Filosofia
August 28, 2021

Um Breve Estudo sobre Gnosticismo

DISCLAIMER

https://t.me/FilosofiaEAfins

Este artigo é uma construção coletiva do grupo de Telegram "Ágora de Filosofia & Afins" sendo, portanto, um documento escrito "por muitas mãos" e organizado por um dos administradores do grupo como forma de ordenar ideias para uma apresentação abrangente do assunto, sinalizadas as citações de origem nas discussões do grupo sempre que necessário; todavia não é falso dizer que as linhas gerais representam uma tentativa do organizador de sistematizar uma intuição individual sobre o tema, podendo nem sempre corresponder à mesma opinião dos queridos colegas que ajudaram a pensar estes temas (eu os saúdo!).

DAVAR - A bagunça que o pensamento grego fez no cristianismo

Gnosticismo

Definição:

O gnosticismo é um conjunto diversificado de crenças que surgiram no início do cristianismo, particularmente nos séculos I e II. Os gnósticos acreditavam que o conhecimento (gnose) especial era essencial para a salvação e que apenas uma elite espiritual poderia alcançá-lo.

Princípios Fundamentais:

☑ Dualismo: Os gnósticos acreditavam em uma divisão fundamental entre o espírito e a matéria. O espírito era divino e bom, enquanto a matéria era má ou ao menos inferior.

☑ Conhecimento Secreto (Gnose): Os gnósticos acreditavam ter acesso a um conhecimento secreto que lhes permitia compreender a natureza da realidade e seu lugar nela.

☑ Salvador-Redentor: Muitos grupos gnósticos acreditavam em um salvador celestial que viria para resgatar os gnósticos do mundo material.

☑ Incarnação sucessiva: Algumas seitas gnósticas acreditavam que as almas passavam por uma série de encarnações antes de atingir a salvação.

Origens e Influências:

O gnosticismo foi influenciado por uma variedade de tradições religiosas, incluindo o judaísmo, o zoroastrismo e o platonismo. Também pode ter sido influenciado por cultos de mistério e outras formas de religião popular.

O Gnosticismo entende a matéria como "má" e o mundo como uma "ilusão"; um mundo de "sombras" e "aparências", como dizia Platão. Mas a revelação afirma a REALIDADE da criação e a sua bondade (em Gênesis, lemos que cada coisa que Deus criava Ele dizia ser boa), ainda que não seja uma bondade absoluta, mas relativa. (...)
O gnosticismo deu muito trabalho à Igreja nos três primeiros séculos de caminhada desta. Hereges gnósticos como Marcião de Sínope, Simão Mago, Cerinto, Menandro de Antioquia etc, propuseram diferentes sistemas gnósticos, ocultistas e esotéricos. Mas praticamente todos defendendo a ideia de que o Universo material é resultado da criação de um "demiurgo" que se rebelou contra a perfeita existência espiritual e racional e criou um universo material, aprisionando almas nele, que precisam por sua vez serem "libertas" pela "gnose". Todas as almas aprisionadas em corpos físicos, neste mundo, possuiriam, dentro de si, uma "faísca" ou "centelha" de luz que trouxeram do mundo transcendente. Por isso que tomo cuidado com certas teorias esotéricas, às vezes pregadas até em igrejas, às quais dizem que "você tem uma parcela de Deus dentro de você", ou "Deus colocou em você uma energia vital" etc. Nada disso. A fé é um dom e a recebemos POR GRAÇA. Não a trazemos "naturalmente" a este mundo, mas é um acréscimo à nossa natureza. Não é verdade que "todo ser humano deseja naturalmente a Salvação em Deus".

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44548

Vejamos, a seguir, um comentário de um de nossos colegas da Ágora que esteve confuso por ter sido educado com ideias gnósticas equivocadas dentro sobre o que seria o cristianismo:

"pra quem estuda o cristianismo sabe que é óbvio, pois pra irmos pra salvação eterna temos que matar nosso corpo que é impuro e está em contato com o mundo físico, ficando apenas com alma e espírito, óbvio também pros estudantes do cristianismo, " (...)

