Filosofia
October 20, 2022

A Mente (NÃO É) Física

"O corpo fala do que está cheia a mente."

ÍNDICE:

INTRODUÇÃO

  1. DÚVIDAS FILOSÓFICAS SOBRE A NATUREZA DA MENTE
  2. AFORISMOS DE METAFÍSICA & SUPER-HERÓIS
  3. O TODO É MAIOR QUE A SOMA DAS PARTES
  4. A PREMISSA OCULTA DAS CIÊNCIAS COGNITIVAS
  5. O MISTÉRIO DA IMAGINAÇÃO
  6. A QUESTÃO DA PSICOLOGIA

Referências

INTRODUÇÃO

"Comigo a dúvida horrível sempre surge se as convicções da mente do homem, as quais têm sido desenvolvidas da mente de animais inferiores, são de qualquer valor ou dignas de confiança. Poderia qualquer um confiar nas convicções da mente de um macaco, se houvesse qualquer convicção em tal mente?"

📜Carta a William Graham (Down, 3 de Julho, 1881), em The Life and Letters of Charles Darwin, ed. Francis Darwin (London: John Murray, 1887), Volume 1, pp. 315-16.

Baseado no argumento do próprio Charles Darwin, não creio que a mente possa ter evoluído para além da potência que já existia nela mesma de crescer e se tornar o que é: uma mente cuja estrutura é destinada, por design e não acaso, a ser um ser consciente.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/33862

Um dos motivos da teoria da materialidade da mente estar ganhando espaço é o surgimento das inteligências artificiais e algoritmos até certo ponto "quantificadores de emoções" usados nas redes sociais. Ainda assim, penso eu que "o buraco seja mais embaixo..."

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/33864

Eu comparo a mente a um software programado para funcionar em determinadas condições de hardware (corpo, saúde, hereditariedade) e input de dados (ambiente e circunstâncias). Então veja: existem problemas de "hardware" que podem dificultar que o "software" funcione perfeitamente, o "software" também pode conter bugs, vírus ou o usuário pode estar tentando executar uma "operação ilegal" no software, aí dá "tela azul" e tudo fecha.
Nem a mente nos controla nem nós controlamos a mente, tem muito mais coisa envolvida...
A existência dos paradoxos, por exemplo, me parece estar em pé de igualdade ao debate metafísico se a matemática está apenas na mente humana ou se faz parte da essência da realidade desde a eternidade (um bônus para quem sabe pouco de Metafísica: esta questão só faz sentido fora da posição monista e variantes). O que nos leva à questão não de "como" mas de "por que" a matéria é capaz de carregar informação se a informação não se qualifica como matéria? Dito de outro modo (e explicando porque há alguns dias atrás repliquei que a "linguagem não é algo científico" nem mesmo seria um fenômeno científico): existe linguagem na música, entre impulsos elétricos, entre pessoas, etc... mas o que diabos é a linguagem? Como diabos poderia o sentido surgir da ausência de sentido ou a inteligência surgir da não-inteligência?

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/33865

...Acho que não faz sentido cobrar correspondência entre objetos e razão subjetiva por que a razão não é subjetiva. Ela, de fato, corresponde parcialmente em algum grau elevado com a realidade, do contrário o conhecimento seria impossível da mesma forma que não existe comunicação sem que se estabeleça a relação entre significado, significante e objeto. Lidar com a realidade não é o campo da consciência, é o campo da inteligência; eis aí o motivo de mesmo animais e inteligências artificiais conseguiram lidar com dados: há algum tipo de inteligência objetiva neles. E isto, creio eu, nos aponta para a existência dos "universais":

"Qualia" em Filosofia da Mente = "Ideias Puras" em Platão = "Universais" em Aristóteles. Só mais um neologismo pra explicar coisa antiga na Filosofia.

