O Encontro de Sócrates com Almir Sater
Nesta longa estrada da vida, existem algumas músicas que parecem fazer sentido apenas à medida em que envelhecemos. Esta matéria é uma breve reflexão a partir da filosofia socrática tomando por base a canção "Tocando em Frente", de Almir Sater:
"Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada eu vou tocando os dias
Pela longa estrada eu vou, estrada eu sou
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Ando devagar porque eu já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz"
O Encontro de Sócrates com Almir Sater
"Só sei que nada sei." A célebre frase atribuída ao maior dos sábios atenienses é repetida ad infinitum, em geral num tom de "tem muito mais pra saber do que eu sei", logo, tudo que sei é "uma gota num oceano". Não é que eu não ame as palavras, mas sem a vibração dos acordes nas quais ela é dita você pode simplesmente entender errado a mensagem.
Não se trata de assumir com a razão o quão pouco se sabe e o quanto há pra se saber, pelo menos não apenas isso: trata-se de reconhecer seu próprio lugar no universo. É a conclusão de uma história de vida.
Após ler a 🔗"Apologia de Sócrates" fica difícil não perceber na filosofia camponesa de Almir Sater e Renato Teixeira o eco das palavras do filósofo ateniense em reconhecimento de que não somos toda a verdade, não detemos toda a verdade. Esse é o caminho para o sentido da vida: saber que não somos o centro do universo, saber que há algo ou alguém acima de todos nós e saber quem somos, de fato, até que possamos finalmente dizer: "Hoje me sinto mais forte, mais feliz... quem sabe? Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou nada sei..."
"Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente como um velho boiadeiro levando a boiada vou tocando os dias pela longa estrada eu vou... Estrada eu sou."
Sócrates ficaria orgulhoso, eu sei. Também já tive pressa...