it's so loud inside my head
june 26 - 08:37 AM, durante o jogo de basquete | @ menções: damian, adamo, nevio. | tw: crise de ansiedade, diagnóstico, surdez parcial
Usar abafadores era ruim, muito ruim. Ela já havia tentado usá-los inúmeras vezes, principalmente porque suas crises aumentavam quando o barulho ao seu redor ficava ainda mais alto e ela precisava se isolar para se sentir melhor. Mas ao mesmo tempo, usá-los era péssimo, já que eles realmente faziam o seu trabalho e abafavam quase que completamente o som. Só que isso a deixava desesperada. Desesperada por não ouvir nada enquanto estava com eles, ainda mais por conta da audição residual, que permitia que ela escutasse alguns sons, mesmo que bem baixos.
Odiava essa vulnerabilidade que seu corpo havia criado desde pequena. Tudo tinha começado com uma surdez súbita em seu ouvido esquerdo que veio acompanhada de zumbidos irritantes e algumas crises de tontura, ao qual a médica na época tinha falado para seus pais que era raro, mas que muito provavelmente poderia ter acontecido em decorrência de uma infecção mal tratada. Eles tinham se culpado muito na época, o tratamento era caro e não tinham muito dinheiro para investir nisso. Cora não os culpava, eles tinham feito o possível e o impossível para que ela ficasse bem e tivesse uma infância boa assim como seus irmãos. Mesmo que aquilo fosse algo com que ela teria que lidar durante toda a sua vida, uma vez que a perda da audição no ouvido esquerdo fosse irreversível.
Mas por conta disso, ela ainda passava por situações como essa de ter que sair no meio de uma partida, ou de um show, ou de um evento, onde os ânimos e o barulho ao seu redor estavam muito altos e isso fazia com que ela não suportasse permanecer no local, principalmente porque tinha se acostumado com o silêncio. O zumbido no seu ouvido esquerdo, mesmo depois de anos ainda se fazia presente em situações como essas. Como se seu cérebro abafasse toda o barulho e direcionasse para um lugar só, causando-lhe episódios de tontura e nervosismo.
Seus médicos falavam que isso era normal, que era uma reação de seu corpo e que não podiam prever quando ou como isso aconteceria, mas sempre falavam que em momentos como esse era bom ela procurar um local calmo e tranquilo até seu corpo acalmar. E por muitos anos, ela vinha fazendo isso. Pegava seus fones, colocava nas duas orelhas e sentava assim quieta, por alguns minutos. Foi assim que começara a ouvir seu tão amado grupo, BTS, não era apenas uma obsessão, mas sim porque eles lhe ajudavam em momentos difíceis como esse.
Outra coisa que lhe ajudava em momentos assim, era mandar mensagem para seus irmãos ou para seus pais. No momento, Damian estava impossibilitado de falar com ela, por estar no meio da partida de basquete e Adamo... Esse ela estava ignorando por mais um dias. Ele merecia depois de toda a raiva que a fizera passar. Então preferiu mandar mensagem apenas para sua mãe, que muito provavelmente estava esperando notícias do jogo de hoje, já que Cora sempre contava para a mais velha tudo o que seus irmãos faziam pelo complexo.
text: Mama, Damian está jogando! 🥰🥳🙌 Ele está indo muito bem, sinto que ele ia gostar de ter você por aqui! Espero que no futuro, vocês possam vir também assistir nossas competições. Seria muito legal ter todo mundo por aqui. Sei que as coisas por ai são sempre muito corridas, mas ainda vou ser muito famosa o suficiente para conseguir bancar tudo, você vai ver. Io amo te, Mama! 💛
E assim fechou a conversa com sua mãe, percebendo que estava se sentindo bem melhor e que poderia voltar para ver o restante do jogo. Estava ansiosa para saber se o time do irmão venceria ou não. Ela torcia por isso mais do que nunca, eles mereciam, como grande parte do pessoal ali na Hamdeok.
Isso a fazia pensar também em seus futuros jogos... Antes de voltar para a arena, recebeu a notificação de Nevio, perguntando se ela estava bem. Ela estava. Mas conversar com ele também ajudava um pouco mais, afinal era uma das poucas pessoas que Cora havia contado a verdade. Não que ela tivesse medo da reação dos outros, sabia que entenderiam, mas tinha receios que a tratassem diferente por isso. Ou pior, que a proibissem de jogar. Isso sim seria pior. Era melhor guardar isso pra si, estava bem.
Mas algo também a preocupava: dali algumas semanas, iria participar de seu primeiro jogo oficial e não conseguia conter a animação por conta disso. Tinha treinado bastante com as meninas, testado suas táticas e sabia que daria conta do que vinha pela frente. Não tinha como dar errado, sua atenção estaria totalmente nisso.
Só que ela pensaria nisso depois, agora estava pronta para voltar para quadra ver seu irmão ganhar.