Legado & Sina
June 21, 2023

CAPÍTULO XLII: ASSUNTO DE FAMÍLIA

Lexa

E nada mais era como um dia já foi.

Dissea voz na minha lembrança. A voz da minha mãe.

Ela me disse isso uma vez quando terminou de ler uma história para mim. Não era a Bela adormecida, a Branca de neve ou a Boneca de Piche, ela não lia contos de fadas, ela narrava suas próprias invenções e eu as adorava. Pois mesmo que eu não entendesse toda a sua doença, eu sabia que quando ela contava essas histórias, significava que ela estava bem. Ou pelo menos, melhor do que nos outros dias, quando a depressão e todo resto era pesado demais.

Recordo de me lembrar dessas mesmas palavras quando a enfermeira do meu segundo internato me disse que eu havia me tornado moça naquele dia, um jeito bem idiota de dizer que eu tive uma primeira menstruação. Recordo também de me lembrar dessas palavras quando nossa magia ascendeu, anos antes, e agora eu me recordo de novo. Mas dessa vez nunca fez tanto sentindo.

Porque agora não éramos só um círculo. Éramos mais, e principalmente tínhamos algo que nos diferenciava de tudo correndo em nossas veias, mesmo que não soubéssemos como aquilo realmente funcionava.

Assim que os fantasmas absorveram a maior parte da energia que vazava do selo rompido, Joshua correu para salvar Tate e ele quase não conseguiu curá-lo, se não fosse o aumento da sua força graça a nós. Tate tinha cortado sua barriga de uma forma tão descontrolada em busca de aumentar o fluxo de sangue para o feitiço que parecia quase suicídio.

Cecilly estava lá, e ela sorriu para mim e eu sorri de volta. Acho que ela o ajudou a sobreviver ao feitiço, pois o que ele tinha feito parecia insanidade demais para ter dado certo.

Depois disso Joshua usou seu dom para curar os outros, somente o suficiente para acordá-los e para fazer Skandar andar. Killian e Roman pegaram o corpo de Jawantz e o levaram para a caminhonete e nós ajudamos os outros. Math encontrou Rex caído na portaria destruída da igreja, com os primeiros raios de sol o banhando.

Rex parecia bem, fora o fato de estar desmaiado. Então não o acordamos até chegarmos à academia.

Tudo estava normal quando chegamos lá.

Havia toda uma multidão na porta, onde todos nos esperavam, primeiro para nos saudar e segundo para ter certeza de quem realmente tinha voltado.

Birdy chorou ao ver Skandar correndo para os braços dela.

Ninguém ficou muito triste ou emocionado por nos ver exatamente, por que também quem nos importava estava aqui no meio do grupo que voltava. Porém, houve um choro que eu não queria ver, quando todos pararam para perguntar onde o Jawantz estava e nós só podíamos apontar para caminhonete.

A diretora abraçou o Killian e Matheus já que ambos não se desgrudavam. O senhor Siegfried foi direto a Joshua e Amora, pousando sua mão caridosa em seus rostos, as professoras MiMi e Moraes foram atrás dos outros alunos com um olhar de preocupação que era de dar pena e o senhor Garrett simplesmente acenou para mim e Roman, com um sorriso que eu nunca vi. Era de gratidão. Eu estranhei, mas era melhor do que um abraço dele.

Depois disso, fomos separados e postos em quartos na enfermaria, e ficamos assim por um tempo.

– Você é bem bonito.

Disse ao enfermeiro Hale enquanto ele terminava de me analisar.

– Obrigado, eu acho.

Respondeu ele tirando as luvas de látex.

– Eu namoraria você se não estive com o Roman.

Comentei tentando esquecer as cenas que se repetiam na minha cabeça.

– Não posso namorar uma aluna, senhorita.

– Você não é um professor, então não teria problemas. Eu acho.

Acrescentei sorrindo, era bem falsa a ação.

