June 16

Post 06/16/2025

"so much of what is best in us is bound up in our love of family, that it remains the measure of our stability because it measures our sense of loyalty" — haniel long.

tw: morte, luto.

a vida de cha jinwoo foi marcada por tantas infelicidades que ele talvez não conseguisse mais contar nos dedos, porém aos poucos sua vida começou a melhorar e desde que mengyao voltou ele passou a não ter mais dedos para contar suas felicidades. recentemente terminou seu projeto mecânico mais desafiador e agora iria passar a dirigir pelas ruas um pontiac firebird 1970 completamente renovado do zero por si, mas não era só "qual carro", também era o fato de que agora finalmente teria um carro para poder levar yaya para a escola, mengyao para seus destinos, havia muito que ele poderia fazer e auxiliar sua família com.

porém ainda existia a questão das dívidas no hospital, uma discussão recorrente que já lhe fez levantar a voz com a sua irmã (algo que dificilmente fazia) e empurrar um médico contra a parede em um momento de vulnerabilidade; enquanto houvesse 1% de esperança ele teria 99% de fé; jinwoo não iria abandonar sua mãe. estava ciente de que, diferente de seu pai, ele jamais abandonaria a própria família de jeito algum.

contudo, aquela voz dizendo um firme "senhor cha?" o tirou de seu transe conforme ele voltava ao momento atual, percebendo que havia divagado enquanto seu corpo parecia imóvel como uma rocha. — sim, eu... eu compreendi. — foi o que ele conseguiu falar com a voz fraca antes de virar o rosto para observar mais uma vez sua mãe acamada. "não há mais nada que possamos fazer"? "pneumonia aspirativa? grave? falência múltipla de órgãos?" do que caralhos eles estavam falando, ele não ia desistir da sua mãe, ele não ia. em uma década ele nunca desistiu dela, ele se endividou, pagou as dívidas, lutou, trabalhou, nunca deixou faltar nada para sua irmã, passou fome para que ela estudasse, acolheu mengyao e o irmãozinho dela em um momento difícil dos dois e construiu sua família com pouco, mas nunca deixou faltar nada para nenhum dos dois, ele lutou... ele lutou... então se ele não desistiu, por que ela...?

o som agudo do desligamento das máquinas seguido do "hora da morte: 15:47" foi o que fez o rapaz sentir um embrulho tão forte no estômago que sentiu que poderia vomitar, porém com o rosto sereno ele apenas passou a mão nos seus fios antes de oferecer a mão para o médico responsável, agradecendo por todos esses anos enquanto saía da sala para ligar para sua irmã, não era o momento de chorar, na verdade, para jinwoo, quando realmente era o momento de chorar? nunca era. nunca deveria ser. ele precisava organizar coisas demais, tinha coisas para assinar, um funeral para organizar, tinha trabalho para fazer, ah é, ele precisava avisar seu chefe que talvez não fosse voltar para o serviço hoje, não ia? não, ele precisava trabalhar, certo? ele precisava, ele sempre precisou, ele precisa...

(...)

já era noite quando o moreno se sentou no sofá da sala sozinho, em sua cabeça as memórias do dia em que ele chegou em casa e a viu rodeada por carros da polícia e a maca levando um corpo que apenas podia ser de seu pai. começou a se lembrar de quando trabalhava em dois empregos para sustentar sua irmã e a si mesmo, ou mesmo de quando trabalhava em dois empregos e ainda fazia bicos para tentar criar alguma renda extra para momentos de dificuldades. há quase 10 anos a vida do rapaz era trabalhar para manter o mínimo de dignidade em sua vida e para quê? qual foi sua grande recompensa após tantos anos de trabalho duro e incansável banhado por esperança? durante anos mesmo quando suas férias chegavam ele apenas arrumava um novo emprego, porra por que ela não podia simplesmente ficar bem quando ele lutou tanto por isso? por que deus tinha que ser tão cruel com a sua família?

perdido nesses sentimentos de mágoa e dor, o rapaz sentiu uma lágrima escorrer de seu rosto enquanto engolia seco e começava a se perguntar o porquê, mal se percebendo conforme ele começava a deixar cair uma nova atrás da outra, chorando sem parar com aquele sentimento de impotência, desamparo e o pior, o de alguém que passou anos lutando por uma causa que nunca seria ganha o sentimento de que tudo foi em vão... toda sua luta realmente foi em vão?

foi quando naquele momento de desamparo, chorando como nunca o fez em sua própria casa, ouviu aquela voz baixa chamar sua atenção enquanto suas mãos pequenas o puxavam pela blusa: "por que você tá chorando, papai?" e foi ao virar seu rosto e ver muyang o chamando de "bàba" o fez sentir seu estômago apertar com ainda mais força antes de o puxar para um abraço apertado, já nem sabendo mais se o motivo pelo qual chorava ainda era o mesmo.

não havia sido tudo em vão.