O mau uso da mediunidade e suas possíveis consequências
A maioria das pessoas já deve ter visto, preso em um poste ou num muro, o famoso cartaz que promete: “Trago a pessoa amada em 3 dias”. Quem prega esse tipo de anúncio, em geral, cobra uma quantia exorbitante em troca de um ritual que, supostamente, fará com que a pessoa amada – independente de seus sentimentos, do seu estado civil, etc. – jogue-se nos braços do pagante.
Resta saber se o dinheiro é devolvido quando o amado se atrasa e só aparece no 4º ou no 5º dia, em vez de fazê-lo dentro dos 3 dias garantidos.
Brincadeiras à parte, cumpre destacar que qualquer trabalho espiritual que vise a interferir no livre-arbítrio de alguém é maléfico. Não importa se é feito “em nome do amor”. Até porque o verdadeiro amor não força nem aprisiona, mas sim respeita a liberdade e a individualidade da pessoa amada.
Nessa linha, são exemplos de trabalhos trevosos os que buscam afastar a amante do marido, reacender a paixão com a própria esposa ou “curar” a homossexualidade do filho. Com relação ao último exemplo, nunca é demais lembrar que, na visão espírita, como ensina Emmanuel, a homossexualidade é “perfeitamente compreensível à luz da reencarnação”, e os homossexuais merecem atenção e respeito “em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais”.
Além dessas situações pretensamente bem-intencionadas, também há os que procuram assistência espiritual para, propositadamente, prejudicar outras pessoas. É o caso daquele que deseja se vingar do ex-chefe que o demitiu, do ex-cônjuge que o traiu, do ex-sócio que o enganou, do vizinho que o aborreceu, enfim, há tantos exemplos quanto a imaginação permitir.
Se os primeiros defendem a prática com a falaciosa “boa intenção”, os últimos se alicerçam no sentimento de “justiça”. Esquecem, porém, que nenhuma justiça, nem mesmo a dos homens, deve ser exercida com as próprias mãos.
Estabelecido, portanto, que qualquer trabalho espiritual com o objetivo de mutilar o livre-arbítrio, ou de prejudicar outras pessoas, deve ser considerado mau uso da mediunidade, cabe analisar os efeitos desse tipo de trabalho para os envolvidos, quais sejam: a vítima, o cliente e o médium.
Será que “macumba” pega?
Com relação às vítimas, sabe-se que o trabalho espiritual malfazejo poderá prejudicar aqueles que estiverem em sintonia com as baixas vibrações energéticas que acompanham esse tipo de trabalho. Por outro lado, as pessoas caridosas, que praticam o bem e têm o hábito de orar, estão protegidas pela espiritualidade superior, e não sofrerão o efeito negativo das encomendas nefastas que lhe forem enviadas.
Nestes casos, tal como uma encomenda não aceita pelo destinatário, a mesma é devolvida aos remetentes - o médium e o cliente - que, de imediato, cairão vítimas do mal que pretenderam praticar.
Por isso, muitas vezes, trabalhos encomendados contra as pessoas protegidas pela prática do bem sequer chegam a ser feitos, pois os trabalhadores espirituais, encarnados e desencarnados, verificam que o feitiço “não vai pegar” e, como preconiza o ditado, voltará contra os feiticeiros.
Ressalte-se, porém, que ainda que o alvo do feitiço não esteja em dia com as orações e as boas ações, e padeça com um ataque desse gênero, sempre existe a possibilidade de buscar a abençoada ajuda de centros espíritas ou espiritistas, terreiros, enfim, qualquer local onde os médiuns trabalhem em conjunto com a espiritualidade do bem, e a vítima se sinta acolhida.
Além de ajudar as vítimas, os obreiros bondosos também podem socorrer os desencarnados que estejam praticando o mal sem consciência do que fazem, ou que estejam sendo forçados a fazê-lo: são os chamados “escravos”, usados pelo feiticeiro e por seus cúmplices desencarnados como lacaios que colocam em prática as encomendas perversas.
Nesse sentido, quem mais tem a perder com o mau uso da mediunidade não é a vítima, mas sim os médiuns que abusam do seu dom, e aqueles que contratam os seus serviços.
O feitiço se virando contra o feiticeiro
A lei do retorno é universal – colhe-se o que se planta – e, cedo ou tarde, aquele que praticou o mal deverá reparar o mal praticado, seja pelo amor, seja pela dor. Essa lei universal, naturalmente, também se aplica àqueles que encomendam ou praticam trabalhos espirituais com o objetivo de interferir no livre-arbítrio ou no destino de outras pessoas.
Encontramos na literatura espírita alguns relatos sobre as consequências sofridas pelos médiuns e seus clientes, em decorrência de trabalhos espirituais maléficos. A primeira já foi mencionada – quando o mal é direcionado a uma pessoa caridosa, comprometida com o bem, esse mal não a atinge, e “se volta” contra os malfeitores.
Outro exemplo de colheita é a obsessão espiritual. Se a vítima vier a falecer, e ainda estiver apegada à materialidade, ela pode dar continuidade ao ciclo de vingança, obsediando os encarnados que lhe fizeram o mal. Tal perseguição pode continuar, inclusive, após o desencarne do médium ou do cliente.
Aliás, diga-se, o desencarne dos médiuns e dos seus clientes pode ser prolongado e doloroso, por conta das dívidas espirituais assumidas. Além disso, uma vez desencarnadas, essas pessoas podem ser recrutadas pelos seus antigos cúmplices, chamadas a “pagar” pelos serviços prestados – algumas vezes na condição de escravas, ou seja, contra a sua vontade.
Por óbvio, a misericórdia divina é infinita e, se essas pessoas se arrependerem sinceramente do mal que causaram e clamarem por ajuda, socorristas espirituais virão ao seu auxílio, e elas terão a oportunidade de receber o tratamento espiritual necessário. Assim, poderão reequilibrar seu perispírito e planejar seu futuro, de modo a repararem o mal feito.
O que fazer, então, para encontrar a pessoa amada, ou receber uma ajudinha lá de cima?
A ajuda espiritual é facultada a todos, na forma de oração. O merecimento da graça solicitada é construído através das boas ações e da caridade. Se o plano de vida da pessoa permitir, é possível, sim, receber uma ajudinha lá de cima, para que aconteça o tão sonhado encontro. Orações feitas com fé, visando o bem, seja o próprio ou o do próximo, sempre são ouvidas e, essa parte é importante - quando possível -, atendidas. Ah, e tudo ocorre no tempo devido – esqueça o prazo de 3 dias e confie na sabedoria divina!