Legado & Sina
June 17, 2023

CAPÍTULO XL: TODOS OS TONS DE DOR

Matheus

– Conseguimos!

Joshua gritou me acordando em um baque só.

Demorei alguns segundos para conseguir compreender por que todos estavam reunidos a minha frente, e principalmente por que Skandar flutuava alguns centímetros do chão, sentado na posição de lotus e Lexa segurava sua cabeça.

– Eu fui o único que dormi?

Perguntei ao Killian assim quando me aproximei dele, já havia luz solar por dentro da casa, então já estava de manhã.

– Sim, eu lancei um feitiço em você quando não estava vendo.

Admitiu me deixando bem mais confortável comigo mesmo.

– Birdy, sou eu... Skandar... Você está ouvindo?

Skandar começou a sussurrar, todos estavam petrificados tentando ouvir.

– O que a Lexa está fazendo ali?

Perguntei confuso.

Minha irmã não deveria estar fazendo magia com outra pessoa, mesmo que Josh também estivesse ali.

– Joshua a usou para ampliar os sentimentos de Skandar, para aumentar o sinal do feitiço, só assim eles conseguiram.

Explicou, isso fazia sentindo.

– Estou aqui, é realmente você Skandar?

Birdy perguntou, porém, não foi pela boca do Skandar que a voz saiu, mas pela da minha irmã. Senti uma leve pressão surgir na minha mente, como se algo arranhasse as beiradas dos muros que criei.

– Ela está invadindo nossa conexão.

Respondi sentindo a dor aumentar.

– Precisa se adiantar.

Disse Killian a Josh, mas eu tive que me afastar.

– Como estão todos? Você está bem? A academia sofreu algum dano?

Skandar perguntou, e eu também ouvia a voz dele na minha cabeça.

– Todos estão bem, mas estamos preocupados com vocês. Não havia comunicação, ou meio para isso.

Respondeu com uma voz nervosa.

– Birdy, você reconhece a minha voz? – Killian perguntou, e ela respondeu que sim, tanto pela boca da minha irmã quanto da minha – Precisa encontrar a diretora, eu preciso da ajuda dela. Nós todos precisamos.

Senti um braço me assegurar à medida que meu corpo foi ficando mais fraco, abri os olhos rapidamente, era Rex, ele tentava olhar para mim e para eles ao mesmo tempo.

– Acho que está machucando os dois, ou pelo menos ele.

Rex disse chamando a atenção dos outros.

– Birdy, se apresse. Por favor.

Killian suplicou.

– Estou aqui, Killian. Vocês estão seguros?

Disse a diretora, através de nós.

– Estamos onde deveríamos estar, mas precisamos saber o que fazer agora. Como nos unir para lutar.

Killian a respondeu sem perder tempo.

– A conexão, ela precisa existir. Quando suas mentes forem capazes de se ouvir, vocês estarão prontos. Saberão o que fazer na hora. Mas precisam se apressar, a luta já começou e vocês ainda estão sem os meios para lutar.

Explicou, eu conseguia sentir a tensão vindo de ambos os lados.

– Quando devemos saber à hora de ir?

– Vocês vão ouvir...

Disse ela antes daquele som surgir como sinos do inferno e a conexão ser cortada.

Lexa

Senti logo em seguida o corpo de Skandar acertar o chão, e minha cabeça martelar e a consciência do meu irmão ser expulsa da nossa conversa. E todo nosso esforço foi por água a baixo.

– Maldição! – gritei – O que é esse barulho infernal?

Perguntei furiosa, Killian agora estava de costas para mim, fitando a janela.

– É o alerta da cidade, eles começaram a atacar a igreja.

Respondeu com medo na voz.

– Como aqueles alertas de tsunami?

Katerina perguntou.

– Exatamente. Temos que ir agora, não dá mais tempo para descansar ou contatá-los.

– Então vamos.

Math completou, Rex estava logo atrás dele.

Roman surgiu atrás de mim e me ajudou a levantar, logo Joshua e Amora também estavam ao meu lado também.

– Isso vai ser uma grande bagunça.

Amora comentou olhando para mim.

– Com certeza.

Concordei.

Está tudo bem?

Perguntei ao meu irmão pelo elo, o feitiço de Joshua parecia ter causado efeitos colaterais nele.

Não foi nada. Só me avisa da próxima vez.

Completou sorrindo para mim.

– Vocês estão conosco?

Killian perguntou encarando os outros. Essa era uma pergunta que ele não faria para nós a essa altura.

– Eu disse antes e direi outra vez – disse Rex destravando um rifle da mesa – Eu não fujo de uma briga.

– Se o Rex for, com certeza eu vou para ajudar. Podem contar comigo.

Skandar completou.

Aparentemente a amizade deles era mais profunda do que eu imaginava. Talvez não fosse necessário um círculo para criar amizades tão fortes quanto as nossas, somente o desejo de se sacrificar pelos que você ama.

– Eu tenho me perguntando há muito tempo por que fui escolhido para cá – disse Samir brincando com os dedos nervosos – Não sou o mais forte, mais bonito ou mais corajoso, mas aprendi aqui que as diferenças nos moldam da forma que queremos que elas façam. E se a minha diferença pode me fazer grande, eu quero saber até onde ela vai. Então eu vou lutar com vocês.

– Muito bom cara.

Disse Roman dando um tapa em suas costas, o fazendo franzir de dor e rir ao mesmo tempo.

– Posso estar assustada – Katerina foi a próxima – mas não sou uma garota de se deixar abater. E não vai ser a primeira vez que eu sou obrigada a me impor para alguém.

Comentou decidida.

– Não tenho um grande discurso, mas também não sei o que poderia dizer – Jawantz comentou – Porém, fui criado em uma família de militares mortais, e tenho sangue de guerreiro dentro de mim. Contem comigo.

– Tate?

Amora perguntou vendo que ele estava afastado de todos.

– Me mandaram viver mais com os vivos, e não consigo pensar em uma maneira melhor da fazer isso do que lutar pela minha própria sobrevivência. E fora isso, eu não me importo com mais nada.