Em Psicologia a gente caracteriza todas as relações entre seres como relações "sujeito" e "objeto". Em outras palavras: o "outro" pro "sujeito" sempre é "objeto" podendo (ou não) ser também encarado pelo "sujeito inicial" como "outro sujeito". Mas aí é de bugar a cabeça porque vai entrar em assuntos delicados como mecanismo narcísico, auto-referência, projeção e teoria da mente, tudo ao mesmo tempo.

Se os gregos observavam  proporções matemáticas em estruturas da realidade, o que levou os modernos a acreditar que essas estruturas estão só na mente a ponto de alegar que nós "apenas vemos padrões onde não estão"? Como chegaríamos a discernir padrões se eles de fato não estivessem no mundo real sendo que nos desenvolvemos a partir do real de modo a perceber estes padrões justamente porque é nesse ajuste que vivemos?

Obs.: Este argumento serve tanto para quem crê na "Divina Criação" quanto para aqueles que preferem o conceito de "Seleção Natural".

As representações da mente são representações de algo que existe de fato! A interação entre a mente e o objeto é que produz o fenômeno. Isso não deveria ser um argumento epistemológico para invalidar o conhecimento da realidade (na verdade, ele pressupõe a realidade externa à mente e que o conhecimento da mente vem desse contato; portanto, prova a realidade externa e a capacidade da mente de conhecê-la mesmo quando o argumento é usado para negar a possibilidade do conhecimento da realidade externa pela mente). Isto é inegável.

"O problema da linguagem é ela estar totalmente falseada, estamos em um teatro, onde a linguagem é a ferramenta principal. Parte desse teatro é acreditar que existe a inteligência artificial. É o que o Lewis previu no seu livro Abolição do Homem, 'o homem buscou tanto o domínio da natureza que terminará sendo dominado por ela'. Crer que a nossa inteligência (inteligência humana, que para mim é a única que existe), possa ser criada, é uma queda brutal no senso geral da humanidade de auto consciência. Só que aí é vai o paradoxo, essa crença da mente orgânica que controla tudo e ao mesmo tempo é determinada pelo orgânico... É tão limitante, que pode responder a tudo, é como se fosse criado um círculo de existência que contém todas as respostas... Em último instância é o homem voltando a religião (no sentido mais baixo possível), onde todas as perguntas, tem respostas fáceis que nos entorpecem e aliviam momentâneamente as nossas dores.... Seria a 'mente' como o novo Deus?"

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/33866

E já que, a princípio, mencionei paradoxos, até mesmo entender bem o que são paradoxos vai depender de qual postura metafísica vamos adotar com relação à Matemática: se a matemática "está em nós e não no mundo" então é só uma curiosidade lógica que implica limites epistemológicos da mente humana; se, todavia, a Matemática for "eterna", o significado se torna bem mais profundo e vai envolver a própria estrutura da realidade.

Usemos como exemplo um conceito caro ao pai da Psicanálise: Freud, ao falar do "Inconsciente", é passível de várias críticas, afinal, como você pode falar conscientemente sobre uma parte de sua mente fora da consciência? Onde isto se encaixa no entendimento da realidade? Afinal, parece carecer de lógica. É esquisito!

Creio que devemos abordar o problema da mente assim como a real ciência aborda seus tópicos de estudo: todo estudo é um recorte! A mente não suporta todo o esquema da realidade. Aquilo que não está na consciência estaria aonde? Ainda usando o exemplo de Freud: não seria mais justo, ao invés de criar a ideia de uma instância auto-contraditória e não-verificável como o "Inconsciente", apenas descrever que a consciência consegue lidar apenas com um número limitado de assuntos de cada vez mas toda sua experiência (interna e externa) está SIM contida nela mesma (sob a forma de memórias)?

