July 10, 2023

bae jiho. 

TW: violência, prostituição.

A grande cidade de Seul é conhecida por todo o mundo pelos seus gigantes arranha-céus, a cultura pop e seus passeios futuristas. Mas o que o mundo todo não vê, são os bairros distantes do brilho e da fama da grande Seul, onde as casas se amontoam, as ruas são estreitas e escuras.

Foi nesse abandonado loteamento ilegal que Bae Jiho cresceu, pelo menos até seus 17 anos. A família Bae não tinha muito dinheiro, e nem muita ideia de ter um futuro brilhante. Talvez o pequeno Jiho poderia sonhar em se tornar um idol famoso, pois aparência tinha, só que o resto… Era mais fácil trabalhar em algo “decente” para que sua irmã mais nova pudesse ter pelo menos um futuro diferente de todos eles.

O único problema era que era impossível pensar em algo digno quando praticamente todo dia apanhava por alguma razão diferente, dependendo de como estava o humor de seu pai, ou de quão sóbrio ele estaria.

Aos 15, Jiho percebeu que não adiantava voltar pra casa, nem ficar indo pra escola ou sequer cursar uma faculdade. Não agora. E foi em um dia frio do inverno pesado de Seul, que o coreano recebeu o seu primeiro convite. Um cartão preto com um contato de telefone, sendo acompanhados de uma mulher baixa, com um batom vermelho escuro e cabelos loiros. Era a dona de uma boate, uma boate específica para mulheres, onde o cardápio principal eram homens. O único porém, era a idade e a aparência extremamente jovem do rapaz, não tinha nem como ele começar uma carreira dessas quando não tinha nada mais atrativo que seu rosto. E foi assim que começou a trabalhar como garçom, bartender, zelador, segurança, apenas pra ter um lugar chamado de seu para dormir, o que sequer eles precisavam, ele estava ali pra ajudar.

Quando finalmente completou a maior idade, foi promovido a acompanhante particular. O rosto angelical de Jiho era tão disputado quanto o corpo malhado de seus colegas de trabalho. Como diria a sua chefe, o importante era ter a disposição delas todas as opções. Do mais velho ao mais novo, do mais magro ao mais forte. O Bae nunca pensou que vender seu corpo daquela forma seria o seu futuro, mas com certeza o rapaz nunca se arrependeu dessa parte de sua história. Foi ali, naquela boate, que conheceu as melhores pessoas e ganhou dinheiro. Muito dinheiro. Dinheiro suficiente pra que conseguisse comprar o seu próprio apartamento, a faculdade da sua irmã e até mesmo uma especialização para si.

Uma de suas clientes, a mais fiel se assim podemos dizer, era uma tatuadora famosa. Foi com ela que Jiho descobriu o mundo das agulhas e dos brincos, e depois de tanto tempo nessa terra, o coreano descobriu algo que realmente queria fazer. Também foi com ela que ele fez a sua primeira tatuagem, um dragão enorme, que tomava boa parte de suas costas. Lugar escolhido estrategicamente para não aparecer facilmente, principalmente porque Jiho não gostava muito de mostrar o corpo.

Com o tempo, as visitas particulares eram focadas mais em mostrar ao rapaz o seu estúdio do que outra coisa. E foi assim que o Bae dividiu a sua rotina, de dia cursava um tecnólogo em enfermagem, e a noite a boate. Tecnólogo esse que escolheu para aprender mais sobre o corpo humano, onde que poderia ou não furar, brincar e colocar uma joia. Treinamento esse que era feito aos finais de semana, nesse mesmo estúdio.

Em 2020 foi a sua grande virada de chave: um conhecido seu iria se mudar para Seul para abrir um estúdio. E só Deus sabia - se ele existisse realmente - como Jiho estava dividido. Largar algo que fez a vida toda e literalmente fez quem ele era hoje por um caminho incerto e desconhecido. Por essa mesma razão, no seu primeiro ano no estúdio, a noite ele ainda ia para a boate. Mas conforme o tempo foi passando, o estúdio crescendo e seu nome como body piercer foi ficando conhecido, ele se sentiu seguro para finalmente ser quem ele sempre sonhou.