November 14, 2021

sorry

— oi...

kiki não costumava ser assim tão sem jeito com youngdo, ao ponto de adentrar a sala de estar quase que se encolhendo, envergonhado. claro, naquela tarde, existiam milhares de motivos para que minki estivesse se sentindo tão pequeno e incomodado, mas se fosse colocar num panorama geral, sua relação com o homem nunca mais foi a mesma desde que descobriu que ele não era seu pai.

mesmo com a correria do comeback e todos os encontros durante a semana, teve bastante tempo para refletir sobre tudo que aconteceu há alguns dias, colocar tudo na ponta do lápis e começar a pensar em que atitude toma a partir de agora e ele não teria outra opção que não fosse conversar com todos os envolvidos. não podia trair sua mãe em revelar o segredo, porém queria ter de volta a relação boa de pai e filho que um dia teve com youngdo. queria discutir direito com mikyung e entender o lado dela, odiava fica brigado com a mãe. e queria muito conhecer seu pai biológico.

uma coisa de cada vez, ele pensava no caminho até a casa enorme em que morava, e o primeiro que encontrou foi youngdo assistindo tv.

— minki, meu amor. você não veio pra casa essa semana... estava com saudades. — youngdo sorriu, desligando a televisão para dar total atenção ao loirinho que parecia hesitar em cada passo ao se aproximar.

— estive bem ocupado com o comeback. achei melhor ficar pelo dormitório para adiantar as coisas. — mentiu, vendo uma expressão de surpresa tomar o rosto do homem que provavelmente nem sabia que minki teria um comeback. — você não vem pra casa há um tempo também...

percebeu na hora que aquele era um péssimo jeito de puxar assunto, já que um sorriso triste tomou o rosto do homem e ele olhou para baixo.

— eu sei, desculpe. tentei voltar pra comemorar seu prêmio, mas...

— mas eu não fiquei muito presente, eu sei. — complementou, assistindo-o balançar afirmativamente com a cabeça. — me desculpa por isso, de verdade. eu... queria conversar com você sobre, inclusive.

— o que quiser.

youngdo deu dois tapinhas ao seu lado no sofá, convidando minki a se sentar, mas o solista ignorou completamente, arrumando um lugar no colo do homem e o abraçando. a atitude do menor com certeza pegou youngdo desprevenido porque ele soltou um "oh" surpreso e demorou um pouco a retribuir o abraço.

— faz tempo que você não faz isso. quando você era criança, ficava no meu colo o tempo todo. as vezes eu estava assistindo um filme e você deitava em cima de mim só pra ficar perto e dormir.

minki se lembrava de muitas vezes em que isso aconteceu e riu baixo, concordando. até hoje, o loiro adora contato e abraços e pode culpar os pais por mimá-lo tanto com carinho e colo.

— mas acho que você cresceu e não quer mais o colo do pai. — youngdo concluiu o pensamento num tom mais baixo, todavia, foi o suficiente para que minki escutasse e o olhasse.

— eu sempre vou querer seu colo. eu só... eu não sei explicar, eu estive me sentindo um pouco estranho em relação a você.

— sua mãe me contou.

demorou a entender, piscando algumas vezes e franzindo a testa. mikyung teria contado que ele não era o pai de kiki e youngdo estava reagindo bem assim?

— contou?!

— sim. ela disse que acha que eu comprei o seu prêmio.

ah. aquilo fazia muito mais sentido.

— sim, eu achei. na verdade eu estive analisando e acho que é por isso que eu fui inconscientemente me afastando de você. eu nunca soube como rejeitar essas coisas que você me deu, só que eu também não me sentia bem e deixar de falar com você parecia a solução mais fácil.

aquela estava longe de ser a verdade quanto ao motivo de minki ter se afastado, porém, ele realmente se sentia assim na maior parte do tempo. e era uma boa desculpa, no fim das contas: não iria contar o segredo de sua mãe e ainda tinha algo pelo que pedir perdão e consertar a relação com o pai.

youngdo ficou em silêncio por vários segundos e depois riu fraco, sem muito humor. o sorriso que ele carregava, no entanto, era cheio de nostalgia e orgulho.


— você sempre foi muito decidido, sabia? quando você era pequeno, você afirmava para todo mundo que seria modelo e desfilava pela casa com minhas roupas e as da sua mãe, que ficavam enormes em você. — youngdo de uma pausa para os dois rirem juntos. minki não se lembrava disso, mas já viu fotos que comprovavam que a história era real. — você sonhava em desfilar e tirar fotos então... eu dei meu jeito de dar isso pra você. "depois, você pediu ora fazer aulas de canto e estava muito animado e você tem talento, filho. e de novo, eu fiz o que pude pra você seguir essa outra carreira que você tanto queria. nunca me passou pela cabeça que isso estava te machucando e fazendo você se sentir menos merecedor."

— eu sou muito grato por tudo que você fez, pai. eu sei que eu não estaria aqui e eu não teria essa carreira se não fosse você. acho que é isso que aperta tanto. saber que eu não conseguiria se você não comprasse meu lugar em tudo.

— mas você conseguiria. eu só ajudei um pouco porque eu quero o melhor pra você.

minki não acreditava muito que ele teria tal visibilidade hoje se as circunstâncias fossem diferentes, mas também não estava afim de discutir sobre; não era o ponto e não ia adiantar de nada.

— por um tempo, eu achei que você fazia isso pelo seu próprio ego, pra falar que tinha um filho famoso pros amigos como você sempre fez. eu sei agora que não é o caso, mas...

— me machuca um pouco saber que você tinha esse pensamento, e espero que seja mesmo passado. eu sempre te exibi por aí exatamente porque eu tenho muito orgulho do meu filho e do talento dele, não pra eu parecer melhor na frente das pessoas.

— desculpa.

— shh, shh, está tudo bem. — youngdo sorriu fechado, depositando um beijo na testa de kiki. — e eu não comprei seu prêmio. pra ser sincero, a última coisa que eu comprei pra você foi a vaga no grupo. você conquistou muita coisa sozinho e com seu talento, vê?

era até difícil acreditar que a partenon foi atrás de kiki por conta própria, mas ele queria tanto que fosse verdade, que não se deu ao luxo de ficar duvidando das palavras do mais velho e apenas abriu um sorriso e deixou que os olhinhos brilhantes tomassem conta.

— desculpa por ser bobo assim, pai. — kiki pediu, voltando a abraçar o maior. — eu queria perguntar... se ainda não for muito tarde... a gente podia tentar superar isso e voltar a se falar como antes. eu sinto mesmo a sua falta.

— kang minki, você só é bobo de achar que eu não iria querer ter meu filho perto de mim de novo. — cutucou de leve a cintura de kiki, fazendo cócegas e recebendo alguns tapas em resposta.

— obrigado. eu amo você, papai.

— também te amo, coalinha.