CAPÍTULO XXXV: VULNERÁVEL E INDEFESO
Acordei sem saber o que fazer como em todos os dias desde aquela tarde. Com um aperto tão estranho no coração que era quase letal, se eu não soubesse que era impossível para mim morrer de coração partido.
Mas era minha culpa, eu não sabia como consertar as minhas falhas.
Josh havia conversado com Killian e ele tinha se aberto com ele, mas eu ainda desconhecia o teor daquela conversa, aparentemente, Josh havia achado melhor que Killian viesse a mim e expusesse ele mesmo tudo aquilo. Mas como isso iria acontecer se ele nem queria sair do quarto ou olhar na minha cara?
E não poderia haver época pior para essa distância entre nós do que esse mês, tão perto do aniversário dele.
– Quase dá para sentir sua tristeza no ar, sabe...
Joshua acrescentou se deitando de costas para mim na sua cama.
– Desculpa, não quis acordar você com meus murmúrios.
– Sem problemas, mas é você ou a temperatura caiu?
Até então eu não tinha notado, mas Josh tinha razão estava realmente mais frio que o normal.
Levantei e pus minha cabeça na direção da janela entre as camas e vi, a chuva tomando conta de tudo fora da Casa do Leão.
Comentei, como se a última chuva tivesse sido há poucos dias, em vez de meses.
– Lexa vai pirar... mais do que já está.
Algo estava perdido nessas informações.
– Ela não te contou? – perguntou, respondi que não com a cabeça – Amora me disse que as duas, junto de Roman, esbarram com o Tate e o espírito da Cecilly no bosque, e que eles contaram ao Tate sobre o que aconteceu naquela noite no baile. E Cecilly enfatizou que o mau que eles diziam antes ainda estava aqui, como bem sabemos.
– Perfeito. Fantasmas novamente. Tudo que precisávamos.
– Aparentemente o que Pippa fez na outra vez os afastou de alguma forma, mas ainda há muitos outros, mas não acabou ainda. Há outra coisa. Tate e Cecilly estão tendo um caso romântico entre planos.
– Tate? O mesmo Tate que parecia ser incapaz de sentir emoções humanas normais como todo mundo, esse Tate?
– É, esse Tate. Mas não sei exatamente como funciona. Como necropata ele pode vê-los e ouvi-los, mas interagir com eles é um outro nível, completamente diferente. Mas nossos poderes evoluíram muito desde que chegamos, os deles como dos outros alunos devem ter evoluído também.
– Não posso e nem tenho como me preocupar com isso agora, nada na minha cabeça funciona ao menos que tenha a ver com o Killian.
Joshua tentou dizer, mas eu já estava fora do quarto, no corredor, a frente da porta do meu namorado. Batendo, batendo e batendo, como se eu tivesse algum direito de exigir um momento para falar.
A porta se desfez com Roman parado a minha frente, me sentindo ali da mesma forma que eu o sentia.
Entrei sem nem mesmo falar com o Roman, mas ele não estava lá. Sua cama estava já arrumada, sem vestígios do seu dono.
– Ele acordou cedo. Não está aqui.
Acrescentou sem que eu precisasse falar.
– Não sei, ele acorda cedo, antes de todo mundo e sai. Depois volta quando estamos no café da manhã. Mas ele disse que iria voltar as aulas hoje, já é um começo. Vai vê-lo em classe.
Comentou, vendo sempre o melhor de tudo.
– Queria vê-lo agora. Preciso vê-lo.
– Sei que precisa. Mas não sei onde ele está.
– Obrigado. Vou esperar então.
Voltei para o meu quarto, chegando a tempo de ver Joshua colocando um short e desligando o celular, tentando em vão escondê-lo antes que eu o visse.
– Estava falando com Lexa. Fofocando sobre o que eu quase fiz?
– Sei que estou agindo feito louco, porque eu estou louco. Emocionalmente e psicologicamente. Então tudo bem.