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/33968

Correção: A afirmação acima está teologicamente incorreta e corresponde a uma doutrina herética antiga chamada "Gnosticismo", que, resumindo MUITO, afirmava que "o espírito é bom e a matéria é ruim".

O gnosticismo bebe de ideias ocultistas e esotéricas do antigo Egito, Babilônia, da Índia, de algumas (não todas) escolas filosóficas da antiga Grécia e até da China.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44549

Existiram diferentes variações interpretativas do gnosticismo a respeito da natureza da matéria. O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 6, trata de uma vertente que acreditava que pelo Espírito ser puro e o Espírito está ligado a Cristo não importava mais o tipo de Conduta tido através de corpo:

12 "Tudo me é permitido", mas nem tudo convém. "Tudo me é permitido", mas eu não deixarei que nada domine.
13 "Os alimentos foram feitos para o estômago e o estômago para os alimentos", mas Deus destruirá ambos. O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo.
14 Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará.
15 Vocês não sabem que os seus corpos são membros de Cristo? Tomarei eu os membros de Cristo e os unirei a uma prostituta? De modo nenhum!
16 Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois, como está escrito: "Os dois serão uma só carne".
17 Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.
18 Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo.
19 Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos?
20 Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês.

Há uma pequena Introdução de estudo ao Livro de Colossenses na Bíblia de Estudo King James a respeito das heresias presentes na igreja de Colossos, uma igreja composta em parte por judeus e em parte por gregos e frígios, Onde se delineiam duas heresias principais (se não uma única, mista de ambas) com raízes tanto judaizantes (proveniente dos judeus) quanto gnósticas (proveniente dos gregos):

