February 24, 2021

S02E01 2021: pra onde vamos daqui?

Olá amigos, tudo bem? Aqui é o Lelex, comigo está a Maria Clara, e esse é o... Eu não sei mais como contar os episódios. A gente segue a contagem ou começa do primeiro de novo com o 2 na frente, igual quando cê baixava série em torrent pela primeira vez e vinha o episódio 101 e você pensava que tinha vindo o arquivo errado e também reavaliava sua vontade de assistir aquela série que aparentemente tinha mais de 100 episódios... Que isso, né? "Irmãos Coragem"?

Em todo caso, vamos chamar esse episódio de primeiro episódio da segunda temporada.

Bem vindos.

2021 já começou. Se você está se sentindo como aquele cara que acorda e fica deprimido porque 2021 é igual 2020, saiba que você não está sozinho. Na realidade, eu não diria que estou assim deprimido, mas não estou surpreso. Eu não tô surpreso porque as figuras que ocupam cargos de poder no nosso belíssimo país, são figuras que prezam pela destruição, pelo fim, pelo chega. Foi o mote de campanha do amaldiçoado lá "Tem que acabar com isso ai". Porra, você esperava o que? Que ele ia chegar e acabar com o que? Se a gente parar pra pensar, sempre que perguntado, ele respondia a mesma coisa. O que me leva a pensar que ele estava deixando uma pista pra gente, de que ele ia acabar com absolutamente tudo, uma vez que a resposta para todas as perguntas era a mesma.

Por isso eu não fico surpreso. Eu ficaria surpreso se fosse um candidato assim, mais racional, mais consciente e até mais bonito que estivesse por trás dessa destruição toda. Por exemplo o Haddad. Se eu acordo em 2021 e o Haddad tá destruindo tudo, fazendo campanha pra um remédio cuja eficácia é zero, incentivando aglomerações em época de Pandemia, usando a influência política para proteger os filhos, ai sim. Ai seria motivo de grande surpresa.

Dito tudo isso, agora que eu fiz a retrospectiva de todos os motivos pertinentes para ficar deprimido, eu acho que vou mudar de ideia e sim, eu estou deprimido. Quem não está? O Brasileiro vivo, consciente e informado nos dias de hoje, se não está deprimido (ou no mínimo desanimado) precisa procurar ajuda profissional pois corre o risco de estar apresentando sinais de psicopatia.

Mas como eu dizia, 2021 está ai. Eu passei uma virada de ano muito mais intimista do que as duas últimas. Porque a última virada de ano eu passei na piscina com uns amigos e a antes dessa eu passei num rancho no meio do nada. Essa virada eu passei em casa, tranquilidade pura, só ensaiando as tristezas pro ano seguinte que não demoraram a vir. O ano começou já prometendo uma temporada mais triste, violenta e desesperadora do que a temporada anterior. E você achando que isso não fosse possível...

E é nesse clima de alegria e esperança que a gente começa a segunda temporada do Podlex.

Por falar em clima de esperança, temos vacina né? Acho que não preciso nem narrar aqui o sentimento que vem com uma notícia dessas porque... Bem, estamos esperando há praticamente 1 ano, né? Mas desse embrolio todo, os últimos episódios foram os que mais me grudaram em frente à TV fictícia onde passa essa serie alucinante chamada "Brasil em tempos de Jair". Em especial o episódio em que o digníssimo ministro da saúde Eduardo Pazuello, se fazendo de difícil perante uma pergunta mais capciosa, fez a cena de tirar a máscara pra justificar a dificuldade de audição.

Eu acho isso brilhante por muitos motivos, mas pra começar: É o retrato, né? Quando a gente dizia "Esse governo é composto por idiotas que só se apoiam em achismos, que não valorizam o conhecimento, a ciência, a cultura" e a pessoa se fazia de desentendida, e você tinha que perguntar se ela havia entendido ou se precisava desenhar, esse seria o desenho mais simples e eficaz de se fazer para que a pessoa entendesse de fato o que você estaria dizendo.

