A Escola que Queremos para Todos
Resumo Detalhado e Expandido de A Escola que Queremos para Todos (Maria Teresa Mantoan e José Eduardo Lanuti)
Contexto e Estrutura do Livro
Escrito durante a pandemia de COVID-19 (2021-2022), o livro é uma colaboração entre dois educadores com décadas de experiência na Educação Básica e Superior. A obra combina teoria crítica, práticas pedagógicas inclusivas e reflexões filosóficas para propor uma transformação radical da escola tradicional. Estruturado em capítulos temáticos, inclui anexos práticos (como roteiros para Estudos de Caso e Planos de AEE), além de referências a autores como Gilles Deleuze, Jacques Rancière, Boaventura de Sousa Santos e a Convenção da Guatemala.
Capítulos e Temas em Profundidade
1. Crítica à Representação dos Alunos na Escola
- Estereótipos e Rótulos:
A escola tradicional classifica alunos por "estilos de aprendizagem" (visual, auditivo, cinestésico etc.), reduzindo sua complexidade a categorias artificiais. Essa prática, baseada em modelos médicos e psicológicos, hierarquiza os estudantes e ignora a diferença em si (conceito de que a diversidade é inerente à condição humana).
Exemplo: Definir um aluno como "visual" apenas porque gosta de imagens desconsidera que todos os seres humanos aprendem por múltiplas vias. - Modelo Médico da Deficiência:
A deficiência é tratada como um problema individual a ser "corrigido", reforçando a exclusão. O livro defende o Modelo Social, onde a deficiência é resultante de barreiras ambientais (falta de acessibilidade) e atitudinais (preconceito).
2. Planejamento Pedagógico Inclusivo
- Negociação de Conteúdos:
Os conteúdos curriculares devem ser decididos a partir dos interesses e dúvidas dos alunos, não impostos por currículos rígidos. Exemplo: Diálogos iniciais para identificar temas que mobilizem a turma. Registro Visual: Uso de quadros/lousas para organizar atividades diárias, permitindo transparência e ajustes coletivos. - Flexibilidade e Acessibilidade:
Atividades não são "facilitadas", mas adaptadas para que todos participem. Exemplos:
Materiais em Braille, mapas táteis, softwares de síntese de voz.
Engrossadores de lápis, piso tátil, etiquetas em relevo.
3. Avaliação Formativa e Emancipatória
- Crítica à Avaliação Tradicional:
Provas padronizadas e notas classificatórias são vistas como instrumentos de controle e hierarquização. A escola é criticada por funcionar como "expedidora de títulos" (Subirats, 2000), valorizando diplomas sobre aprendizagens significativas. Alternativas Propostas: Autoavaliação: Alunos refletem sobre avanços e dificuldades por meio de registros escritos/orais. Reconstituição do Dia Escolar: Momento diário em que a turma compartilha o que aprendeu, promovendo metacognição e senso de comunidade. Perguntas orientadoras:
"O que você aprendeu hoje?"
"Como isso se conecta com sua vida fora da escola?" Erros como Aprendizagem: Inspirado por Esteban (2008), erros são analisados coletivamente para revisão de estratégias.
4. Estudo de Caso e Plano de AEE
- Exemplo Prático: Rodrigo (aluno cego): Família: Envolvida no aprendizado de Braille e organização da rotina doméstica. Colegas: Apoio espontâneo (descrição de imagens, orientação na mobilidade). Escola: Necessidade de recursos como impressora Braille, mapas táteis e formação docente. Plano de AEE: Objetivos: Autonomia, acessibilidade e conscientização. Parcerias: Secretarias de Educação, serviços de saúde, ONGs. Adequações: Materiais adaptados (ex.: papel com pautas espaçadas) e tecnologias assistivas.
- Gilles Deleuze:
A aprendizagem surge do encontro com signos (elementos que despertam curiosidade e criatividade). Professores e alunos são coaprendizes.
Exemplo: Livros, filmes, diálogos e até aromas podem ser "signos" que mobilizam o pensamento. - Jacques Rancière (em O Mestre Ignorante):
A educação emancipatória pressupõe a igualdade das inteligências. O professor cria condições para que os alunos explorem seu potencial, em vez de transmitir conhecimentos prontos. - Boaventura de Sousa Santos:
Crítica à colonialidade do saber; defesa de uma pedagogia que valorize saberes locais e diversidade cultural.
6. Desafios e Propostas Políticas
- Formação Docente:
Professores precisam ser preparados para lidar com a diversidade, não apenas para "dominar conteúdos". Exemplo Prático: Capacitação em Libras, Braille e uso de tecnologias assistivas. - Políticas Públicas:
Investimento em acessibilidade (ex.: piso tátil, intérpretes de Libras).
Revisão de leis que reforçam a segregação (ex.: classes especiais). - Envolvimento Familiar:
Famílias devem participar de decisões educacionais e compreender os direitos dos alunos à inclusão.
Anexos e Ferramentas Práticas
- Roteiro para Estudo de Caso:
Análise detalhada do aluno (histórico escolar, familiares, recursos utilizados).
Identificação de barreiras (ex.: falta de materiais adaptados). - Plano de AEE: Objetivos: Eliminar barreiras, promover autonomia. Atividades: Ensino de Braille, orientação espacial, conscientização dos colegas. Parcerias: Articulação com secretarias de saúde e educação.
Conclusão e Visão Transformadora
O livro é um manifesto pela desconstrução da escola excludente. Propõe:
- Horizontalidade: Fim de hierarquias entre professor-aluno e turma "comum"/"especial".
- Comunidade: Escola como espaço de pertencimento, onde diferenças são celebradas.
- Ética: Educação como direito humano, não privilégio.
A mensagem final é clara: a inclusão não é um "projeto especial", mas a essência da educação democrática. A mudança começa quando abandonamos a ilusão de "neutralidade" e abraçamos a complexidade da diversidade humana.
Nota Final: O livro integra rigor teórico (Foucault, UNESCO) e práticas concretas, servindo como guia para professores, gestores e formuladores de políticas educacionais. É uma obra que desafia o leitor a repensar o papel da escola na construção de uma sociedade justa e inclusiva.