Fumaça & Cinzas
May 14, 2022

CAPÍTULO XLI: O BEIJO SOB O VISCO

Matheus

Já estávamos no fim da tarde de sábado, véspera de natal, e toda a academia parecia enlouquecida.

Lexa e as outras garotas estavam se arrumando desde o minuto que acordaram hoje cedo, a sala de convivência delas havia sido transformado em um salão de beleza e estética. E todas pareciam eufóricas. No nosso caso nada havia mudado muito. Mas todos nós cortamos nossos cabelos hoje cedo em uma saleta meio escura que apareceu. Ironicamente o natal nem era realmente uma comemoração mística, ou pagã, ou de qualquer teor sobrenatural. Mas era bastante popular como sempre, principalmente entre os mais jovens de nós.

Para minha sorte, vovó havia me mandado hoje cedo um pacote, nele havia um blazer em tom grafite e uma camisa social escura nova, já que eu meu último traje tinha sido usado no funeral de Demetria – e Cecilly – mas não era só Lexa que parecia estar ocupada, Joshua também parecia estar com seus pensamentos cheios.

Terminei de limpar meu rosto com a toalha branca do banheiro e voltei a andar até meu quarto.

Em todos os momentos do dia, havia alguém indo de cá para lá, e de lá para cá. Tanto aqui dentro como lá fora. Não só gárgulas, mas mulheres e homens com uniformes padronizados de funcionários também tinham surgido do nada e agora preenchiam o gramado do lado de fora da casa cinza, e como presumo por dentro também.

Assim que entrei no quarto, o cheiro leve de fumaça foi a primeira coisa que senti.

Um papel meio queimado estava caído perto da cama de Joshua, me aproximei dele até sentir a chama fraca de magia emanar. Os meses sendo curado por Joshua e o vendo praticar magia haviam me feito mais sensível a sentir a presença da sua assinatura mística. Mas queimar um papel requeria tão pouco dela, que parecia absurdo eu poder sentir com tanta facilidade. Mas magia não era a única impressão que poderia ficar presa quando alguém lançava um feitiço. Suas emoções também podiam – se elas forem fortes o suficiente – Eu ainda não sabia identificar esse tipo de coisa, Lexa com certeza teria mais facilidade.

Mas em todos esses meses nunca vi Josh usar magia para algo tão banal como colocar fogo em um papel. Algo na minha cabeça estava apitando: SEGREDOS.

E em um pensamento impulsivo eu fiz.

Peguei a carta e tentei ler o que ainda tinha nela, e consegui pegar o último parágrafo.

"Sua carta deve ter se perdido, como seu pai e eu presumimos com tanto otimismo. Mas lhe mandamos essa para lhe confirmar nossa presença no baile dessa noite. Nos vemos lá, e faça o que nos prometeu...

– Lucinda Strider."

A mais ou menos uma semana todos nós escrevemos cartas para nossos familiares, todas a mão, como manda a tradição, então presumo que sejam os convites para baile que ela falava. Mas quem era Lucinda? Presumo que esse nome seja o nome da mãe de Joshua, mas por que ela não se assinou como mãe? Ou por que Joshua queimaria uma carta tão curta?

Então o som de passos se fez, larguei a carta no chão e a empurrei com o pé para de baixo da sua cama.

Josh surgiu pela porta vindo do corredor e sorriu.

– Que horas é o baile mesmo?

Perguntou ele de maneira casual.

Joshua era ótimo com informações, mas tinha um problema as vezes com horários.

– As nove. Ainda temos algumas horas. Já descobriu o que vai usar?

– Sim, pensei em usar uma das gravatas que vocês me deram no meu aniversário e um suéter novo que minha irmã me deu quando estava vindo para cá. O baile é casual mesmo.

– Você vai ficar lindo.

Disse em tom de deboche o que o fez rir.

Lexa

Chequei pela centésima vez minha mecha preta, para ter certeza que ela não precisava ser retocada.

Onika e Hya passaram por trás de mim aos berros, sobre qual cor iriam usar de batom, enquanto Katerina estava irritada ao lado da sua colega de quarto Priyanka, por não conseguir achar sua roupa. Pensei em ajudar, mas a preguiça de ser altruísta se fez maior.

Girei na cadeira rosa de salão e comecei a fitar as garotas da outra turma. Não havia muita diferença delas para nós. Bonitas e aparentemente normais, mas por dentro a curiosidade de saber seus segredos me preenchia, e junto disso toda a apreensão e euforia delas estava me dando dor de cabeça.

Amora parecia razoavelmente animada para hoje à noite. Seu pai estava vindo visitá-la, e eu sempre sentia uma sensação boa quando ela falava do pai, mas também sentia aquela pontada de preocupação e medo. Mas não sabia por quê.

