Legado & Sina
July 3, 2023

BÔNUS: BUCK MOON

Matheus

– Eu ainda acho que isso não é uma boa ideia.

Comentei temendo a incrível ressaca que todos teriam com toda aquela quantidade de bebida que estávamos comprando na mercearia.

– Math, hoje é o último dia de aula, eu não quero comer bolinhos, eu quero ficar bêbado.

Rex comentou levantando as garrafas com líquido rosa e sorrindo para mim. Aquilo me fez rir.

– Eu gosto dos bolinhos.

Disse fingindo estar ofendido.

– Eu te compro um bolinho então.

– Perfeito, mas tem que ser o com recheio duplo.

Comentei apontando para a bancada de doces do outro lado da loja.

– Como você quiser. Agora me ajuda escolher a vodca.

Disse ele com sérias dúvidas sobre qual deveríamos levar.

Pensei rapidamente naquele dia, há dois meses, tudo tinha mudado muito nesse meio tempo.

Rex e eu agora éramos amigos. Quase tanto quanto ele era com Skandar ou eu era com Josh, claro que foi difícil para a maioria entender isso, mas as coisas mudaram, e continuavam mudando, por que nós também não poderíamos?

Papai ainda não telefonou ou nos mandou um e-mail, nem ao menos falou com nossos avós a respeito. Só desapareceu como Killian ordenou, não que fosse diferente do que ele fez a vida toda, diga-se de passagem.

O funeral do Jawantz foi mais triste do que tínhamos imaginado que poderia ser naquela época, pois bem, sua morte havia sido bem mais brutal.

Foi difícil no começo ver mais um nome escrito no memorial, mas logo nos obrigamos a nos acostumar, essa era a vida aqui, a qual nos foi imposta e que resolvemos aceitar.

Não falamos mais sobre aquela coisa. Sobre a verdade sobre o nosso sangue, e mais nenhum aluno sabe.

Todos gostavam da gente agora, conversavam conosco e acenavam. E depois de tantos meses, foi aquilo que uniu todo mundo, o que eu achava muito sádico, aliás.

– A lua parece maior hoje...

Rex comentou me tirando dos meus pensamentos com tapinhas no meu ombro.

– Acho que é a Lua de Cervos, ouvi o Josh comentar algo sobre isso essa semana. Se me lembro bem é uma ótima oportunidade para descobrir e revelar coisas que estão escondidas. Inclusive acho que ele e a Amora estão procurando algum artefato mágico pela academia.

Respondi pegando o celular que estava vibrando no meu bolso, era uma mensagem do Killian. Uma tentativa qualquer de puxar assunto e averiguar o que eu estava fazendo. Era fofo, pois ele se esforçava para ser sutil.

– Killian?

Rex perguntou pegando outra garrafa de bebida.

– Sim, ele quer saber se já estamos voltando.

– Ele ainda não gosta muito da ideia de nos ver andando por aí, não é?

– Bem, já tivemos umas cinco brigas mortais e nos beijamos uma vez. O ciúme dele é justificável.

Respondi, Rex revirou os olhos.

– É, quem sabe eu ceda aos desejos de te beijar novamente e levar seu corpo pra minha cama.

Acrescentou me encarando.

– Cale a boca – respondi vermelho – Você está namorando agora, não deveria pensar nessas coisas.

– Estou namorando, mas não estou morto.

Comentou se insinuando.

– Está começando a escurecer e eu quero chegar antes do jantar. Então...

Comentei olhando o relógio.

– Tudo bem filhinho da mamãe, vamos chegar antes do seu toque de recolher.

– Obrigado.

Retruquei.

Era engraçado perceber que muita coisa mudou entre nós, mas havia coisas que continuavam as mesmas, só que agora, ambos achávamos graça.

– Pegue seu bolinho e vamos. E aproveite e pegue um para mim.

– Vai se render aos delírios dos bolinhos?

Perguntei já correndo para bancada, mas ele não me respondeu só sorriu dando de ombros.

Parei alguns segundos na bancada para observar todas as guloseimas e fiquei hipnotizado por um pedaço de torta de morango que estava tão brilhante que me dava água na boca.

Levantei minha cabeça para fazer o pedido a atendente que já sorria.

– Boa tarde...

Disse ela, mas meu cérebro parou de processar as informações logo depois disso, quando meu olhar foi pego pelo reflexo do espelho atrás dela, e eu o vi, parado na porta da mercearia, olhando para mim, com aquele olhar frio e morto.

Virei rapidamente para ter certeza do que via e era verdade, ele estava ali.

Tentei controlar minha concentração, por sorte estava com Rex e não com os outros, pois seria poder demais para eu manter controlado.

Peguei Rex me encarando e virando seu rosto para encontrar o raio da minha visão.

– Quem é?

Perguntou mexendo os lábios, então sussurrei a resposta.

– Paimon...

E Rex largou as bebidas no chão as deixando se quebrar sobre o piso.

Ele começou a correr de imediato e eu o segui, ignorando os gritos da moça da caixa registradora que nos xingava por ter estragado a mercadoria.

Consegui acompanhar Rex antes que ele cruzasse a rua e entrasse em um beco. Quando finalmente me aproximei ele estava sozinho lá, fora a companhia de um cachorro de rua fuçando uma lata de lixo.

– Você tem certeza de que era ele?

Rex perguntou voltando a atenção.

– Eu conheço aquele rosto a minha vida toda, eu tenho certeza.

Disse me recordando de todas as vezes que tentei não pensar que a vida do Daniel tinha sido ceifada por minha causa.

– Achei que vocês tivessem destruído ele.

– Nós também.

Respondi surpreso pela primeira vez em semanas.

– Então como ele voltou?

– Não sei. Nem sei o que fizemos naquela vez. Só que estraçalhamos o corpo dele. Talvez, de algum jeito tenhamos só devolvido ele para o lugar que veio.

– Isso não é bom.

– Com certeza não.