November 9

001 — Mother knows best.

  • TW!!! ABUSO PSICOLÓGICO E FÍSICO MENCIONADO.

O cabelo longo, com cada fio caindo no lugar certo, parecia acabado de sair de um cabeleireiro. A presença marcante e calculada. O rosto sério, delicadamente maquiado, os traços juvenis que desmentiam sua idade, a postura elegante ao levar o copo de suco à boca. As roupas de grife, escolhidas com precisão, destacavam que era uma celebridade. Observá-la, mesmo que por um instante, deixava Jihoon ainda mais inseguro, com sua aparência casual e o cabelo levemente desarrumado caindo sobre o rosto. Ele mexeu na gola de sua roupa, tentando disfarçar o nervosismo. Se não fossem os rostos praticamente iguais, ninguém diria que ali se sentavam mãe e filho.

— Então, você ganha dinheiro com isso? — A pergunta soou num francês impecável, apenas com um leve sotaque coreano que o fazia lembrar da infância, quando o francês da mulher era tão parecido com seu coreano atual.

— Sim... — Jihoon respondeu, desviando o olhar. Ele notou a expressão cética da mãe e apressou-se a acrescentar: — Normalmente de patrocinadores ou do AdSense do YouTube. É tipo... É como trabalhar para a TV, só que...

— Você é o produtor, diretor, tudo?

— Sim.

Seguiu-se um silêncio constrangedor. Jihoon desviou o olhar para o prato, partindo um pedaço de aperitivo. Ele sabia que a mãe não desaprovava só o trabalho, mas o impacto de viver tão exposto, de certa forma ameaçando o anonimato cuidadoso que ela mantinha. A insegurança nele era evidente, enquanto mastigava devagar, sem olhar para ela.

— Isso é legal. — A voz da mãe o fez erguer o rosto, surpreso. Não era o tipo de elogio que esperava. Na verdade, tinha certeza de que ouvira ela dizer que estava “decepcionada” por telefone.

Mais silêncio. Tudo bem, ambos estavam acostumados com as refeições recheadas pela falta de conversa.

— Você me acha uma mãe ruim? — A pergunta se seguiu em um tom baixo e sem confiança, fora do usual para a mulher.

Jihoon sentiu a garganta fechar, sem saber como responder. Lembrava-se dos castigos, das noites em que dormiu com fome como punição por falar demais ou perguntar pelo pai, algo que só entendeu a gravidade depois do teste psicológico exigido pelo reality show.

— Sim.

Mas ainda assim, ela era sua mãe. E ele sabia que, no fundo, não era uma pessoa ruim. Talvez só não houvesse nascido em um momento oportuno para que fosse uma boa mãe. Os drinks não-alcoólicos servidos durante o almoço, apesar da insistência do garçom em mostrar o cardápio de vinhos quando chegaram, só indicava o vilão em comum que tiveram que enfrentar e, naquela época, enquanto Jihoon tinha a mãe para conforta-lo, ela só tinha uma criança que mal sabia da vida. Não justificava suas ações, mas não era surpresa que sua forma de criar uma criança havia sido tão conturbada.

Os dois voltaram ao silêncio, com apenas os comentários ocasionais da mãe sobre as praias de Jeju. Jihoon manteve-se atento, esperando qualquer sinal de reprovação ou uma explosão repentina, até com certo receio de que ela lhe arrancasse o celular das mãos e exigisse que apagasse tudo. No entanto, nada disso aconteceu. Ela apenas terminou a refeição e, ao final, entregou em silencio um pequeno chaveiro de um Mimikyu de pelúcia. Jihoon segurou com surpresa. Um presente simples, mas muito mais pessoal que os itens caros que ela normalmente lhe oferecia. Aquilo significava que, em algum momento, sua mãe havia assistido, ainda que brevemente, algum vídeo seu como Hemlock.

Enquanto Jihoon observava a pelúcia, sua mãe o fitava com um olhar pesado. Ela ainda lembrava das ameaças e do ódio que recebeu na juventude. As críticas, as mentiras, as intrigas... Quando foi abandonada com uma criança por uma garota ainda mais jovem pelo marido alcoolatra e agressivo e fora obrigada a ler os comentários do público a chamando de vadia por se tornar uma mãe solteira, insinuando que a culpa de tudo era dela por não ser uma boa esposa. Ela sabia o quanto o público poderia ser cruel. Sua real vontade era exigir que parasse de brincar de celebridade, por favor, antes que fosse tarde demais. Ela já havia lido alguns poucos comentários cruéis em seus vídeos no avião até Jeju. Mas, após tantos anos de terapia, ela finalmente via com clareza o garoto por trás da lembrança atroz de seu ex-marido e não se sentia no direito de controlar sua vida atual. Tudo o que poderia fazer era responder os comentários com afinco em uma conta anônima, torcendo para que um dia parassem e seu querido Jihoon não precisasse passar por tudo que passou sozinha.

— Obrigado... — a voz baixa que a respondeu veio hesitação, não sabia dizer se ele não queria dizer aquilo ou se estava apenas tímido, como de costume. — Mãe. — foi tão baixo, se não mais, que o agradecimento, mas a Jeon não conseguiu segurar o sorriso discreto que se formou em seus lábios.