E esse era o principal motivo para esse baile ter se tornado tão importante. A maioria de nós nunca ficou mais do que alguns dias longe dos pais. Já que bruxos aprendizes tem pouco controle da sua magia no geral, não costumamos ficar fora da supervisão de adultos, principalmente aqueles que vivem com os humanos. Eu por outro lado era um caso à parte, dado minha incapacidade de fazer magia sozinha e meu dom ser bem mais difícil de detectar pelos humanos.

Me perguntei quantos de nós sobraríamos no final do último ano, tentando entender de onde vinha a vontade de permanecer. Não parecia lógico. Mas esse era o departamento do meu irmão, não do meu.

Passei meus dedos pelo pingente do colar da minha mãe rapidamente e respirei fundo. Papai não viria, e não era uma grande surpresa ele não estar presente, mas eu achei que dessa vez ele fosse fazer diferente. Mas vovó e vovô estariam, e eu os via menos que a nosso pai então ainda seria uma noite boa.

Me permiti por um segundo sentir saudade dela. Sentir a dor dela não estar mais aqui, e não poder me ajudar com todas essas coisas idiotas de garota. Mas sempre que penso nisso também me pergunto o que teria sido do casamento dos meus pais.

Eles iriam se separar para cuidar de cada um de um de nós? Ou continuaram juntos e deixariam um de nós com nossos avós? Eu a conhecia tão pouco que não poderia presumir, nem se quisesse.

Talvez se ela estivesse bem, ela saberia como cuidar melhor do Matheus. Ela entenderia o que ele passa, melhor do que ninguém e não faria as constantes burradas que papai fazia. As vezes ele parecia nem tentar.

Contundo esse era um ideal perfeito, não a verdade.

– Está tudo bem?

Hya perguntou parada ao meu lado com seu olhar concentrado na minha expressão. Ela estava sentindo pena. De mim?

– Sim. Só me lembrando de algo.

– Ansiosa?

Perguntou.

O que essa garota quer?

– Por que estaria?

– Para conhecer os pais do Roman, tolinha. Eles estão vindo, não estão?

Perguntou de modo inocente, como se fossemos amigas confidentes há anos e contássemos tudo uma à outra.

– Sim, claro.

Respondi me levantando com um sorriso plástico, me afastando lentamente, enquanto me infiltrava num grupo de garotas que conversavam sobre sutiãs. Era isso ou jogá-la com a minha telecinese até o outro lado da sala.

Então aquela risada de bebê ocorreu no fundo da minha mente, tentei me concentrar ao máximo para não escutá-la. Não poderia voltar a ficar louca aqui dentro. Pelo menos não hoje.

Matheus

Arrumei tudo que iria usar no baile sobre a cama, e tentei tirar meus pensamentos sobre a carta da mãe de Joshua, mas eles ainda estavam ali. Mesmo depois de uma hora ter se passado.

Josh tentava escolher a melhor gravata, o que me pareceu algo para ocupar o tempo. Dentre as quatro gravatas que demos para ele, Lexa havia escolhido uma branca e vermelha com desenhos de bengalas de açúcar – na época o motivo não se fez claro, mas hoje parecia ideal – então ela era a escolha mais óbvia. Aquilo era um simples exercício para se afastar de pensamentos, um exercício dos bobos.

– Você parece estressado...

Comentei puxando com força a manga da camisa, dessa vez não por desconforto, mas por frio. Estava começando a ficar muito gelado, mas todos esperavam que fosse nevar logo. E principalmente na manhã de amanhã.

– Estou apreensivo. Só isso.

– Por quê? É só um baile.

– Tecnicamente é a primeira vez que eu comemoro o natal.

Acrescentou.

Mas eu conseguia ler através dos olhos dele. Ele estava apreensivo por ter seus pais aqui com todos olhando. Pois se Rex havia descoberto sobre a família Strider era muito provável que os pais dos outros alunos já soubessem.

Lexa

Mexi no meu cabelo mil vezes sem saber de qual modo deixá-lo. A noite estava começando a procurar o céu acima de nós junto com o frio. Mas ainda sem sinal de neve. Por mim ela poderia ficar escondida. Mesmo que o clima dentro das paredes do nosso dormitório ainda fosse bem mais quente que lá fora, mas ainda sim, eu não queria mais frio nenhum.

– Problema com o cabelo?

Amora perguntou assim que entrou no quarto.

O barulho alto de todas as garotas juntas no andar de baixo estava me deixando maluca, então eu tinha subido para o silêncio do nosso quarto a vinte minutos atrás.

– Sim. Não sei o que fazer. Nem todos usam o mesmo penteado todos os dias, como você.

Comentei mais grossa do que deveria.

– Garota você realmente tem muitos problemas, sabia?

Perguntou ofendida.

– É. Aparentemente os iguais também se atraem, se não qual seria o motivo de estarmos juntas agora?

Disse, tentando me explicar. E principalmente minha falta de educação crescente.

– Se sentindo mentalmente instável também?

