December 3, 2020

#6 - o lager dos episódios

Olá amigos, tudo bem? Esse é o sexto episódio do Podlex.

Um episódio mais difícil, que teve uma maturação um pouco mais demorada. Diria que esse episódio é a lager dos episódios. Se você ai é um daqueles ligados em processos envolvendo cervejas artesanais, você provavelmente deve saber do que eu estou falando. Se você não é, ufa! Basta entender que esse episódio demorou muito pra ser gravado.

Não que eu tenha uma agenda regular de produção de podcast mas esse episódio, em específico, demorou muito pra ser gravado. Eu não sei porque, acho que porque eu gostei muito do episódio passado e na minha cabeça formou tipo um "podium" que agora o próximo episódio tinha que ser melhor que o anterior e ai - quem diria - eu me estabeleci um belo bloqueio criativo por conta de expectativas altas.

Muita coisa aconteceu no intervalo entre o episódio #5 e esse.

Eu conheci um app chamado Notion e comecei a registrar as ideias para o podlex nele ao invés de anotar no Keep, como eu vinha fazendo. Eu mostrei meu podcast pra Bia do Eu tive um sonho que gostou e recomendou o Podlex para os seus lindos seguidores no twitter e no podcast dela. Aliás, vai lá escutar.

Eu conheci o podcast do Teatro Oficina e, se você não conhece, eu acho que devia ser obrigatório. Vai lá ouvir. Eu assisti alguns filmes, isso quer dizer que tô numa tentativa de recuperar meu ritmo cinéfilo pra assistir filmes. Por conta disso, eu revi Boogie Nights e desenvolvi uma queda (ou como os jovens chamam hoje "Crush") pela Julianne Moore... e no Matt Damon que contracena com ela. Só que depois eu descobri que na realidade aquele não era o Matt Damon, mas era o Mark Wahlberg.

Mas por falar em bloqueio criativo, esses dias apareceu pra mim um vídeo no youtube sobre um texto do Bukowski, que é bem relacionado à isso, que me despertou muita preguiça quando escutei.

Basicamente o que ele diz é que se a inspiração não vem até você de uma maneira raivosa, poderosa, daquelas que te fazem parar tudo o que você tiver fazendo pra ir escrever (ou compor, pintar etc) é melhor você não fazer. Que se você tiver que ficar pensando muito sobre, debruçado sobre o caderno, maquina de escrever (ou qual for a sua ferramenta de criação) é melhor você não fazer. Que se você quer fazer pra ganhar dinheiro ou ter fama então é melhor não fazer.

Por mais que pode até ser válido o lance do fazer SÓ pra ganhar dinheiro ou fama, porque ai funciona como uma crítica à cultura descartável e tal, eu não quero entrar nesse âmbito aqui. O que é mais perigoso é o "não fazer se for muito trabalho".

O problema desse texto, quando ele trata a inspiração desse jeito, é que justamente romantiza o que é "inspiração". Aquela cena, sabe? Do escritor sentado com um monte de papel amassado em volta, frustrado, meio puto, deprimido porque não consegue ter nenhuma ideia boa. Ele diz que se você não senta e escreve 100 páginas de uma vez, então você não é um artista de verdade.

E eu estou batendo nisso porque eu já fiz muito isso. Eu me achava muito escritor quando não escrevia nada porque eu "sabia que tinha uma puta ideia que um dia ia vir". Eu ficava lá, olhando a tela do computador ou o papel na máquina de escrever (porque sim, eu sou esse hipster, como dizem) sem fazer nenhum esforço só "esperando a inspiração vir".

É claro que tem casos que a inspiração vem mesmo, mas esse não é o fator definitivo do feitio de arte - E eu preciso frisar aqui que eu não estou falando do que classifica uma arte boa ou ruim, mas só me enveredando pelo fazer dela.

Tem essa galera que escreve sobre o processo criativo, tipo o Robert Mckee que escreveu aquele Story que eles dizem que "o profissional sabe o segredo que quem quer ser profissional não sabe. Que o mais difícil não é escrever, é parar pra escrever". Esse conceito pode ser perigoso porque ele pode cair no papo semi-meritocrático de que "é só esforçar". Todo mundo sabe que não é "só se esforçar". Mas aqui em se tratando de criação tem esse detalhe muito interessante do "começar fazer". Querendo dizer que o processo criativo é mais ativo do que passivo, se você não começar de algum jeito, ele nunca vai começar por si (salvo as exceções que já falei).

