Libertarianismo Digital: Um discurso em 3 partes
PARTE 1 - Breve História da Internet e Princípios do Libertarianismo Digital
Com o final da Guerra Fria, toda a infraestrutura que se tornaria a Internet que conhecemos passou a ser direcionada para finalidades cada vez menos militares, como: conexão entre universidades, serviços de armazenamento e compartilhamento de dados entre bancos, abertura para empresas e anúncios, desenvolvimento e circulação de informações para pessoas comuns, etc. E, com a popularização dos "softwares de trabalho", criou-se uma expectativa de que, aquilo que antes era usado apenas em ambiente empresarial, poderia oferecer soluções domésticas para compras, vendas, comunicação e aprendizagem.
No início da Internet, no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, ter o acesso à informação livre e descentralizada passou a ser visto como meio de inserir pessoas no mercado de trabalho e, talvez, até mesmo como estratégia de "ascensão social" pelo conhecimento livremente compartilhado.
Libertarianismo é uma corrente de pensamento que não acredita na eficácia de se gerir a sociedade através de leis impostas verticalmente por governos centralizados, preferindo que as pessoas resolvam seus próprios problemas a partir de livre associação.
Quando falamos de "libertarianismo digital" estamos somando um modo de pensar que é basicamente apolítico com uma estratégia de responsabilização das pessoas ao lidar com as tecnologias a que somos expostos.
Pensemos, por exemplo, em dois fenômenos recentes na Internet: Os anúncios baseados em rastreadores (cookies) e as redes sociais.
Todos sabemos o que são redes sociais: Instagram, Tik Tok, Kwai, YouTube e Facebook são só alguns dos exemplos mais famosos. Essas "redes sociais" podem ser descritas como "páginas da internet" a que você tem acesso a partir de uma chave/senha pessoal (também chamada de "login") e que lhe permite conversar, ver e postar vídeos, áudios, textos e, eventualmente, até arquivos e documentos. A íntima relação entre "redes sociais" e "anúncios baseados em rastreadores" está diretamente relacionada ao fenômeno das "lojas virtuais" que nos permitiram fazer compras online tanto dentro quanto fora do país já que um dos pioneiros entre as redes sociais em misturar essas duas coisas foi o Facebook, ao associar termos digitados nas conversas e perfis de seus usuários a ofertas de produtos e páginas tanto de lojas quanto de governos que pretendiam manipular a opinião das pessoas através de suas postagens na plataforma investindo grandes somas de dinheiro nas redes sociais.
Do mesmo modo, apesar de ser um empresa maior do que uma rede social (e já ter mantido diferentes redes sociais ao longo dos anos, desde sua fundação), a Google, a mais conhecida ferramenta de pesquisa online, aderiu à mesma prática com a diferença de que a empresa Google é MAIOR que a empresa Facebook/Meta de Mark Zuckerberg, por deter, a partir de prática desleal, sabotagem de empresas rivais e monopólio de mercado, a maior parte da fatia de vendas de celulares no mundo graças a seu sistema operacional proprietário: o Android, cujo único desafiante à altura é da empresa de produtos superfaturados de tecnologia: a Apple. Todavia, como a maioria das pessoas é POBRE, os produtos, serviços e soluções oferecidas pela Google ganha em números absolutos no quesito "quantidade de usuários".
Esse conluio entre "redes sociais", comércio e governos terminou por levantar a suspeita dos libertários se esse modelo de negócio não estaria sendo usado para fomentar uma (direta ou indireta) "lavagem cerebral" em proporções globais já que cada celular produzido por "big techs" (os grandes monopólios de tecnologia) é, potencialmente, um dispositivo de vigilância e monitoramento pessoal.