Perguntou.

– Tentando não sentir. E você?

– É, também. Quer ajuda?

– Por favor. Posso fazer algo no seu também, se resolver não usar aquela toca horrível.

– Obrigada.

Comentou com desdém e um meio sorriso falso.

Amora e eu demoramos bastante para chegar a um consenso de como meu cabelo deveria ficar, e o tempo estava começando a andar rápido demais para o meu gosto.

Então resolvemos algo no meio termo.

Ela deixou a maior parte do meu cabelo solto como queria, e eu consegui que ela trançasse duas mechas da minha franja longa, criando uma coroa. Dando um ar mais natural que combinava com meu vestido.

– E você, o que posso fazer pelo seu?

Perguntei, tentando a educação dessa vez.

– Não sei, meu cabelo é sempre assim.

– Acho que podemos fazer o que fez na primeira vez que fomos a Arcadia.

– Se você fizer alguma coisa que danifique ele eu vou matar você. Entendida?

– Corretamente, mamãe.

Comentei com cinismo. Me arrependendo logo depois. Por mim e por Amora.

Ela não pareceu fazer a conexão.

Ambas tínhamos problemas com nossas mães não presentes. Mortas ou vivas era difícil crescer sem uma. E me senti ainda pior de nunca ter percebido isso, que tínhamos mais coisas em comum do que minha implicância conseguia ver.

Matheus

– Onde meus sapatos foram parar?

Joshua gritou para o teto, ele estava começando a enlouquecer.

– Josh, eles não saíram do quarto. Se acalme.

– Você não está entendendo, eu preciso daqueles sapatos. Meus pais foram claros sobre minhas vestimentas nessas ocasiões, e já estou me arriscando tanto com o suéter e a gravata borboleta, preciso acertar pelo menos com o caralho desses sapatos.

E se não me enganava a memória, essa era a primeira vez que ouvia Joshua xingar na minha vida.

– Não precisa se preocupar tanto.

– Preciso sim. Preciso sempre.

Exclamou nervoso, ele estava longe de estar bem.

– Ah... Josh, por que isso tudo?

Perguntei, tentando fazê-lo falar.

– Eles têm que ficar pelo menos satisfeitos. Não estarão orgulhosos com nada fora o melhor, e isso geralmente é o meu máximo. Então para dar o mínimo que eles querem eu tenho que dar mais de mim do que consigo, e por isso preciso dos sapatos.

Explicou angustiado.

– Você está parecendo comigo, sabia? E isso com certeza não é um elogio. Ninguém deveria parecer que possui transtorno de ansiedade generalizada. Você vai ter um surto psicótico se não parar, sua mente não está acostumada a se quebrar como a minha. Então Josh, pare e olhe para mim.

Comentei indo em sua direção.

– Estou olhando!

Gritou ele enquanto se virava e agarrava meus ombros com os dedos e pressionava contra minha pele com força. E um estalo ocorreu. E como se não houvesse pano entre nossas peles seus segredos viajaram pelo toque até a minha mente.

– A carta não foi perdida, você não a enviou.

Disse sem conseguir controlar as palavras da minha boca. E nem as informações que eu não deveria saber.

– Como... Eu não t-toquei na sua pele... Como...

– Não sei.

Isso era verdade, eu nunca tinha feito isso desse jeito. Não pelo contato não direto na minha pele. Era como se minha mente realmente estivesse mais forte. Ou talvez só mais suscetível a Joshua, como sua magia estava a mim também. Só a senhora Santiago poderia explicar.

– Mas não foi só o toque – esclareci sem saber se contava toda a verdade – Eu também li a carta que estava queimada.

– Você a leu? Uma carta pessoal minha?

Perguntou, agora chateado.

– Eu fiquei preocupado Joshua, e estava certo. Você está enlouquecendo nas últimas horas.

– Você está tão acostumado a saber de tudo, né? Precisa estar no controle das informações para não se sentir perdido. Você não tinha o direito de ter lido.

– Desculpa...

Disse estendendo o braço para tentar segurar o seu em um movimento involuntário. Aquilo fez seu corpo saltar para trás, como se presumisse que eu queria saber mais. Invadir mais.

Joshua se virou e atravessou a porta logo depois. Locomovi meu corpo para segui-lo e quando dei por mim fui pego por uma rajada de vento frio com o crepúsculo cobrindo tudo acima de nós, dando espaço a noite.

– Joshua, vai ficar tudo bem. Ninguém vai falar nada com eles.

Ele fez uma careta como se tentasse gritar, mas outra lufada de vento frio o fez mudar de ideia, então ele arfou e fechou os olhos.

– Não precisa ter medo por eles.

Tentei novamente.

