June 6, 2022

MANIFESTO DA RESISTÊNCIA FEMINISTA ANTI-GUERRA

No dia 24 de fevereiro, por volta das 5h30 (horário de Moscovo), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou uma «operação especial» no território da Ucrânia para «desnazificar» e «desmilitarizar». Esta operação era preparada há muito — durante meses, as tropas russas moveram-se para a fronteira com a Ucrânia. Ao mesmo tempo, a liderança do nosso país negou qualquer possibilidade de ataque. Como vemos agora, era mentira.

A Rússia declarou guerra a um país vizinho, retirando à Ucrânia o direito à autodeterminação e a esperança de uma vida pacífica. Declaramos, mais uma vez, que a guerra acontece já há 8 anos, por iniciativa do governo russo, e que a guerra em Donbas é uma consequência da anexação ilegal da Crimeia. Acreditamos que a Rússia e seu presidente não estão e nunca estiveram preocupados com o destino das pessoas em Luhansk e Donetsk, e o reconhecimento das repúblicas após 8 anos só foi necessário para invadir a Ucrânia sob o pretexto de objetivos de libertação.

Enquanto cidadãs russas e feministas, condenamos esta guerra. O feminismo como força política não pode estar do lado da guerra e da ocupação militar. O movimento feminista russo defende grupos vulneráveis e luta pelo desenvolvimento de uma sociedade justa com oportunidades e perspectivas iguais, e onde não há lugar para violência e conflitos bélicos.

A guerra significa violência, pobreza, migração forçada, vidas destruídas, insegurança e o desaparecimento de um futuro. Opõe-se a toda a essência do movimento feminista. A guerra exacerba a desigualdade de género e causa o retrocesso de direitos humanos já conquistados. A guerra traz consigo não apenas a violência armada mas também a violência sexualizada: como nos mostra a História, durante a guerra, as violações aumentam exponencialmente. Por essas e muitas outras razões, as feministas russas e aquelas que compartilham valores feministas, precisam posicionar-se firmemente contra esta guerra iniciada pela liderança do nosso país.

A guerra atual, como mostra o discurso de Putin, também está sob a bandeira da ideologia política dos «valores tradicionais» que a Rússia supostamente decidiu levar ao mundo de forma missionária, usando a violência contra aqueles que discordam ou têm outras opiniões. Em que consistem esses «valores tradicionais» é bem entendido por qualquer pessoa capaz de pensamento crítico: eles baseiam-se, entre outras coisas, na exploração das mulheres e na repressão estatal sobre todas aquelas cujo modo de vida, autodeterminação e actividades vão além da estreita norma patriarcal. A desculpa de ocupar um estado vizinho com o intuito de promover esta norma distorcida e procurar a «libertação» demagógica é outra razão pela qual as feministas de toda a Rússia devem resistir a esta guerra com todas as suas forças.

As feministas hoje são uma das poucas forças políticas ativas na Rússia. Por muito tempo, as autoridades não nos consideraram um movimento político e, portanto, fomos temporariamente menos afetadas pela repressão do que outros. Mais de 45 grupos feministas operam em todo o país, de Kaliningrado a Vladivostok, de Rostov-on-Don a Ulan-Ude e Murmansk. Apelamos a grupos feministas e feministas individuais que se juntem à Resistência Feminista Anti-Guerra e unam forças no combate à guerra e ao governo que a iniciou. Somos muitas, e juntas podemos fazer muito: nos últimos 10 anos, o movimento feminista alcançou um enorme poder mediático e cultural, é hora de transformá-lo em poder político. Somos a oposição à guerra, ao patriarcado, ao autoritarismo e ao militarismo. Nós somos o futuro que prevalece.

Apelamos às feministas de todo o mundo: juntem-se a manifestações pacíficas e lancem campanhas offline e online contra a guerra na Ucrânia e a ditadura de Putin, organizando ações próprias. Usem à vontade o símbolo do movimento Resistência Feminista Anti-Guerra em materiais e publicações, bem como as hashtags #FeministAntiWarResistance e #FeministsAgainstWar.

Distribuam informação sobre a guerra na Ucrânia e sobre a agressão de Putin. Precisamos que o mundo inteiro esteja em solidariedade com a Ucrânia e se recuse a apoiar o regime de Putin de todas as maneiras.

Compartilhem este manifesto. É preciso mostrar que as feministas estão contra esta guerra — e qualquer tipo de guerra. Também é essencial demonstrar que ainda existem ativistas russas prontas para se unirem em oposição ao regime de Putin.

Estamos todas em perigo de perseguição pelo Estado e precisamos de apoio. Resistência Feminista Anti-Guerra tem um canal no telegram com informações adicionais (em russo).


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