Referências:
https://www.perplexity.ai/search/encontre-referencias-sobre-a-h-3UfQFOZGQN.8Y2ZJaeA1uQ
Com a recente apoteose dos novos modelos de inteligência artificial sendo incorporados a desde aplicativos de uso comum (como Whatsapp) até uso empresarial em larga escala, os sistemas de computador passaram a ser alimentados com dados pessoais íntimos dos usuários, à ponto de essas empresas poderem traçar o perfil psicológico de seus usuários e manipulá-los com técnicas de engenharia social seja para condicioná-los à compra de certos produtos ou para modificar seu comportamento em nome de pautas políticas e sociais... E isso é poder demais para estar nas mãos de quaisquer pessoas!
Dito isso, o "libertarianismo digital" é um movimento de conscientização individual sobre o tamanho da "pegada virtual" que deixamos na Internet e o quanto de nossas informações pessoais realmente queremos (ou não) compartilhar com terceiros, sejam eles pessoas, empresas ou governos.
Referências:
https://www.perplexity.ai/search/encontre-referencias-sobre-a-h-q2zv2RlfSju2Wq_8UhDeTA
FIM DA PARTE 1
PARTE 2 - Como a Internet nos Adoece?
Traçar onde fica a linha que separa o "uso saudável e o nocivo da internet" vai depender do quanto nos lembramos de como a internet funcionou no passado. Entretanto, alguns talvez não tenham idade pra saber, então aí vai:
a) No começo era tudo GRÁTIS, menos a conexão: Em parte, porque a Internet de "acesso livre a todos" começou com o princípio libertário de descentralização e livre compartilhamento conhecido como "copiar não é roubo" - afinal, quando você copia uma coisa ela se multiplica e quem a tinha antes não a perde... logo, ninguém foi roubado! Acesso a sites, livros, games, filmes, música, era TUDO GRÁTIS! Bem... quase tudo. Afinal, assim como hoje "recarregamos os dados móveis" e pagamos o "provedor" da internet, no princípio você só pagava a linha telefônica para acessar a internet. Com o passar dos anos, algumas empresas de telefonia passaram a disponibilizar "planos de dados" dependendo do quanto de internet sua casa ou estabelecimento demandava até que, aos poucos, essa lógica do "pague pra usar" passou a incluir música, leitura, filmes, jogos, etc. Até chegarmos nos dias de hoje onde a lógica do comércio nos pôs uma pedra no caminho chamada "leis internacionais de copyright" ou, como chamamos no Brasil, "direitos autorais", o que quer dizer, na prática, que se o AUTOR não detiver PLENO direito pela obra (que pode ter sido retida legalmente por uma empresa que pode ser uma editora, gravadora, produtora ou similar) ainda que ele te autorize a distribuir o material, isso ainda seria "crime". Verdade seja dita, essas leis são anteriores à Internet, mas empresas e governos que investiram muito em infraestrutura de internet voltaram atrás na ideia inicial de que essas leis não seriam estendidas à Internet. Os piores efeitos disso ainda estariam por vir, como...
b) A espetacularização da vida (ou vitrinização da informação): Vejam, o que estou chamando de "espetacularização da vida/vitrinização da informação" é o princípio de que tudo na internet deve ser atrativo, chamativo, colorido e perfeito, como numa vitrine onde você expõe um produto esperando vender. E vejam, não tem nada de mal nas coisas serem bonitas, o problema é quando elas só PARECEM bonitas sem ser.
O caso mais clássico talvez seja o Instagram, onde mesmo PESSOAS usam filtros pra parecer o que não são passando a vender sua imagem seguindo a mesma ideia de quem vende um produto prometendo mais do que o produto de fato pode fazer. A simplicidade da Internet baseada em textos desapareceu quase completamente, mas essa simplicidade tinha justamente o objetivo de não PRENDER nossa atenção sem necessidade. Verdade seja dita de novo: sim, também existiam sites horríveis no princípio da Internet e hyperlinks também podiam chamar atenção ligando várias partes da Internet entre si, mas você tinha mais controle sobre o tempo que iria usar online, seja porque a Internet era mais lenta (e os pulsos de linha telefônica eram caros), porque os serviços de busca não eram tão bons, porque os sites não eram tão esteticamente chamativos ou mesmo porque não existia o terceiro maior problema da Internet...
c) Rolagem infinita: Sim, antigamente os sites ACABAVAM à medida que se rolava para baixo! Seja porque os computadores eram mais fracos e não podiam carregar grandes quantidades de mídia de uma vez só ou porque essa função ainda não havia sido criada.