– Talvez eu tenha errado o endereço da minha própria casa, de modo que a carta nunca chegasse – confessou – E de qualquer maneira eles não celebram nenhuma data comemorativa dos humanos mesmo – acrescentou com um riso fraco – Não iria fazer diferença, né? – perguntou com a voz engasgada na garganta – E desse jeito eu poderia evitar os olhares...

– Os olhares dos outros pais sobre eles?

Perguntei tentando entender.

– Não me preocupo mais com os outros vão olhar Math, me preocupo de como eles vão me olhar – desabafou por fim – Você não conhece nem a metade sobre os meus pais. Eles estão descontentes como meu progresso aqui. Querem mais de mim. Querem que eu seja o melhor aqui. Querem que eu seja por três. Por mim e por eles. Como se fosse minha culpa nossa linhagem ser amaldiçoada, ou minha mãe ter nascido mortal. E eu não sei se consigo me esforçar tanto assim... Não sou perfeito... E nem quero ser.

E isso me fazia perceber que meu pai ter cancelado sua vinda por uma mensagem de texto não era tão ruim, pois isso era tudo que Joshua queria dos dele. E vendo agora, era claro que seus pais sabiam que a carta não tinha chegado de propósito. Eles deixaram isso claro quando disserem as palavras "deve, presumimos e otimismo".

Quase havia cinismo em todas elas, se não fosse pelo fato da carta não poder falar.

– Vamos estar do seu lado. Não se preocupe. De qualquer maneira, você anda com os bruxos gêmeos. Seus pais vão adorar isso. Só vamos tentar não causar escândalo, isso vai deixá-los razoavelmente bem. Prometo.

Disse tentando parecer otimista. E como era difícil.

– É.

Respondeu ele sem sorrir.

– Vamos entrar. Tomar banho e colocar as roupas. E arrumar outro par de sapatos.

– Certo. Mas como voltamos?

Perguntou olhando para os lados.

– Deve ter uma porta aqui em algum lugar.

Respondi também confuso.

– Vamos nos separar. Quem achar uma porta grita. Nós não temos tempo.

Disse ele sendo pragmático.

Estávamos perto do lago e as portas mais próximas estavam longe demais. Precisávamos de uma agora. Porém, o emaranhado de arvores que não estava aqui essa manhã dificultava nossa localização mais precisa de direita e esquerda, ou norte e sul.

Virei e comecei a andar, ouvindo o som de uma conversa baixa.

Se alguém estava aqui, deveria saber como voltar.

Andei um pouco mais rápido e os acheis, atrás de mais algumas arvores.

Abri minha boca para falar qualquer coisa, antes de congelar vendo aqueles lábios se beijando, forçando um corpo contra o outro.

– Hmm... Desculpe.

Comentei perplexo, sem saber mais o que poderia fazer.

Lexa

E com menos de uma hora para o baile todos estávamos a beira da loucura.

Ninguém realmente tinha saído dos dormitórios, mas aparentemente algumas garotas viram as limusines entrando. Não sei como, se não temos vista para o portão, mas talvez tenham visto luzes e confundiram com faróis, de qualquer maneira, pode ser ou não que nossos parentes tenham chegado e era hora de se apressar.

Já havia tomado banho e estava de cabelo arrumado. Era preciso agora pegar meu vestido, me maquiar e trançar a fita colorida da minha sandália.

– Precisamos de ajuda.

Birdy gritou do lado de fora do corredor. Sai do quarto sentindo o pavor dela emanar no ar e a segui até o quarto de Onika, a tempo de ver o último pedaço de alumínio ser retirado de uma mecha do seu cabelo, ou o que restava dele.

– AH!

Gritei aterrorizada.

Reparei que Hya e Amora também estavam aqui, menos Hazel. Sendo a única da nossa turma a não estar.

– O que aconteceu aqui?

Perguntei.

– Elas tentaram fazer mechas californianas eu acho.

Amora comentou.

– Meu cabelo! MEU CABELO! MEU CABELOOO!

Onika gritava enquanto chorava.

– Fique calma.

Ordenei a ela, e ela se calou com um sorriso entorpecido no rosto, só então percebi ter exagerado na dose.

– Ela parece drogada.

Hya comentou.

– Pelo menos parou de gritar.

Amora acrescentou a meu auxilio. Mas não olhou para mim esperando um sorriso de agradecimento.

– Precisamos consertar isso, agora.

Birdy suplicou aterrorizada.

– Um feitiço para restituir o cabelo dela ao que era antes da bagunça deve funcionar, o problema, é que ele vai fazer um trabalho completo. Não vai dar tempo de fazer muita coisa.

– Se tiver cabelo podemos dar um jeito. Vai ficar bom.

Amora comentou otimista.

– Será isso ou nada.

– Alguém sabe algum feitiço capilar?

Birdy perguntou.

– Para sua alegria, eu sei.

Comentei. Depois de tanto pesquisar um feitiço que mantivesse a cor da mecha colorida do meu cabelo sem precisar retocar, acabei juntado uma pequena lista de feitiços para o coro cabeludo. Ironicamente nenhum deles foi útil para manter a minha mecha da forma que eu queria.