Disse recuperando suas características originais, senti falta dessa parte dele. Da originalidade de não ser como a maioria.

– Então se armem e vamos.

Killian ordenou e ninguém esperou uma segunda ordem para agir

Matheus

Acho que no final das contas eu nunca tinha parado para pensar em como iria ser o grande dia que sairíamos para lutar para proteger nossa cidade e nem o que iríamos encontrar lá fora.

Com certeza eu não parei para pensar nisso.

Primeiro que tudo e isso é uma realidade que bem no fundo eu tentava ignorar, segundo porque eu não sabia o que poderia encontrar, e principalmente não achei que estaria agora ao lado do Rex ou qualquer um dos outros. Era tão improvável que parecia loucura, mas agora eles estavam aqui e eram nosso reforço, e nós iríamos precisar.

– Quando vamos falar sobre isso? Sobre nos unir?

Perguntei colocando uma faca de prata dentro do meu tênis.

– Talvez agora, talvez nunca.

Lexa respondeu encarando os outros.

– Será que estamos prontos?

Amora perguntou enquanto verificava a quantidade de balas no pequeno revólver. As balas de prata eram um grande auxílio contra demônios, principalmente porque eram enfeitiçadas para ter uma eficácia muito maior a das convencionais em todos os aspectos. Já que prata comum não era um bom material para munição, mas se tornava um ótimo veneno contra demônios.

– Não acho que esteja ouvindo a voz de vocês na minha cabeça.

Roman comentou dando de ombros.

– Logo estaremos – Killian respondeu sorrindo, era a primeira vez que ele sorria desde que entramos aqui – Precisamos.

– Eu acredito que vamos dar um jeito – Joshua completou – Por que eu acredito em nós e sei que isso tem que bastar. Acho que agora vocês precisam acreditar também.

– Eu acredito, não teria como não.

Acrescentei. E era verdade, temendo ou não, era verdade.

Eles eram as pessoas mais importantes da minha vida, e eu mal os conhecia, mas sabia que era o certo, isso bastava por enquanto.

– Então vamos chorar e nos abraçar agora, ou depois?

Lexa perguntou se escondendo com cinismo.

– Talvez quando você escovar os seus dentes.

Amora retrucou desdenhosa, aquilo me fez rir, Lexa não esperava.

– Desculpe se a minha higiene bocal não vem antes do meu instinto de sobrevivência querida.

– Estamos prontos.

Rex comentou do outro lado, cada um deles tinha uma pequena bolsa junto ao corpo. Com munição, granadas de mãos e mais algumas outras armas.

– Então nos dividimos e conquistamos.

Killian acrescentou.

//

Chegar à igreja Preta e Branca foi fácil, era como se não houvesse mais ninguém fora de casa.

Killian explicou que para os humanos o alerta servia como uma indução hipnótica, os fazendo acreditar que diversas coisas estavam acontecendo, e caso algo realmente ocorresse perto deles os faria fugir da cidade ou do ponto em questão, para seres místicos, era o sinal que demônios tinham voltado e que precisavam se proteger da escuridão, então era como uma cidade fantasma agora.

Não nos preocupamos em esconder a caminhonete ou colocar as motos em algum lugar seguro, não fazia diferença. Parte do nosso cérebro gritava que talvez nem fossemos voltar.

– Não me parece a cena de um ataque de demônios.

Jawantz comentou, a essa altura todos já sabiam parte da verdade que tínhamos escondido a todo esse tempo, e era verdade, a igreja parecia intacta do lado de fora, porém, eu sentia na boca do estômago e no meu sangue o contrário.

– É a mesma sensação daquela vez.

Disse em voz alta, para que minha irmã ouvisse e eles também.

– A dor surda e o estômago revirado. Eu sinto também.

Acrescentou ela.

– E isso quer dizer...

Rex perguntou fazendo careta.

– Demônios.

Disse Amora agarrando o braço do Joshua, como se tivesse medo por ele e não por ela. E talvez devesse, pois agora éramos muitos, e Joshua sentiria a dor de todos por aqui.

– Vocês podem sentir?

Samir perguntou.

– Acho que sim, não sei explicar.

Comentei.

– E você?

Katerina perguntou a Amora.

– Eu sinto morte, sangue e dor.

Comentou com olhar o perdido, assustando a todos.

– Morte? – Rex perguntou – Como?

– Atualização rápida – disse Killian o respondendo – Meu fogo pode queimá-los e Amora pode pressentir quando alguém está em perigo. Fiquem atentos a isso. E sim, eles estão aqui, posso dar certeza disso.

Respondeu pondo a mão onde seu cordão estaria por debaixo da sua roupa.

A expressão de todos foi igual, havia dúvida estampada de forma, mas era tarde demais para dúvidas ou para explicações mais detalhadas de quem nós éramos ou que poderíamos realmente fazer.

Lexa

– As damas primeiro, eu presumo.

Disse Lexa pisando no primeiro degrau.

– Não espere que eu discuta com você dessa vez.

Rex comentou e aquilo quase me fez rir, se não fosse a situação no geral.

Amora e eu abrimos as portas juntas, empurrando com os dois braços, dessa vez entrando na igreja pela porta da frente.

– Isso não deveria estar trancado?

Alguém perguntou, mas eu ignorei, havia algo mais importante que tinha mudado. Tudo era... Branco.

– Eu não me lembro de tudo ser assim. Branco.

Comentei virando meu olhar para todos atrás de nós, mas calei a boca logo em seguida.

O que foi?

Matheus perguntou na minha mente, minha expressão devia delatar alguma coisa. Mas o que eu estava vendo era novidade.

Jawantz, toda sua aura está negra. Sem luz.

Como isso é possível?Eu não sei.

Respondi, e um estrondo me cortou.

– O que foi isso?

Samir perguntou, ele era o mais assustado de todos. Contudo, na situação atual, ele estava levando tudo bem melhor do que eu presumiria que ele levasse. Todavia, eu mal o conhecia, e isso era um pecado que eu cometia rotineiramente.