– Está protelando alguma coisa, sabe disso. Não é?

Disse ele me encarando.

– Sei, posso continuar então?

– Claro, só que eu vou ter que sair agora.

– Okay, enquanto vai embora você poderia andar devagar?

– Claro, mas por quê?

Perguntou confuso.

– Sua bunda, ela é gostosinha.

Respondi fitando a porta por onde ele iria passar.

O enfermeiro Hale não soube o que falar na hora, estava pasmo, era uma sensação que eu gostava de causar. O resto era história.

Como está?

Math perguntou na minha cabeça, me perguntei se os outros ouviam agora, ou se teríamos que deixá-los ouvir para que funcionasse.

Bem, e você?

Temos sangue de demônio, eu não sei.

Não me sinto meio demoníaca.

Respondi encarando meus dedos, isso era verdade.

Se éramos mestiços como Amora, por que não tínhamos as características demoníacas?

Como estão os outros?

Perguntei depois de um breve silêncio.

Josh está bem, ele não parece muito preocupado. Killian está enlouquecido querendo me ver, Amora está bastante cansada, mas já tomou sua dose de insulina e Roman está com fome como sempre.

Você conversou com todos?

Perguntei surpresa.

Sim, você não tentou?

Na verdade, não.

Por algum motivo não tinha pensado nisso ainda, era uma ideia válida, só que nem tinha chegado perto de passar pela minha mente.

– Como está senhorita Herveaux?

Perguntou a voz masculina parada na porta, me virei sorrindo, presumindo que fosse o enfermeiro, mas era o professor Siegfried.

– Bem, na medida do possível.

Disse, percebendo que não dormia há mais de dois dias.

– Precisamos conversar com todos vocês.

– Com certeza.

Acrescentei me levantando.

Quando cheguei na sala principal da enfermaria todos estavam lá, tanto o meu círculo quanto o círculo das Cinzas. Espalhados pelas macas ou em pé. Procurei pelo enfermeiro, mas novamente ele não estava. Era uma conversa de adultos.

– Estamos imensamente felizes por estarem vivos...

A diretora começou a dizer, mas eu a interrompi.

– Não impedimos o selo de ser rompido, não precisa fingir.

Disse ríspida.

Esperei que meu irmão fosse me repreender, mas ele não fez, ninguém fez.

– O selo foi rompido, isso é verdade. Mas vocês conseguiram se unir, isso é algo bom. Estarão mais fortes para próxima batalha.

– Não importa.

Math comentou me encarando.

– Como assim, senhor Herveaux?

Perguntou.

– Vocês mentiram para nós.

Respondi, em vez do meu irmão.

– E agora eles, somos nós.

Disse Killian se levantando e se aproximando mais ainda do Math.

– O que vocês querem dizer?

O professor Siegfried perguntou, eles não faziam muita ideia do que tínhamos descoberto ainda.

– Sobre nosso sangue, ou melhor, o do dele.

Math respondeu encarando sua mão do mesmo modo que eu fazia antes.

– Eles contaram a vocês?

A professora Moraes perguntou.

– Sim – respondi – Nos contaram que somos meio bruxos e meio demônios, não que eu não ache isso possível. Mas contaram também que vocês sabiam disso.

– Isso é verdade. Sabíamos, há bastante tempo, aliás.

Disse o professor Garrett entre um gole de café e assoprar no creme.

– Mas como isso é possível?

Amora perguntou, se ela não achava isso possível, imagine nós.

– Astaroth, tem mais de um filho, além de Paimon, ela se chama Sitri, e aparentemente ele a enviou a terra milênios atrás para que procriasse com um humano e ela o fez, a criança nascida no outro mundo, teve seu sangue, por assim dizer, trancado, e foi enviada ao nosso para que procriasse com um bruxo de uma linhagem poderosa. Mas por séculos isso sempre foi tratado como um rumor negro, esquecido e nunca acreditado até que o Oráculo revelou a verdade e a identidade desses descendentes. Quando o Grande Conselho os alcançou, vocês dois já tinham nascido e mais havia para se descobrir e todos os planos mudaram e vários segredos desenterrados.

