September 10, 2022

Familiares Desencarnados

Desde o falecimento de seu pai, aquela senhora vinha enfrentando crises de angústia e inquietação. Ambos eram muito ligados.

Passaram-se semanas e ela continuava deprimida, desalentada. Buscou auxílio na religião.

A presença no culto, as rezas, lhe traziam algum alívio, mas precariamente. O marido a levou primeiro a um psicólogo, depois ao psiquiatra. Sessões terapêuticas e medicamentos não resolveram o problema.

Compareceram a uma sessão de descarrego. Reunião especializada em exorcismos.

Atendida pelo oficiante, este pronunciou rezas e incisivamente determinou que as forças demoníacas se afastassem da paciente.

Então, para espanto do marido, visivelmente alterada, ela começou a falar em voz grossa e arrastada.

Surpresa maior. Falava como se fosse o pai dela, a pedir ajuda. Sentia-se perdido e infeliz, sem governo sobre a própria existência, sem saber o que estava acontecendo.

O exorcista foi duro e imperativo com o infeliz, ordenando, em nome de Jesus, que se afastasse.

A entidade insistia no pedido de ajuda.

Ele, irredutível na sua determinação.

Após alguns minutos daquela insólita situação, a mulher estremeceu e caiu, prostrada.

Terminara a sessão.

O exorcista informou aos presentes que o tinhoso fora afastado. Ante a estranheza do marido, em face do que vira, explicou:

– O demônio tem mil faces e costuma enganar as pessoas, apresentando-se como se fosse um familiar morto, a fim de ganhar sua confiança.

Com essa explicação sumária deu o assunto por encerrado, proclamando que a senhora estava plenamente restabelecida. Cura efêmera.

Em breves dias recrudesceram seus males.

Um amigo sugeriu que procurassem o Centro Espírita.

O casal submeteu-se à entrevista fraterna.

O nome da senhora foi encaminhado a uma reunião de ajuda espiritual. Vibrações foram feitas em seu benefício.

Na prática mediúnica repetiu--se o mesmo fenômeno ocorrido na sessão de exorcismo, desta feita por intermédio de um médium. Este, com mais experiência e o disciplinamento oferecido pela Doutrina Espírita, transmitia de forma mais clara e objetiva a manifestação com a entidade revelando a mesma perturbação e implorando por ajuda. Ficou evidente que se tratava do pai desencarnado.

Reclamava que médicos e familiares não lhe davam atenção. A própria filha o ignorava e parecia perturbar-se quando lhe pedia ajuda. Não entendia por que, porquanto ambos eram muito ligados.

A postura do dirigente da reunião foi totalmente diferente. Conversou amigavelmente com a entidade, reconhecendo estar diante de um Espírito sofredor, não de uma entidade demoníaca.

Não o esclareceu a respeito de sua nova situação, ciente de que a revelação de que morrera apenas o perturbaria mais. Porém, procurou tranquilizá-lo, explicando-lhe que estava num hospital onde se recuperaria plenamente de um mal que o acometera, colocando os pensamentos em ordem.

Depois reencontraria os familiares. Sabendo-o religioso, recomendou-lhe a oração e a confiança em Jesus para uma recuperação rápida.

A entidade pacificada, permeável agora à ajuda espiritual, foi conduzida a uma instituição assistencial da Espiritualidade.

Então ocorreu o prodígio.

Na manhã seguinte, como por passe de mágica, a senhora acordou sem angústia ou perturbação, retornando à normalidade.

Episódios assim fazem parte da história de muita gente que se beneficia dos conhecimentos espíritas e acaba aderindo à Doutrina Espírita.

Para entendermos bem situações dessa natureza é preciso considerar, em primeiro lugar, o despreparo das pessoas para enfrentar a problemática da morte, por falta de informações ou por receberem informações equivocadas, como a de que o Espírito do morto vai dormir até o juízo final, quando haverá a ressurreição dos corpos.

Os Espíritos, como está em O Livro dos Espíritos são os seres pensantes da Criação. Não dependem do corpo físico para conservar sua individualidade, sua capacidade de pensar e agir.

Acontece o contrário. A dependência ocorre apenas no renascimento.

Ao reencarnarmos nos revestimos de um corpo de carne, que inibe nossas percepções. Só tomamos contato e temos consciência daquilo que passa pelos cinco sentidos – tato, paladar, olfato, visão e audição.

Ao morrer, livramo-nos da armadura de carne. Deveríamos, então, retomar a amplitude das percepções, reintegrando-nos na pátria espiritual. Ocorre que, vinculados durante tantos anos à existência humana, acabamos nos envolvendo com vícios, paixões, seduções e ambições relacionados à jornada terrestre, o que nos impede de perceber a nova situação.

Como o plano espiritual é apenas uma continuação, em outra dimensão, do plano físico, o desencarnado permanece por aqui. Procura os familiares, pede ajuda, irrita-se porque não lhe dão atenção.

Não raro acaba perturbando aquele familiar com o qual tem maior afinidade, não por intenção de fazer mal, mas como desesperado pedido de socorro.

Sem saber o que está acontecendo, sente os mesmos sintomas do mal que determinou sua morte, experimenta suas angústias e aflições.

Nenhum médico, nenhum psicólogo, nenhum tratamento, nenhum exorcista remediarão.

O único jeito é conversar como Espírito e ajudá-lo, preparando-o para ser atendido pelos mentores espirituais.

Assim ele será afastado e os problemas de quem sofre o seu assédio desaparecerão.

Costumo classificar tais conceitos como uma obsessão pacífica, porquanto não é intencional.

É apenas o náufrago em desespero, agarrando-se a uma tábua de salvação.

A Doutrina Espírita é o maravilhoso manual de natação espiritual, preparando-nos para o mergulho no infinito e habilitando-nos a ajudar os que não sabem nadar.

(Richard Simonetti - escritor e palestrante espírita -
Revista Reformador - Fev/2009 - FEB)

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