– O selo fica em uma sala nos fundos da igreja, eles devem estar tentando destruí-los. Temos que correr.

Roman acrescentou mirando o caminho aonde o som da explosão parecia ser mais alto.

– Sabe a ironia nisso tudo – disse Tate olhando para os vitrais acima de nós – Minha mãe sempre me disse, corra na direção oposta dos problemas, não os encare se não for problema seu e principalmente meu filho, não lute uma luta que nunca foi sua. E agora tudo que eu não quero fazer é seguir essas ordens, alguém pode me explicar isso? Pois parece muita idiotice minha.

– Se chama paixão, Tate – respondi – Ela nos faz cometer erros para proteger quem gostamos. Bem-vindo ao clube.

– Ela já não está teoricamente, morta?

Perguntou ele mais para si próprio do que para mim.

– Seus amigos não, e você sabe disso...

Disse antes que a loucura começasse.

Os vitrais que Tate encarava explodiram sobre nossas cabeças, nos forçando a pular para os lados para nos proteger. A nossa frente havia um grande espelho sujo tremulando, algo nele prendia minha atenção, mas eu não conseguia entender.

– Sai daí.

Matheus gritou, mas era tarde demais.

Diversos tentáculos começaram a surgir de dentro do espelho e nos atacaram.

Killian e Rex foram os primeiros a revidar, usando o chicote de fogo e de água. Não vi de onde Rex poderia ter tirado os dele, mas não reclamei também. Comecei a correr pelo salão de entrada.

– Samir, faz alguma coisa.

Gritei saltando entre dois tentáculos de vidro, como uma ginasta profissional. Amora ficaria orgulhosa.

Um raio de névoa verde passou por cima de mim e atingiu o vidro, os tentáculos a seguir enlouqueceram, porém, isso ainda era ruim para nós.

Eles começaram a se chocar no chão e no teto, então o primeiro dos doze foi pego.

Tate só teve tempo de gritar. Depois disso tudo aconteceu ainda mais rápido.

Senti o tentáculo de vidro agarrar minha canela e meu corpo deslizar pelo ar e depois despencar no chão. Roman veio logo depois de mim. Seguido por Joshua, Killian, Katerina e Samir.

Matheus

– Lexa!

Gritei, mas ela já tinha sido levada e os tentáculos desaparecido.

– O que foi isso?

Skandar perguntou, nada fazia sentido.

– As proteções da igreja estão ativas, acham que somos intrusos.

Comentei encarando Amora, ela não parecia nem me enxergar.

– Proteções? Como sabem tanto daqui?

Rex perguntou tentando entender.

– Já lutamos contra demônios aqui uma vez.

Esclareci.

– Vocês venceram?

Rex perguntou pasmo.

– Sim.

– Quantos?

Jawantz perguntou.

– Eram quatro, matamos todos.

Respondi tentando conseguir atenção de Amora agarrando seu braço.

– Eles não estão presos dentro do espelho.

Ela comentou olhando ao redor.

– Como assim?

Perguntei.

– Nós estamos.

Disse ela agora olhando fixamente para algo escrito acima de nossas cabeças, só então percebi que não havia mais a porta que entramos atrás de nós, mas sim cinco portas diferentes, e tudo não era mais branco, mais sim, preto.

– Isso é loucura.

Jawantz comentou, e ele estava certo. Essas novas proteções eram enlouquecedoras.

– Que idioma é esse?

Skandar perguntou apontando para as inscrições em cima de cada porta. Havia uma palavra em cada uma.

– Não é outro idioma, só está espelhado. São os nossos nomes.

Amora o respondeu mais calma, os tentáculos tinham desaparecido.

Os nomes começavam com o meu, e terminavam com o de Jawantz. Da direita para esquerda.

– Tem mais alguma coisa ali no chão – Rex comentou andando para frente e se abaixando – "Invasores sempre entram no reino de Lá, Mas... Só poucos caminhos se deve passar, e três medos devem enfrentar, para que os valorosos possam escapar."

– Estamos presos em um teste.

Entoei tentando encontrar uma saída com os olhos.

– Temos que nos dividir então? – Skandar perguntou – Pois se fizermos isso, um de nós vai acabar sozinho.

– Não, vamos juntos – Amora o respondeu – Se nos separarmos ficamos indefesos demais.

– Ou você só quer proteger seu amiguinho aqui que não pode se defender sozinho.

Jawantz comentou, se referindo claramente a minha incapacidade de fazer magia sem a Lexa.

– Cale a boca, Jawantz – Rex retrucou apontando o dedo para o rosto dele – Estamos todos na mesma situação aqui.

E ver Rex me defendendo era como ver o inferno congelando, mas depois daquele acontecimento tudo estava diferente e eu também.

Levei minha nevoa mental até atingir todo o corpo do Jawantz e o lancei contra a parede o prendendo lá.

– Talvez eu não possa conjurar feitiços ou transformar meu corpo em diamante Jawantz, mas eu não sou indefeso – acrescentei fazendo uma pistola automática levitar perto do meu rosto, Killian havia me mostrado como usá-la usando a telecinese, eu não tinha conseguido sucesso na mira, mas ele não precisava saber, então somente destravei para assustá-lo, tomando o máximo de cuidado para não disparar sem querer – Agora ou estamos juntos nessa ou não estamos, entendeu?

Perguntei tentando imitar o tom de voz do Killian.

– Ar... Estamos – disse ele rangendo os dentes – E talvez você seja mais homem do que eu pensei.

Comentou quase rindo.

– Vamos pela sua porta, então?

Skandar perguntou.

– Não sei. Alguém quer escolher?

Perguntei.

– Vamos pela minha então.

Disse Jawantz.

Lexa

– Matheus! Matheus!

Gritei batendo naquele vidro estúpido. Tanto em voz alta quanto mentalmente.

– Precisamos arrumar um jeito de nos tirar daqui.

Katerina comentou.

– Acho que a questão é tirar eles de lá.

Joshua comentou analisando o local, por quê?

– O que quer dizer?

Perguntei.

