August 22

Entre O Desabafo & A Epifania: Explicando Cosmovisão, Religião, Ideologia e Capacidade de Mudança com Música...

Blue pill x Red pill

Postado originalmente em:

🔊Músicas p/ Viver Melhor📲

Acho que nunca mencionei antes nos canal que estou cursando Filosofia. Desde a polarização, tem se tornado cada vez mais difícil conversar com qualquer pessoa sobre qualquer assunto e não acho que as pessoas estão saindo disso melhores nem mais espertas. Mais um motivo pra estudar Filosofia nestes tempos estranhos.

Temos duas postagens no canal sobre a importância da discordância quando abordamos as canções 🔗"Não Olhe pra Trás", de Capital Inicial, e 🔗"Lareira", de Palankin.

De fato, as pessoas tem motivos diferentes para ver a vida de modos diferentes e cosmovisões diferentes só convergem entre si parcialmente, isso quando há semelhanças o bastante pra isso.

Em 10 anos de trabalho como psicólogo, a capacidade dos seres humanos de olharem para as mesmas questões sob prismas completamente diferentes ainda me assusta, especialmente pelo fato de raramente se tratar de fato de quem está certo ou errado ou de qual é a verdade da questão, mas da enorme carga afetiva que nossas ideias carregam. Alguém já discordou de você sem conseguir dizer o motivo e a conversa morreu ali mesmo?

Catedral - Cotidiano

De fato, só o que conseguimos mostrar ao outro é o que conseguimos perceber de nosso próprio ângulo, seja ele amplo ou estreito. Usando aquela velha metáfora budista dos cegos descrevendo o elefante pelo toque, cada um tateando uma parte diferente: o que consigo dizer é a parte do elefante que eu alcanço.

Algumas pessoas aceitam que os outros digam o que é melhor para elas enquanto outros só querem seguir o próprio caminho.

Fazendo parte do segundo grupo, tive uma pequena "epifania" sobre este tema na última vez que fui à igreja:

Existe um "consenso forçado", quase implícito, em algumas igrejas sobre como a música deve soar e quais "modos gregos" (entenda como "sonoridades" se não estiver acostumado com teoria musical) são adequados ao ambiente de culto. Não importa o quanto soe bem, o quanto os músicos sejam competentes, o quanto você goste de um determinado gênero musical: existe certo tabu sobre certas formas de melodia (geralmente cultural/regional em que a música só serve como "identificador tribal", com poucas exceções). Pouco, muito pouco ou quase nada mudará nesse quesito, embora quando velhos músicos finalmente dão lugar a músicos mais jovens haja um respiro temporário de alívio... até que estes mesmos jovens se cansem e e envelheçam e repitam o ciclo anterior.

"Não há nada de novo debaixo do sol". (Eclesiastes 1:9b)

O problema das ideologias e das cosmovisões me parece ser da mesma espécie: igrejas em épocas e lugares diferentes se dedicaram a modos musicais diferentes a ponto de dessacralizar ou não mais suportar os demais, não sei dizer. Só sei que, ao voltar pra casa, raramente quero ouvir as mesmas canções da igreja, mesmo assim isso não me impede de voltar sempre e sempre, apesar de algum incômodo musical ocasional. A importância da vida espiritual é maior que isso, o todo é maior que a soma das partes.

Paralelamente, o que me preocupa no contexto atual é que as pessoas discutem ideias não para aprender e "reter o que é bom" (1 Tessalonicenses 5:21), mas sempre no intento de convencer o outro do próprio ponto de vista. Parece que esquecemos que, mesmo que ninguém mude de ideia, as ideias são refinadas ao lidar com a própria sombra ou ao enfrentar uma ideia contraditória. A música em duas igrejas de tradições distintas pode ser igualmente maravilhosa a seu próprio modo.

Salmo 104 cantado em hebreu antigo

Da mesma forma, se duas pessoas conseguirem conversar de fato, olhando fundo para as próprias inconsistências, os dois lados tornarão seus próprios argumentos mais fortes ao lidar com as falhas flagradas um pelo outro ("o que se esconde não conserta"); e, feito isso, ainda respeitarão as convicções e ideias um do outro como "inimigos honrados" (falo das ideias), como no Bushido.

Um dos lados ou mesmo os dois podem estar errados, o tempo há de revelar... O problema é quando a opinião ou a experiência individual se cauteriza a ponto de a discordância virar um "fim de papo".

Onde fica nossa busca pela verdade? Não quero "fins de papo". Quero perguntar, quero entender e até discordar! Quero a Verdade (com V maiúsculo) e não vou conseguir se as pessoas ao redor se calarem (como normalmente se calam) diante de assuntos desconfortáveis.

"Mas o objetivo da Filosofia não é apenas perguntar?" - alguém pode alegar.

"Não se encontra as respostas certas fazendo as perguntas erradas."

Existe uma enormidade de versões desta mesma frase com formatos ligeiramente diferentes na literatura, cinema, filosofia, educação, etc. Não vem ao caso agora de quem é a autoria ou qual a forma exata das palavras serem apresentadas, mas imagino que fazer perguntas sem se preocupar com as respostas seja infantil. Claro que as crianças são excelentes filósofas por natureza, mas não farão muita coisa da vida se não crescerem e usarem o que aprenderam...

Cresça e ajude alguém a crescer também.

Palavrantiga (Marcos Almeida) - Rookmaaker

🎵 Rookmaaker

👥Palavrantiga

💽 Esperar é Caminhar

📆 2010

Eu leio Rookmaaker, você Jean-Paul Sartre
A cidade foi tomada pelos homens
Na cidade dos homens tem gente que consegue ler
Mas os outros estão néscios pra Ti
Eu canto Keith Green, você canta o quê?
A cidade está cheia de sons
Na cidade dos homens tem gente que consegue ouvir
Mas os outros estão surdos pra Ti
Vem, jogando tudo pra fora
A verdade apressa minha hora
Vem, revela a vida que é nova
Abre os meus olhos agora
Eu fico com a escola de Rembrandt
Você no dadaísmo de Berlim
A cidade está cheia de tinta
Na cidade dos homens tem gente que consegue ver
Mas os outros estão cegos pra Ti
Eu monto o paradoxo no palco
Você anda zombando da Cruz
A cidade está cheia de atores
Na cidade dos homens tem gente que consegue dizer
Mas os outros estão mudos pra Ti
Toda vez que procuro pra mim algo pra ler
Ouvir, olhar e dizer
Senhor sabe o que eu quero
Não me furto a certeza: és a Vida que eu quero!
EXPLICANDO AS MÚSICAS - ROOKMAAKER

EPÍLOGO:

"– Mas eu gosto dos inconvenientes.
– Nós, não. Preferimos fazer as coisas confortavelmente.
– Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado."

👤 Huxley, Aldous.

📖 Admirável Mundo Novo.