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February 23, 2023

Devil by the window - POV I.

23/02/2023, 16:20, no carro da empresa.

Possíveis assuntos de desconforto: cobrança maternal, menção a alcoolismo e chantagem emocional.

Aquela parecia se tornar sua mais nova rotina: studios fotográficos e gravações para comerciais, nada de novos papeis ou chances para trabalhar seus estudos como diretora. Sarang não odiava tudo aquilo, mas desde que sua empresa preferiu a focar em outras áreas, começava a se sentir um tanto quanto... Perdida. Havia criado um apreço pela atuação, por estudar e colocar na frente de uma câmera um personagem completamente novo, mas odiava o fazer fora dos sets de filmagens, e era daquela forma que se sentia fingindo amar cantar e modelar - era normal, mas não era especial.

Apesar do bom humor naquela quarta-feira, as horas em que passou modelando em frente as câmeras para mais uma grande empresa pareceu sugar suas energias, a deixando sonolenta e mais cansada do que o normal. Ainda sorria para os staffs e não sentia nenhuma emoção negativa, mas como tudo na vida da jovem, o mundo sempre dava um jeitinho para trazer o drama das telas a sua própria vida.

Descansava no banco de trás do carro enquanto o manager terminava de organizar as coisas quando o celular tocou em sua mão. Primeiro sentiu uma pitada de raiva por interromperem sua sessão diária de tiktoks, mas o nome "Halmeoni 💘" a roubou um sorriso de orelha a orelha, atendendo rapidamente a ligação.

Halmeoni! O que foi? Aconteceu alguma coisa com o vovô?

A resposta demorou tanto a vir que Sarang chegou a arrumar a postura, sentindo a preocupação com os idosos a alertar de algo, mas o que veio em seguida não foi uma notícia de que o avô havia caído ou só estavam com saudades, e sim, a voz dela.

"Filha? Sarangie, meu amorzinho, é a mamãe!"

Precisou engolir em seco, sabendo bem o que viria a seguir. Sarang sabia que seus pais a amavam, mas também sabia que haviam entrado em um poço fundo demais para que compensassem tudo o que passou por culpa eles.

"Sarang? Filha, você 'tá aí?" — O que você quer?
"Isso é jeito de falar com a sua mãe? Eu só senti sua falta..."
— Me poupa dessa baboseira, quanto você precisa? Um milhão? Dois?

Foi direta, abrupta, como sempre era quando falava com seus pais. Escondida naquele cantinho escuro do carro, a mulher sentia as mãos tremerem e o corpo efervescer; Não era o pedido futuro por dinheiro que mais a tirava do sério, mas a falta de vergonha da mãe usar o contato de sua avó para isso. Sabia como era: ela chegava depois de algumas bebidas na casa dos idosos e chorava para que a deixassem usar o celular para ligar para Sarang, sempre usando a desculpa de que "ainda era mãe e nora".

"Você fala como se eu tivesse culpa! É tudo por causa do seu pai, ele de novo pegou dinheiro com aqueles homens, você não deveria me tratar assim, Moon Sarang."
— Eu vou enviar 2 milhões, se sobrar, use isso pra tratar seu alcoolismo, eu sei que não é só o pai que tá devendo, e Jiho, uma última coisa... Nunca mais use os meus avós pra falar comigo.

Desligou o celular tão rápido quanto atendeu, jogando-o no banco ao lado. Odiava demonstrar seus sentimentos, mas uma vez que estava sozinha, Sarang se deixou virar o rosto e deixar uma lágrima de frustração cair, tomando cuidado para o manager não entrar e perguntar mais uma vez como andava sua relação com seus pais.