– É simples – Killian interrompeu – Tudo aqui é igual a antes, mesmo a porta, e olhe para eles dentro do espelho, é tudo diferente. E nem acho que possam nos ver, é como se estivéssemos os vendo por uma tevê. Acho que são eles que ficaram presos lá.

– Então a Igreja nos enganou, por quê?

Tate perguntou.

– Não sabemos – Roman respondeu – Ela existe para proteger o selo, deve estar atacando tudo que é diferente, inclusive a nós.

– Precisamos tirá-lo de dentro de lá agora.

Exclamei.

– Não, nós precisamos ir – Killian me contrapôs – Eles fizeram uma decisão, dá para ver. Estão entrando em um dos caminhos, nós temos que seguir em frente.

– O que você está falando? Temos que salvar o meu irmão e os outros. Não podemos abandoná-los.

– E não vamos – disse ele para mim – Mas eu tenho que acreditar que seu irmão sabe se cuidar e que é esperto o suficiente para conseguir achar um jeito de sair dali, pois se não eu não terei esperanças para continuar e você também. E Rex está lá, não acho que ele vá deixar ninguém se ferir.

– Está colocando todas as suas fichas no Rex? Isso é sério?

Perguntei com desdém.

– Não no Rex, no que eu e ele temos em comum. Agora você pode ficar ou podemos ir, você decide, pois não vamos nos separar.

Virei para trás mais uma vez, mas eles já não estavam mais lá, tinham entrado em uma das portas estranhas. E agora eu não poderia fazer mais nada. Nem mesmo a conexão mental funcionava, estava totalmente bloqueada.

– Vamos continuar.

Entoei por fim, era o que tínhamos que fazer.

– Para onde então?

Samir perguntou.

– Vamos continuar a frente, é o que podemos fazer.

Roman o respondeu.

Deixar o meu irmão era incrivelmente difícil, mas lá dentro, ele estava focado, o que significava que ele tinha fé que eu conseguiria de algum jeito me reunir a ele e ainda sobreviver com todos e por isso ele faria o mesmo então eu tinha que pensar igual. E continuar viva.

Mas se não os encontrasse, como iríamos nos unir caso fosse a hora? Isso era confuso.

Entramos na primeira passagem que encontramos e começamos a andar, todos pareciam tremer a cada vidro ou superfície espelhada que atravessávamos com medo de serem sugados pelo espelho também, mas nada ocorreu como antes.

– Por que isso me parece maior do que deveria?

Tate perguntou.

– Deve ter o mesmo feitiço que academia e a casa de proteção do Roman, expandindo o local por dentro.

Joshua o respondeu.

– Ou talvez sejam duas enormes igrejas unidas.

Roman acrescentou olhando para os lados antes de uma explosão acontecer, essa que fez não só tudo balançar, mas praticamente chacoalhar.

– O que eles estão fazendo?

Katerina perguntou depois de se levantar.

– Explodindo o selo, ele é um grande círculo de pedra gigante. Devem precisar de muita energia.

Respondi.

– Isso significa que eles já passaram pelas proteções, não é?

Samir perguntou fitando Killian.

– Sim, eles podem ter chegado aqui desde o ataque a academia essa madrugada. É o mais provável. Porém, eles não conseguiram ainda, é mais difícil do que parece, só que temos que chegar a tempo.

– Mas como vamos chegar lá se esses corredores nunca terminam? Estamos aqui há quase meia hora.

Katerina comentou, e isso era verdade, a igreja parecia muito diferente da última vez.

– Roman, pode nos abrir uma passagem?

Pedi e ele entendeu.

Demolare.

Conjurou encostando as duas mãos na parede mais próxima criando uma onda sísmica de destruição.

Um novo corredor inteiro havia surgido atravessando diversas salas escuras.

– Bem mais preciso do que a última vez, amor.

Disse elogiando e dando o primeiro passo.

– Esperem.

Disse Killian antes de acender seu isqueiro e criar uma bola de fogo, então uma luz surgiu no final do novo túnel.

– Tem alguém ali?

Joshua perguntou.

– Não alguém – disse Killian mexendo os braços, e a estranha luz nas sombras ao longe também se mexeu – Somos nós. É um labirinto. Somos nós do outro lado.

Entoou, agora surpreso.

– Argh, isso é inacreditável. Estamos perdidos?

Perguntei sem acreditar onde estávamos agora. Em lugar nenhum.

Matheus

– Por que sempre é tão escuro?

Perguntei sem saber por onde estava andando.

– Você queria uma estrada de tijolos amarelos?

Rex perguntou tentando fazer deboche.

– Amora, você sente alguma coisa?

Perguntei, ignorando o comentário anterior.

– Nada, é estranho. É como se algo fluísse de todos os lugares. Inundando tudo, entende?

– Como água?

Rex perguntou.

– É.

– Pessoal, estão ouvindo esse barulho?

Skandar perguntou dando três passos para trás, ou pelo menos para trás de mim.

– Seria coincidência de mais...

Rex sussurrou.

– Como assim?

Jawantz perguntou.

– Acho que é realmente barulho de água.

Disse Rex e as luzes se acenderam.

Estávamos dentro de um salão pequeno totalmente preto, como uma sala antiga da realeza ou algo tipo, com cômodas, mesinhas, cadeiras e até mesmo uma luminária de querosene.

– Temos que ir embora antes que entre aqui.

Jawantz acrescentou já na porta do pequeno salão, porém, o barulho se tornou mais alto, mas dessa vez como se estivesse quase sobre nós.

– Não!

Rex gritou, mas não teve tempo, Jawantz abriu a porta e uma onda de água o acertou na mesma hora o empurrando para trás.

Agarrei Amora em um movimento involuntário e tentei nos proteger com uma barreira telecinética, contudo Rex foi mais rápido e parou a água, que agora era uma onda que tremulava no ar.

– Essa foi por pouco.

Comentou.

– Consegue abrir um caminho para nós, por aí?

Perguntei tirando a ideia de um desenho animado.

– Gente, acho que temos outro problema.

Amora comentou antes que Rex pudesse responder a minha pergunta.

