The Last Song
Gaon conseguia ouvir os gritos da plateia e seu estômago embrulhava como se fosse a primeira vez que estava para subir no palco. Com o tempo em que ficaram de hiatus, era quase isso mesmo. E se esqueceu tudo? Se não sabia mais se comportar no palco? Se errasse alguma nota ou algum acorde? Se falasse besteira? Ou tudo isso junto??? Gaon realmente sentia como se nunca tivesse feito isso antes, aquela ansiedade muito parecida com sua estreia, sete anos atrás.
A diferença desse era que parecia exatamente o contrário de um show de estreia: era um de despedida. As lupas não tinham a menor ideia do caos que existia dentro do VICCI. Era o último show deles com o Ozzy, que resolveu se desligar da banda, e quiçá era o último show deles como VICCI, caso suas últimas tentativas de um comeback de sucesso falhassem.
Juntando isso ao medo de errar, de decepcionar, Gaon sentia que estava prestes a perder a cabeça, totalmente.
Não foi uma nem duas vezes que afirmou e reafirmou que o VICCI era tudo que ele tinha. Podia parecer até um pouco preocupante essa dependência - e é, um pouco -, mas o baixista não tinha nenhum contato com sua família, salvo por sua irmã mais velha que de vez em quando dava o ar da graça. Fora isso, ele se sentia completamente solitário. Era novo quando saiu de casa para se tornar trainee, e encontrou sua nova família nos membros do VICCI, por isso assistir a banda se desfazendo e acabando aos pouquinhos, não importando o quanto ele tentasse, era simplesmente desesperador.
Então, por mais que estivesse tentando evitar, não conseguia se afastar da garrafa de soju. Tomava devagar, para não sentir necessidade de pegar outra, porque a última coisa que precisava hoje era entrar bêbado para um show que era tão importante, mas ficar ali dentro do camarim, sozinho com seus pensamentos destrutivos e sóbrio parecia igualmente impossível.
Acompanhava pelo celular algumas mensagens de fãs no Twitter de no Bubble e secava uma lágrima aqui e ali. Como elas iriam reagir quando soubessem da saída de um membro ou quando a banda acabasse? Será que Gaon conseguiria ficar sem esse contato? Suas fãs se tornaram quase que suas amigas também, ainda mais com o fandom relativamente pequeno que o ajudava a reconhecer alguns rostos, então logo ele ia perder suas amigas também...
Apertou os olhos, jogando o celular em algum sofá próximo. Seu reflexo no espelho não parecia nada mal, graças ao bom trabalho de maquiagem das Staffs, mas quem reparasse em sua expressão, em seus olhos, notaria o quão perdido Gaon estava se sentindo. Assim, evitava contato com os próprios membros por agora, não querendo preocupá-los ou passar essa energia ruim.
Então bateram na porta e um anuncio de que entrariam em dez minutos foi ouvido. Gaon levantou-se no automático, segurando seu baixo como se sua vida fosse acabar caso o perdesse, e foi para perto das escadas.
Normalmente, devido a ansiedade para se apresentar, esses minutos no backstage se arrastavam lentamente, de forma quase dolorosa. Naquela noite, não. Naquela noite, o Shin parecia tão anestesiado, tão em outro mundo que nem viu o tempo passar. Quando se deu conta, estava subindo as escadas, naquele escuro que impedia a plateia de enxergar bem o palco, e se posicionou em seu microfone.
Foram poucos segundos antes delas acenderem e que os meninos começaram a tocar, mas foi o suficiente para a atitude de Gaon mudar totalmente.
A dor no coração ainda não tinha diminuído muito, e os pensamentos de que aquele era seu último show não foram embora, porém, foram exatamente eles que deram um gás para que o baixista se entregasse completamente.
Se esse é o último show que eu estou fazendo, então eu vou entregar tudo de mim.
E assim o fez. Gaon se entregou em cada nota, cada acorde. Brincou com os meninos, pulou, fez graça, mandou beijos e corações para as fãs, arrancou a camisa e jogou ao público em algum momento, deixou-se divertir junto com as lupas, sem ficar pensando muito que aquele era o fim. Deixou que a troca de energia entre eles e a plateia o tirasse daquele estado de melancolia, e ele aproveitou mesmo como se fosse a última vez, porque poderia ser, de fato.
— Wah. Fazia tanto tempo que eu não pisava no palco que eu tinha esquecido de como era. Eu estou me divertindo muito, vocês também estão? — Começou seu discurso em umas das pausas para interação com a plateia, aproveitando os pequenos segundos em que o publico gritava de volta para ele. Ah, sentira muita falta disso. — Sei que já os apresentamos, mas eu sou o Gaon e nós somos o VICCI. Não sei se muita gente aqui nos conhecia, mas estou torcendo para que vocês estejam gostando da nossa música. — Soltou uma breve risada, jogando o cabelo molhado de suor para trás e tirando o baixo de seu corpo logo após. O microfone logo foi retirado do pedestal também e Gaon começou a andar por ai, nos primeiros segundos sem falar nada, mas sempre sem tirar os olhos daquela multidão de gente. — Tem muita gente aqui hoje. Eu não tenho palavras para agradecer cada um que veio e cada um que nos acompanha. De verdade, eu estou muito feliz aqui em cima e ver vocês pulando com a gente, cantando com a gente... Isso só me faz ter ainda mais certeza que meu lugar é aqui, do quando eu amo fazer música, do quanto eu amo vocês e do quanto eu amo esses meninos aqui. — Finalmente olhou para eles com um sorriso fraco. Gaon estava saindo completamente do script, então podia imaginar que talvez os meninos estivessem confusos, ou simplesmente sorrindo para ele não passar vergonha. — Obrigado de verdade a todo mundo que nos acompanhou até aqui, por mais difícil que isso esteja sendo. Obrigado. — Dito isso, Gaon se curvou diante do público. — E obrigado, vocês também, por tudo e por serem minha família. — Agora, o baixista se curvava para sua banda, para depois mandar um beijo no ar para cada um deles. —E sejam bem vindos todos aqueles que querem entrar pra família. Aqui temos muito amor, música triste e homem pelado. — Brincou, enfim, soltando uma risada para descontrair. — Vamos voltar a tocar pra vocês! O nome dessa é Moonshot!
Assim, então, depois de aproveitar seu discurso como sua mini-provável-despedida, Gaon voltou a tocar com todo seu coração mais uma vez, berrando, pulando e se divertindo sem se importar que naquela semana ainda teria que gravar para o I-FUTURE. O programa não importava agora. Tudo que importava era ele, sua banda, e suas LUPAS.