De fato, a maior parte das pessoas fica presa nas redes sociais porque essa função, além de ter "tomado de assalto" as redes sociais, passou a ser usada paralelamente aos algoritmos: identificações de padrões estatísticos de comportamento registrados pelas empresas que EXIGEM LOGIN para que você acesso aos serviços delas. O que nos leva ao quarto maior problema da lista...
Referências:
https://www.perplexity.ai/search/encontre-referencias-sobre-a-h-EtMBrXFAT5qT3M_L8vggyQ
d) Cookies de rastreamento: Vocês já se depararam alguma vez com a mensagem abaixo?
"We use cookies and other technologies to improve your website experience, manage personal preferences, analyze traffic and website behavior, and serve relevant marketing and promotional content. Blocking some types of cookies may negatively impact your experience and limit the services we can provide."
"Usamos cookies e outras tecnologias para melhorar sua experiência no site, gerenciar preferências pessoais, analisar o tráfego e o comportamento do site e fornecer conteúdo de marketing e promoções relevantes. Bloquear alguns tipos de cookies pode afetar negativamente sua experiência e limitar os serviços que podemos fornecer."
...Basicamente, "cookies" são pequenos arquivos de texto que são armazenados pelo navegador da internet em seu computador ou dispositivo móvel quando você visita um site. Esses arquivos contêm informações, como preferências de configuração e dados de autenticação, que permitem que os sites identificam e reconheçam os visitantes e suas ações anteriores no site. Os cookies são usados para várias finalidades, como prever a navegação de um usuário, personalizar a experiência do site e rastrear informações como a origem da visita, o tempo de permanência no site e as páginas visitadas e até Ela tá quantas pessoas você sabe determinado produto a partir do seu link de afiliado (para quem ganha dinheiro divulgando lojas e produtos). Embora muitos cookies sejam inofensivos e ajudem a melhorar a experiência do usuário, alguns podem ser usados para fins questionáveis, como rastrear o comportamento do usuário em vários sites e compartilhar essas informações com terceiros sem o consentimento do usuário.
É por essas e outras que se você não clica em "sair" quando faz login vai continuar conectado ao entrar novamente no mesmo site/aplicativo. Também é graças a esse sistema que golpistas conseguem "roubar" seu acesso às suas contas de sites e apps sem necessariamente roubar sua senha. Mas a pior parte é que, sendo os cookies uma ferramenta principalmente usada para COLETAR DADOS, a sua navegação na internet fica mais pesada e visualmente "suja": você verá muitos sites exibindo excesso de propagandas com itens relacionados à seu "histórico" da Internet numa tentativa de forçar seu consumo quando, para a maioria desses serviços, esse conteúdo não precisaria realmente ser exibido (e nem seria realmente necessário solicitar login).
Pra quem não sabe, ou não lembra, a Internet conseguia muito bem parar em pé sem isso há poucos anos. Então, cabe perguntar: por que mudou?
Referências:
https://www.perplexity.ai/search/encontre-referencias-sobre-a-h-SOpT1XKWT1GNQVW2umqYuw
FIM DA PARTE 2
PARTE 3 - Saindo da "Bolha Virtual": Minimalismo Digital, Dicas & Alternativas
👨👩👧👦PARA TODOS:
☑ Compartimentação - Não usar uma única conta de e-mail ou único cadastro para login (em sites que necessitem de login).
☑ Evitar serviços que pedem login ou usam cookies (de acordo com sua necessidade).