– Qual?

Perguntei, mas não foi necessário a resposta, quando eu virei lá estava, ou melhor, não havia nada. Todas as paredes atrás de mim tinham sumido.

Skandar correu para a outra parede assim que voltamos a raciocinar.

– Não tem nada aqui, a água está vindo de lugar nenhum.

Completou depois de averiguar.

– Mas está aumentando.

Disse Rex fazendo mais pressão.

– Temos que tampar a porta então...

Sugeri, mas Rex foi mais rápido empurrando o braço com toda força no ar, e depois fazendo um movimento com as mãos para que a porta se fechasse.

– Pronto.

Acrescentou com um sorriso.

– Não comemorem ainda.

Jawantz comentou, e a parede sumiu.

– Aquilo é uma onda gigante?

Perguntei vendo a maciça onda de água vindo em nossa direção.

– Se abaixem!

Rex ordenou e obedecemos.

Em segundos a onda nos atingiu em cheio, mas Rex conseguiu criar um bolsão de ar conosco dentro, impedindo que a água nos levasse, porém, ela não sumiu, continuou ali, como se estivéssemos embaixo d'água.

– Seu medo é a própria água?

Rex perguntou quase ofendido, aquilo me irritou.

– Claro que não. Eu até me afoguei quando era pequeno, mas nunca tive medo de água.

Jawantz o respondeu rispidamente. Nenhum dos dois não estavam de bom humor, e a situação não ajudava.– Então é outra coisa – Amora acrescentou – Temos que descobrir o que é para podermos sair, aparentemente.

– E rápido, porque está ficando difícil de respirar.

Skandar completou abrindo a gola da camisa, e era verdade.

– Mas não deveria – disse – Só se a pressão da água estivesse nos afetando. Mas teríamos que estar definitivamente muito abaixo do nível mar.

– Diversos pés abaixo.

Rex acrescentou franzindo a testa.

– A água está aumentando, não está?

Jawantz perguntou a ele, mas Rex não respondeu, mas seus braços estavam rígidos como se ele segurasse tudo aquilo sobre as costas.

– Está – exclamei por fim – Precisa pensar Jawantz, descobrir o que tudo isso quer dizer. Rex não pode aguentar para sempre.

– Eu não sei. Nunca tive medo de nadar ou qualquer coisa do gênero... Não sei o que a mensagem quer dizer.

– Medo nem sempre é aquilo que imaginamos que é, ele vem de diversas formas e principalmente nos pega de surpresa. Porém, no fundo, sempre sabemos o que ele significa. Você sabe qual ele é, só tem que admitir e lutar contr...

Disse Amora a ele, tentando arrumar uma solução, mas o som de Rex batendo seus joelhos no chão a cortou.

– Quanto tempo mais pode aguentar?

Perguntei preocupado, com ele e conosco.

– A pressão está aumentando bem rápido, ela quer nos esmagar. Água normal não faz isso, não vou aguentar muito tempo. Preciso de ajuda.

Disse, e se Rex precisava de ajuda isso era grave.

– Cada um de nós, tente aliviar a pressão sobre a Rex com a telecinese, temos que ganhar tempo para o Jawantz.

Nós espalhamos e fizemos. Como no exercício com o teto de rocha sobre nós. Amora dessa vez parecia muito mais confiante da força que tinha. Já Skandar estava com medo e Jawantz muito confuso.

– Isso não tem a ver com animais ou insetos Jawantz, então precisa ir fundo dentro de si, logo.

Comentei, mas foi só abrir a boca que eu senti parte da minha força sumindo e tudo ficando mais pesado.

– Está aumentando rápido.

Rex comentou, Skandar agora já estava abaixado, Amora e eu lutávamos para continuar em pé, e a dimensão do nosso espaço tinha caído pela metade.

– Jawantz, por favor. Você consegue. Pense. Pense agora.

Amora gritou fazendo seus dentes rangerem.

– Vamos ser soterrados pela água.

Skandar avisou já com seu rosto vermelho pelo esforço.

– Rex, pode impedir que você e o Jawantz sejam esmagados pela pressão da água?

Perguntei, aquilo aparentemente deixou todos sem reação.

– Teoricamente, mas vocês morreriam pela pressão e nós, eventualmente pela falta de oxigênio.

– Ele precisa enfrentar o medo para sairmos, então ele é o que tem que ser protegido. Agora vai Jawantz, fique perto do Rex.

– Isso é loucura, vamos todos morrer.

Skandar comentou assustado.

– Precisa acreditar nele. E se ele não descobrir logo todos vamos morrer do mesmo jeito!

Disse Amora arfando nervosa.

– Tenho certa dificuldade com confiança.

Acrescentou ele totalmente apavorado.

– Por quê?

Perguntei, talvez fosse a chave.

–Mas o que isso tem a ver?

– Diga logo. Não temos tempo.

Ordenei.

– Não acho que dividir meus problemas paternos vá solucionar alguma coisa.

Desabafou.

– Confiar é o seu medo, por isso a água – exclamei – Precisa confiar no Rex, e eu sei que parece difícil. Acredite em mim, já briguei com ele mais vezes do que discuti com minha própria família, mas ele, depois do Killian, é o mais poderoso de todos nós, e aprendeu tudo isso sozinho, sem ninguém, e pode ser ainda mais. Você vai ter que acreditar que ele pode te salvar, para que você possa nos salvar.

– Não sei se consigo.

Confessou.

– Não me importa Jawantz. Você vai ter que fazer, pois se não, não será só nos a morrer, pois essa guerra pode transcender Nova Salém, e chegar até todos que você ama. É isso que você quer?

– Não...

– Então confie em mim!

Rex gritou e tudo desabou.

Lexa

– Abaixem-se!

Tate disse segundos antes da cortina de fogo rubro saraivar sobre nossas cabeças.

– Demônios!

Samir gritou apontando para onde eu presumia ser o norte.

Aparentemente não éramos os únicos presos dentro do labirinto da Casa de Gêmeos.

Três demônios em forma completa estavam parados atrás de nós.

