A questão espiritual das internações compulsórias para dependentes químicos
Há uma grande polêmica em São Paulo entre autoridades e defensores dos direitos humanos, em torno de se é certo determinar a internação obrigatória para os dependentes, mesmo contra sua vontade.
Nós espíritas respeitamos o livre-arbítrio, o direito de livre escolha, a liberdade para tomar decisões como algo da maior importância, mas para análise específica desse caso, prestemos atenção neste trechinho da Questão 847 de “O Livro dos Espíritos”: (...) Alguém cuja inteligência está perturbada por uma causa qualquer não é mais senhor do seu pensamento e, desde logo, não tem mais liberdade...
Ora, se o livre-arbítrio está prejudicado porque falta discernimento mental para proceder as escolhas, temos não só o dever de cidadão mas também de caridade de salvá-lo do naufrágio total que sua vida pode incorrer.
Não podemos mais fechar os olhos para problemas de tamanha gravidade, causa da propagação de doenças, incremento da criminalidade, desagregação familiar e perniciosos desequilíbrios espirituais. Cenários dantescos como a Cracolândia, em São Paulo, e que se repetem, especialmente nas nossas grandes cidades, causam pavor e vergonha pelo descaso e incompetência das autoridades públicas e da indiferença da sociedade em geral. Mas constituem apenas uma das terríveis facetas do problema.
Não vemos – até que ocorra no seio da própria família – o que ocorre nos lares fustigados por essa catástrofe física, mental e moral. Quanta dor e sofrimento. Quanta violência. Quanta insanidade e morte!
Curitiba também tem suas pequenas cracolândias e o problema da dependência está não só ali, mas em toda parte, nas praças, sob as marquises, nas portas dos colégios, nas baladas, nas esquinas escuras.
O vício das drogas representa um mal extremo individual que afeta a saúde física e mental, mas também é problema social, moral e espiritual que compromete muito mais que o presente, pois estende dificuldades imensas para o futuro desses indivíduos, com sofrimentos após a desencarnação com enfermidades e outros graves desequilíbrios na reencarnação seguinte.
Aos que acham que a internação compulsória não deve ser aplicada porque o viciado tem que ter sua vontade respeitada, dirigimos uma pergunta. Quando testemunhamos um homem agredindo fisicamente a companheira o que devemos fazer: respeitar o livre-arbítrio dele? Quando alguém está prestes a praticar o suicídio assistimos de braços cruzados porque a pessoa está tomando uma decisão só dela?
Então, paremos com essa hipocrisia. O direito de ir e vir só pode ser respeitado enquanto o indivíduo sabe para que lado ele quer ou deve ir, ao mesmo tempo que seu ato não atinja os direitos dos outros também de frequentar os logradouros públicos com segurança e higiene, de trabalhar e estudar, educar filhos e viver dignamente.