☑ Aprender a Customizar seu celular (entenda seu uso: separe o que você realmente precisa no seu dia-a-dia do que você não precisa)📱
☑ Melhore sua rotina (Atividade Física & Uso consciente de tecnologias)
COM WHATSAPP:
☑ Compartimentação: Testar outro serviço de mensagens para emergências. Ex.: Telegram, Signal, Element, etc.
☑ Smartwatches Android: Só dá pra adquirir via importações, mas mesmo com as taxas do governo sai mais barato do que um smartphone (e, pela tela pequena, corre-se mesmo risco de você ou seu filho "se viciar" no uso), Embora não tenha uma vida útil de uso menor que um smartphone: em torno de 2 a 5 anos.
SEM WHATSAPP:
☑ Compartimentação: Não ficar preso é o único serviço de comunicação ou app de mensagens instantâneas (ex.: Whatsapp).
☑ Reutilizar celular antigo (Nokia Symbian): Graças a desenvolvedores independentes, o sistema operacional encerrado pela Nokia em 2015 ainda permite navegação em sites, pesquisa, e-mail, downloads e acesso ao YouTube. É necessário seguir os tutoriais em inglês mas o processo em si não é difícil: http://nnproject.cc/tls
☑ Celular limitado (feature phones): Um "feature phone" é um "aparelho secundário" que roda apenas aplicativos essenciais do dia-a-dia e não é necessariamente focado nem otimizado para redes sociais. Pode ser uma alternativa para quem não quiser acessar redes sociais ou whatsapp fora de casa, no trabalho ou escola, por exemplo.
☑ Dumbphones: Dumbphones são basicamente celulares comuns que fazem apenas ligações e SMS.
COM REDES SOCIAIS:
☑ Desativar sensores e localização
☑ Escolha melhor o que vai ver e postar
SEM REDES SOCIAIS:
☑ 10 Argumentos pra você deletar suas redes sociais (👉📙 LIVRO)
☑ Usar o site ao invés do app: Pode ser uma alternativa viável, especialmente em celulares com pouco armazenamento interno. Basta entender que todo serviço online que tem um "site de acesso" não necessita realmente de um aplicativo para ser usado. Ex.: Serviço de e-mail e aplicativos de nuvem em geral como Gmail e Notion pra citar alguns exemplos "famosos".
EXTRAS - Desistindo das soluções do Google:
🤔💭 Por que desistir do serviço do Google❓
1-Substitutos para Play Store:
...Vejamos algumas outras alternativas a seguir.
a) Aurora Store: https://f-droid.org/pt_BR/packages/com.aurora.store
b) F-droid: https://f-droid.org
2-Substitutos para Google Drive:
a) We Transfer:
☑ https://wetransfer.com
b) Sendgb.com (envia até 5gb grátis):
☑ https://www.sendgb.com
3-Substitutos para Gmail/E-mail:
a) Proton Mail:
☑ https://proton.me/pt-br/mail
b) Tuta Mail:
☑ https://tuta.com/pt-br
4-Substitutos para pesquisa do Google:
a) http://frogfind.de/?lg=en-us
b) http://frogfind.com
5-Substituto para assistir YouTube (quase sem anúncios):
Para quem não quer assistir aos vídeos do YouTube pelo app oficial, recheado de anúncios e propagandas, basta acessar o nome do vídeo através do buscador Bing pelo seu navegador favorito e pronto! A única propaganda que você vai ver é a inicial, todo o resto do vídeo vai seguir sem interrupções. Você não precisa do app do YouTube para assistir aos vídeos.
Esta é apenas a "entrada" do buraco do coelho... Se quiser saber mais sobre o tema, fique à vontade para pesquisar mais sobre "libertarianismo digital", "história da internet", "minimalismo digital", "criação de sites", "linguagens de programação" e "efeitos comportamentais do uso de internet, mídia e jogos".
FIM DA PARTE 3
Lista de fontes:
Mais Informações em:
https://clubedeautores.com.br/livros/autores/jean-paolo-martins-de-oliveira