Um deles era grande gordo e tinha dois chifres, o outro era magro com braços incrivelmente largos com garras saltadas o terceiro era baixo e ainda mais gordo que o primeiro, ele não tinha chifres, mas asas pequenas que não pareciam sustentá-lo, mas exalava fumaça das narinas.

– São demônios menores – disse Killian travando nossa atenção, os demônios não demonstraram muita expressão a fala dele – Mais fáceis de matar, mas não menos letais. Ataquem!

Ordenou, então fizemos.

Saquei minha arma e mirei na direção do maior, presumi que seria mais fácil acertar ele e atirei.

Os três não se moveram até minha bala acertar o ombro do demônio grandão e ele guinchar de dor e sua pele marrom avermelhada começar a borbulhar pelo contato com a prata, depois disso eles começaram a correr em nossa direção.

Me abriguei ao lado de Roman e Tate fez o mesmo.

Ambos não tínhamos habilidades ofensivas diretas, mas tínhamos criado um plano de ataque. Mesmo que fosse estranho trabalhar com alguém que não fosse meu irmão ou meus amigos, Tate e eu tínhamos uma conexão a mais e iríamos usá-la.

– Preparada?

Perguntou ele a mim.

– Sim.

Respondi, então fizemos o movimento de levar nossas mãos para o auto e depois empurrá-las para baixo, o teto acima dos demônios desabou com toda forma.

– Katerina, faça um show.

Disse Killian e um raio rasgou o ar perto da minha cabeça, fazendo meus cabelos ficarem eriçados pela eletricidade estática. Os escombros explodiram assim que o raio os tocou e tudo começou a pegar fogo.

– Faça brilhar.

Disse Killian já começando a correr na direção oposta.

Seu olhar faiscou na direção das chamas provocadas por Katerina e elas adquiriram a coloração alaranjada do fogo da fênix e os demônios voltaram a guinchar.

– Eles não estão mortos, vão voltar. Continuem correndo.

Killian acrescentou logo depois.

Mas estamos correndo para onde se não sabíamos mais onde estávamos?, pensei comigo mesma, mas não tive tempo para descobrir a resposta, quando alguém me puxou pela gola da blusa, me fazendo cair para trás.

– Cuidado!

Disse Samir e todos pararam na mesma hora, quando dei por mim não havia mais chão a minha frente, e se eu tivesse dado mais alguns passos teria caído em um abismo de escuridão.

– Cadê o resto do chão?

Roman perguntou.

– Corram naquela direção.

Disse Killian apontando para o outro lado, já que mudar de direção era a única coisa que restava.

Matheus

– Isso foi o som de um disparo?

Amora perguntou antes de perceber que não estávamos mais soterrados por água.

– Onde estamos?

Rex perguntou ainda segurando Jawantz pelo braço, ele só percebeu o ato quando Skandar começou a encará-lo, ambos se soltaram como se a pele um do outro causasse efeitos colaterais a sua biologia.

– É outro caminho.

Disse pressionando o corte do meu braço.

– De quem?

Amora perguntou, mas foi Skandar que a respondeu.

– O meu.

Disse ele paralisado na direção oposta a nós, só então vi o homem parado a sua frente tremendo com uma arma direcionada a nossa frente.

Tentei pensar em algo para fazer, contudo Amora foi mais rápida e lançou o homem armado contra o muro de madeira que estava a nossa frente.

– Seu medo continua sendo a morte do seu irmão.

Exclamei, mais para mim do que para ele.

– Deve ser...

Respondeu ele apavorado.

– Como superamos esse então?

Jawantz perguntou a mim, mas eu não fazia e menor ideia.

– Rex se abaixa.

Amora gritou e Rex obedeceu em segundos.

Um buraco de tiro surgiu na cerca de madeira logo atrás dele.

– Estão atirando em nós.

Completei, dizendo óbvio.

– Pode nos dizer de onde eles vêm?

Jawantz perguntou a Amora, ela fez que não com a cabeça.

– Skandar, precisa descobrir e vencer seu medo. Sabe o que isso quer dizer?

Perguntei.

– Não.

Respondeu olhando para todas as direções ao mesmo tempo tentando achar o atirador.

– Vencer o atirador – disse Rex ficando na frente do amigo – Ele é o seu medo e a sua culpa. Vença-os e se vingue. Você pode, é mais poderoso do que era naquela época. É um bruxo agora.

– Não sei como atacá-lo se não posso vê-lo.

Skandar completou.

– Como ele disse, você é um bruxo. Conjure um feitiço.

Acrescentei, e aquilo era meio irônico da minha parte já que eu não poderia fazer um por minha conta se quisesse.

Repellere.

Disse Skandar disparando uma rajada de energia contra as sombras das árvores, estávamos em um tipo de bosque ou parque.

– Nem sei onde ele está, como vou atingi-lo?

– Fazendo do seu medo uma vantagem – disse Jawantz tomando a frente – Os professores já nos disseram, nossas emoções aumentam nossa força. O medo também é uma delas, pode lançar esse feitiço de novo, fazer tudo desabar, você consegue.

– MATHEUS!

Disse Amora antes de me puxar para o lado, mais três tiros foram dados.

– Ele vai atirar de novo.

Disse Amora, mas o som da bala foi mais rápido que ela.

Mas dessa vez não atingiu a cerca de madeira, e nem alguém, porém, foi parada em pleno ar, ainda vibrando com a energia causada pela explosão da pólvora.

Skandar tinha feito isso.

– Acreditamos em você, como seu irmão também devia acreditar.

Rex comentou encarando-o.

– Use suas lembranças. O que sentiu naquele dia. Faça tudo voltar e mande para fora. Transforme a dor em combustível para nos tirar daqui.

Amora acrescentou, Os olhos de Skandar estavam pintados de vermelho. Ele queria chorar, mas não faria. Nenhum de nós faria agora.

Skandar reuniu suas duas mãos perto do peito e o ar começou a esquentar.

– Se protejam, não sei se vai atingi-los.

Skandar adiantou com seus olhos faiscando de poder.