– Ele não estava lá, mas Roman disse que ele vai voltar para as aulas. Vou vê-lo então daqui a pouco, só vou precisar esperar mais.
Respondi com um sorriso plástico.
Lexa e Amora estavam conversando sobre as descobertas recentes de Tate e Cecilly na mesa do café da manhã, e por causa de Josh não fiquei com cara de idiota por não saber, por estar atolado demais em meus dramas, em vez de em nós.
Me sentei com minha bandeja quase vazia, já que fome não era preocupante. Nada era. E isso me irritava também.
– Precisa comer, sabe disso – Roman comentou pegando um dos sanduíches da sua bandeja e pondo na minha – Ele vai ficar bravo se descobrir que você ficou doente nesses dias porque não conseguia se alimentar direito por causa da briga de vocês.
Joshua pegou um pote de gelatina da sua e colocou na minha, e Lexa acrescentou um copo de suco.
Não ficamos quase nada no refeitório, diferente da maioria dos dias, pois por causa da chuva sem aviso, a ala laranja que interligava as duas Casas Azuis ressurgiu, e a interação entre dormitórios havia ressurgido.
Roman queria jogar sinuca e Lexa usar a lareira para secar o cabelo, enquanto Amora e Joshua pensavam em usar o tocador de discos que tinham visto da outra vez. O que fez reatar uma lembrança nossa sobre a última vez que estivemos nesse lugar. Ainda como amigos, sem saber como se tocar ou respirar perto um do outro.
Atravessei a porta do refeitório olhando para o chão, limitando meu cérebro a funcionar com a metade da força, enquanto alas inteiras da minha mente fantasiavam conversas que poderiam ou não definir meu futuro com Killian.
Disse Lexa saindo do torpor da sua conversa e pondo sua mão no meu peitoral.
Seu movimento me fez olhar para cima e lá estava ele, parado no meio da sala com sua roupa de treino, soado, com uma garrafa d'água em mãos e uma toalha na outra. Com uma expressão morta, me fitando. Quase me queimando em tons mudos.
– O que ele está fazendo aqui, assim?
Amora perguntou, mas ninguém soube responder.
Roman ameaçou dar um passo a frente antes que eu tentasse e Killian se moveu automaticamente, se virando e indo, adentrando-se em uma porta atrás dele.
Lexa exclamou, mas meu corpo tinha parado de funcionar minutos atrás.
Joshua acrescentou me pegando pelo braço e forçando meu corpo a andar, então corri pegando ainda a porta que ele atravessou, aberta.
A sala de musculação foi rapidamente reconhecida pela minha mente por causa dos equipamentos. Contudo ele não estava na minha frente.
Rodeei a sala o procurando, mas ele estava atrás de mim, no canto esquerdo em cima dos colchonetes azuis de treino.
Disse ele com a voz firme e eu obedeci, quase sem pensar.
Locomovi meu corpo até ficar na sua frente e fiquei em posição defensiva, como ele havia me ensinado na semana anterior. Luta corporal.
Gritou me interrompendo, com seu braço cortando o ar, me atacando.
Só tive tempo de fazer um escudo com o antebraço para parar seu ataque antes que atingisse meu rosto.
Disse de novo, mirando outro soco, agora no me estômago, mas eu esquivei. Ele me encarou com um olhar rasgado. Aparentemente esquivar não é defender.
Gritou, e eu acabei obedecendo.
Girando meu corpo e tentando atingi-lo com um soco aberto. Killian abriu os braços e prendeu o meu contra seu corpo e depois girou com tanta agilidade que eu só fui perceber quando meu corpo atingiu o chão com tudo, e o ar escapou dos pulmões.
Arfei ainda jogado sobre o chão.
– De novo. Em posição. Defende. Defende e ataca.
Ordenou parado em posição de ataque.
