cerca de trezentas obras espíritas, de autoria de Allan Kardec e de outros correligionários, foram confiscadas pelo bispo de Barcelona e queimados ao ar livre, sem que tenha havido qualquer ressarcimento aos credores. Entretanto, apesar do prejuízo financeiro, o atentado acabou por despertar ainda mais interesse do povo da região pela Doutrina Espírita, além de inflamar a já crescente revolta popular contra o absolutismo da Igreja.
Censura literária
A fim de adestrar seus fiéis, a Inquisição também visava controlar a literatura, pelo que atualizava constantemente o Index Librorum Prohibitorum — a lista de livros proibidos, por serem considerados perniciosos à crença católica. A primeira versão do Index foi promulgada pelo Papa Paulo IV em 1559 e a sua última edição foi publicada em 1948. Oficialmente, a lista só foi abolida em 1966, pelo papa Paulo VI. O Livro dos Espíritos de Allan Kardec passou a fazer parte desta listagem em 1 de maio de 1864.
Além de Kardec, grandes autores clássicos tiveram obras censuradas, por exemplo, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Victor Hugo, Maquiavel, Voltaire, René Descartes, Rousseau, Immanuel Kant etc.
Autos de grande repercussão
O italiano Galileu Galilei (1564-1642), um dos pais da revolução científica, foi um dos réus da Inquisição católica em razão de ele defender a tese do heliocentrismo (de que o Sol seria o centro sobre o qual a Terra e os demais planetas orbitariam), indo de encontro com a teoria então defendida pela Igreja: o Geocentrismo (de que a Terra seria o centro do Universo e que ao redor dela é que os demais astros orbitariam). Para fugir de uma condenação fatal, Galileu abjurou publicamente suas ideias. O que não se deu com tantos outros.
A personagem mais lembrada por seu martírio decretado pelo Santo Ofício é Joana d'Arc (1412-1431), a heroína francesa que, cinco séculos depois, seria canonizada santa católica e padroeira da França. Médium, a jovem liderou o combalido exército de seu país contra a poderosa Inglaterra, seguindo as instruções de vozes espirituais. Após devolver a coroa ao seu rei, Carlos VII, a donzela guerreira foi capturada e vendida aos inimigos ingleses. Julgada pela Igreja e condenada à fogueira, entre outras coisas, por bruxaria.
A chamada fogueira santa não poupava nem mesmo os "de casa". Giordano Bruno (1548-1600) foi um frade dominicano italiano e também um reconhecido teólogo. Tendo proposto a reformulação de certos dogmas católicos, como a virgindade de Maria e a Santíssima Trindade (ideia de que a divindade se divide em Deus, Jesus e Espírito Santo), além de refutar a ideia geocêntrica, foi sentenciado à morte e queimado vivo numa praça romana. Convidado a abjurar suas ideias a troco de escapar do martírio, declarou: "Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la".