Ainda abordando o problema da mente, no tocante à individualidade, esta seria derivado das memórias e das experiências ou seria algo mais "intangível" que isso? Eu, por exemplo, não acho que exista um "eu natural": O "eu" não é natural, é transcendente.
O problema com a ideia de "eu" é que temos uma noção de continuidade interna constante muito embora corpo, mente, ações, reações e contexto mudem o tempo todo... Então, como assim a gente tem uma noção de "eu"? Isso não pode ser natural! Supondo ainda que, também em sua mente, todo homem seja "único" não apenas em sentido material (pois dois corpos macroscópicos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo - se é que a Física atual ainda admite este axioma...) deveríamos também admitir então que "todo homem é uma ilha em sua mente".

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/33861

Iniciar o estudo da mente a partir de uma perspectiva meramente materialista me parece erigir "a mente como um novo deus". E é aí que encontro uma premissa desagradável nas Psicologias:

Dizer que os sentimentos, emoções e pensamentos que nos dirigem são somente físicos equivale a dizer que a matéria cria a mente ou, em outras palavras, que é o motor que dirige o motorista.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/33867

Uma investigação filosófica da mente inclui perguntar algumas questões bastante difíceis que não foram, de maneira alguma. resolvidas até o presente momento.

1. DÚVIDAS FILOSÓFICAS SOBRE A NATUREZA DA MENTE

  1. Quais os principais argumentos filosóficos para dizer que a mente É FÍSICA?
  2. Quais os principais argumentos filosóficos para dizer que a mente NÃO É FÍSICA?
  3. Se a mente for física, como pode ser que possua propriedades não-físicas como, por exemplo, imaginação e metalinguagem, coisas que ou não tem derivação e nem procedência no mundo físico ou não são oriundas da experiência empírica? Afinal, é possível pensar em coisas que não se deveria conseguir pensar, por exemplo: Deus, o nada, infinitude, etc.  🤷🏻‍♂
  4. Seria possível ser concebida uma idéia tão clara que não se possa, do ponto de vista psicológico, afastar ou rejeitar, e tão distinta que não a possa confundir com nenhuma outra, mas que, apesar de tudo, seja uma idéia falsa?

Vide:

@FilosofiaEAfins

2. AFORISMOS DE METAFÍSICA & SUPER-HERÓIS

A literatura de ficção e a imaginação ajudam a compreender alguns tópicos a respeito da natureza da mente como algo imaterial. Para isso devemos iniciar análise assumindo alguns axiomas metafísicos sob a forma de aforismos gradativos:

  1. A matéria pode existir sem a mente (Realismo).
  2. A mente, ao que parece, precisa da matéria para existir (Aristotelismo).
  3. As leis da Física se aplicam a corpos formados por muitas partes, ou seja, "substâncias compostas".
  4. O Materialismo alega que a "matéria criou a mente".
  5. A mente consegue imaginar coisas impossíveis para a matéria fazer (pois a matéria não é "substância simples").*
  6. Um ser formado de "substância simples" não se subdivide em partes, logo também não estaria sujeito às leis da Física (Tomismo).


Conclusão: A matéria não pode ter criado a mente!

"-Sim, e daí?", alguém poderia perguntar. Neste ponto, basta você lembrar de qualquer revista em quadrinhos de super-heróis ou mesmo mitos antigos de personagens com poderes sobrehumanos nas religiões, literatura ou cinema: Os poderes mitológicos dos deuses ou dos super-heróis das revistas em quadrinhos só poderia ser explicado se estes fossem formados de "substância simples".

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/28417

Ao contrário de corpos compostos de várias partes, existe um conceito na filosofia tomista chamado "substância simples" (que é designado a Deus) descrito como "algo formato de uma única substância não composta de partes". Agora usemos este conceito aplicado, por exemplo, à "física dos super-heróis" ou seres mitológicos:

O que explicaria o fato de podermos imaginar o Flash correndo à velocidade da luz em um momento e parando com uma leve lufada de vento no segundo sem que seus órgãos fossem arremessados para fora de seu corpo devido à inércia, ou que o Hulk e o Coisa sejam capazes de erguer prédios sem que o peso dos prédios colapsasse o chão em que pisam enterrando-os pelo excesso de peso concentrado num único ponto, ou a capacidade de Kittie Pryde de tornar todo o corpo intangível embora ossos e músculos tenham densidades diferentes, ou ainda a capacidade do Superman de fazer um filho de caráter duvidoso na Lois Lane sem tê-la partido em pedaços com sua super-força pélvica no processo?

