yoo jian
"eu não sei como eu vim parar aqui." jian te diria, segurando um copo de soju, se você tivesse o azar de se sentar ao lado dele em um bar. "eu nem gosto de organizar casamentos! eu queria ser um diretor de cinema. eu pareço um diretor de cinema pra você?"
e é sempre a mesma história: com certeza a culpa era de seu pai, porque se ele não tivesse desprezado tanto assim o sonho de jian de ser músico, ele não teria que arrumar um plano b. sim, ele queria ser músico antes da ideia de se tornar diretor, mas isso ele não contaria a você, porque mesmo já alteradíssimo pelo álcool, ele tem certeza que você riria da cara dele e o chamaria de infantil. enfim. com certeza a culpa era de seu pai. então jian iria fungar e virar mais um shot para continuar sua trágica história de vida.
"eu acho... que se eu tivesse ficado no canadá..." e aí blá, blá, blá. quem aguenta jian reclamando todo dia sobre a mesma coisa? ah porque sair do conforto de seu país natal e vir morar sozinho na coréia do sul em busca de um sonho impossível foi muito difícil, ainda mais pra ele que não tinha o hábito de falar coreano dentro de casa e teve que aprender tudo do zero. ai, se tivesse ficado por lá e encontrado um emprego normal, não estaria passando por esses maus bocados. mas nãããão, teve que se mudar porque imaginou que as produções coreanas lhe dariam mais espaço por n motivos.
"e o pior de tudo? eu estava no caminho certo!" quando terminou a faculdade de cinema pelo canadá mesmo e resolveu desbravar terras coreanas em busca de um emprego, visando o mercado de doramas que parecia enorme e em ascensão, ele começou bem. assistente de câmera numa produtora seria bom para seu currículo, conseguiria contatos, experiência... acontece que a produtora não era exatamente de filmes ou séries, eles faziam mais cobertura de eventos, vídeos institucionais e essas coisas. então, quando viu, tinha mesmo muitos contatos, de tudo quanto era área.
"foi aí que tudo deu errado. a produtora faliu." os olhos dele iriam se fechar e ele ficaria em silêncio em luto pela produtora e pela sua carreira. desesperado, desempregado, tendo que se sustentar sozinho num país com o custo de vida altíssimo, e sem conseguir um emprego na sua área, jian teve que apelar: implorar por um emprego para um organizador de eventos que conheceu enquanto ainda era assistente de câmera. veja bem, jian tinha energia, conhecimento dos espaços, já tinha o ajudado tanto, então virou seu assistente pessoal.
o cara era bom no que fazia, organizava os maiores e melhores eventos da cidade, além de festas importantes e, claro, casamentos de gente rica, famosa e mesquinha. "não que eu tenha inveja deles, mas eu acho que gastar tudo isso num casamento é jogar dinheiro fora." ele diria com um dar de ombros e outro suspiro. queria ele ter tanto dinheiro assim.
"sabe o que eu queria? não ser tão bom no que eu faço." com uma careta, ele faria um sinal para o garçom trazer mais uma garrafa de soju. prepotente e esquisitão assim mesmo, mas ele não estava mentindo. era bom no que fazia, tanto que foram só uns anos para conseguir experiência o suficiente para começar seu próprio negócio como organizador de casamentos e sempre ter algo para reclamar dos noivos ricos que queimavam dinheiro desnecessariamente, mas não muito, porque eram eles que pagavam seu salário.
e assim ele seguia, ficando bêbado em dias da semana aleatórios, porque não dá pra ficar no final de semana já que ele provavelmente está vendo uma festa de casamento super chique que ele mesmo organizou acontecendo, recebendo elogios a rodo pelo trabalho impecável, mas desejando mesmo é estar na banda.
e como alguém que ironicamente não gosta de casamentos - apesar de planejar uns lindos de morrer - e acha que romance é para amadores faz num aplicativo de relacionamento? bom, é que ver tantas pessoas dizendo "sim" as vezes pega de jeito. dá vontade de tentar. e ele não tem tempo pra procurar alguém de jeitos convencionais então... que outra pessoa organize isso, pelo menos uma vez.