Tudo isso pra dizer que tá ai, fiquei adiando gravar um episódio novo porque não tinha nenhuma ideia do que falar, mas depois de ler a respeito resolvi vir aqui tentar alguma coisa pra ver se botava as engrenagens pra rodar. Então, se você tiver escutando esse episódio, quer dizer que até que funcionou! Se não... Bom, se não ouvir não precisa ter nenhum recado.


Anda sendo difícil ficar de quarentena em Ribeirão Preto. Digo isso porque, além de um inverno onde faz trinta graus no meio da tarde e a gente não pode colocar nem uma calça de tactel senão já abafa, essa é a época do ano que todos os malditos usineiros dessa cidade resolvem colaborar com todas as doenças respiratórias botando fogo na plantação de cana que fica em volta da cidade.

Eu queria não falar de quarentena em todo episódio. Queria que esse programa fosse uma válvula de escape do status quo da quarentena. Mas ao mesmo tempo eu vejo que não tem como escapar de falar de quarentena, uma vez que o que começou o podcast mesmo foi a quarentena.

Claro, o piloto foi aquele gravado no carro - fica aqui a valorização do duplo sentido bem utilizado pelo meu "eu argumentista". Mas mesmo o primeiro episódio sendo o do carro, antes da pandemia, ele era um piloto! Um piloto, do inglês "pilot" é sempre o primeiro episódio de uma série televisiva.

"Ah, mas porque esse nome?"

Ninguém sabe! Na verdade, existem pelo menos três "mitos" (usando uma interpretação bem solta da palavra "mito") do porque o primeiro episódio de uma série é o "Piloto".

O primeiro deles é o óbvio: A palavra faz alusão a "guiar", no sentido que o primeiro episódio é aquele que vai estipular todo o "caminho" da série. O segundo é que esse termo é aplicado desde 1920 no sentido de "servir como um protótipo” tipo em “programa piloto", que quer dizer que é uma tecnologia emergente. O terceiro mito é de que esse termo deriva de "chama-piloto", ou seja, é a primeira faísca de algo que vai, aos poucos, se tornando maior.

Mas é tudo mistério, porque o Audiovisual mesmo é um mistério. A grande graça do audiovisual é o mistério que envolve o processo.

Obviamente eu estou falando isso para as pessoas que não trabalham no audiovisual. Se eu vir algum comentário de gente estragando minha piada eu vou ficar bem bolado hein?

Ninguém sabe muito bem como é o feitio do cinema, por exemplo. Eu lembro de um tweet antológico dum cara que dizia

"Um filme tem em média duas horas de duração. Como que os cara demora MESES pra gravar duas horas??? É muito incompetência, só pode."

e ai ele respondia no próprio tweet - vamos lembrar que esse tweet é de antes de existir a ferramenta "thread", ou seja, o cara era um visionário, um pioneiro.

"Filme de duas horas se os cara demorar mais de um dia pra gravar sinceramente é muita vagabundagem"

Obviamente uma piada, mas ela ilustra como o ser-humano comum, aquele que tem preocupações reais, entende o audiovisual.

Maria Clara: "Mas audiovisual não é só cinema."

Boa. Bem lembrado, Maria Clara.


Lembra quando eu comentei que comecei a assistir TV de um jeito analógico?

Pois bem, agora resolvi levar a coisa pro próximo nível. Ultimamente anda muito calor aqui em Ribeirão (que novidade, né?) e se tem uma coisa que me tira o sono quase que instantaneamente é o calor. Por conta disso eu preciso constantemente renovar minhas estratégias pra pegar no sono. Aparentemente, estar cansado o suficiente não é mais o bastante quando se chega perto dos 30.

Enfim, eu estou arrumando jeitos novos de pegar no sono. O último que eu descobri foi o de assistir TV sem se preocupar com ela.

É assim: O negócio é só assistir TV. Assistir TV como se não houvesse amanhã, como se não houvesse conta de eletricidade, história da serie que vai ficar cheia de buracos pra você porque você dormiu num ponto essencial da trama. Nada disso. O negócio é deixar a série de levar até aquele momento que você começa a pescar de sono. É aqui que tá o truque. O negócio é continuar assistindo mesmo depois de alcançar esse ponto, porque o que vai acontecer é que você vai acabar pegando no sono.

Super bem bolado né?

O negócio é que a televisão, apesar de ser tela e todos os neurologistas recomendarem que você não tenha contato com tela por, pelo menos, 30min antes de dormir, mais importante, o que tá passando na televisão vai fazer você ficar naquela inércia mental que é super importante pra pegar no sono. Você não vai deitar e ficar pensando, raciocinando e tal, somente vendo as "luzes bonitas" na tv. Inclusive é válido ressaltar que a série ou filme... Ou o que quer que seja que você for assistir, deve ter uma trama bem leve, bem de boa.

