Fortuna Crítica
March 21, 2021

"Romance - Manifesto" por Dimas Macedo- Fortuna Crítica da obra de José Alcides Pinto


Fortuna Crítica de José Alcides Pinto por Dimas Macedo


Se tivesse que selecionar cinco ou seis nomes, entre os maiores escritores cearenses, desde Alencar até os dias de hoje, eu colocaria José Alcides Pinto entre os escolhidos. E desafiaria em seguida a crítica brasileira para discutir os motivos que me levaram a esta conclusão.

Em verdade, seria lógico dizer que José Alcides Pinto era um dos mais ativos escritores brasileiros, sendo reconhecido pela crítica como um dos melhores poetas de nosso tempo. É autor, dentre outros livros, de a Trilogia da Maldição, que vem de ser publicado pela Top Books. E o que eleva a categoria de grande romancista também.
Refiro-me agora a "Manifesto Traído", um dos mais densos e revolucionários romances da moderna literatura do Ceará e do Brasil. Se tratando, pois, de um livro de grande conteúdo estilístico, de imensa envergadura humana e de indiscutível expressão linguística existencial.


Narrado em forma de memória, neste livro o criador de Os Verdes Abutres da Colina, deixou registrado um dos mais sérios depoimentos sobre a condição humana, o homem, visto no seu aspecto mais transcendental, na sua mais miserável posição social, vivenciando assim as misérias de um mundo amesquinhador, o que faz José Alcides Pinto se aproximar da obra monumental do Máximo Gorki e F. Dostoiévski. A interpretação que o personagem principal faz de sua vida, da vida de seu companheiro de infortúnio - como faz questão de proclamar - é das mais penetrantes, buscando o narrador no íntimo do estudante de engenharia, seu co-partícipe de tragédia, a identificação de um mundo satânico cruel demais para se revelado, mas que não deixa de ter uma ligação profunda com a realidade que envolve ambos.


Manifesto Traído é um desses livros que o leitor guarda por longo tempo na memória, dele extraindo lições sóbrias, experiências longamente vividas para um instantes amargos de cada dia, para as horas difíceis e desesperadas da existência. Isso porque o drama apresentado ao público pelo autor de Estação da Morte, é realmente comovedor, porque expõe todos os estágios da condição humana, todos os instantes de uma existência obcecada por uma posição mais favorável, mais condizente com os anseios humanos. Porém, infelizmente, frustrada nas suas ardentes aspirações.

O sonho maior de dois estudantes, dois colegas de infortúnio e sofrimento, perdidos no caos da distância dos seus lares, a debaterem-se no submundo da cidade grande, cada qual trazendo dentro de si uma ânsia desesperada por um lugar ao sol, porém cada um vendo sua aspiração atirada num abismo desolador, a luta pela sobrevivência impedindo que ambos pudessem realizar-se um intento, eis que massacrados entre a misérias, de um mundo sofrido, terrível até de onde o autor com a força do seu universo sensorial, soube extrair uma convivência diabólica e comovente.


A descrição dos personagens, a exposição do ambiente físico, a revelação das revelação das misérias são situações que por si sós valem como excelente matéria romanesca. A técnica de narração é verdadeiramente inovadora, isto se levarmos em conta os romances anteriormente publicados pelo autor, principalmente o Sonho e O Enigma. A linguagem, no geral leve e introspectiva, parece bastante acessível ao gosto do leitor mais exigente. A parte introdutória é um desses textos que guardamos para sempre relembrar, uma página verdadeiramente inesquecível, dessas que ficam retratadas em nossa mente e de onde retiramos lições para a convivência com nossos irmãos.

In Manifesto Traído (Depoimento, memória). Fortaleza, Forgel Editora, 1998.