May 21

#001 — My first


A propriedade dos Noh era tão grande quanto sua fama pela cidade. Por isso, era tão complicado que o pequeno Nakyu sequer cruzasse com os pais pelos corredores. Os irmãos eram consideravelmente mais velhos e, por experiência, ele já entendia que se tornar um garoto-problema na escola não traria nada além de manchas no seu currículo — e talvez um ensino médio incompleto, como o de um dos irmãos.

Tornar-se líder de sala, aluno modelo, orador da turma era, ao menos, uma forma de chamar atenção. Não que recebesse atenção direta dos pais, mas, pelo menos, era presenteado por cada condecoração que levava para casa. Havia aprendido desde cedo que era assim que se amava alguém: não dando atenção ou afeto, mas com presentes e ações.

Era assim com os pais. Cada boa ação na escola lhe rendia uma medalha ou algum prêmio físico para ostentar pelas ruas da pequena cidade rural.

Era assim com os irmãos. Nem todos tinham liberdade financeira para comprar presentes de verdade para o caçula academicamente bem-sucedido, então, às vezes, ele era recebido com caixas de frutas da colheita atual.
Nakyu pensava que era assim que funcionava o amor: enchê-lo com presentes e mais presentes, levá-lo aos restaurantes mais caros da cidade, ignorar suas mensagens, deixá-lo sofrer sozinho os pesadelos noturnos e decidir por mudanças e viagens sem informar a ninguém sobre a partida.

Por isso, Nakyu era tão... sozinho. Não no sentido ruim da palavra — se fosse sincero, nunca havia se sentido desconfortável no próprio mundo até então —, Nakyu só sentia que não precisava de mais ninguém. Nunca precisou. Bem, sequer entendia por que alguém escolheria amar, se poderia usufruir do mesmo prazer com qualquer desconhecida.

Além, claro, do fato de que, se ao menos chamasse Namie de namorada, poderia justificar o ciúmes descomunal que sentia da garota. Talvez fosse apenas por isso que relacionamentos existissem.

Mas não era importante.

Naquele instante, sentia o corpo suado, a respiração ofegante — típico de alguém que acabara de acordar de um pesadelo. Estava tudo bem. Nakyu sempre lidara com isso sozinho; era só respirar fundo e voltar a dormir.

O abraço contra o corpo de Namie se apertou de forma involuntária. Ele encostou o rosto em seu pescoço, como se o cheiro dela pudesse, de alguma forma, acalmá-lo. Abriu os olhos pela primeira vez apenas após alguns segundos naquele abraço, focando-se no rosto pacífico da garota enquanto dormia. Levou uma das mãos para, delicadamente, afastar uma mecha rebelde que caía sobre o rosto dela.

Gostava de pensar que havia, impulsivamente, pedido Namie em namoro só por conveniência, assim como quase tudo em sua vida. Tornara-se um bom estudante por conveniência, mudara-se para Seul por conveniência, estudava Farmácia por conveniência, trabalhava com animais por conveniência...

Mas, quando realmente parava para pensar...

— Eu te amo...? — A voz ainda rouca pelo sono, carregada de incerteza e insegurança, fez com que a afirmação soasse mais como uma pergunta.

Logo depois, ele voltou a esconder o rosto no pescoço da jovem. Não por vergonha, nem sabe-se lá o que deveria sentir naquele momento... Mas talvez por decepção. Por sentir que, pela primeira vez, precisava de mais alguém para se sentir bem de novo.

Mesmo que fosse um pesadelo bobo — e Namie nem sequer tivesse acordado para entender o ocorrido —, ela estava ali. E, de alguma forma, ele sabia que, se despertasse, ela ainda estaria.

Ele não receberia um brinquedo super caro, uma roupa de grife ou uma moto por sua boa contribuição à sociedade quando Namie acordasse. Mas era ainda melhor que ela... só estivesse ali.

Estava decepcionado por ser a primeira vez que se sentia assim. Tinha 2 pais, 6 irmãos, 25 anos de vida, incontáveis primeiros encontros e era a primeira vez que se sentia assim. Era a primeira vez que questionava e se sentia inseguro sobre o que realmente era amar.