Assim que expliquei o feitiço a Amora, ela o lançou e começamos a trabalhar nas melhores – ou nesse caso não tão ruins – soluções, tentando entender qual dos arranjos simples poderia combinar com o vestido justo e decotado que ela havia escolhido usar.

– Não temos escolha, um coque vai ficar ridículo.

Hya enfatizou e cada vez que ela falava a minha vontade era de lhe dar um tapa na cara. Mas não era tudo bobagem, eu que não gostava dela mesmo.

– Mas é tudo que podemos fazer – disse Birdy tentando controlar a situação – E Lexa, obrigado.

– De nada, mas agora eu preciso terminar de me arrumar.

– Vai, a gente termina por aqui.

Completou.

Matheus

Parte do meu cérebro tinha congelado, não pelo frio, mas pela cena. E a outra parte estava berrando em meus ouvidos o pensamento: Corra daí idiota... Saia daí, fuja agora... Não demonstre, não chore, não faça nada se não conseguir correr!

E o pior de tudo é que eu não queria obedecer. Mas fiz.

Virei meu corpo e voltei a andar pelas arvores tentando desesperadamente entrar em um buraco de minhoca no espaço e desaparecer em outra dimensão.

– Matheus, espera.

Killian disse agarrando meu braço protegido pela manga.

Por sorte nenhum pensamento voou dele para mim, pois eu não aguentaria. Não mesmo. Principalmente se esses pensamentos tivessem a ver com o beijo que ele tinha acabado de dividir com Hazel.

– O que é?

Disse já me virando com um tom de raiva na voz, que não consegui controlar.

E a cena se repetia milhares de vezes. Meu corpo andando. Killian ali parado, Hazel segurando seu rosto e o beijando. E depois tudo se quebrava.

– É...

Tentou dizer.

Agarrei meus braços os cruzando e coloquei um sorriso falso no rosto, tentando ao máximo fingir da melhor maneira possível.

– Até depois Hazel.

Comentei e ela me respondeu sorrindo com muita satisfação pelo feito conseguido. Aparentemente o primeiro.

– Tchauzinho querido.

Virei o corredor de árvores o mais rápido que consegui sem parecer que estava fugindo. Mas ele reapareceu segurando meu braço novamente.

– Math...

Soltei sua mão violentamente de mim, Hazel não estava mais perto então o sorriso falso tinha desaparecido dando lugar a uma expressão de puro ódio.

E aquele toque no outro dia. O lago. Tudo. Em algum lugar na minha mente que gostava dele eu tinha o pensamento que talvez, só talvez, ele pudesse sentir o mesmo.

– O beijo...

Voltou a dizer.

– Está tudo bem – respondi tentando fazê-lo calar aquela boca imunda – Cheguei em má hora, e bem, essa é a sua vida pessoal, não minha. Não nada tenho a ver com isso.

Mesmo que eu quisesse fazer parte dela completamente.

– Ela...

– Ela o que? Ela beijou você?

Perguntei o interrompendo.

Por favor, diga que sim.

– Sim...

Respondeu soltando um estranho alívio em meu estômago. Então talvez houvesse chance. Mas eu tinha que perguntar mais. Ter mais certeza.

– Você quis?

Disse temendo a resposta mais que tudo. Mas ele não respondeu. E pior, ele não negou, mesmo que fitasse o chão. Responder e não negar era a mesma coisa que afirmar.

– Okay. Tchau.

Disse sem conseguir esconder a água nos olhos e o tremor na voz.

Quando dei por mim já estava dentro do meu quarto, o caminho entre lá e cá tinha se tornado sinuoso e misterioso na minha cabeça, então não me forcei a lembrá-lo, só conseguia pensar que precisava de tomar banho. Mais um. Precisava da água quente. Precisava esquecer. Esquecer tudo.

Lexa

Terminei com o delineador nos olhos em cima da hora. Peguei o meu vestido e o pus no corpo.

Peguei minha nova sandália e pus nos pés. Trancei o tecido, da mesma cor do meu vestido, até a metade da minha canela, passei os dedos sobre meu colar e sorri.

Sai do quarto e desci as escadas, o restante das garotas estava descendo também. E estava na hora de ir.

Amora estava ao meu lado, ansiosa. Animada. Assustada.

– É só a nossa família, vamos tirar de letra.

Comentei sem saber por que estava tentando animá-la.

Atravessamos a porta da sala de convivência com mais umas dez garotas, e tivemos todas as atenções.

O cabelo de Amora estava jogado para lado e a outra parte presa com presilhas rosas da mesma coisa da barra e do interior do seu vestido cinza de bailarina exótica – não que isso realmente exista – O que fizemos depois foi achar o pai dela, que foi incrivelmente simples.