Forcei meu corpo a levantar, mesmo que eu quisesse continuar deitado. Mas ele estava aqui, e eu não iria desperdiçar a chance, mesmo que esteja sendo do jeito dele.
Defendi seus dois golpes da melhor maneira que consegui, e eles ficavam cada vez mais rápidos. Mas sofri o mesmo erro ao tentar atacá-lo, e mais uma vez fui jogado a lona sem pena, mas levando em consideração que Killian era muito melhor do que aquilo, ele deveria sim estar se reprimindo para não me matar por acidente.
Me levantei novamente, agora com suor escorrendo da testa.
– Vamos conversar quando isso acabar?
Perguntei enquanto me defendia de um golpe, o detendo com o cotovelo.
Rebati a sua fala confusa, e ele me acertou no braço.
Disse ele se colocando em posição de defesa para o meu golpe, então refiz o que tinha feito antes tentando enganá-lo, mas em vez de socá-lo eu o chutei com toda força que tinha, e por acaso do destino consegui acertar o meio do seu estômago com tudo, o jogando contra o chão.
Entoei me pondo de modo a ajudá-lo a se levantar, mas ele agarrou minha mão e trocou de lugar comigo, me empurrando para baixo e ficando em cima de mim, pressionando seu braço contra minha nuca, praticamente me esfregando sobre os colchonetes azuis.
Cerrei o punho em desespero e o tirei de cima de mim com minha telecinese, o lançando contra parede. Me levantei em um salto e tentei ir contra ele para imobilizá-lo, mas Killian foi mais rápido, girando o corpo e me empurrando contra a parede com o antebraço.
Eu vi, bem ali, no seu olhar. Tudo explodindo. Em chamas.
Consegui dizer, mas o ar estava começando a me faltar, e por fim ele notou, e afastou, respirando em ritmo descompassado, como se fosse incapaz de se controlar, ou controlar o que estava dentro dele.
Mas ele se aproximou tão rápido quanto saiu.
Perguntou tocando meu pescoço com os dedos.
Respondi agarrando seus pulsos com a mão. Quase saboreando a sensação térmica que sua pele me causava e que eu sentia falta.
– Desculpa, é que... É que... – tentou dizer – Eu achei que estivesse melhor. Controlado. Mas não estou. Não consigo estar.
– Killian, o que quer dizer com isso?
– Você me faz isso Ollie. Me faz sentir coisas que eu não sei controlar e eu gosto. É único. Mas tem horas, como essas agora, depois daquilo que você fez, que essas emoções tomam contam de mim e se eu não tomar cuidado podem machucar as pessoas e principalmente ferir você e aquilo que eu mais preso.
– Killian não faz isso, fui eu que errei. Nada disso é culpa sua. Sou eu que deveria estar me sentindo assim.
Exclamei, mas ele não parecia ouvir.
– Você sempre me disse que me beijar e me tocar era diferente de tudo, mas você não sabe como era para mim ter você comigo.
– Estraguei tudo, porque sempre estrago as coisas tentando consertar os outros e a mim, mas eu posso te garantir que o que fiz não foi de proposito ou com qualquer outro motivo escondido. Mas quando eu o toquei, foi tanta coisa dentro de mim que eu precisava devolver para onde tinha vindo. Retirar de dentro da minha cabeça antes que me consumisse e de fazê-lo parar por um segundo, somente o suficiente para eu conseguir entrar. Coisa que eu nem sabia que era capaz de fazer.
– Então me mostra. Me faz ver também e me deixa entrar, pois eu não sei lidar com esse espaço entre mim e você. É difícil demais.
Confessou com olhar de pura angústia.
– Não é tão simples. Eu não sei como fiz ou me conectei com a mente dele daquele jeito. E a sua mente é completamente diferente para mim e para minha irmã, e nós nem sabemos o porquê. As únicas vezes que isso aconteceu foi quando você estava sentindo algo forte o suficiente para te sobrecarregar e derrubar essas barreiras momentaneamente e eu não sei como provocar isso.