– Mais quem sabia disso?

Perguntei, havia uma parte em mim que já sabia a resposta, só não entendia.

– Tirando os que já comentei, seu pai e...

– Killian.

Respondi por fim sem acreditar.

– O que? – Math perguntou surpreso – Isso não faz sentido.

Disse olhando para seu namorado. Os outros fizeram o mesmo.

– Eu não sei de nada.

Respondeu Killian me encarando atônito.

– Sim e não – respondeu a diretora – Killian foi treinado para suspeitar, para ser mais esperto que a maioria, e ele sabia que havia mais em meus planos do que simplesmente levá-lo para uma viagem para conhecer uma família de bruxos em outro estado, então ele ficou alerta. E no dia antes da viagem, quando eu não me preocupei em proteger nossa reunião semanal ele ouviu. Foi uma estupidez é claro, foi a única vez que falamos sobre o assunto sem estar em uma sala totalmente protegida, mas era a minha casa. E eu pequei por isso. Killian ouviu a respeito de quase tudo, no caso do que achávamos que sabíamos. Percebemos isso e eu fiz um feitiço para trancar e modificar essa memória até que fosse hora de revelar a verdade, mas Lucian teve medo que talvez os poderes telepáticos do senhor Herveaux e a ligação inerente que possuem fossem capaz de adentrar a memória trancada já que não havia precedentes para como vocês iriam se desenvolver.

'Então decidimos realizar outro feitiço usando a força dos cinco para criar uma intensa e poderosa barreira mental na mente do Killian, que não iria só proteger uma única memória mais sim todas as vias da sua mente. Mas nem a mais forte magia pode ir contra a mais forte emoção. Não sei exatamente o que aconteceu naquele dia, quando se conheceram, mas algo se chocou contra o meu primeiro feitiço, fazendo brechas da informação vazarem pela sua mente Killian, o convencendo que deveria proteger você – disse ela olhando para o Math – a qualquer custo, e eu só percebi até ser tarde demais. Porém, as informações ainda estavam dentro da barreira criada pelo nosso feitiço maximizado, e esse funcionava corretamente. Então eu deixei que continuasse a pensar assim, pois querendo ou não já era algo que estava amalgamado demais aos seus próprios sentimentos. E isso também foi o que acabou os unindo inicialmente, fazendo Roman se conectar a Lexa, fechando pouco a pouco seus destinos. O feitiço deve estar se desfazendo agora, nesse momento, é provável que as lembranças voltem com o tempo. Mas, isso também significa que suas proteções mentais Killian, não existem mais...

– Tudo isso parece loucura demais.

Joshua acrescentou.

Killian por outro lado estava parado. Estático.

– Como puderam manter mentiras tão elaboradas, por tanto tempo?

Roman perguntou boquiaberto.

– Para proteger vocês de si mesmos.

Disse a professora MiMi tentando usar um tom sério.

– Ou todo mundo, ou só vocês. É tão relativo que perde o sentido.

Acrescentei.

– Vocês sabem a verdade agora, e sabem nossos motivos e principalmente, tem que saber que essa foi uma decisão do conselho – disse a diretora olhando para Killian – E nós resolvemos acatá-la. Mas agora vocês são um círculo. O círculo de Sangue – um nome que era sarcasticamente apropriado – E tem ainda como tarefa proteger os próximos selos. E nada vai mudar isso.

– Há mais alguma coisa que escondem de nós?

Math perguntou tentando usar seu detector de mentiras.

– É só isso que sabemos até agora.

O professor Garrett o respondeu.

– E os outros, eles foram mandados para nos ajudar, não é?