Porque não é que ele só se confundiu ou tirou a máscara por coincidência no mesmo momento em que perguntava para a mulher repetir a pergunta. O que aconteceu foi um claro desconcerto diante a pergunta, aquele desconcerto que todo militarzinho babacóide sente ao ser contráriado, sabe? Mas o que parecia é que ele não queria demonstrar que estava dando esse piti-milico então se apoiou na primeira coisa que veio à mente: A máscara. "E se eu depositar a culpa na máscara? Ai ela não vai achar que eu tô fingindo que não estou escutando". Então ele embarcou total na atuação de que não estava ouvindo: Franziu a sobrancelha, fez cara de confusão, disse no microfone e fora dele que não estava ouvindo o que ela estava falando e, pra coroar, pra ser aquele momento que você vai lembrar sempre: Se inclinou, puxou a máscara de uma forma destemida como quem diz "Aqui, encontrei o que está nos atrapalhando e não vou perder mais nenhum minuto deixando que isso continue aqui" e pediu para ela repetir.

Eu acho que esse foi o final (ou seria o começo???) de temporada mais sensacional pra esse drama todo que a gente viveu (e provavelmente vai continuar vivendo mais um pouco) com a pandemia do COVID-19. Foi aquele season finale com um twist cômico no final.

Por falar em season finale, faz tempo que eu não engajo numa série até o fim. Pelo menos, uma série nova. Quando eu digo "serie nova" eu quero dizer uma série que tenha sido feita nos últimos 5 anos. Talvez seja um reflexo da eterna espera pelo término da série supracitada, talvez a falta de uma trama tão rocambolesca e cheia de reviravoltas como a supracitada. (Eu não acredito que eu, de fato, tenha usado a palavra "rocambolesca").

Pra você ter uma noção, ultimamente, eu tenho assistido "Veronica Mars". Aliás, eu passei a noite de natal assistindo Veronica Mars e, apesar de parecer, esse não foi um natal triste. Pode ter sido um natal mais quieto, sem nenhum rudivu e polêmica e tias e namoradinhas... Mas foi um bom natal - E muito por causa da Veronica.

É muito engraçado assistir uma série antiga, mas que não é antiga nível "livro de história". Porque o antigo nível "livro de história" é aquele rolê, né, sei lá: "Há 100 anos era assinado o Tratado de Versalhes". Beleza, muito bom. Eu não estava lá. Eu não conheço ninguém que estava lá. Eu não tenho nem a remota conexão com esse fato. Mas agora, vai: "Em 2001 a moda era usar calça jeans sem bolso". Opa! Eu estava lá. "A molecada rebelde usava camiseta e gravata por cima". Opa, eu vi. "2004 foi o ano que o Green Day lançou o American Idiot". Porra, American Idiot. Eu estava lá, meus amigos estavam lá. A gente tocava Jesus of Suburbia nas rodinhas de violão fazendo segunda voz e tudo.

Quer dizer, é outro nível. E eu estou passando por isso assistindo Veronica Mars. É muito engraçado, ao mesmo tempo que é meio constrangedor, às vezes ter de lidar com o antigo que você lembra. Por exemplo: Na série, 75% dos garotos tem aquelas mexas loiras... Acho que era "spyke" o nome... Tipo loiro e moreno. Eu lembro que quando eu era garoto, eu não tinha isso mas queria ter. E agora assistindo a serie eu vejo o quão ridículo era esse cabelo e bate aquele alívio, sabe? "Ufa, não vai ter nenhum perigo de eu estar fuçando umas fotos antigas e esbarrar em uma minha com esse visual".

Essa, aliás, é uma dor que todo mundo da geração z em diante não vai conseguir escapar, porque todo mundo tá deixando nos anais das redes sociais os registros da pré-adolescência pra frente. Ou seja, um dia essa pessoa vai receber uma notificação de um facebook relembrando uma postagem que ela fez 15 anos atrás e é uma selfie dela usando um filtro que faz parecer cartoon e, naquele momento, ela vai perceber que a partir desse ponto, parte da sua rotina é entrar nas fotos antigas e apagar ou ocultar todas as coisas que só eram engraçadas 15 anos atrás.

Eu fico pensando, se eu apago uma coisa ou outra de quando eu tinha 19 anos e o Facebook já guardou... O que dirá dessa geração ansiosa que posta coisa de 5 em 5 segundos? Vai ter que contratar alguém pra fazer essa limpa. Oportunidade de emprego do futuro... Teve uma pesquisa esses tempos atrás, né? Que dizia que metade das crianças de hoje em dia vão ser empregadas em empregos que ainda nem existem... Credo, porque eu cheguei aqui mesmo?