Principalmente porque ele era o único a estar totalmente isolado em um canto. Sem ninguém. As roupas de professor universitário eram tão deprimentes que chegavam a ser chamativas, mas o sorriso que se abriu em seu rosto a encontrar o da filha era lindo.

Tive que parar de andar por um segundo quando recebi a descarga de emoções de todos na sala.

Como uma mini avalanche captei todas as emoções de uma única vez, se batendo contra as minhas que não eram muito diferentes. Assim que consegui estabilizar o que era meu e o que era influência alheia, procurei por meus avós.

Matheus

Tentei – de forma até não muito vacilante – manter meu estado mental controlado.

Joshua não acreditou muito na minha desculpa para não o ter esperado antes de entrar, mas os problemas com seus pais era o suficiente para deixar a desconfiança de lado.

Quando finalmente terminamos de nos arrumar – atrasados por sinal – três batidas fortes se fizeram na porta.

Meu primeiro pensamento foi Killian, mas ele foi abandonado, ele não iria vir, não com Joshua aqui. Eu sabia que não.

– O que estão fazendo aí dentro? Produzindo corpos novos?

Roman gritou.

A voz dele foi um alívio, e só então percebi que não tinha falado direito com ele, nem mesmo no refeitório na hora do almoço.

– Já estamos prontos.

Joshua disse em direção a porta, então ela virou pó.

Roman estava deslumbrante. Suas roupas sempre pareciam tão caras e deixavam ele tão mais velho, que era fácil entender o porquê de Lexa ter se atraído por ele tão rapidamente. Mas eu não. Tinha que escolher logo o problemático.

– Todos já foram?

Perguntei, sem perguntar sobre o que queria.

– Sim, só sobrou nós três aqui. Vamos?

Roman respondeu.

– Certo, e os pais? Será que os seus chegaram Josh?

Perguntei.

– Não sei, não sei se quero saber – respondeu – E os seus, Roman?

Perguntou sorrindo falsamente.

– Meus pais não vão vir, ficaram presos com uma nevasca. Os aeroportos não estão funcionando. Michael já me mandou uns trezentos e-mail e mensagens de texto pedindo desculpa, Giovanni mandou três, e o último era só uma carinha triste.

Ele ria achando engraçado da diferença das atitudes dos dois pais. Mas deveria estar um pouco triste por dentro.

– Que pena.

Acrescentei, estava realmente curioso para conhecê-los.

– Conhecendo meus pais, eles devem acabar visitando a gente em algum momento. Mas tudo bem.

Comentou entrando no quarto. Para que a porta pudesse se fechar e reabrir aonde queríamos, e o barulho da música preencheu o ar.

A primeira coisa que minha mente fez, foi guiar o olhar até Lexa. Foi automático. Nossos corpos se guiavam, e estávamos o dia inteiro sem mal nos falar.

Vovó e vovô estavam junto dela, rindo e sorrindo, e como eu, Lexa foi guiada a me encontrar também.

Joshua ficou parado procurando seus pais com um olhar apreensivo, e Roman ficou sem saber o que fazer. Talvez estivesse esperando que não fosse o único a ter ficado sem nenhuma visita. Ou talvez ele não fosse tão mesquinho.

Então eles passaram.

Hazel segurava-se com força no braço esquerdo de Killian, dessa vez não só eu percebia a loucura naquilo. Outros também. Roman levou seu olhar para mim com uma interrogação e depois para Killian.

Ele estava vestido de forma que parecia desconfortável até com o ar que respirava, ou de forma a não se importar com nada. Eu não sabia dizer.

A gravata fina estava frouxa ao pescoço e a camisa social. O palitó preto parecia meio amassado. E só então ele nos viu. Ou me viu. E seu olhar foi direcionado ao meu.

Meu coração parou.

Por um segundo eu poderia jurar que meu coração tinha ficado tão parado que meu corpo inteiro tinha gelado. Então fugi. Abrindo as portas da Casa Cinza com as mãos, sem nem perceber que já fazia meses que não saia por uma porta de forma normal. Porém, aqui, nesse lugar, eu estava fazendo uma grande cena dramática. E não era isso que eu tinha prometido ao Josh.

Lexa

E sim, agora eu estava completamente confusa.

– O que aconteceu com seu irmão?

Vovó perguntou, segurando seu vestido vermelho escuro com força.

– Eu não faço uma idéia. Já volto.

Disse correndo do ponto em que estava até onde Matheus poderia estar. No meio entre ambos estava Killian, e meu ombro foi de encontro ao dele enquanto eu corria. Senti a raiva de Hazel emanar até mim, mas também a satisfação dela. Isso estava estranho demais.

– Precisa de ajuda?

Roman perguntou enquanto eu me aproximava dele, só sorri. Ele e Joshua entenderam. Abri a porta do salão estranhando o movimento, que um dia já foi normal. A bússola maluca dos gêmeos apitava e eu sabia para onde ir, só não queria atravessar com esse vento frio.

