March 13

A Escola que Queremos para Todos

Resumo Detalhado e Expandido de A Escola que Queremos para Todos (Maria Teresa Mantoan e José Eduardo Lanuti)


Contexto e Estrutura do Livro

Escrito durante a pandemia de COVID-19 (2021-2022), o livro é uma colaboração entre dois educadores com décadas de experiência na Educação Básica e Superior. A obra combina teoria crítica, práticas pedagógicas inclusivas e reflexões filosóficas para propor uma transformação radical da escola tradicional. Estruturado em capítulos temáticos, inclui anexos práticos (como roteiros para Estudos de Caso e Planos de AEE), além de referências a autores como Gilles Deleuze, Jacques Rancière, Boaventura de Sousa Santos e a Convenção da Guatemala.


Capítulos e Temas em Profundidade

1. Crítica à Representação dos Alunos na Escola

  • Estereótipos e Rótulos:
    A escola tradicional classifica alunos por "estilos de aprendizagem" (visual, auditivo, cinestésico etc.), reduzindo sua complexidade a categorias artificiais. Essa prática, baseada em modelos médicos e psicológicos, hierarquiza os estudantes e ignora a diferença em si (conceito de que a diversidade é inerente à condição humana).
    Exemplo: Definir um aluno como "visual" apenas porque gosta de imagens desconsidera que todos os seres humanos aprendem por múltiplas vias.
  • Modelo Médico da Deficiência:
    A deficiência é tratada como um problema individual a ser "corrigido", reforçando a exclusão. O livro defende o Modelo Social, onde a deficiência é resultante de barreiras ambientais (falta de acessibilidade) e atitudinais (preconceito).

2. Planejamento Pedagógico Inclusivo

  • Negociação de Conteúdos:
    Os conteúdos curriculares devem ser decididos a partir dos interesses e dúvidas dos alunos, não impostos por currículos rígidos. Exemplo: Diálogos iniciais para identificar temas que mobilizem a turma. Registro Visual: Uso de quadros/lousas para organizar atividades diárias, permitindo transparência e ajustes coletivos.
  • Flexibilidade e Acessibilidade:
    Atividades não são "facilitadas", mas adaptadas para que todos participem. Exemplos:
    Materiais em Braille, mapas táteis, softwares de síntese de voz.
    Engrossadores de lápis, piso tátil, etiquetas em relevo.

3. Avaliação Formativa e Emancipatória

  • Crítica à Avaliação Tradicional:
    Provas padronizadas e notas classificatórias são vistas como instrumentos de controle e hierarquização. A escola é criticada por funcionar como "expedidora de títulos" (Subirats, 2000), valorizando diplomas sobre aprendizagens significativas. Alternativas Propostas: Autoavaliação: Alunos refletem sobre avanços e dificuldades por meio de registros escritos/orais. Reconstituição do Dia Escolar: Momento diário em que a turma compartilha o que aprendeu, promovendo metacognição e senso de comunidade. Perguntas orientadoras:
    "O que você aprendeu hoje?"
    "Como isso se conecta com sua vida fora da escola?" Erros como Aprendizagem: Inspirado por Esteban (2008), erros são analisados coletivamente para revisão de estratégias.

4. Estudo de Caso e Plano de AEE

  • Exemplo Prático: Rodrigo (aluno cego): Família: Envolvida no aprendizado de Braille e organização da rotina doméstica. Colegas: Apoio espontâneo (descrição de imagens, orientação na mobilidade). Escola: Necessidade de recursos como impressora Braille, mapas táteis e formação docente. Plano de AEE: Objetivos: Autonomia, acessibilidade e conscientização. Parcerias: Secretarias de Educação, serviços de saúde, ONGs. Adequações: Materiais adaptados (ex.: papel com pautas espaçadas) e tecnologias assistivas.

5. Fundamentos Filosóficos

  • Gilles Deleuze:
    A aprendizagem surge do encontro com signos (elementos que despertam curiosidade e criatividade). Professores e alunos são coaprendizes.
    Exemplo: Livros, filmes, diálogos e até aromas podem ser "signos" que mobilizam o pensamento.
  • Jacques Rancière (em O Mestre Ignorante):
    A educação emancipatória pressupõe a igualdade das inteligências. O professor cria condições para que os alunos explorem seu potencial, em vez de transmitir conhecimentos prontos.
  • Boaventura de Sousa Santos:
    Crítica à colonialidade do saber; defesa de uma pedagogia que valorize saberes locais e diversidade cultural.

6. Desafios e Propostas Políticas

  • Formação Docente:
    Professores precisam ser preparados para lidar com a diversidade, não apenas para "dominar conteúdos". Exemplo Prático: Capacitação em Libras, Braille e uso de tecnologias assistivas.
  • Políticas Públicas:
    Investimento em acessibilidade (ex.: piso tátil, intérpretes de Libras).
    Revisão de leis que reforçam a segregação (ex.: classes especiais).
  • Envolvimento Familiar:
    Famílias devem participar de decisões educacionais e compreender os direitos dos alunos à inclusão.

Anexos e Ferramentas Práticas

  • Roteiro para Estudo de Caso:
    Análise detalhada do aluno (histórico escolar, familiares, recursos utilizados).
    Identificação de barreiras (ex.: falta de materiais adaptados).
  • Plano de AEE: Objetivos: Eliminar barreiras, promover autonomia. Atividades: Ensino de Braille, orientação espacial, conscientização dos colegas. Parcerias: Articulação com secretarias de saúde e educação.

Conclusão e Visão Transformadora

O livro é um manifesto pela desconstrução da escola excludente. Propõe:

  1. Horizontalidade: Fim de hierarquias entre professor-aluno e turma "comum"/"especial".
  2. Comunidade: Escola como espaço de pertencimento, onde diferenças são celebradas.
  3. Ética: Educação como direito humano, não privilégio.

A mensagem final é clara: a inclusão não é um "projeto especial", mas a essência da educação democrática. A mudança começa quando abandonamos a ilusão de "neutralidade" e abraçamos a complexidade da diversidade humana.


Nota Final: O livro integra rigor teórico (Foucault, UNESCO) e práticas concretas, servindo como guia para professores, gestores e formuladores de políticas educacionais. É uma obra que desafia o leitor a repensar o papel da escola na construção de uma sociedade justa e inclusiva.