Pra gente curtir bem esse clima de começo de ano, onde o outro ainda não acabou direito nos nossos corações e esse ainda não começou, antes do episódio de natal eu gravei um episódio que não publiquei. Então, pra não matar vocês de curiosidade e especulações, eu vou tocar agora. Assim eu posso acabar de gravar mais cedo e vocês aproveitam mais conteúdo: Uma situação ganha-ganha do jeito que o brasileiro gosta:

Acho que eu posso explicar porque demorei tanto pra gravar um novo né? Uma coisa é desafiar o spotify, outra é não ter consideração com a audiência que passou pelas barreiras que criamos junto com o spotify pra escutar a gente. - Eu demorei pra postar porque tive semanas muito agitadas no trabalho ultimamente e eu acabava os dias querendo silêncio, alguma serie ou Rusty Lake (o que não deixa de ser algo contraditório). Ai por conta disso eu fui praticando o esporte que eu sou incentivador e praticante nato: O de adiar tarefas ou atividades. Porque eu tinha uma listinha de algumas coisas pra falar - eu sempre tenho, né? - mas elas acabaram ficando sem contexto. Por exemplo: Eu pensei em falar do aniversário da MTV, mas Outubro já acabou. Eu pensei em postar alguma coisa no dia do podcast, mas já passou... Comentar sobre a partida do Louro José. O disco novo do Gorillaz acabou de sair mas eu tenho certeza que até eu lançar esse episódio ele já não vai ser novidade então vou deixar quieto. As eleições dos EUA que, pelo visto, podem até continuar indecisas no momento que eu soltar esse episódio.

Teve também o lance de eu ter ficado meio de birra da internet... O que também pode ser meio contraditório. Mas eu fiquei, fazer o que? Eu prezo aqui pela transparência com o ouvinte e a transparência é a que eu fiquei de birra com a internet. A internet tá chata. E não no sentido "Ah, o mundo tá chato. Na minha época era melhor." Pela Deusa, não é isso... Mas a internet tá chata porque ela virou um antro de conceitos que remetem ao New Age, vídeos de Tik Tok e o que eu meus amigos gostamos de chamar de "Cultura do incrível".

Pode fazer um teste ai. Abre o instagram agora e vê se não tem, pelo menos, 3 pessoas nos primeiros posts que o algoritmo jogou pra você ai que não estão falando sobre amor e luz e transformação e cura pessoal. Se não for isso é alguns daqueles vídeos com aquele texto de caixa reciclando algum meme. Eu sei que eu tô soando tiozão reaça falando desse jeito, mas eu só queria pedir um pouco de espaço. Será que o algoritmo de todas as redes sociais é tão burro que não percebe que saturar uma parada é o que vai distanciar ela do público? Teve uma vez que eu até cogitei baixar o tiktok pela curiosidade... Mas agora eu só quero dar um soco na boca do coreano que inventou essa merda pq ela aparece toda hora na minha timeline.

Maria Clara: Esse podcast não endossa atitudes de violência... Exceto se forem contra o atual presilíco e sua franquia de sociopatazinhos... Ai pode bater a vontade.

Mas de todas essas saturações das interwebs... "Interwebs" ainda é uma palavra usual? - Enfim, de todas elas, a que mais me cansa é a "Cultura do incrível". O que é a "Cultura do incrível"? A "Cultura do incrível" é a crença do usuário de rede social de que tudo o que ele faz é incrível e ele precisa mostrar pras pessoas o quão ele é incrível pra poder falar pra elas "Ei, olhe! Você pode ser incrível também! A vida é linda, nada da errado." Eu sei que a parte do "precisa mostrar pras pessoas" é parte integrante do discurso de rede social, mas o "incrível" é esse... Esse coupe de grace no meu interesse em rede social.

Porque olha só, em primeiro lugar você ter noções básicas de direção de fotografia e elaboração de texto não quer dizer que sua vida é incrível... Quer dizer, no máximo, que você fez um bom curso de publicidade e propaganda. Eu fico bolado com essa galera pq fica parecendo que o mundo é um violão de uma nota só: Todo lugar é bonito, toda experiência é incrível... e isso é só chato. É chato porque, sem o feio, como você sabe o que é bonito? Sem o sem-graça, como você sabe o que é incrível? Galera do New Age, agora vou ganhar vocês: Qual o lance do Yin-Yang? Não é o rolê de que as coisas devem existir em equilíbrio, da dualidade de tudo que existe no universo? Negar a existência dessas coisas e negar que você acaba se envolvendo também com elas, só quer dizer que você é muito chato... Ou cínico...