Colossenses

Circunstâncias da redação do livro
Autor: Colossenses pertence ao conjunto das cartas de Paulo em que o apóstolo se identifica como o autor (1:1; 4:18).
Os pais apostólicos defendiam a autoria paulina de Colossenses abertamente (Irineu, Contra Heresias, 3.14.1; Tertuliano, Descrição de Heresias, 7; Clemente de Alexandria, Stromateis, 1.1; cp. Justino, Diálogo, 85.2; 138.2).
Uma leitura minuciosa de Colossenses revela considerável número de semelhanças léxicas, gramaticais e teológicas com outros escritos de Paulo (1:9, 26; 2:11-14, 16, 20-21; 3:1, 3, 5-17). Além disso, sua ligação próxima com Filemom, carta amplamente considerada paulina, apoia a autenticidade de Colossenses como procedente da pena de Paulo.
Contexto Histórico: Durante seu ministério em Éfeso (At 19:10), Paulo enviou Epafras para espalhar o evangelho no vale do Lico. Epafras imediatamente fundou a igreja de Colossos (1:4:12-13). A população de Colossos era composta principalmente de frígios e gregos, mas também incluía um considerável número de judeus. Semelhantemente, a igreja era composta principalmente de gentios (1:21, 27; 2:13), mas também tinha membros judeus (2:11; 3:11). Quando Epafras (Fm 23) informou ao apóstolo de certas heresias que tinham se difundido em Colossos, Paulo escreveu a presente carta como um antídoto teológico.
Paulo escreveu Colossenses durante sua primeira prisão em Roma (4:3, 10, 18; cp. At 28:30-31; Eusébio, História da Igreja, 2.22.1), no início dos anos 60 d.C. Junto com Filemom, Filipenses e Efésios, Colossenses costuma ser classificada como "carta da prisão". Estas quatro cartas têm várias ligações pessoais em comum que comprovam esta conclusão (1:4:7-8, 17; Ef 6:21-22; Fm 23).
Mensagem e Propósito
Paulo escreveu esta carta para combater a "heresia colossense", que ele considerava uma afronta ao evangelho de Jesus Cristo. Esta falsa doutrina é identificada como uma "filosofia" (2:8), supostamente proveniente de tradições helenistas, como indica a referência a "segundo os rudimentos" (gr. stoicheia; 2:8, 20), "sabedoria" e "práticas ascéticas" (2:23). Além disso, a falsa doutrina também continha elementos judaicos, como circuncisão (2:11; 3:11), "tradição dos homens" (2:8), guarda do sábado, regras alimentares, participação em festas (2:16), "culto dos anjos" e "visões" (2:18), bem como rígidas normas vindas do homem, e não de Deus (2:21-23). 1972pp
Paulo atacou esta filosofia sincretista apresentando o entendimento correto do evangelho de Jesus Cristo e sua verdadeira influência na conduta cristã.
Embora o texto não indique claramente qual era a heresia, podemos observar várias características dela:
(1) Uma visão inferior de Cristo, combatida em 1:15-20. Esta passagem cristológica afirma que os hereges não consideravam Jesus totalmente divino ou talvez não aceitassem Jesus como única fonte de redenção.
(2) Os colossenses foram avisados para terem cuidado com as "filosofias" não fundamentadas em Cristo (2:8).
(3) Parece que a heresia em foco envolvia a observância de "tradições", circuncisão e várias leis sobre festas e restrições alimentares (2:8, 11, 16, 21; 3:11).
(4) Estes falsos mestres encorajavam a adoração de anjos e espíritos inferiores (2:8, 18).
(5) Eles promoviam o ascetismo, isto é, a privação ou tratamento severo do corpo, considerado "mal" (2:20-23).
(6) Por último, os falsos mestres diziam que tinham um discernimento especial (talvez revelações especiais), o que fazia deles a principal fonte de verdade (e não os apóstolos e as Escrituras) (2:18-19).
Há consenso entre os estudiosos sobre quem eram estes falsos mestres. Algumas das características acima citadas parecem judaicas, outras soam como ensinamentos gnósticos. Alguns veem aqui doutrinas de uma religião grega de mistérios.
Após a teologia dos capítulos 1 e 2, vêm as exortações a uma vida cristã nos capítulos 3 e 4. Os mandamentos "Mortificai" (3:5) e "mas agora, despojai-vos" (3:8) das coisas que atraem a ira de Deus (3:5-11) são equilibrados com o mandamento "Revesti-vos" (3:12) das coisas típicas do povo escolhido de Deus (3:12-17). Todavia, estas mudanças estão longe de serem superficiais, pois estão enraizadas na nova natureza cristã e na submissão ao senhorio de Cristo em todas as áreas da vida (3:9-10, 15-17).

BÍBLIA. Bíblia de Estudo King James. Edição revisada. Niterói-RJ: BVBOOKS Editora, 2018.

Se por um lado, havia vertentes gnósticas "liberais" no sentido de permitir uma licenciosidade (i)moral como conclusão de que o corpo não importa, por outro lado, Também havia um outro extremo mais ascético no gnosticismo mas tão exacerbado que era pregava a morte literal do corpo como libertação para o espírito:

O gnosticismo dos cátaros, na Idade Média do século 13, na Europa, ensinava o suicídio por abstenção de alimento até à morte e a mulheres grávidas abortarem, pois a matéria era má e isto impediria "novas almas" de nascerem neste "mundo mal" e o suicídio por auto-inanição destruiria este "corpo mau" que todos nós temos. As filosofias orientais e religiōes de matriz oriental, sempre tiveram dificuldade em lidar com a (exterioridade) e valorizam muito a interioridade e processos interiores. Consequentemente, sempre consideram o aspecto externo, ou, que seja, o mundo físico e material, como sendo algo diferente daquilo que ele realmente é ou como se nos apresenta, aplicando-lhe idealismos diversos.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44576

O gnosticismo negacionista do real em si, o qual no fundo bebe de antigas filosofias orientais, pode se expressar mistica ou religiosamente, filosoficamente e cientificamente (como ocorre nos dias atuais). Mistica e religiosamente como no exemplo dos yogues e anacoretas extremistas do hinduísmo e outros segmentos, os quais depauperam o corpo ao máximo da sua exaustão, perdendo todo contato com o mundo real e dele se alienando numa verdadeira obsessão pelo espiritual e transcendente.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44655