Ignis Circuli repellere.

Conjurou e um círculo de energia vermelha surgiu dele e atravessou tudo como uma onda de tração que nos empurrava para longe.

Forcei meu cérebro a criar uma barreira de telecinese ao redor do meu corpo e da Amora e ela fez o mesmo como os outros, mas energia passou direto por nós atingindo todo o resto em um cataclismo de destruição maciço, mais um caminho havia sido vencido.

Lexa

– Temos que parar com isso, parar de correr se não nunca vamos conseguir chegar a algum lugar. Tudo isso foi feito para nos atrasar.

Disse parando de correr e forçando todos a pararem também já que estavam atrás de mim.

– O que você sugere Lexa?

Killian perguntou, ele também não estava gostando dessa corrida de gato e rato.

– Não sei, mas temos que quebrar essas proteções. Elas têm que ser detidas de alguma maneira.

– Sangue de demônio.

Disse Katerina com aquela expressão no rosto de que tinha um plano em mente.

– Explique-se.

Disse sentindo a animação emanada dela, era quase como esperança renovada.

– Aprendemos em uma das aulas do senhor Garrett que sangue de pode ser usado para desequilibrar a magia das sombras, pois as energias são conflitantes. Então é meio óbvio, né?

– Você quer dizer que podemos destruir as proteções da igreja com o sangue dos demônios?

Roman perguntou.

– Possivelmente, sim.

– Mas isso não criaria um tipo de reação em cadeia que destruiria tudo, inclusive nós aqui dentro?

Samir perguntou, fazia sentido.

– Não exatamente – Killian respondeu – As proteções desse lugar são formidáveis, porém, já foram desativadas antes sem destruir tudo. E nem acho que poderíamos tentar desfazê-las por completo, e talvez esse seja o truque, desativá-las temporariamente. Usar o sangue dos demônios pode nos dar essa chance e ainda nos manter vivo.

– Você se lembra desse feitiço, Kat?

Tate perguntou.

– Não exatamente.

Disse ela com a voz falha.

– Mas eu acho que sim.

Joshua acrescentou, todos viramos para ele.

– Tem certeza?

Perguntei confusa.

– Amora encontrou o feitiço uma vez, enquanto fazíamos nossas pesquisas. Eu o li superficialmente, mas acho que as lentes dos meus óculos, devem se lembrar.

– Seus óculos?

Tate perguntou sem entender.

– Eu sei um feitiço que pode retirar informações de superfícies espelhadas, é como revelar uma foto de um espelho ou vidro, funciona nas lentes dos meus óculos, já que as informações foram gravadas lá por causa da refração da luz e coisas do tipo. É difícil de explicar, mas pode estar lá de algum jeito e eu posso acessar com magia.

– Então vai ser exatamente isso que vamos fazer. Vamos criar o ritual usando o sangue deles para nos tirar dessa parte da proteção e torcer para que o Math e os outros consigam sair por contra própria, é a única ideia boa que temos até agora.

Disse Killian criando uma espada de fogo.

– Então vamos a coleta.

Completei tirando uma faca da mochila.

//

Formamos um pequeno plano de ação que de certa forma era um grande plano de suicídio em massa se desse errado, pois corremos na direção oposta onde tentávamos ir, o que significava que fomos atrás deles, pois era preciso se queríamos seu sangue.

Roman e Joshua realizaram o feitiço que retirou as informações dos óculos e nos ensinaram o ritual. Presumimos que todo esse lugar era um catalisador gigante para matriz dos feitiços de proteção, então era só uma questão de conseguir o sangue e conjurar o feitiço em uma adaga ensanguentada ou em uma poça de sangue e escrever três runas dentro de um círculo feito do mesmo elemento básico.

– Essa é provavelmente a ideia mais idiota que estou tentando realizar na vida.

Tate comentou assim que ouvimos os passos dos demônios nas sombras.

O chão tinha retornado, e agora estávamos dentro de um corredor iluminado por pequenos lampiões. Porém, aquilo tudo me fazia sentir falta de treinar no ginásio.

– Você está tentando namorar um fantasma, parceiro. Está mais para segunda então.

Comentei tentando fazer graça. Mesmo sendo pouco saudável, por algum motivo eu gosta de saber que Lly estava tendo um pouco da felicidade que merecia, mesmo estando morta.

– Quem sabe você está acerta, agora atire!

Disse ele sacando sua arma e a mirando para o teto, acompanhei ele mesmo sem enxergar nada, mais um guinchar estridente deixou claro que atingimos alguma coisa.

– Não são os mesmos demônios.

Acrescentei em tom assustado, esses pareciam rastejar no teto e serem bem menores.

– O sangue deles vai funcionar do mesmo jeito, então vamos.

Disse Killian girando seu chicote de fogo no ar, aquilo fez as sombras diminuírem o passo. Avistei mais três deles, e movi os dois mais pertos de mim com minha telecinese os forçando a se chocarem, Samir atirou contra eles uma granada de fumaça que disparou uma solução gasosa a base de prata.

As criaturas começaram a queimar e se liquefazer, mas não parecia exatamente a mistura que queríamos.

– Sem granadas para o que precisamos fazer.

Disse Killian apontando para o Samir no mesmo estante que Katerina atingiu cinco desses rastejadores com um relâmpago os fazendo virar pó.

– Eles parecem gelatina se preparando para entrar em combustão instantânea.

Ela acrescentou irritada, a ideia original era dela.

– Tenho uma ideia – disse Roman – Mas aconselho a todo mundo fechar a boca.

– O que vai fazer?

Perguntei.

– Uma coisinha que meus priminhos me ensinaram.

Disse ele antes de mirar sua mão para um dos demônios rastejadores que estava sibilando atrás de mim, segundos depois só senti o líquido quente, espesso e com cheiro de enxofre me banhar inteira pelas costas.

– Desculpa, amor.

Disse Roman pegando um pouco da gosma vermelho-escura do meu cabelo e depositando nas mãos.

– Preciso que me deem cobertura.

Gritou me tirando do transe estático de estar totalmente enjoada.