Eu tô azedando muito esse programa... Eu sei que a gente combinou de desafiar os limites do spotify mas tá bom, né?

Quando eu idealizei esse podcast, lá quando ele era num carro ainda, eu tinha a intenção de postar pelo menos um episódio a cada quinze dias. Pensei que seria interessante e que seria ume exercício pra mim também de sentar a cada duas semanas e organizar as ideias... Até porque não teria como não sentar dentro do carro.

Mas se você for uma pessoa atenta você deve ter percebido que o mínimo de episódios que eu consigo gravar é um por mês. Mais uma vez, eu não quero culpar a quarentena numa tentativa frustrada de negar o fato de que a minha vida vem sendo, desde de 2017 e agora com o atenuador da pandemia, uma sucessão de nada interessante acontecendo.

Tipo aquele episódio de Arquivo X "nada demais aconteceu hoje" - só que no meu caso não aconteceu mesmo.

Mas é que com a quarentena ficou difícil ter alguma história interessante pra contar, não levando em consideração a montanha russa de emoções que o governo nos proporciona. Porque você veja bem: Se desde 2017 nada de interessante acontece comigo - e isso ainda da época que eu tinha uma vida social relativamente ativa - agora que eu quase não tenho vida fica mais difícil ainda ter algo pra falar que não seja repetitivo "ah fiquei em casa e sonhei com tal coisa"; "ah tô vendo tal série"; "ah revi um filme ontem e mudei de opinião sobre ele"; "ah tava na xavecaria com um carinha pelo tinder e acabou rolando sexo online" - em primeiro lugar que não existe sexo online - "Ah eu escutei um disco de uma banda que eu não escutava há muito tempo e ele é melhor do que eu lembrava". Tipo, tudo isso é o mais do mesmo da vida cotidiana.

Acho que é por isso que eu acabei pegando birra de instagram e afins. Porque NÃO DÁ pra ter uma vida interessante vivendo 8 meses entre as mesmas paredes. Se você tem consciência, é uma das poucas 48 pessoas que ainda seguem em quarentena e fica postando em redes sociais dando a entender que a sua vida é super legal... Você tá mentindo. Tá ai, foi pego na mentira.

Dito tudo isso, eu realmente escutei um disco de uma banda que eu não escutava há muito tempo e ele realmente soou melhor do que eu lembrava.

Não sei se eu já contei aqui, mas eu sou baterista de algumas bandas aqui da minha cidade. E lá pra 2006, quando o pequeno Lelex começou a se interessar por música, a primeira banda que ele começou a escutar foi o Red Hot Chili Peppers. Gostar de RHCP é um assunto meio perigoso, eu sei. Principalmente agora. Porque o Peppers acabou se tornando a Capital Inicial do mundo, com a pequena diferença que os músicos da banda sabem mesmo tocar seus instrumentos.

Por isso, é comum rolar um olho torto pra banda, porque ela virou tipo um Foo Fighters - por falar em xarope, aliás - que é aquela banda de Dad Rock pra tocar naqueles barzinho classe média alta da galera com corte de cabelo e barba lenhador, fazendo hanglose com a mão, segurando a bebida pelo bico, sabe? Aquela galera que a vida é muito interessante no instagram.

Mas em 2006 eu não sabia de nada disso. Primeiro pq eu não tinha bola de cristal e segundo porque eu era só um garoto agitado, com TDAH (supostamente) é que começava a se interessar por música. E a primeira banda que eu gostei foi os peppers. E ela era perfeita pra mim. Porque? Eram quatro caras hiperativos, pulando de um lado pro outro pro palco, tocando música hiperativa que não era convencional - pelo menos, não era convencional pra mim. Cujo as letras eram escritas baseadas em fluxo livre de pensamento, que pra uma pessoa hiperativa é a coisa mais dislumbrante que tem, já que eu não queria parar pra ficar escrevendo, concentrado. Eu queria fazer enquanto ia fazendo, sabe? Todos os requisitos do currículo pra vaga de "minha primeira banda" tinha sido cumpridos.