Expliquei antes dele me cortar.
– Raiva. Eu tenho raiva. Bastante raiva. Uma que eu nunca senti antes e tenho passado os últimos dias como uma bomba relógio, com medo de explodir e levar todos juntos. E principalmente você.
E esse era motivo que ele estava fugindo de mim. Mas Killian estava sendo Killian, protegendo os outros de si e de tudo.
– A raiva é um sentimento mutável, que explode e depois se condensa, ela não é forte o suficiente para me fazer entrar pelas suas barreiras – esclareci – Nas duas vezes que Lexa e eu conseguimos lê-lo, foi quando nós quase nos beijamos e quando você me beijou. Quando você se sentiu mais vulnerável e indefenso.
E aquilo deveria ser para ele mais assustador do que para as pessoas normais.
– Mas eu estou me sentindo assim agora, Ollie. Vulnerável, indefeso, com medo e sem saber como mudar isso. Não estou com raiva porque você beijou outra pessoa, eu conseguiria entender isso, mas foi o Rex, a pessoa que tentou te ferir o ano inteiro e isso não faz sentido na minha cabeça. E pela primeira vez desde que posso me lembrar, eu me deixei gostar de alguém e deixei você entrar onde nem eu mesmo conhecia, e você esvaiu pelos meus dedos e sumiu em um piscar de olhos que eu não consegui acompanhar.
E aquilo não estava só me matando, estava corroendo-o também.
Agarrei seu rosto com as mãos, querendo que pelo menos daquela vez eu pudesse fazer o que Rex havia me dito.
– Estou aqui e nunca vou embora, porque não poderia ficar sem você. Mas se eu soubesse, mesmo por segundo o que isso faria com você e conosco eu absorveria todas as memórias e pensamentos para mim e deixaria queimando dentro da minha mente. Protegendo você e não ele.
– Ollie... Meu trabalho é proteger você e não contrário.
– Não, é verdade. Não sei o porquê, talvez seja porque eu estou apaixonado ou talvez por causa do círculo, ou qualquer outra coisa, mas é como eu me sinto e não me importo com nada mais – exclamou – Fui treinado a vida toda para proteger e defender as pessoas e fazer valer a vida que ganhei, e não tenho nada contra isso, pois é quem eu sou e nasci para ser. Mas querer, se importar ou amar alguém, sempre foi assustador para mim e distante. Mas eu amo você e quero você mais do que qualquer coisa e eu nunca vou parar de lutar para te ver seguro e para te ver feliz.
Disse por fim com meus olhos tão perto dos dele que eu não sabia mais se era a minha imaginação o eu realmente estava petrificado no reflexo dos seus olhos.
– Então você será meu, porque eu sou seu. Todo e sem dúvidas.
Repeti sentindo sua respiração já dentro de mim.
– Amanhã à noite. Nós, juntos. Como um. Você aceita?
Perguntou e eu respondi da melhor maneira que consegui pensar.
Lançando nossos dois corpos contra o chão e agarrando seus lábios com os meus, ouvindo o som de lâmpadas explodindo acima das nossas cabeças.
Quando enfim nosso beijo se desfez algo em mim estava consertado novamente. Sem medo, sem preocupação. Sem nada. Estava complemente bem.
– A propósito, acho que estamos atrasados para aula.
– É, mas... Vou precisar de uns minutos.
Disse o senhor Garrett em nossa direção.
Respondi tentando dar mais um passo, mas sua voz nos cortou de novo.
– Não vou dizer que estou reclamando do senhor Kane ter voltado a se reunir conosco, porém, vocês dois poderiam escolher momentos mais oportunos para suas reconciliações adolescentes.
Comentou fazendo um murmúrio ocorrer na sala, por ironia ou não, Lexa fazia parte do grupinho que ria baixo. Ela piscou para mim, aliás.