Amora perguntou antes de olhar pela janela, ela ainda pensava na morte do Jawantz.

– Sabíamos que vocês ainda não estavam preparados, e tivemos que correr o risco.

O senhor Siegfried respondeu.

– Mandando adolescentes no lugar dos adultos?

Perguntei.

– Porque precisávamos proteger o selo que reside aqui e o da igreja. Foi algo que tivemos que fazer. E vamos carregar essa culpa para sempre.

A diretora respondeu, havia realmente tristeza na voz dela. Eu sabia.

– Podem nos deixar a sós?

Matheus perguntou com tanta educação que me dava vontade de vomitar, mas todos os professores assentiram e isso me irritava mais, pelo fato dele ser mais controlado que eu.

– Mas antes senhor e senhorita Herveaux, seu pai está lá for esperando vocês, então não demorem.

Disse a diretora antes de desaparecer como os outros.

– O círculo de Sangue, que nome idiota.

Comentei pulando em uma maca.

– Foi o elemento que nos uniu, fazer o que.

Joshua comentou em seguida tentando sorrir.

– Caímos diante a morte, mas nunca cairemos diante a derrota. – Killian acrescentou segurando a mão do meu irmão – Nós só perdemos essa batalha, mas não perdemos tudo.

– Mas não ganhamos também.

Amora acrescentou.

– Vocês acham que isso muda alguma coisa?

Perguntei a todos, mas foi Roman que me respondeu.

– Lexa, com sangue de fada ou de demônio, não faz diferença. Estamos ligados, todos os seis, nossas vidas agora são uma só e ninguém vai ficar entre nós.

– Ele está certo, somos um agora. Não importa o passado e principalmente as coisas que não sabíamos.

Joshua disse concordando com ele.

– Não posso nem julgar.

Disse Amora se levantando para ficar perto do namorado.

– Vamos passar por esses desafios e vamos vencer os próximos que vieram, garanto isso.

Disse Killian sorrindo, dessa vez era verdadeiro.

– Por que o amor vence tudo não é Killian?

Perguntei sendo irônica.

Um silêncio se vez em seguida, quebrado por um ciclo de risadas conjuntas.

– Galera, sem querer ser o chato, acho que deveríamos ir dormir. Pois não teremos tempo para isso daqui em diante, e precisamos de um sono da beleza.

Roman comentou encarando o espelho.

– Você só quer ir comer.

Comentei batendo no seu peitoral.

– Também amor, e depois dormir agarrado a você.

– No bosque?

Perguntei rindo.

– No momento em qualquer lugar eu aceitaria.

– Então vamos tomar banho, comer e dormir – disse Killian – E amanhã nós vivemos outro dia.

– Nós já vamos então.

Disse Math estendendo a mão a mim, tínhamos que falar com nosso pai antes.

//

Encontramos nosso pai sentado em um banco de pedra perto da enfermaria, ele estava repleto de medo, culpa e preocupação. Parecia quase paternal. Mais não seria a primeira vez que ele nos enganava.

– Pai.

O chamei, percebendo que não havia alegria na minha voz.

– Meus filhos.

Respondeu ele correndo em nossa direção até parar, como se tivesse percebido que não poderia nos abraçar ao mesmo tempo, não sem tocar no meu irmão.

– Já sabemos a verdade, não precisa ter medo de que eu a descubra.

Math exclamou recuperando o ressentimento que ainda tinha sobre o nosso pai desde o jantar.

– Precisam saber que o que eu fiz foi para conseguir um jeito de salvar vocês de tudo isso.

– Mentira...

Math sussurrou e aquilo foi a gota d'água para mim, para tudo.

– Você sabia sobre nós. Isso tudo, sempre soube sobre nós, não é? – perguntei, querendo saber toda a droga da maldita verdade – Por isso fugia. Se escondia. Por isso apareceu aqui no último instante, mas não teve a coragem de nós contar. Você nos enganou a vida toda, não é?

