PESQUISA DE BEM ESTAR: TASK I
Não era a primeira vez que fazia aquela pesquisa, apesar de ser uma medida relativamente nova dentro da empresa, e torcia muito para que não fosse a última. Gaon não era bom com aquilo, de responder perguntas muito profundas, evitando ao máximo falar sobre si mesmo quando se tratava de assuntos que não eram superficiais. Normalmente, responderia as perguntas assim mesmo, por cima, para evitar qualquer um de ver um pouco mais pra dentro, ainda que nem colocasse tanta fé que a empresa realmente analisasse suas respostas. Dessa vez, porém, tinha medo. Medo de que se fosse superficial demais, confundiriam isso com falta de interesse e, por Deus, ele só queria continuar com a sua banda.
Nos últimos dias, o estúdio estava sendo seu melhor amigo, e dali saiam músicas extremamente pessoais sobre os mais diversos assuntos, e foi ali também que Gaon encontrou um pouco de paz para tentar começar a escrever suas respostas. Uma pasta com suas criações tocava baixinho de fundo enquanto ele lia e relia todas as perguntas, procurando um jeito de responde-las sem parecer desesperado, falso ou sem vontade. Era difícil encontrar um meio termo quando odiava ter que mexer no pessoal, assim.
“Olá, para começar, devemos perguntar seu nome, ocupação e idade, pode nos informar?”
Shin Gaon, baixista e vocalista líder da VICCI e produtor, 24 anos.
Okay, essa foi a parte fácil, mas já sentia o estômago revirar só de pensar na próxima, que na verdade nem era pra ser assim tão difícil.
“Ok, então vamos seguir… Como você está se sentindo hoje?”
Inseguro.
Poderia adicionar pressionado, com medo de um futuro extremamente incerto e pessimista, porém resolveu deixar assim somente. Não queria assustar ninguém e já bastava Junseok lhe dizendo que precisava de terapia. Imagina se resolvem o afastar da banda?
“E como você se sentia 5 anos atrás?”
Estava animado. Foi um ano bom para a VICCI e isso me deixava feliz.
Num geral, era difícil ter uma banda na indústria de k-pop, sendo inegável o quanto grupos de idols chamavam muito mais atenção. Para quem nem sequer queria ser um idol, aquilo não era visto como um problema para Gaon, principalmente naquela época; Em 2017, não tinha muito tempo que a VICCI debutou e por mais que gostaria de ter tido um pouco mais de oportunidades, estava contente que podia lançar suas músicas, que via pessoas se interessando pela banda, e os membros estavam cada mais mais próximos, tornando-se, aos pouquinhos, a família de Gaon. Em 2017, ele não estava morrendo de medo de ter o contrato encerrado e não quebrava a cabeça o dia inteiro sobre como fazer uma música que os fãs coreanos ia achar boa o suficiente para colocar nos charts e, com muita sorte, ganhar um prêmio; Ele compunha pelo amor e mostrava sua arte junto com seus meninos, aproveitando a liberdade de poder escrever, sem se preocupar com números. Agora ele não tirava a cabeça disso.
“Quando você se olha no espelho, o que você vê? Como poderia descrever você mesmo?”
Diria que alguém que guarda muita coisa, que tem muito potencial e muita vontade de fazer música. Grato por onde está agora, mas que também poderia saber lidar melhor com algumas situações.
Uns dez minutos para conseguir colocar essas palavras medíocres no papel, porque, de novo, não tinha ideia de como fazer para não soar esquisito. Se fosse falar sinceramente, colocaria muito mais defeitos em pauta, que era como ele realmente se enxergava, entretanto, não estava em seus planos fazer um drama sobre isso. Tentou então resumir, colocar algumas coisas um pouco mais positivas e torcia para que fosse o suficiente.
“Quais eram seus sonhos 5 anos atrás?”
Continuar fazendo música com a banda, ganhar mais atenção e fãs, tornar-me um bom produtor.
“E quais são seus sonhos atualmente?”
Continuar fazendo música com a banda, ganhar mais atenção e fãs, tornar-me um bom produtor.
As respostas iguais foram propositais. De cinco anos pra cá, ele conseguiu se aperfeiçoar em produzir e agora fazia músicas não só para a VICCI, mas para outros artistas também, o que o enchia de orgulho, mas ainda não era o suficiente, queria continuar melhorando. Quanto a outra parte, esse era seu maior desejo agora: poder continuar com a banda, fazer música, crescer com eles. Por Deus, ele já tinha perdido tudo antes de se tornar trainee, se perdesse sua banda agora... Era melhor nem pensar nisso.
“O que você mais deseja ou desejou?” Tudo que eu quero é que minha banda esteja bem.
Não era mentira. Gaon tinha suas ambições, sonhos e desejos, mas ele era apegado aos meninos ao ponto de colocá-los em primeiro lugar assim. Depois de ter se separado de sua família, os membros da VICCI se tornaram seus irmãos e o bem estar deles era extremamente importante para o baixista.
“No que você acha que é melhor? E no que você acha que é pior?”
Sou bom em compor e produzir, e ruim em me portar diante das câmeras.
Resolveu deixar essa assim também, respondendo em questões de carreira antes do pessoal, porque achava que não era isso que queriam ouvir e Gaon sequer queria passar vinte minutos ditando o que ele achava que era ruim. E não mentiu: quando em programas de TV, ou ficava quieto demais, ou falava o que não devia. A banda não era lá muito conhecida por ter filtros.
“O que você mudaria em si mesmo?”
Queria acreditar um pouco mais em mim.
Dessa vez não teve muito como fugir, mas mesmo assim escolheu algo que não iria o expor muito, e de fato resolveria muitos dos problemas de insegurança de Gaon, talvez o deixasse menos ansioso.
Curto e rápido. Já tinha comentado sobre se esforçar para um bom desempenho da banda e seu principal objetivo era renovar o contrato com todos os membros.
“Se você pudesse voltar no tempo, mudaria algo? O que?”
Tentaria ser mais brando.
Isso tinha a ver com o jeito que saiu de casa para se tornar trainee. Estava estressado, pressionado e cansado e tanto ele quanto a mãe não mediram as palavras e isso acarretou em muita coisa. Hoje, Gaon não se arrepende da decisão de se tornar trainee, mas gostaria de ainda ter contato com os pais e com a irmã. Seria bom ter apoio deles.
Com um suspiro longo, não reviu nenhuma das respostas para não pensar demais sobre elas, ou então iria querer rasgar o papel e começar de novo. Ao invés disso, apenas o colocou de volta ao envelope e tratou de entregar o quanto antes, torcendo para que a empresa no mínimo escutasse suas preces por um novo comeback.