Estes são só alguns dos exemplos de como os poderes dos super-heróis seriam impossíveis segundo uma física em que os corpos materiais são compostos de muitas e distintas partes mas que não acometeriam "corpos" (com o perdão da catacrese) que fossem feitos de uma única e mesma substância sem partes, tal qual um análogo boneco de borracha que seu filho não se preocupa em arremessar com força ou tentar esmagar pois sempre torna a ser o que era e não tem peças internas delicadas que pudessem se desfazer com o impacto. É nesse ponto que deveríamos começar a investigar a imaginação como a base não-física, o motor de improbabilidades sobre a qual o resto da mente se desenvolve.


3. O TODO É MAIOR QUE A SOMA DAS PARTES

Uma frase que uso de modo recorrente é:

"O todo é maior do que a soma das partes."

Entretanto, recentemente li um texto que destacava a dada frase da seguinte forma:

"Dizer que 'O todo é maior do que a simples soma das partes' ou que 'O todo é mais do que a soma das partes' pode levar a um entendimento equivocado. Podemos achar que UMA PEÇA a mais surge no mundo, ou que a natureza das coisas não é redutível aos seus componentes materiais (e o fator emergente pode parecer algo abstrato, como força ou inteligência)."

Fonte: http://telegra.ph/O-que-significa-O-todo-é-maior-do-que-a-soma-das-partes-não-é-o-que-você-pensa-provavelmente-03-10

O que questiono é o seguinte:

Acreditar que os fenômenos do mundo são sempre redutíveis aos seus elementos materiais já é por si só uma visão metafísica: um atomismo aceito como "petição de princípio". Por que diabos o sobre "o surgimento de uma peça abstrata a mais" no escopo do conhecimento seria "um equívoco" mas a supressão do elemento inteligível necessário e que dá sentido ao todo (e às partes) não seria?

Mas, ainda que fosse demonstrado como auto-evidente (ou por outras vias) que "o surgimento de uma peça abstrata a mais no escopo do conhecimento seria um equívoco", se o pensamento é de fato matéria, como se supõe, então por que "observar o todo e observar as partes são processos fenomenológicos diferentes"? Isso por si só não demonstra que existe de fato uma "causa final" (no sentido aristotélico) em todas as coisas?

Por que tanta recusa (ou seria medo?) de que existam "causas finais"?

A que(m) serve a tentativa de reduzir tudo a explicações materialistas no pensamento contemporâneo?


4. A PREMISSA OCULTA DAS CIÊNCIAS COGNITIVAS

Existe uma premissa oculta nas ciências cognitivas, por exemplo, de que a mente seja, em grande parte ou mesmo completamente, material. Não tenho problemas com esta premissa, não faz sentido cobrar correspondência entre objetos e razão subjetiva porque a razão não é subjetiva de fato. Tudo que sabemos sobre a mente até aqui é que os processos mentais são análogos aos computacionais, que perder partes do cérebro faz perder partes da mente (ou das capacidades mentais), que a mente tal qual conhecemos precisa de um cérebro pra funcionar... ou de um hardware! Daí é natural derivar como conclusão que o pensamento corresponde, parcialmente, em algum grau elevado com a realidade sendo imediatamente física e mediada por elementos físicos.

Fonte: https://t.me/jeanpsicologia/872?single

Se a mente não for ao menos parcialmente física o conhecimento do mundo físico seria impossível da mesma forma que não existe comunicação sem que se estabeleça a relação entre significado, significante e objeto. Eis aí o motivo de mesmo animais e inteligências artificiais conseguiram lidar com dados: há algum tipo de inteligência objetiva neles.