Katerina e Killian voltaram a atacar, e Samir a lançar as granadas de fumaça, já que agora tínhamos o sangue que precisávamos.

– Precisa de ajuda ou vai começar a atirar?

Tate perguntou mirando o outro lado do corredor que estava sem proteção.

– Pode contar comigo.

Respondi pegando as duas armas da mochila e começando a atirar novamente.

Eu ainda estava suja, nojenta e com uma vontade tão grande de vomitar, que poderia expelir meus fluídos pelo meu nariz e orelhas, mas não era hora para ser fofa e limpa, mas para sobreviver. Claro que se eu sobrevivesse, ficaria imersa em uma banheira de água quente com sais de banho por uma semana.

– Quanto tempo para o feitiço?

Killian perguntou a Roman.

– Eu só preciso entoar o cântico e escrever as runas, depois disso tudo deve fazer um grande cabum ou chacoalhar como a montanha russa mais irada do mundo.

– Sem problemas, só seja rápido.

– Mais do que a minha tia Candice em dia de liquidação.

Disse ele rabiscando as runas no chão e cantarolando as palavras que eu já não era mais capaz de entender.

E somente naquele momento eu agradeci por não poder fazer magia sozinha, pois não tinha memória suficiente para guardar todas aquelas frases em tão pouco tempo.

– Preparem-se!

Roman alertou, mas as runas desenhadas em sangue começaram a brilhar tão forte quanto o sol poderia ser.

Matheus

– Voltamos para o início?

Perguntei encarando as portas sobre a nossa frente.

Skandar tinha vencido seu medo e nos tirado daquele lugar, mas agora parecíamos ter voltado para o ponto de partida.

– Tem três portas agora em vez de cinco, estão nos dando a escolha novamente.

Amora me respondeu.

– Jawantz e eu já fomos, quem vai ser o próximo?

Skandar perguntou claramente abatido com aquilo tudo.

– Vamos pela minha então.

Respondi ainda sem acreditar, aliás, meu braço ainda sangrava pelo tiro de raspão que eu tinha recebido.

– Não – disse Rex me impedindo de abrir a porta pela maçaneta – Acho que eu deveria tentar.

– Tem certeza?

Perguntei em tom baixo, eu sabia o que se passava na mente dele e não era bom. Não era estável. Não que a minha fosse muito melhor, diga-se de passagem. Porém, a minha mente estava mais acostumada a se partir do que a deles, talvez esse fosse a real razão de eu ser assim. Poder me quebrar no lugar das pessoas que eu queria proteger.

– Eu quero descobrir quais sãos os meus reais medos. Preciso disso desde aquilo dia.

Completou.

– Faça as honras então cowboy.

Jawantz comentou com as mãos na cintura.

Rex se aproximou lentamente e girou a maçaneta de um negro azulado, a porta se abriu revelando um ar frio, e fomos pegos de surpresa com o que vimos.

– Um espelho é o seu medo?

Amora comentou, mas não era o nosso reflexo que ele mostrava, era Lexa e os outros, parados, como se estivessem presos no tempo.

– Estão tentando fazer alguma coisa, ali. Um feitiço, talvez.

Skandar comentou tentando analisar a cena.

– Tentando escapar presumo.

Acrescentei.

– E nós precisamos conseguir também. Qual é o significado disso?

Amora perguntou ao Rex, mas o espelho tinha mais para revelar, inscrições surgiram acima do nosso reflexo, que tomava o lugar dos outros.

– "Cinco entram para seus medos encarar, mais sempre do verdadeiro medo se deve provar, para que outros possam retornar".

– Um de nós tem que ficar?

Skandar perguntou confuso, era inacreditável demais.

– As proteções devem servir de várias formas, tanto para testar, quanto para limitar. Como camadas, nos prendendo em várias delas até que fiquemos tão separados que não possamos fazer mal. Mas não temos escolha. E nem opção para funcionar.

Jawantz comentou se virando de costas.

– Isso é ridículo – disse batendo o pé – Mas eu vou dar um jeito.

Exclamei tentando pensar.

– Eu fico.

Disse Skandar se voluntariando, ele parecia cheio de alguma coisa. Coragem talvez.

– Não – disse Rex com tom sério – É a minha porta, então esse é o meu medo. É assim que ele funciona. Vocês vão passar pelo espelho, se encontrar com os outros e vencer esses demônios malditos, e me tirar daqui quando tudo acabar é bem simples.

– Rex isso é perigoso, você vai ter que passar pelo seu medo sozinho durante todo esse tempo.

Comentei totalmente preocupado.

– Eu sei, e acho que é exatamente isso que significa.

– Seu medo é a solidão...

Sussurrei por fim me lembrando do que senti naquele dia.

– E eu preciso passar por isso sozinho.

– Não faz sentindo.

Amora comentou.

– Faz, eu acho – disse ele a respondendo – Agora eu sei que não estou sozinho de verdade, só preciso me esforçar mais para entender isso completamente. E confiar que meus amigos vão voltar para me buscar, pois uma pessoa solitária não teria ninguém para ter esperança. E eu tenho, não é?

– Tem a mim pelo menos – disse Skandar colocando a sua mão no peito do Rex, em cima do coração – Você pode não ser dos mais fáceis de lidar Rex, ou com o melhor temperamento, mas eu sei que faria o mesmo por mim e eu farei por você. Vou salvar você e a Birdy no final disso tudo.

– Todos vamos.

Disse complementando, e era verdade. Ele era meu amigo agora ou ao menos um projeto de tentativa.

– E aonde ele for todos os seis vão – disse Amora – Pode apostar nisso.

– E o restante de nós também cara, vamos sair todos juntos daqui. Todos vivos.

Jawantz acrescentou e Rex sorriu com uma única e solitária lágrima escorrendo do seu rosto, por fim, ele deu dois passos para trás, e eu tive que refrear a vontade de agarrá-lo pelo pulso, e as sombras o acolheram, mas ele provaria que era mais do que elas poderiam aguentar. Então toquei no espelho e não estávamos mais lá.