Mas não foi difícil achar Matheus sentado, escorado a parede leste da Casa Cinza, com seu rosto enterrado em lágrimas.

– O que está fazendo aqui?

Perguntei controlando meu tom de voz.

Ele tentou enxugar as lágrimas quando me viu.

– Não é óbvio? Estou chorando, fugindo e me escondendo.

Disse, e eu conseguia sentir suas emoções. Não claramente. Mas elas eram tão fortes que estava literalmente vazando pelos muros que separavam nossos dons um do outro.

Um dos motivos para que bruxos não tivessem treinamento com seus pais em magia antes de entrarem para as academias era exatamente esse. Nossas emoções e tudo relacionado a elas, se maximizava numa montanha russa sem controle. Controlar um, era estabilizar o outro. Pois a magia fazia todas essas emoções explodirem, então contê-las e suprimi-las era o mais comum até estarmos fisicamente prontos para lidar com ela. Mas ainda assim era como ver trens desencarrilhando bem diante dos nossos olhos. Entretanto, tudo aquilo passava. Mas para o meu irmão talvez fosse um pouco diferente, e um pouco pior.

– Pode tentar me explicar?

Perguntei.

– Estou chorando por causa do Killian, fugindo dos seus beijos com a Hazel e me escondendo para que eu não tenha que explicar por que... Eu nem sei essa última parte direito.

Respondeu rosnando a cada alegação.

– Killian fez o que?!

Perguntei perdida.

Ele não poderia ter beijado Hazel. Ele não sentia nada por ela. Ou eu pelo menos eu presumia que ele não poderia sentir.

– Eu peguei os dois se beijando uma hora atrás.

– Vadia, ela deve ter...

– Ele não negou Lexa!

Gritou.

Ele não queria ouvir nada que tentasse proteger Killian. Estava magoado demais para isso.

– Como assim?

Perguntei me abaixando. Math não podia desabar agora. Não na frente de tanta gente. Killian iria me pagar se isso acontecesse.

Então tomei cuidado para não tocá-lo, assim não começando nenhuma reação com nossa magia.

– Eu perguntei, e ele não negou – respondeu contendo o choro com a raiva – Ela o beijou, mas ele deixou. Então não há nada que eu possa fazer. Nunca houve. Sempre fui um idiota. Fato.

– Eu sei irmãozinho, mas isso não faz sentido, ele gosta de você.

Comentei por fim. Pois isso eu sabia que era verdade

– Aparentemente não desse jeito. Não do jeito que eu quero. E eu nem sei por que estou tão magoado, ele não tem obrigação nenhuma de corresponder esses sentimentos.

– Porque você é uma pessoa como qualquer outra. Mas Math, ele gosta de você. Eu sei, eu senti, e bem, e ele também confirmou isso com todas as letras para mim.

Esclareci.

– O que?!

Perguntou ele se levantando, e quase chocando sua testa na minha.

– Há algumas semanas eu confrontei ele em relação aos sentimentos que ele tinha por você, e ele afirmou que realmente tinha.

– Então por que você não me disse?

– Pois eu o mandei te dizer, mas ele disse que era complicado. Que estava tentando te proteger. E eu não soube o que fazer depois.

– Beijar a Hazel não é me proteger.

Retrucou.

Não sabia se ficava contente por ele não direcionar a raiva contra mim ou não. Se ele fizesse isso poderia ser até mais fácil, eu poderia ouvir tudo que ele tinha para gritar aqui fora e entrar no salão novamente sem fazer nenhum escândalo. Isso o protegeria. Eu o estaria mantendo a salvo de se quebrar. De ter outro episódio. Então ficou óbvio.

– Ele está tentando se manter longe. Te proteger, de longe.

– Isso não faz sentindo, Lexa.

Math respondeu.

– Ele disse a mesma coisa para mim, ele não sabe o porquê, só sabe que proteger você é o que ele tem que fazer. E isso está acima de todas as coisas. De qualquer sentimento. E se ele sabe dos seus sentimentos por ele, então qual seria o melhor jeito de mudar isso? De não torná-lo uma arma contra você?

– Não defenda ele.

Entoou sem conseguir me ouvir.

– Não estou. Só estou dizendo que ele não pode gostar de você, porque isso implicaria em querer você. Em estar ao seu lado de modo que ele poderia ser usado contra sua proteção. Se ele não entende o porquê de protegê-lo, então está confuso. E se você o pegou beijando Hazel, aquela poderia ser uma desculpa perfeita.

– Se ele sabia que eu gostava dele, também sabia o que isso faria comigo.

Completou ainda mais irritado.

– Sim, e ele deve estar destruído por dentro. Mas veja, quando eu o confrontei de seus sentimentos, Killian se afastou, não foi? Ele não estava com medo da sua reação, ele sabia qual seria. Ele estava com medo de si mesmo...