O gnosticismo é realmente o fundo comum de todo misticismo ocultista pagão da evolução, incluindo panteísmo, magia, etc.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44683

Há casos, inclusive, em que a Teoria Geral da Evolução seria gnosticismo: caso se visse na própria matéria e nos seres um potencial para evoluir em diferentes espécies (coisa que nem faz parte da TGE em si e nem da maneira teológica como algumas igrejas supōem que ela não contradiz a fé). Na teoria de Teilhard Chardim sim, haveria gnosticismo, visto que este afirmava que o potencial evolutivo faz parte da "própria matéria" e da natureza em si.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44701

Princípios Gerais do Gnosticismo no Espiritismo e Teoria da Evolução

☑ Conhecimento especial (gnose) leva à salvação

☑ Evolução espiritual através de reencarnações | Transformação gradual ao longo do tempo: O gnosticismo e o espiritismo acreditam no progresso espiritual através do conhecimento ou reencarnação, enquanto a teoria da evolução propõe uma progressão biológica através da seleção natural.

☑ Dualismo: Divisão entre espírito e matéria: Tanto o gnosticismo quanto o espiritismo acreditam em uma divisão fundamental entre dois reinos, enquanto a teoria da evolução reconhece a divisão entre espécies e o ambiente.

Como vimos, há variantes no Gnosticismo. Por exemplo: Acusar os sentidos como "origem do sofrimento" é um passo para o gnosticismo e heresia tanto para a igreja católica quanto para a maioria esmagadora dos ramos protestantes sendo heresia inclusive até mesmo no judaísmo!

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44920

Os gnósticos acreditavam que os sentidos e os apetites do corpo são maus em si pelo fato de serem compostos de matéria crendo que a matéria era uma criação de um Deus confuso e maligno que havia aprisionado os espíritos em formas materiais.

Já a filosofia cristã é chamada oficialmente de REALISMO, afirmando a realidade concreta da criação. A matéria não é "má" e nem o corpo humano é uma "prisão" do espírito. Corpo e alma são substancialmente unidos e uma pessoa não é completa sem um corpo e uma alma. O corpo também faz parte do nosso EU. O corpo não é apenas um "invólucro" ou "roupa" da alma, como dizem os kardecistas, mas elemento integrante da pessoa e personalidade humana. O ser humano só se desenvolve nos horizontes da corporeidade.
A filosofia cristã ensina que todo conhecimento da alma ou mente, começa pelos sentidos corpóreos e que nada há no intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos corporais. Considerar a matéria "má" e o corpo como sendo uma mera "casca" ou "casulo" do qual a alma precisaria se "libertar" não passa de GNOSTICISMO.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44548

PS4: "Escrevemos usando termos, proposições e argumentos, porque pensamos com base em conceitos, julgamentos e raciocínio. E fazemos isso porque a realidade sobre a qual pensamos consta de essências, fatos e causas. Os termos expressam conceitos, que expressam essências. As proposições expressam julgamentos, e estes expressam fatos. E os argumentos expressam o raciocínio, os quais, por sua vez, expressam causas, ou seja, perguntas e explanações reais." (KREEFT, Peter & TACELLI, Ronald K. Manual de defesa da fé, p. 23)

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/45831

Repetindo e DESTACANDO 1 Coríntios 6:19:

"Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos?"

Ou seja, no entendimento cristão, o princípio adequado a corporeidade não é "meu corpo, minhas regras" e sim "o CORPO DO CRISTÃO é santuário do Espírito Santo"!

