#001 - Sonic Tide.
TWs: morte materna, menção a abandono parental.
Quando criança, Barbara odiava silêncio. Cada segundo dele era uma tortura. Uma lembrança de um momento que jamais desejaria retornar. Naquela época, silêncio era sinônimo do caixão fechado no funeral, da perca da última chance de ver o rosto da própria mãe, desfigurada em um acidente de avião. Era por isso que falava tanto. Que ria alto demais, que fazia caretas até para o cachorro. Barbara precisava ter certeza que nenhuma lembrança daquele dia voltaria a tona.
Enquanto aquecia a voz, uma ansiedade arranhava sua garganta de dentro para fora. Costumava abandonar o nervosismo com um sorriso, mas 15 mil pessoas era gente para caralho. Gente real. E se uma delas fosse seu pai?
Ela odiou a ideia de pensar no velho engravatado em meio a multidão. Odiou ainda mais quando percebeu que gostaria que fosse verdade.
Barbie respirou fundo. Ajeitou o microfone em mãos e partiu para a guerra, deixando a ansiedade em uma bagagem escondida. Deixou de lado a esperança que alguém pudesse abraça-la e dizer que estava tudo bem, que estava dando seu melhor. Ninguém viria. No momento, só tinha a si. E 15 mil pessoas. Por mais que procurasse com os olhos, nenhuma delas seria o olhar frio e distante que desejava. Nenhuma delas seria o pai que acreditava que dar alguns milhões em presentes era suficiente para suprir a falta da mãe e que permiti-la fazer o que desejasse apenas para larga-la as traças sem conhecimento algum do mundo real quando as coisas apertassem fosse sequer justo.
Mas, então, seus olhos encontraram o resto da banda. E ela teve certeza: iria cantar até a garganta pedir por clemência. Ia sorrir até o maxilar doer. E se ninguém visse, tudo bem. Porque Sonic Tide iria ser o tipo de nome que até mesmo um dono de uma gravadora em Toronto ouve falar.