– Eles me proibiram de contar, de ficar perto de vocês por muito tempo. Mas eu fiz tudo que podia Lexa, por você e seu irmão. Procurei jeitos de destruir isso, de impedi-lo de conseguir ascender o sangue demoníaco em vocês. Eu juro. Foi tudo que eu fiz esse tempo todo ao redor do mundo.

Completou, mas eu não conseguia confiar.

Olhei para o Math tentando descobrir se ele mentia ou não, mas meu irmão só conseguia olhar para o outro lado.

– Nosso círculo não é a resposta para salvar essa cidade, é a resposta para nos impedir de destruir tudo.

Comentei, deixando de negar algo que parecia óbvio.

– A vida deles está em risco por nossa causa.

Math comentou ainda olhando para o outro lado.

– Era nossa última alternativa. O círculo impede que Astaroth faça o que quer. E ele não pode matá-los, não sem matar vocês. Ele está em um beco sem saída, e vocês agora tem mais poder ainda para se proteger. Era isso que eu e o Conselho queríamos. É o que sua mãe iria querer.

– Essa luta nunca foi deles, sempre foi só nossa...

Math tentou dizer antes dele o cortar.

– Nessa cidade, nessa academia, eles não teriam escolha...

– Eles nunca tiveram escolha – meu irmão retrucou com olhos cheios de lágrimas – Mas não por esse lugar, mas por vocês.

– A mamãe, ela sabia disso tudo?

Perguntei tentando chegar ao fundo de todas as camadas de segredos.

– Lexa, minha filha...

– Responde!

Pedi gritando mas ele não o fez, porém, havia mais, muito mais.

Faça.

Disse ao Matheus mentalmente, por que ele sentia o que eu sentia e queria saber o que eu queria. Então ele fez. Agarrando o braço do nosso pai com todas suas forças e retirando a verdade do mais fundo daquele homem.

– Não! O que você fez?

Perguntou estático, sem poder processar o ocorrido.

– E-ele... E-ele nos culpa.

Math acrescentou tremendo.

– Pelo que?

Perguntei querendo não ouvir a resposta.

– Pela morte dela – sussurrou por fim – E por nós sermos o motivo dele descobrir a verdade sobre a própria linhagem.

– É verdade papai?

Perguntei agitada e confusa.

– Vocês não entendem tudo. Precisam me escutar.

– Ele contou a verdade que tinha acabado de descobrir e ela não aguentou – Math completou esclarecendo os fatos – Ela tentou lidar com tudo, mas foi demais. Tanto para ela, quanto para ele, nós éramos as maiores falhas de suas vidas. As proles demoníacas. E esse foi o motivo pelo qual ela se matou. Porque ela não queria mais conviver conosco e a culpa de ter nos dado a vida. E ele nos culpa por isso, e foge de nós desde então.

– Não é verdade. Eles me obrigaram a ficar longe. Foi isso que aconteceu.

Alegou gaguejante, ele parecia tão desesperado como nós.

– PARA!

Matheus gritou fazendo o chão tremer e as luzes explodirem.

– Eu vi todo o medo, todo o ódio e tudo que sente por nós e pelo que podemos nos tornar. Ele fugiu a vida toda de nós Lexa, não porque foi obrigado, mas porque tinha medo de nós e raiva demais para nos amar.

– Não é verdade. Você está enganado filho – disse ele tentando tocá-lo – Lexa é complicado.

– Não, não é. Ou você ama os seus filhos ou você os culpa pela morte da sua esposa. É simples assim, papai.

Acrescentei, era uma verdade imutável.

– É tudo mais complicado no mundo dos adultos, crianças. Vão entender isso agora...

– Vá embora.

Killian ordenou, surgindo atrás do nosso pai.

Não percebi que ele estava ali, nem os dois. E nem me perguntei de que parte da conversa ele tinha ouvido, eu só queria que nosso pai fosse embora.