Você não vai querer pegar no sono assistindo Dark, por exemplo.

O negócio é uma série que vai te levar na história, mas ao mesmo tempo não vai exigir muito de você porque ai vai acontecer que nem numa aula que você não gostava muito. Como não era um negócio muito envolvente, você não se engajava, não tinha uma troca de informação. Você só acompanhava a cadência da fala do professor e ai, essa fala funcionava como uma canção de ninar pra uma cabeça que já estava na inércia, tranquila.

Com a TV é a mesma coisa.

De qualquer forma, eu elevei o nível de assistir TV de maneira analógica e constantemente eu tenho me deparado com aquele sustinho de quando estou quase dormindo e acontece algum barulho agudo na tv. Eu sei, eu sei. Não é um plano infalível! Tem umas falhas que eu pretendo aperfeiçoar com a prática. Mas é engraçado como que esse susto me traz uma nostalgia enorme.

Eu me lembro de quando era garoto e dormia na casa de algum parente, avó, tios, primos enfim. Sempre tinha aquela festinha que seus pais queriam ficar mais e você não e daí você dormia na sala enquanto algum outro tio que também queria ir embora assistia TV pra passar o tempo e esperar a esposa decidir querer ir também.

E eu lembro de estar muito bravo porque queria ir embora e não conseguia e de deitar no sofá pra esperar meus pais e, obviamente, começava a ficar sonolento. Ai quando estava quase dormindo, já meio inconsciente e rolava um barulho eu acordava meio animado, pensando que era alguém me acordando pra ir embora, porque no estado que eu estava não dava pra distinguir que era um barulho, só dava pra assimilar que "alguma coisa" tinha me acordado.

E eu lembro de acordar com essa esperança de "finalmente vou embora" só pra descobrir que era o William Waack avisando que o jornal da Globo estava começando. E ai retomava a coreografia só que um pouco mais irritado.

Então, esse jeito analógico de dormir, toda vez que eu acordo com alguma claque, algum barulho mais alto - já que a TV tá bem baixa né? - eu imediatamente sou assolado por essa mesma sensação. E é engraçado porque, na real, eu tô só em casa pegando no sono.

Talvez seja meu inconsciente querendo ir embora desse 2020 ou do Brasil de Jair.


"Vampetaço."

Eu não sei se eu tô muito atrasado nesse assunto, mas eu deixei aqui anotado e a anotação lê o seguinte

"Vampetaço! Por favor, fale do vampetaço"

Eu confesso que quando anotei isso no bloquinho de notas eu nem sabia o que era o Vampetaço, nem quem estava envolvido. Eu estava acabando a hora do almoço, voltando pra uma reunião (e por "reunião" você pode ler "Chamada de vídeo pelo google meet") e ai estava dando aquela última olhada no twitter e li um tweet que alguém que eu sigo tinha curtido.

Eu não li o tweet todo, mas a palavra "vampetaço" pulou pra mim porque eu achei muito engraçada.

Tem duas coisas sobre o Vampeta que sempre vem na minha cabeça quando alguém fala dele- E aliás, quando que alguém fala do Vampeta? São elas:

  • a cambalhota que ele deu no palácio do planalto na frente do FHC depois do Brasil ter conseguido o penta.
  • o próprio significado de Vampeta, pelo que me foi dito. E quem me disse foi o Paulo Bonfá em uma introdução do Rockgol de Domingo, quando ele apresentava a mesa e disse o seguinte sobre o rapaz Marcos André Batista do Santos
"Ele que tem o charme do vampiro com a beleza do capeta: Vampeta!"

E é isso. Essas são as passagens de Vampeta na sitcom de dramédia que é a minha vida.

Mas ai quando ele "ressurgiu" no twitter naquela fatídica semana foi uma coisa muito surreal e depois de pesquisar sobre o que se tratava o tal "Vampetaço" cheguei à conclusão de que era mesmo surreal!

Quer dizer, olha só: Combater um neonazi com fotos do Vampeta pelado é a coisa mais genial do mundo! E ao mesmo tempo parece uma trama de um personagem secundário de um filme do David Lynch.

Sabe aquele lenhador "Gotta light" - Se o Lynch fosse um cara padrão da indústria de televisão e aderisse ao conceito de "spin-off" com certeza esse seria o tipo de confronto que o "Gotta light" sofreria ao tentar intimidar uma galera de um posto de gasolina mais atitude.

Você tá pensando o que, amigo? Brasileiro é um sujeito que consegue mudar fonte do nome do twitter.

Sério, como vocês fazem isso?