Apreciem outro trecho esclarecedor do prof. Fedeli:
"O demônio disse a Eva: “O que Deus disse não é verdade”. “Deus mentiu”. “O SER MENTE”.
Essa é a grande blasfêmia. Essa foi a grande Mentira da qual o diabo foi pai.
Para realmente conhecer, o homem deveria renunciar, quer ao conhecimento dos sentidos, quer ao conhecimento intelectivo, por abstração. Adão deveria renunciar a inteligência. A serpente garantiu a Eva que, ela e Adão, tendo os olhos fisicamente abertos, não viam. Desobedecendo, seus olhos fisicamente abertos se abririam para um “conhecimento” superior. Para a Gnose.
Para realmente conhecer, eles deveriam renunciar a verdade que Deus lhes dissera. Deveriam renunciar a compreensão intelectual. Deveriam acreditar de olhos fechados, no diabo. Deviam abrir a boca e fechar os olhos e comer o fruto proibido que lhes permitiria ter uma visão superior, atingindo um conhecimento não racional, não intelectual. Para conhecer, eles deveriam renunciar aos sentidos exteriores, especialmente a vista, e renunciar ao intelecto.
O Ser mente, disse a serpente. E Adão e Eva creram nessa mentira, pretendendo ter um conhecimento absoluto, não racional.
O Ser absoluto mente, disse o diabo. Se assim fosse, então o Ser não seria verum, e nem bonum, e nem pulchrum. O SER por excelência seria falso, mau, feio.
Se o Ser necessário mente, todo ser criado mentiria também. Toda criatura não cantaria, mas haveria ou um caos ensurdecedor, ou o silêncio absoluto. O universo não cantaria a glória de Deus.
O Ser seria não-ser.
O Ser seria o Nada.
O Vazio metafísico.
Adão caiu na tentação do nihilismo.
O que é, não é.
Como ecos do diabo, a Gnose, a Cabala, Eckhart, Boheme, Kant, Hegel e Marx, Heidegger e Arte Moderna iriam dizer o mesmo.
O Ser não é. O Ser não é. O Ser não é.
Não há Ser. Não há Verdade. Não há Bem. Não há Beleza. Adore-se o Nada. A Mentira. O Pecado. O Feio.
Adore-se o Homem. Proclamem-se os seus Direitos. Adore-se a Razão, a prostituta louca. Adore-se o Diabo.
Tudo é mentira.
O que é não é. Os contrários se equivalem.
Nasceu a dialética.
Deus, o Mundo e o Eu seriam vazios absolutos. A razão enganaria o homem e os sentidos lhe dariam ilusões. Seria preciso furar os próprios olhos, como fez Édipo, para ver. Seria preciso ser louco, para compreender. Delirar, para perceber. Sonhar, para ver.
O que a serpente disse para Adão é que, se eles comessem o Fruto do Conhecimento, da Gnose, eles saberiam o Bem e o Mal. Saberiam que o Ser é não ser. Que o bem é o mal, e que o mal é o bem. Que a luz é treva. Que o doce é amargo. Que o belo é feio. Que a Idade Média foi ignorante, e que Modernidade é sábia porque recusa que a Verdade exista.
“Malditos sejais vós que ao mal chamais bem, e ao bem, mal; que tomais as trevas por luz, e a luz por trevas, que tendes o amargo por doce, e o doce por amargo (Is. V, 20)."

Fontes:

¹-https://t.me/FilosofiaEAfins/46671

²-https://t.me/ferrazdaniel/785

...Mas este pequeno estudo seria acusável de "desonestamente enviesado" caso não recorresse a própria teoria hermética do gnosticismo para justificar as acusações que faz. Portanto, analisemos o que diz o Corpus hermeticum dos defensores modernos do pensamento gnóstico (maçonaria inclusa):