Fonte: https://t.me/FilosofiaEAfins/22606

Não tenho nenhum problema com reducionismos científicos, contanto que se reconheça que são reducionismos localmente utilizados para interpretar fenômenos especificamente delimitados pela matéria e não o todo da realidade.

Exemplo: Já reparou que existe uma tendência em dar saltos místicos ou filosóficos a partir de teorias científicas?

Um trecho honesto de VICTOR J. STENGER traduzido sem tentar dar saltos místicos ou filosóficos a partir da Física de partículas, mas o argumento serve para qualquer neófito materialista que resolveu transformar a ciência em sua religião e modelo metafísico como alerta:

"A mecânica quântica, a peça central da física moderna, é mal-interpretada como se implicasse que a mente humana controla a realidade e que o universo é um todo conectado que não pode ser entendido pela mera redução às partes. Entretanto, nenhum argumento ou indício decisivo requer que a mecânica quântica tenha uma papel central na consciência humana ou que forneça conexões holísticas instantâneas através do universo. A física moderna, incluindo a mecânica quântica, permanece completamente materialista e reducionista na medida em que é consistente com todas as observações científicas."

Fonte: https://telegra.ph/Charlatanismo-Quântico-04-15

O que Stenger esqueceu de mencionar é que esse tipo de salto também é dado, no sentido inverso, pela própria ciência ao reduzir todos os aspectos da mente à matéria mesmo quando a mente realiza operações que deveriam ser impossíveis!

O problema, me parece, estar no fato de que diversas vezes a ciência tenta responder às perguntas de "o quê" e "por que as coisas são como são" com afirmações e teorias sobre "como as coisas funcionam" como se todas fossem a mesma pergunta, quando na verdade, não são.

Entender esta diferença é fundamental e é facilmente notado num diálogo do filme Ex-Machina sobre Inteligências Artificiais:

Cena do filme "Ex Machina

5. O MISTÉRIO DA IMAGINAÇÃO

Mas, se a mente for de fato totalmente material, o que é a imaginação? Essa faculdade estranha que compõem coisas impossíveis e que deveriam ser impensáveis por serem composições de coisas experiencialmente contraditórias. Não deveríamos ser capazes de pensar coisas superlativas, impossíveis, sem referente, ilógicas e até falsas... mas pensamos! De fato, não vivemos sem elas: desde o sentido da vida, o motivo pelo qual nem todo mundo se mata, até coisas tão breves e efêmeras como nosso entretenimento são povoadas deste estranho "motor de improbabilidades".

Para quem diz que "a mente não é algo abstrato existente em uma terra de imaterialidade", que "a mente está totalmente em um cérebro (ou HD)", que "o cérebro é afetado por um monte de coisas (de elementos físicos e químicos a condições biológicas, históricas e sociais)", resta explicar como diabos a imaginação pode existir compondo tantas coisas absurdas e (supostamente) impossíveis toda vez que se dê ao trabalho de usá-la.

Steven Pinker, contraditoriamente afirma:

"(...) raciocínio, inteligência, imaginação e criatividade são formas de processamento e informação, um processo físico bem compreendido."
Porém:
"(...) nada disso implica que o cérebro funciona como um computador digital, que a inteligência artificial um dia duplicará a mente humana ou que os computadores são conscientes no sentido de ter experiência subjetiva em primeira pessoa."

Fonte: https://telegra.ph/Como-a-mente-pode-ser-f%C3%ADsica--Teoria-Computacional-da-Mente-04-16


Só faltou a Pinker descrever o que ele chama de "imaginação", afinal como saber se máquinas podem imaginar coisas impossíveis assim como as pessoas? Ora, ou "raciocínio, inteligência, imaginação e criatividade são formas de processamento e informação, um processo físico bem compreendido" ou "nada disso implica que o cérebro funciona como um computador digital, que a inteligência artificial um dia duplicará a mente humana ou que os computadores são conscientes no sentido de ter experiência subjetiva em primeira pessoa." As duas afirmações no mesmo parágrafo se contradizem sob a forma do que chamamos em Lógica de "contradição formal", portanto: uma das duas afirmações deve ser obrigatoriamente falsa!