– É um assunto de família Killian, por favor, nos dê licença.

Disse papai com um tom seco e nervoso. Não era desconforto, era mais que isso, era o que ele queria dizer entre cada letra a Killian que aumentava tudo.

Então ele virou o rosto e voltou a sua fraca atenção para nós.

– Vocês precisam de mim agora para ficarem bem. Sabem disso, não é?

Perguntou agarrando o braço do meu irmão, que já não sabia como agir.

– Matheus!

Disse fitando seu braço e vendo suas unhas cravadas no pulso com tanta força que o sangue pingava no chão como se escorresse de uma bica.

– Você é como ela Matheus, fraco demais para sobreviver sozinho. Precisa de mim para ficar bem ou vai acabar morto também. E quem sabe ainda pior, é isso o que você quer?

– Lexa, leve seu irmão ao Joshua, por favor – disse Killian usando o mesmo tom de voz de antes, quando nos comandava para luta – Eu preciso conversar com seu pai.

– Vou dizer novamente, garoto. Vocês podem ser um círculo, mas esse ainda é um assunto de família.

Exclamou possesso.

– Okay – disse ele com um estranho sorriso, o movimento seguinte foi rápido e preciso, Killian se virou para o lado e chutou meu pai no estômago, enquanto focava seu rosto no meu irmão, nosso pai foi jogado ao chão em um baque só. A espada de chamas sólida de Killian surgiu logo depois, parando centímetros do pescoço do nosso pai – Você vai embora e nunca vai voltar. Nunca ligue ao menos que eles te procurem. Você vai simplesmente desaparecer e fingir que nunca existiu como fez a vida toda. E se voltar a pisar seus pés na minha cidade sem a permissão de ambos, e vou matar você. Devagar e dolorosamente.

– Seu fedelho! Sua aberração!

Disse ele gritando e parte do meu cérebro já não conseguia ouvir mais.

Killian se invadiu com algo que eu raramente vi nesses últimos meses. Completa e total, fúria.

Ele agarrou nosso pai pela gola da blusa como no baile de Natal, e o empurrou com força contra a parede de concreto.

– Vai embora, agora!

– Killian... – disse em tom baixo então ele o soltou, virando a cabeça para nós – Vamos embora, ele não vale a pena.

Então meu pai reagiu. Agarrando Killian pelo ombro e o socando no rosto.

– Pai!

Gritamos ao mesmo tempo, e a resposta de Killian foi mais rápida. Acertando-o no peito com a sua espada, criando um corte longitudinal cauterizado, o fazendo abafar um gemido de dor agudo.

– Estamos indo agora.

Disse Killian nos agarrando pelo braço. Mas eu não tinha acabado. Havia uma última coisa que eu precisava pôr para fora então me desvencilhei de Killian sorrindo para que ele continuasse a levar meu irmão para longe. Virei meu rosto para meu pai pouco antes que ficássemos longe demais.

– E pai, pelo jeito que o Killian olhou para você não creio que vá precisar temer a mim ou a meu irmão, pois se você voltar aqui de novo ele vai cravar uma espada de fogo no seu coração. Pois ele nos ama de verdade. E se ele o fizer, a partir de hoje, eu não vou impedir. E talvez, eu até ajude. Isso é o amor de uma família, incondicional e sem perguntas. Então vá embora até descobrir o que é isso, e se você não descobrir, por favor, não precisa voltar. E só para constar, você nos passou isso, e não o contrário. Então não odeie a gente, só odeie a si mesmo. E eu sinto muito pelo que a mamãe passou e vou tentar entender o lado dela, mas não é nossa culpa e nenhum de vocês dois pode nos culpar por isso.

E essa história estava terminada agora. Pois aceitar a traição da diretora e dos professores era fácil, mas a dele era muito mais complicada. E por agora, o círculo era a nossa nova família. É era a única que realmente me importava.