"O Corpus hermeticum ensina que, uma vez no corpo, a alma se encontra presa no mais espesso e escuro dos tecidos, o carnal, que será sua prisão, da qual deve libertar-se:
«Porque a ignorância maldita inunda toda a terra e corrompe a alma (psyque) aprisionada no corpo. (…) Deves rasgar de um lado a outro a túnica que te cobre, o tecido da ignorância, o vestido urdido da corrupção, o cárcere tenebroso, a morte vivente, o cadáver sensível, o sepulcro que levas a todas as partes contigo, o ladrão que habita em tua casa (…) Tal é o inimigo que te pões por túnica (…) a fim de que não tenhas ouvidos para as coisas que necessitas ouvir, nem olhar para as que necessitas ver.»70
Neste belo, mas terrível fragmento descreve-se com crueza o estado em que se encontra nossa alma; não é o único, pois os ensinamentos iniciáticos e herméticos insistem sempre nisso, a fim de que o homem tome consciência de qual é seu verdadeiro estado, e se consagre a pedir e buscar sua liberação(p. 43).
PS1: O coração da doutrina hermética é o gnosticismo. Interessante esses estudos acadêmicos que envidam esforços em demonstrar que a origem da Ciência e do Renascimento também centraram-se nessa doutrina.
PS2: Li uma vez também que a própria ideologia de gênero é uma variante gnóstica.
PS3: assim como na Revolução Francesa o lema "liberdade, igualdade e fraternidade" tinha outro significado esotérico; também o que eles entendem por "alma e espírito" é diferente, uma sendo masculina (Adão) e outro feminino (Eva) habitando o mesmo corpo , p. 44. Ou seja, os termos vocabulares (exo)téricos usados são iguais, mas os significados (eso)téricos são distintos. Um problema de apreensão conceitual (essência, conceito), devido às ambiguidades dos termos já na primeira operação da mente.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/45831

Uma conjectura veio à mente, se os gnósticos achariam as matéria má, pelo fato também (não apenas) de que raciocinaram assim: se a matéria não é Deus, ela está fora Dele e se Ele é bom, então a matéria é má, ou seja, o que está dentro é bom, logo o que está fora é mau, associaram dentro com bom e fora com mau. Apesar de Deus ter afirmado que o que Ele cria é bom. O erro também de não distinguir entre não ser e existir, pois apesar de a matéria-prima não ser, ela existe (dentro de e em Deus), por isso é boa.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/44773

CONCLUSÃO

A visão cristã sobre matéria e corpo contrasta fortemente com as ideias gnósticas, que historicamente influenciaram a Igreja nos primeiros séculos. Enquanto o gnosticismo via a matéria e o corpo como malignos e ilusórios, a filosofia cristã afirma a bondade intrínseca da criação e a importância da união entre corpo e alma.

Rejeitar a visão gnóstica de que "o corpo é uma prisão do espírito" é crucial para manter uma compreensão fiel e saudável do cristianismo, que ensina que a salvação é um dom divino recebido por graça e não uma característica nem natural, nem inata, nem meritória, nem (i)material da humanidade.

O gnosticismo, manifestado historicamente em práticas extremistas como o suicídio por auto-inanição e o aborto, e suas raízes em filosofias orientais que desprezam o mundo físico, contrasta com a filosofia cristã que reafirma a bondade da criação e a importância da corporeidade. A filosofia cristã, através do realismo, sustenta que o corpo e a matéria são parte integral da experiência humana e da relação com o divino, rejeitando a ideia de que o corpo é uma prisão para o espírito. Assim, enquanto o gnosticismo promove a negação do mundo material, o cristianismo afirma a realidade concreta da criação e a união essencial entre corpo e alma.

A mesma fonte da queda do homem pode ser identificada como a fonte do niilismo, do surgimento da Gnose, do relativismo moral e do culto ao homem. Essa mentira obscureceu a verdade de Deus e levou à distorção da percepção humana, resultando em uma visão de mundo desconectada da realidade e desprovida de significado absoluto. A alma humana não está aprisionada no corpo material mas sim em uma perversão majoritariamente da vontade chamada "pecado" e deve se libertar dela em Cristo para alcançar a verdadeira libertação.

"(...) Tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder. Afaste-se também destes. São estes os que se introduzem pelas casas e conquistam mulherzinhas sobrecarregadas de pecados, as quais se deixam levar por toda espécie de desejos. Elas estão sempre aprendendo, mas não conseguem nunca de chegar ao conhecimento da verdade. Como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, esses também resistem à verdade. A mente deles é depravada; são reprovados na fé. 9 Não irão longe, porém; como no caso daqueles, a sua insensatez se tornará evidente a todos."

2 Timóteo 3:5-7