6. A QUESTÃO DA PSICOLOGIA

Mario Bunge, físico e filósofo da ciência, em seu livro "Evaluating Philosophies", entre algumas coisas interessantes, mistura suas falas com a cota comum de besteiras que é natural que pessoas inteligentes falem:

“Desde o seu nascimento, a Psicologia vem explicando os fatos mentais de várias maneiras. A explicação mais simples de tais fatos envolve apenas outros fatos mentais, como quando dizemos que ela fez isso porque acreditava que era do seu próprio interesse (…). Mas tal descrição não explica nada, porque não envolve qualquer mecanismo transformando crença em ação. De fato, explicar um fato é desvelar o mecanismo subjacente.
(...)
Como passar da descrição à explicação em Psicologia? Tal transição pode ser realizada substituindo a mente imaterial pelo cérebro, porque isso é o órgão da mente, e porque os mecanismos existem apenas em sistemas materiais.”


O problema maior da fala de Bunge é que existem mecanismos imateriais: algoritmos são mecanismos imateriais, a matemática inteira é um mecanismo imaterial, softwares são mecanismos imateriais! "Algoritmos de compressão”, como diria Daniel Dennet.

A diferença entre "descrição" e "explicação" é largamente discutida em Filosofia.

Nas palavras de Thiago Azevedo, Psicólogo e Mestrando em Psicologia:

"Podemos discordar do Bunge e afirmar que as descrições no nível mental são explicações.
(...)
Não vejo problema em adotar a posição das múltiplas explicações. Neste caso, é possível dizer que falar do nível mental é uma explicação.
O problema é olhar exclusivamente para o nível mental, desconsiderando os outros níveis (biológicos, sociais, etc). Quando fazemos isso, temos muitos limites e as chances de erro aumentam."


Não preciso explicar como meu braço funciona para movê-lo nem saber como o motor do meu carro funciona para dirigí-lo; aliás, é possível consertá-lo sem um diploma universitário em Física da mesma forma como minha esposa não precisa de uma teoria das reações químicas para fazer um bolo.

Todos nós sabemos coisas num nível intuitivo funcional e algorítmico desde que tornamo-nos vivos. Até mesmo os animais detém esta forma de saber, um temperamento e até uma "consciência de continuidade do ser", ainda que constante (sei que pode ser tentador para quem leu este artigo até aqui passar a desconsiderá-lo a partir desta afirmação, mas eu entendo "o princípio da identidade" como sinônimo de "ego"), daí se segue que não só pessoas mas também os animais tem um "ego" e o mesmo pode-se aplicar-se a inteligências artificiais. Então, em que difere destes o homem? Ora, Em seu motor de sentido e improbabilidades, em suma: numa imaginação imaterial!

Ao homem foi dado mais, algo único... foi dada a imaginação! Não se trata apenas da capacidade de compor imagens a partir daquilo que é conhecido, mas da necessidade de imaginar e descobrir teias de sentido e significado entre seu ser e o cosmos, de mitologizar no sentido de imaginar o que há além das prisões da matéria, assim como pensava J. R. R. Tolkien, de religar o imanente e o transcendente. A imaginação, creio eu, nos foi dada de fato como uma bússola da eternidade pois o que é foi feito justamente daquilo que não se vê. É no ser que os dados do conhecimento deixam de ser mera informação e tornam-se "Uma História", sua história, que poderia muito bem se chamar "Você não é o seu cérebro".

Referências:

https://teletype.in/@jean_paolo/Ciencia-O-deus-que-falhou

http://telegra.ph/A-Psicologia-explica-mesmo-04-16