– Com medo de não poder te proteger mais.

Roman comentou por trás de nós.

– Quando aquelas coisas com Rex começaram a acontecer, foi Killian que me pediu para ficar tomando conta de vocês dois, para ficarmos todos juntos. Desde o início. Ver ele com aquela garota, não faz sentido. Não se você não pensar pela cabeça dele. Por toda perspectiva dele.

Completou.

– Ele quer proteger você, só não sabe como fazer.

Acrescentei.

– Então eu vou mostrar para ele.

Math respondeu sem nenhum temor na voz.

– Mostrar o que?

Perguntei assustada.

– Que eu sei me proteger.

Matheus

Talvez eu devesse parar. Repensar. Discutir com meu eu interior se aquele plano maluco e sem fundamento que se formou na minha mente era sensato. Mas a voz gritante da minha raiva berrava para que tudo aquilo se danasse e ardesse no purgatório e ficasse lá.

Pois eu era ótimo em me despedaçar em tristeza. Mas aparentemente também era ótimo em explodir em uma raiva incontrolável.

Abri as portas do salão sem me preocupar dessa vez em estar fazendo uma cena ou não. Amora e Joshua estavam parados logo a minha frente, fitando a mim que provavelmente estava vermelho de raiva. Mas nenhum dos dois era meu alvo.

Hazel foi a primeira a me ver, Killian ainda estava parcialmente de lado. Ambos abaixo do visco.

Rex estava do lado deles, e aquilo me deixou ainda mais enfurecido.

Não sei se corri, ou se andei normalmente. Meu cérebro só captava quadros do acontecido.

Quando finalmente me aproximei deles, pude ver Lexa e Roman gritarem meu nome, e vovó tentar chamar minha atenção, a poucos metros.

Mas cego de raiva e principalmente ofendido por ter sido considerado tão indefeso e inútil, eu não iria ouvir.

Então me desculpe vovó e vovô, mas eu tenho que bater no cara a qual estou totalmente apaixonado.

E quando dei por fim tudo era um borrão de luzes e silêncio.

Killian estava não chão. Um traço de sangue descia pelos seus lábios até o maxilar ligeiramente torto. Roman e Joshua já estavam ao meu lado. Lexa e Amora seguravam Hazel que gritava algo para mim que eu não conseguia ouvir.

Meus dedos estavam machucados, da mesma maneira de quando eu tinha acertado a árvore ao tentar socar o Rex meses atrás. E como uma fita cacete rebobinada, me vi puxando Killian pelo ombro e o socando no rosto.

Todos no salão nos encaravam.

Meu primeiro pensamento foi nos pais do Joshua, mas eu nem sabia quem eles eram na multidão.

Tentei me virar na direção dos meus avós, mas fui impedido com aquela mão quente que segurou meu braço.

A segunda mão de Killian surgiu no ar agarrando a gola da minha camisa e me puxando. Fechei os olhos me preparando para sentir seu soco acertar meu rosto, e provavelmente abrir um buraco no meu crânio. E agora que finalmente minha cabeça voltava a pensar com clareza, tudo mudava novamente. Pois nada nesse lugar era constante.

Contudo o calor dos seus lábios se selou aos meus. E não sei quantos segundos demorei para entender que aquilo era um beijo. Um beijo dele. Mas meu corpo era mais rápido que minha mente. E logo meus dedos estavam agarrados aos fios ruivos do seu cabelo, e suas mãos quentes deslizavam pela pele do meu pescoço.

E então a explosão ocorreu. Uma energia criada em nós se soltou. Como uma rajada de energia que oscilava no ar.

Mas nem isso era forte o suficiente para nos separar. E pela primeira vez senti minha mente tocar a dele, e dezenas de imagens viajarem entre seus lábios para o meu cérebro.

E foi como me ver sobre as lentes de um artista. Em todo lugar. Eu estava em todo lugar dentro da mente dele. Meu rosto. Meus lábios. Meu corpo. Meus olhos. Tudo. Ele observa tudo, ele gravava e desejava cada uma dessas coisas. E eu também.

Então houve outra pequena explosão. Era neve. Era Roman.

E uma cortina branca e fria caiu sobre nós.

Um dos flocos de neve caiu sobre a ponta do meu nariz assim que nossos lábios de descruzaram. E mesmo que eu não pudesse ver meu reflexo agora, eu sabia que deveria estar nitidamente perplexo. Mas Killian diferente de mim, estava somente sorrindo.

– Desculpe...

Disse Killian baixo o suficiente para que só eu ouvisse.

Então uma mão surgiu me pegando pelo pulso, enquanto outra agarrou Killian. Me preparei para atacar, quando percebi a conexão se fazer, era Lexa. Killian desapareceu sendo levado por alguém alto e forte que eu só consegui ver as costas. Roman.