Junto com isso, meu tio tinha montado na casa da minha vó a bateria dele e eu passava a maior parte do meu tempo lá. Portando foi só uma questão de tempo até eu juntar a vontade de ouvir música e a vontade fazer fazendo música. Foi ai que, num dado dia, eu botei o Californication no toca cd, sentei na bateria e comecei o longo e doloroso processo que foi tentar se músico ali, no estudiozinho no andar de cima da casa da minha vó.

Eu falei tudo isso, porque? Porque recentemente, como disse acima, eu escutei um disco de uma banda que eu não escutava há muito tempo e ele realmente soou melhor do que eu lembrava. E esse disco foi o The Getaway.

The Getaway é o último registro em estúdio do Peppers e é o segundo registro do Peppers com o Josh Klingerseiláoque. Eu não quero passar aqui pela novela de opiniões que é "Quem é melhor, Frusciante ou Klingerseiláoque?" porque eu não quero que pareça que eu estou abrindo essa discussão pra debate. Porque eu não estou. É óbvio que o Frusciante é melhor e pronto, não tem nem que ter debate. Isso não quer dizer que o trabalho do Klingerseiláoque foi ruim (muito pelo contrário, aliás) ele segurou uma bucha pesada tendo de substituir o Frufru e fez um trabalho muito bom. Entretanto, se a gente analisar bem, tudo o que ele fez foi um rehash do que o Frufru estabeleceu de identidade sonora antes. Por isso que não fica aberto pra debate e fica estabelecido que o Frusciante é melhor.

Mas o The Getaway foi um disco que eu tava otimista pra sair. Porque o disco anterior tinha sido o primeiro com o Josh e é claro que ele não ia ser bom porque ele era o momento transitório, de John pra Josh. O segundo disco seria o momento em que teoricamente o novo integrante já ia ter tocado bastante com a banda, se enturmado e se estabelecido. Então o segundo disco com ele, na teoria, tinha tudo pra dar certo.

Quando ele saiu e eu ouvi... Eu não vou dizer que eu não gostei ou que achei ruim. Ele só não me fisgou. Ai eu deixei ele lá. Pensei que seria melhor dar uma distância, que eu tava na onda e que era melhor escutar depois. Quem sabe ele não me fisgava.

Esse depois foi acontecer nessa semana, só. 4 anos depois do lançamento do disco. Eu tava trabalhando e tinha cansado de escutar o que eu geralmente escuto pra trabalhar. Por algum motivo, que eu vou fingir que é desconhecido, o Spotify me recomendou de novo o The Getaway e eu fui escutar e foi ai que eu entendi.

Ele é o disco de reinvenção. Porque até aquele ponto, todos os discos dos peppers tinham sido mais do mesmo, em termos de produção e estética. A produção do Rick Rubin, aquelas guitarras do frusciante com aqueles timbres bem anos 70, o vocal "eu digo charlie, vocês dizem brown" do Anthony Kiedis, a bateria com a caixa com o gate no mic com reverb do Chad Smith. Músicas boas, mas que sempre orbitavam num mesmo universo.

Ai veio o The getaway. Produzido pelo Danger Mouse, que pra quem não sabe produziu o Demon Dayz do Gorillaz, foi a segunda metade do Gnarls Barkley... Enfim, uma pá de coisa que pode ser interessante se você acha essas coisas interessantes. E ele veio com aquela coisa dele "retrô-nova" e conseguiu reinventar os Peppers mas de um jeito que ainda soa daquele jeito. O Chad Smith foi quem eu notei a maior mudança. O cara se reinventou até nas células da bateria. Não é mais aquela coisa sincopada-lugar-comum-óbvia dele. É acento de bumbo onde ele nunca colocou, nota fantasma da caixa onde costumava ter chimbal... Enfim...

Foi aí também que o Josh brilhou. Porque dentro dessa reinvenção, até o rehash de john frusciante dele soava novidade porque era como se o Danger Mouse estivesse fazendo uma colagem com esses elementos.

Enfim, tudo isso pra contar da distância que eu fiquei do RHCP e agora ouvi o The Getaway é um ótimo disco. E isso também não tá aberto a debate. Só que dito tudo isso, eu não vejo a hora de sair esse disco novo com o retorno do Frusciante porque, né... Joãozinho, poxa.