December 2, 2020

#2 - (quase) 24hrs party people

(Esse episódio tem colagens de áudios de whatsapp. Muito mais legal escutar)

Olá amigos, tudo bem?

Eu sinto que devo um esclarecimento: O Podlex nasceu de um momento de ousadia, de imediatismo... diria até de descuido da minha parte. É que eu sou ariano, eu me movo pelo instinto, pela emoção. Como diria uma antiga amante "Você é ariano, meu bem, você quer tudo." Só que o meu erro foi resolver ser impulsivo no dia 21 de março, porque no dia 21 de março o Brasil tinha acabado de ser abatido por uma "gripezinha", que eu acredito que não vá afetar ngm dado o histórico de atleta do povo brasileiro.

Pois bem, o mote desse programa era "um podcast gravado num carro" e ele foi lançado uma semana antes de ser decretado pela OMS que estava proibido sair de casa - logo, proibido sair de carro.

Isso se mostrou um grande problema pro programa pq agora eu não poderia gravar no meu estúdio (o carro). Ao mesmo tempo, me pousou um dilema moral: eu não queria enganar meu público não gravando um podcast supostamente gravado num carro.

Por isso que depois de muito tempo eu decidi que agora seria: Podlex - Um podcast. Porque aí fica amplo, não fico preso em explicações.

Está sendo, no mínimo, interessante esse momento de quarentena. A quarentena tá mexendo com a cabeça das pessoas, a minha cabeça tá mexida. Minha cabeça tá tão mexida que, depois de três semanas, eu entrei num grupo de mensagens de voz que meus amigos tem, onde eles só falam de LOL (LOL, pra quem não sabe, não é aquela risada cibernética, mas aquele jogo chato de computador) e é in-su-por-tá-vel.

O assunto, não os amigos.

A cabeça tá tão mexida que no almoço de páscoa da família no hangout, coisa que num cenário normal de sociedade eu seria veementemente contra, eu era praticamente o mediador de conversas, dizendo que estava com saudades das pessoas e causando um ciúme tenebroso na minha irmã que gosta de ser a mediadora da maioria das conversas.

(aqui tem mais áudio de whatsapp, hein. Fica a dica)

Eu ando passando a maior parte do tempo sentado ou deitado. Porque, foda-se né? Agora é quarentena: Agora é loucura. Vai sair? Vai precisar passar uma boa impressão pra alguém? Não! É no máximo sair pra pegar a QuatroCincoUm ou o Rascunho na garagem e passar um álcool em gel.

Mais do que isso é qualquer coisa. A quarentena tá dando essa linda possibilidade pra gente de abrir mão da humanidade a prestação e de forma consciente.

Mas eu ando passando a maior parte do tempo sentado e eu comecei a sentir falta de andar na rua, sair por ai. Esses dias eu fiquei lembrando de um encontro que eu tive, no qual a única coisa que a gente fez foi andar. Parecia que a gente tava num filme do Richard Linklater só que sem nenhuma paisagem européia no fundo ou nenhum sexo em praça pública depois da meia-noite - O que, pra ser sincero, aproveitando que tocamos nesse assunto, me deixou um pouco desapontado.

E a caminhada foi tão boa que quando eu criei coragem pra beijar, a química acabou ali.

***

Um aspecto engraçado da quarentena é que eu tô voltando a ter um hábito analógico de assistir televisão sem ter controle da reprodução. Você jovem, que fez 19 anos ano passado - ou 20 esse ano - não deve estar muito familiarizado com o conceito de televisão. Eu quero dizer, o conceito original.

O conceito original de televisão era meio que uma roleta russa do entretenimento: Você ligava a TV e ficava lá "zapeando" - tá ai uma gíria que se você tem menos de 28 anos você não conhece. Zapear era tipo surfar nos canais, passar por programação ruim, péssima, horrorosa, até finalmente encontrar alguma coisa que te chama a atenção. Que no meu caso era o "Uá uá", o "Neurônio" ou "Top top" na MTV.

Só que tinha um porém nessa coisa toda de assistir TV: Você não podia dar pause.

Ou seja: Se você tivesse que ir no banheiro, ou ficasse com sede e fosse pegar uma água ou, sei lá, tocou a campainha e tem uma testemunha de Jeová na porta, não tinha dessa de pausar pra voltar pra assistir depois. Você tinha que fazer uma escolha e arcar com essa escolha.

Agora eu meio que, sem querer, ressuscitei esse jeito "antigo" de assistir TV. Porque eu gosto de uma emoção, sabe? A sensação de controle é muito cômoda, não tem graça nenhuma saber que se você perdeu aquela fala, dá pra voltar e assistir.

É assim que eu gosto. Tinha um cantor, não lembro o nome dele agora, que ele falava "Eu gosto é do gasto".

Sou eu.