– Vou tentar na próxima, senhor Garrett.
Disse Killian sorrindo de forma debochada, isso era raro.
Efeito da minha companhia, talvez.
– Bom, muito bom. Quem sabe podemos conseguir alguma coisa desse atraso, ou não.
Perguntei, querendo sair da zona de visão de todos.
Disse ele fazendo movimentos com as mãos para que andássemos.
Mas não ocorreu tão bem assim, consegui dar dois passos antes que fossemos interrompidos novamente.
Mas dessa vez não foi alguém falando conosco, foi o chão e todo resto tremendo e chacoalhando.
Consegui me agarrar ao braço de Killian a tempo, antes de cair, mas isso era o menos preocupante.
Nossos olhares se cruzaram automaticamente, os seis sabíamos que algo como aquilo, não poderia ser coisa boa.
Disse o senhor Garrett antes de desaparecer.
Disse Lexa correndo do seu assento até nos dois, logo todos estavam fora de seus lugares.
Perguntei, eles assentiram com a cabeça.
Birdy perguntou segurando na mão de Skandar, mas outro abalo ocorreu e tudo voltou a tremer.
Lexa a respondeu já correndo para porta, todos a seguimos dessa vez.
Fiquei surpreso ao perceber que a porta realmente se abriu para nós.
Então isso não era um ataque, o professor nos selaria aqui, pelo menos selaria os outros.
Fomos levados para o lado de fora, e todos começamos a olhar para cima.
Na última vez que algo do gênero tinha ocorrido, tinha sido pouco antes da morte da Cecilly no início do ano letivo, e toda a barreira havia ficado vermelha e cheia de rachaduras, não que até hoje tenhamos descoberto o que foi aquilo, somente quem poderia ter feito.
– Não estão atacando a barreira.
Havia outros de nós agora do lado de fora, as duas turmas e mais alguns professores, só então percebi que estamos na frente da casa cinza.
– Alguém sabe o que está acontecendo?
Zac perguntou alto para que todos ouvissem, mas ninguém respondeu.
Lexa perguntou na minha mente.
Não sei, realmente eu não sei.
E mais um tremor aconteceu, maior que o último e mais violento, nos fazendo cair ao chão e depois parou, como se o ar avisasse que não iria ocorrer novamente, por hoje.
Killian estendeu a mão para me ajudar a levantar, e eu estendi a Amora que estava mais perto de mim do que do Josh. Lexa e Roman já estavam em pé.
– Esses tremores não são naturais, não mesmo.
Rex comentou olhando para mim, e por um minuto eu tinha esquecido que tinha o beijado, até percebemos que Killian tentava não nos encarar, então eu virei tentando cobrir a visão de Rex com meu corpo.
– Todos voltem para as salas de aula.
Disse o professor Garrett para nós, porém, seu olhar estava bem distante da realidade.
Os alunos começaram a se mover, mas nós ficamos parados. Por algum motivo não nos mexíamos. E ele começou a andar devagar em nossa direção até parar centímetros a nossa frente.
– Eram demônios, nos atacando?
Lexa perguntou a ele, mas olhando para mim.
Respondeu ele com a voz baixa e seria.
Joshua acrescentou ainda assustado.
– Que essa cidade tem mais consciência do que ocorre do que vocês pensam. Muito mais.
– Então ela fez isso? De vontade própria?
– Fez. É um aviso – respondeu ele voltando a se mover – Um aviso que o tempo está acabando, e que a decisão precisa ser tomada.
Perguntei por fim querendo enganar o óbvio.
– Senhor Herveaux, entenda uma coisa, essa cidade é tão ligada ao que acorre quanto nós somos ligados a ela. Então sim, o Círculo das Cinzas tem certeza. A guerra está a ponto de vir, e nós já não temos tempo. Então preparassem, pois isso vai acontecer.
– Nós nos preparamos para lutar.